AbdonMarinho - Cotidiano
Bem Vindo a Pagina de Abdon Marinho, Ideias e Opiniões, Sábado, 23 de Novembro de 2024



A palavra é o instrumento irresistível da conquista da liberdade.

Escrito por Abdon Marinho


O AMIGO BEAL - QUANDO NOS DEIXA O MELHOR AMIGO DA INFÂNCIA.

Por Abdon C. Marinho. 

A MANHÃ chuvosa na ilha do Maranhão veio, também, com uma nota de tristeza: a morte de um amigo de infância. 

Em determinado momento daqueles saudosos e dourados anos, do melhor amigo da minha infância. 

Foi o meu sobrinho-neto, Ruylon Peixoto, filho de minha sobrinha mais velha e de um outro grande amigo de infância, Gerson Peixoto, que, também já nos deixou há muitos anos, que trouxe a triste notícia. 

Reproduziu a informação de uma página de notícias da nossa cidade e escreveu uma legenda: — faleceu, que triste. 

Na sexta-feira, quando estava a caminho de Morros, já havia mandado a noticia de que ele não estava bem, estaria internado em uma UTI em Teresina. Não cheguei a vê a informação, por algum motivo quando fui abrir apareceu que estava indisponível. Pensei que fosse alguma bobagem ou que se arrependera de mandar. Só a noite, já em casa, tomei conhecimento de que meu amigo de infância não estava bem e que uma irmã estava fazendo uma campanha para ajudá-lo no custeio das despesas com o tratamento. 

Pela manhã, logo nas primeiras horas, a notícia acima. Com pouco mais de cinquenta anos, o meu amigo de infância, Beal, deixava esse plano. 

Após estudar um ou dois anos em Governador Archer, no Aldenora Belo, primeiro morando na Rua do Sossego, em casa alugada e depois com a minha irmã Bibia, na Rua Sete de Setembro, fui morar em Gonçalves Dias. Meu pai havia construído uma casa lá, entre uma casa/comércio de minha Deiza e a usina de “pilar” arroz dos pais de Beal. 

Foi naquela usina que conheci Beal e sua mãe, D. Irene. Íamos estudar na mesma sala, acho a terceira série. 

Por algum motivo tinha ido a usina e lá encontrei com eles. 

Como “parecia” gostar de estudar, sua mãe disse que deveríamos estudar juntos e que ele deveria ser como eu. 

A partir daquele dia ficamos amigos. Não o chamava pelo apelido, sim pelo nome, Ruberval; quase sempre pelo nome completo, Ruberval Bruno Dias. Achava curioso, pois o “Bruno” era o sobrenome da mãe. 

Morava umas três ou quatro casas depois da minha. Desde cedo acostumado a me “virar” sozinho – fiquei órfão com cinco anos –, na hora que clareava, já levantava, me arrumava e seguia para a escola. Nem lembro se tomava café, ou mesmo se existia café para tomar.

Todos os dias, é certo, passava na casa de Beal para descemos juntos para a escola, a Unidade Integrada Castelo Branco. 

Chegava lá muito cedo, como a família dele tinha o hábito de “trocar o dia pela noite”, ainda os encontrava dormindo por qualquer canto, redes, camas, em lençóis pelo chão, era algo muito incomum aos meus olhos. Geralmente, aguardava ele se arrumar e tomar café e sairmos para a escola, indo as vezes pela nossa própria rua, a Rua Rui Barbosa ou seguindo pela Rua Almir Assis,  aguardando na Praça Miguel Bahury, em frente, que tocassem a campainha ou já ficávamos mesmo lá na porta aguardando a hora de “formar” para entrarmos no prédio. 

Só andávamos juntos, onde estava um, estava o outro. 

Essa proximidade valeu-nos o apelido de “o Gordo e o magro”, pois Beal era bem gordinho quando criança, enquanto eu era magro como uma tripa. 

Nosso ciclo mais próximo na primeira infância tinha outros colegas, Kaion Peixoto, Gecimon Pereira, Bento Chaves Neto, e tantos outros. Mas com Beal a proximidade era maior pois sempre estávamos juntos. 

Quando iniciamos o “ginásio”, o equivalente hoje aos anos finais do fundamental, tínhamos que estudar a noite, pois só nesse horário havia esse ensino.

Seguíamos a rotina de antes, final da tarde passava na casa dele e descíamos para o “Bandeirantes” – era a mesma escola, só que a noite, tinha outro nome. 

O que mudava também era o retorno para casa. 

