AbdonMarinho - SOMOS CULPADOS?
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sábado, 23 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

SOMOS CULPADOS?

SOMOS CUL­PA­DOS?

Em meio a tan­tas tragé­dias que vítima a sociedade diari­a­mente, mais uma se impõe. A tragé­dia da culpa.

Somos cul­pa­dos. Temos o sangue nas mãos de inúmeros inocentes que diari­a­mente tombam.

No Piauí, qua­tro jovens foram estupradas por cinco homens, após o ato hor­rendo as ati­raram de um pre­cipí­cio, somos cul­pa­dos por isso.

Somos cul­pa­dos pela morte de um médico que come­teu o crime — após um dia ded­i­cado a sal­var vidas — de achar que pode­ria ped­alar na orla da Baía de Gua­n­abara, no Rio de Janeiro.

Somos ainda os cul­pa­dos por mais um mor­ticínio ocor­rido na praia de Panaquatira, na orla da Ilha de São Luís, que ceifou a vida de alguns inocentes que se diver­tiam em uma festa de aniversário.

Você, leitor, con­corda com isso? Con­corda que sejamos cul­pa­dos por estes e por tan­tos out­ros crimes que assom­bram o Brasil dia sim e no outro também?

Não con­cordo. Mas o pen­sa­mento desco­lado da sociedade brasileira, a nossa mel­hor elite pen­sante acha que a vio­lên­cia cotid­i­ana é culpa da sociedade. Minha, sua, nossa. Nós que bov­ina­mente pas­samos cinco meses do ano tra­bal­hando com o único propósito de pagar­mos uma carga trib­utária que os nos­sos gov­er­nantes sem­pre encon­tram uma forma de aumen­tar, não para que se reverta em bene­fí­cios soci­ais para todos, mas sim para aten­der a uma mas­todôn­tica máquina pública, per­dulária e corrupta.

Agora mesmo assis­ti­mos os gov­er­nantes aumentarem impos­tos, reduzir dire­itos e bene­fí­cios soci­ais, encar­e­cer o emprego, sem que faça um sinal de cor­tar seus próprios exces­sos. Temos um gov­erno que se ocupa de punir os que tra­bal­ham, os que, com o fruto do seu tra­balho, con­quis­taram certo con­forto mate­r­ial para si e seus herdeiros. Estes tra­bal­hadores, são tidos pelos atu­ais gov­er­nantes a escória da sociedade, por isso mesmo devem pagar muito mais impos­tos, devem taxar a não mais poder o dire­ito de her­ança. São cul­pa­dos por trabalhar.

Esses cidadãos, sobre­tudo, mas não ape­nas eles, mas todos, somos cul­pa­dos da vio­lên­cia gra­tuita que ceifa a vida de inocentes.

As qua­tro garo­tas estupradas e ati­radas do pre­cipí­cio, a exceção de um único dos crim­i­nosos eram menores, ou como querem a nossa int­elec­tu­al­i­dade desco­lada, víti­mas, até mais que jovens, da bar­bari­dade que praticaram, por isso mesmo, devem rece­ber meia dúzia de con­sel­hos e voltarem para casa.

Os dois menores que cei­faram a vida do médico Jaime Gold, com mais pas­sagens pela polí­cia que anos de vida, dizem são as ver­dadeiras víti­mas e não o médico. São vítima da sociedade e do Estado que nunca deram a dev­ida assistên­cia à esses jovens, levando-​os a come­terem o crime, por isso mesmo, ao invés de serem punidos, devem ser soltos, endeusados.

O mesmo deve ser feito com os menores que, por ven­tura, ten­ham par­tic­i­pado da chacina de Panaquatira.

Esses menores – sobre os quais não se pode dizer nem as ini­ci­ais dos nomes ou qual­quer outra coisa que possa identificá-​los –, pos­suem licença do Estado brasileiro para come­ter tan­tos quan­tos crimes queiram até os dezoito anos e que se pegos e cumprirem qual­quer tola medida socioe­d­uca­tiva, terão quais­quer assen­ta­men­tos sobre seus crimes elim­i­na­dos de suas fichas ou cadas­tros pessoais.

Não posso con­cor­dar que isso esteja certo ou que ninguém tenha cor­agem de enfrentar essa questão para dizer não ser admis­sível que crimes tão bár­baros, tão hor­ren­dos, fiquem impunes.

Se estão cer­tos os que dizem que a redução da maior­i­dade penal não resolve – con­cordo –, mais cer­tos estão os que, como eu, enten­dem ser a impunidade um fomento à violência.

Isto porque, estes menores, têm con­sciên­cia do que fazem, não são víti­mas soci­ais ou do sis­tema, são crim­i­nosos que sabem que pos­suírem, repito, licença para roubar, matar, estuprar, sem serem molesta­dos pelo Estado.

Outro dia vi nossa pres­i­dente dizer-​se con­tra qual­quer mudança na leg­is­lação que puna os menores de dezoito anos sob o palio argu­mento de «não resolve». Então, se não resolve o prob­lema da crim­i­nal­i­dade, deixá-​los os livres para come­ter todo tipo de crime, resolve? Um dos assas­si­nos do médico car­i­oca, por exem­plo, com 16 anos, pos­suía até o dia do latrocínio, quinze pas­sagens por diver­sos crimes, inclu­sive por assaltos com arma branca. Ape­sar disso, com sua licença, con­tin­u­ava solto prat­i­cando os mes­mos crimes. Quan­tos ainda irá praticar até com­ple­tar a tal da maior­i­dade? Não ten­ham dúvi­das, daqui a pouco estarão todos soltos, nas ruas…

Esses crim­i­nosos, que o gov­erno brasileiro e seus defen­sores, insis­tem em chamar de víti­mas, são, em toda ativi­dade crim­i­nosa, os mais vio­len­tos e cruéis. Uma vítima, ver­dadeira vítima, nar­rou, não faz muito tempo, que assaltado por um destes menores, este, já tendo con­seguido seu intento, enfiou-​lhe a faca e a ficava torcendo den­tro do corpo para que «apren­desse». Assim como fiz­eram com o médico.

Por fim, acho opor­tuno lem­brar que os gov­er­nantes e seus ali­a­dos, estes que insis­tem em dizer que não «resolve» ou apre­sentarem teses esdrúx­u­las de defesa da juven­tude, estão no poder há treze anos sem apre­sentarem qual­quer outra solução para um quadro que só se agrava. Os assas­si­nos do médico, tin­ham, respec­ti­va­mente, dois e três anos quando chegaram ao poder, out­ros crim­i­nosos mal tin­ham nascido. Se sabem como resolver o prob­lema, porque nada fiz­eram até agora?

Meu pai, com sua sabedo­ria de anal­fa­beto cos­tu­mava dizer que o errado é da conta de todo mundo. Firme nesta lição reflito e indago: somos culpados?

Abdon Mar­inho é advogado.