AbdonMarinho - A INSENSATA DEFESA DA IMPUNIDADE.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sábado, 23 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

A INSEN­SATA DEFESA DA IMPUNIDADE.

A INSEN­SATA DEFESA DA IMPUNIDADE.

«Não matarás».

Aos que crêem este é o quinto man­da­mento do decál­ogo, o con­junto de leis escrita pelo próprio Deus e entregue a Moisés, con­forme nar­rado no livro do Êxodo.

No dire­ito penal brasileiro, este é o delito mais grave. O artigo 121 é tax­a­tivo: Matar alguém. Em seguida trás a pena, logo depois as demais condições que agravam, reduzem ou elim­i­nam a pena.

Alheios à lei dos homens e tam­bém aos man­da­men­tos, estão os crim­i­nosos brasileiros que ainda não com­ple­taram dezoito anos que, aos olhos do nosso orde­na­mento jurídico, não têm a capaci­dade de dis­tin­guir a gravi­dade dos seus atos e, por isso mesmo, pos­suem uma licença espe­cial do Estado para matar quan­tos forem capazes, sofrendo como única con­se­quên­cia, uma inter­nação que não pode ser supe­rior a três anos, que depois de cumprida ou não (a larga maio­ria nunca cumpre o período de inter­nação) pode sair às ruas com a ficha limpa, como se nunca tivesse cau­sado o mal ou a des­graça de nen­huma família. E se ainda menores poderão con­tin­uar sua car­reira de crimes.

Se têm menos de doze anos, ainda que mate mil pes­soas, sequer pode ser detido. Sai pela porta da frente como se nada tivesse feito.

Isso está correto?

A maio­ria da pop­u­lação brasileira, quase 90% (noventa por cento), acha que não. Infe­liz­mente, e na mesma pro­porção, este não é o entendi­mento dos seus rep­re­sen­tantes na Câmara dos Dep­uta­dos, quando 30% (trinta por cento) se man­i­fes­taram con­tra a redução da maior­i­dade penal e pela manutenção da licença para matar e para come­ter todo tipo crime, aos menores de 18 e maiores de 16 anos.

Mais do isso, cap­i­tanea­dos pelo gov­erno brasileiro, que atual­mente tem menos de dez por cento de aceitação (será esta uma das causas?) acham que noventa por cento da pop­u­lação não só está equiv­o­cada, como tam­bém é con­ser­vadora, retrógrada, racista, burra e homofóbica (con­forme disse um dep­utado), tudo porque essa larga, estu­penda maio­ria de cidadãos, enten­dem não ser aceitável que deter­mi­na­dos crimes fiquem impunes, que aos seus autores recaia os rig­ores da lei.

Aqui, então, temos um ques­tion­a­mento, que democ­ra­cia é esta em que uma mino­ria tem o poder de impor seu pen­sa­mento à maioria?

O Brasil pre­cisa de mecan­is­mos de con­fir­mação de mandato. Como é pos­sível que um par­la­mento tão dis­tante e dis­so­ci­ado do pen­sa­mento dos eleitores possa ainda per­manecer por mais três anos e meio? Ao meu sen­tir, o par­la­mento brasileiro carece de legitimidade.

Vamos em frente.

Pior que o dis­tan­ci­a­mento dos par­la­mentares do que pensa seus patrões (o povo), é o aço­da­mento raivoso com o que defende estas ideias.

Um estrangeiro que acom­pan­hasse as últi­mas sessões da Câmara, seria ten­tado a pen­sar que a pro­posta de redução da maior­i­dade penal tem por propósito encar­cerar todos os jovem do país ou que a ideia seja man­dar pren­der os sem­i­nar­is­tas do Brasil e não crim­i­nosos pela prat­ica de crimes graves, hedion­dos. Crim­i­nosos que pos­suem uma longa ficha, com rou­bos, estupros, latrocínios, lesão cor­po­ral grave, etc.

Estran­haria mais ainda por saber que as pes­soas que se dizem mais estu­dadas, int­elec­tu­ais, têm na impunidade uma estraté­gia de com­bate à violência.

Trata-​se de uma ino­vação dos trópi­cos. Nen­hum país do mundo reduziu a crim­i­nal­i­dade apo­s­tando na impunidade. Nações civ­i­lizadas, mod­e­los de democ­ra­cia, punem crim­i­nosos que ten­ham cometido crimes até antes dos dos dez anos de idade.

No resto do mundo não há um alvoroço todo por uma coisa que lóg­ica: um crime, uma penal­i­dade, inde­pen­dente de quem os cometa.

Aqui, no nosso país, temos o gov­erno e par­tido da pres­i­dente, cer­rando forças, inclu­sive, com inter­fer­ên­cias inde­v­i­das no tra­balho do par­la­mento, para impedir a a aprovação da redução da maior­i­dade penal.

O min­istro da justiça foi escal­ado para dizer que a aprovação causaria uma caos ainda maior no sis­tema carcerário nacional. Houve denun­cias, ainda, de tro­cas de favores poucos repub­li­canos com os par­la­mentares para que votassem contra.