O amigo Beal, muito precoce para assuntos sexuais, todas as noites queria voltar pela rua onde ficavam os “cabarés” da cidade, na maioria das vezes só mesmo para olhar as “meninas”. Naquele tempo, com doze, treze anos, já era para estarmos nas sacanagens da vida. Com mais grana que nós, nessa fase, sempre que podia, Beal estava com uma ou outra. E tinha um fôlego invejável. 

Acho que foi pelo final da sexta ou começo da sétima série que começamos a nos distanciar. Nesse período, Beal teve um problema de saúde, se não me falha a memória, uma apendicite, e não voltou mais para a escola – ainda tentei que voltasse, sua mãe, também, mas não teve jeito, não voltou e começamos a seguir caminhos distintos. 

Com isso, acabou a nossa rotina de estarmos sempre juntos. Pouco depois mudaram-se para outra casa, na mesma rua, mas no “centro” da cidade e passamos a quase não nos vermos. 

Foi por esse tempo que meu pai “botou” um comércio na Rua Dr. Paulo Ramos, onde eu passava o dia inteiro, tomando de contas, até a hora de ir para o colégio. Às vezes quem passava pelo comércio era Gecimon para ficar um tempo comigo, batermos um papo ou vermos alguma coisa das aulas. 

Quando terminei o ginásio a necessidade de continuar os estudos me trouxeram para capital para fazer o ensino médio no Liceu Maranhense. Aí a distância com os amigos de infância passou a ser também espacial. Poucas vezes voltei a Gonçalves Dias ou a Governador Archer e as noticias dos amigos de infância se tornaram mais esparsas, muito embora sempre que encontre com alguém de casa sempre pergunte: — como vai fulano? E Sicrano?

Já estava morando em São Luís quando soube que seu irmão mais velho, também é que casou-se com outra amiga de infância veio a morrer de forma bem precoce. 

Acho que uma ou duas vezes, falei com o seu irmão mais novo Remy, com Silvana, outra irmã, falei uma ou duas vezes pelas redes sociais, já o irmão Rogério, o caçula, daquela época, nunca tive notícias. 

Anos depois, fui informado que o amigo Beal se tornara vereador de Gonçalves Dias, fiquei feliz com a notícia, muito embora nunca tenha tido a oportunidade de expressar tal alegria pessoalmente a ele. Nas poucas vezes que fui a nossa GD, não o encontrei, não acompanhei sua vida pessoal, seus relacionamentos, seus casamentos, filhos, etc. 

Na fotografia – de uma página ou site da nossa cidade e que ilustra esse texto –, não reconheci o meu melhor amigo de infância. 

Acabamos adiando as coisas na nossa vida. Deixamos para visitar o amigo numa outra oportunidade, de telefonar para um parente outro dia. 

E, vamos sempre adiando, até o dia em que não teremos mais a oportunidade de fazermos nada do que planejamos. 

Muitas vezes planejei ir a Gonçalves Dias ou a Governador Archer para reencontrar os amigos de infância, sempre adiando. Na pandemia perdi o amigo Gecimon, agora o amigo Beal. 

A vida vai passando e não nos damos conta que somos apenas passageiros. 

Vai com Deus, amigo. Saudades eternas de tudo que vivemos naqueles anos da nossa infância. 

Abdon C. Marinho. 

O AMIGO BEAL - QUANDO NOS DEIXA O MELHOR AMIGO DA INFÂNCIA 

Por Abdon C. Marinho. 

A MANHÃ chuvosa na ilha do Maranhão veio, também, com uma nota de tristeza: a morte de um amigo de infância. 

Em determinado momento daqueles saudosos e dourados anos, do melhor amigo da minha infância. 

Foi o meu sobrinho-neto, Ruylon Peixoto, filho de minha sobrinha mais velha e de um outro grande amigo de infância, Gerson Peixoto, que, também já nos deixou há muitos anos, que trouxe a triste notícia. 

Reproduziu a informação de uma página de notícias da nossa cidade e escreveu uma legenda: — faleceu, que triste. 

Na sexta-feira, quando estava a caminho de Morros, já havia mandado a noticia de que ele não estava bem, estaria internado em uma UTI em Teresina. Não cheguei a vê a informação, por algum motivo quando fui abrir apareceu que estava indisponível. Pensei que fosse alguma bobagem ou que se arrependera de mandar. Só a noite, já em casa, tomei conhecimento de que meu amigo de infância não estava bem e que uma irmã estava fazendo uma campanha para ajudá-lo no custeio das despesas com o tratamento. 

Pela manhã, logo nas primeiras horas, a notícia acima. Com pouco mais de cinquenta anos, o meu amigo de infância, Beal, deixava esse plano. 