Alegam, os valentes defen­sores da impunidade, que a solução é maior inves­ti­mento em políti­cas soci­ais, em edu­cação, etc., como se uma coisa inval­i­dasse a outra.

O argu­mento não é ape­nas ingênuo, é tolo.

Os cidadãos que defen­dem a redução não estão dizendo que com a sua aprovação se deva ces­sar os inves­ti­men­tos em políti­cas públi­cas, em edu­cação, em assistên­cia social, pelo con­trário. Políti­cas públi­cas e com­bate a crim­i­nal­i­dade, punição dos deli­tos não são excludentes.

Deve­mos ter esco­las de qual­i­dade e políti­cas públi­cas para os querem estu­dar e cadeia para os que come­tem crimes.

Defender que são coisas que se excluem é um forçoso exer­cí­cio de fal­si­dade intelectual.

Tão pouco esta­mos dizendo que a redução é solução para criminalidade.

O que esta­mos dizendo é que a redução tem caráter inibidor da vio­lên­cia, que o cidadão sabendo que o seu ato será punido ele pen­sará duas vezes antes de praticar o crime.

O que acon­tece hoje, é que, com a certeza da impunidade, estes crim­i­nosos menores, são mais vio­len­tos que os crim­i­nosos adul­tos, capazes de atos bár­baros, por isso estão chefiando quadrilhas, matando, estuprando…

A manutenção das coisas como estão servem muito mais ao crime que aos jovens.

A exceção dos gov­ernistas e seus ali­a­dos, qual­quer pes­soa, prin­ci­pal­mente os que já foram víti­mas de vio­lên­cia envol­vendo menores, sabem disso.

Quem não lem­bra a den­tista que foi incen­di­ada viva por um menor? A jovem que foi esma­gada por outro – que depois disse ter pas­sado com o carro sobre ela por que quis? O caso daquele outro que no dia ante­rior ao aniver­sário de 18 anos resolveu matar a namorada? O jovem que voltava da escola e foi assas­si­nado na porta da casa por um menor? O caso de Castelo (PI) em que estupraram, tor­tu­raram, muti­la­ram e ati­raram as qua­tro ado­les­centes de um pen­hasco de mais de 20 met­ros e depois ainda desce­ram para as ape­dre­jar, cau­sando a morte de uma? Os menores envolvi­dos já tin­ham uma longa ficha poli­cial, um, com 15 anos, já reg­is­trava mais de cem passagens.

Vejam que iro­nia, as jovens além de menores são tam­bém mul­heres, entre­tanto a vida da que mor­reu e o sofri­mento e tor­turas das que ficaram vivas é menos impor­tante que a vida dos seus algo­zes. Repito: isto está correto?

Não deixa de ser estranho, tam­bém, o fato do gov­erno e os par­tidos que se colo­cam con­tra a punição de crim­i­nosos cruéis, con­hecerem saberem qual é a solução para o prob­lema e, estando no poder há doze anos e meio não o terem resolvido. Os crim­i­nosos que ten­tam por todas as for­mas pro­te­ger neste momento, mal eram nasci­dos quando estes sábios chegaram ao poder. Por que não impedi­ram que viessem a delin­quir? Por que não implan­taram suas políti­cas que sabem ser a solução para a criminalidade?

Pois é, nada fiz­eram e, se fiz­eram, suas ações não sur­tiram resul­ta­dos. Na ver­dade os resul­ta­dos foram opos­tos. Se pegar­mos os mapas ou añuários da vio­lên­cia vamos ver­i­ficar que nos últi­mos doze anos e meio o cresci­mento da vio­lên­cia foi quase que expo­nen­cial se com­para­dos aos doze anos ante­ri­ores. Basta comparar.

As políti­cas gov­er­na­men­tais nos últi­mos doze anos nunca foram de enfrenta­mento da vio­lên­cia, o gov­erno, o par­tido do gov­erno, seus ali­a­dos e essa gama de «int­elec­tu­ais» que orbitam em torno do do poder, têm uma visão roman­ti­zada do crime. Acham que todo crim­i­noso é vítima da sociedade; que todo crim­i­noso pode ser recu­per­ado; que a sociedade, a classe média, ou os mais ricos, devem sofrer com a ação dos crim­i­nosos. Devem ser punidos por tra­bal­har de sol a sol, por pagarem impos­tos escorchantes.

Não faz muito tempo, ouvi alguém tecendo loas ao assalto a um cen­tro com­er­cial. Igno­ram, estes sábios, que as maiores víti­mas da vio­lên­cia são os mais pobres, são os jovens.

A sociedade brasileira, difer­ente dos seus rep­re­sen­tantes, sabe disso.

Com essa visão dis­tor­cida, muitas das políti­cas foram implan­tadas no sen­tido de enfraque­cer a insti­tu­ição famil­iar, como se o Estado pre­tendesse assumir o pátrio poder dos pais. O desas­tre foi posto.

O resul­tado do que fiz­eram está aí sendo visto e sen­tido por todos.

Abdon Mar­inho é advogado.