Após estudar um ou dois anos em Governador Archer, no Aldenora Belo, primeiro morando na Rua do Sossego, em casa alugada e depois com a minha irmã Bibia, na Rua Sete de Setembro, fui morar em Gonçalves Dias. Meu pai havia construído uma casa lá, entre uma casa/comércio de minha Deiza e a usina de “pilar” arroz dos pais de Beal. 

Foi naquela usina que conheci Beal e sua mãe, D. Irene. Íamos estudar na mesma sala, acho a terceira série. 

Por algum motivo tinha ido a usina e lá encontrei com eles. 

Como “parecia” gostar de estudar, sua mãe disse que deveríamos estudar juntos e que ele deveria ser como eu. 

A partir daquele dia ficamos amigos. Não o chamava pelo apelido, sim pelo nome, Ruberval; quase sempre pelo nome completo, Ruberval Bruno Dias. Achava curioso, pois o “Bruno” era o sobrenome da mãe. 

Morava umas três ou quatro casas depois da minha. Desde cedo acostumado a me “virar” sozinho – fiquei órfão com cinco anos –, na hora que clareava, já levantava, me arrumava e seguia para a escola. Nem lembro se tomava café, ou mesmo se existia café para tomar.

Todos os dias, é certo, passava na casa de Beal para descemos juntos para a escola, a Unidade Integrada Castelo Branco. 

Chegava lá muito cedo, como a família dele tinha o hábito de “trocar o dia pela noite”, ainda os encontrava dormindo por qualquer canto, redes, camas, em lençóis pelo chão, era algo muito incomum aos meus olhos. Geralmente, aguardava ele se arrumar e tomar café e sairmos para a escola, indo as vezes pela nossa própria rua, a Rua Rui Barbosa ou seguindo pela Rua Almir Assis,  aguardando na Praça Miguel Bahury, em frente, que tocassem a campainha ou já ficávamos mesmo lá na porta aguardando a hora de “formar” para entrarmos no prédio. 

Só andávamos juntos, onde estava um, estava o outro. 

Essa proximidade valeu-nos o apelido de “o Gordo e o magro”, pois Beal era bem gordinho quando criança, enquanto eu era magro como uma tripa. 

Nosso ciclo mais próximo na primeira infância tinha outros colegas, Kaion Peixoto, Gecimon Pereira, Bento Chaves Neto, e tantos outros. Mas com Beal a proximidade era maior pois sempre estávamos juntos. 

Quando iniciamos o “ginásio”, o equivalente hoje aos anos finais do fundamental, tínhamos que estudar a noite, pois só nesse horário havia esse ensino.

Seguíamos a rotina de antes, final da tarde passava na casa dele e descíamos para o “Bandeirantes” – era a mesma escola, só que a noite, tinha outro nome. 

O que mudava também era o retorno para casa. 

O amigo Beal, muito precoce para assuntos sexuais, todas as noites queria voltar pela rua onde ficavam os “cabarés” da cidade, na maioria das vezes só mesmo para olhar as “meninas”. Naquele tempo, com doze, treze anos, já era para estarmos nas sacanagens da vida. Com mais grana que nós, nessa fase, sempre que podia, Beal estava com uma ou outra. E tinha um fôlego invejável. 

Acho que foi pelo final da sexta ou começo da sétima série que começamos a nos distanciar. Nesse período, Beal teve um problema de saúde, se não me falha a memória, uma apendicite, e não voltou mais para a escola – ainda tentei que voltasse, sua mãe, também, mas não teve jeito, não voltou e começamos a seguir caminhos distintos. 

Com isso, acabou a nossa rotina de estarmos sempre juntos. Pouco depois mudaram-se para outra casa, na mesma rua, mas no “centro” da cidade e passamos a quase não nos vermos. 

Foi por esse tempo que meu pai “botou” um comércio na Rua Dr. Paulo Ramos, onde eu passava o dia inteiro, tomando de contas, até a hora de ir para o colégio. Às vezes quem passava pelo comércio era Gecimon para ficar um tempo comigo, batermos um papo ou vermos alguma coisa das aulas. 

Quando terminei o ginásio a necessidade de continuar os estudos me trouxeram para capital para fazer o ensino médio no Liceu Maranhense. Aí a distância com os amigos de infância passou a ser também espacial. Poucas vezes voltei a Gonçalves Dias ou a Governador Archer e as noticias dos amigos de infância se tornaram mais esparsas, muito embora sempre que encontre com alguém de casa sempre pergunte: — como vai fulano? E Sicrano?

Já estava morando em São Luís quando soube que seu irmão mais velho, também é que casou-se com outra amiga de infância veio a morrer de forma bem precoce. 

Acho que uma ou duas vezes, falei com o seu irmão mais novo Remy, com Silvana, outra irmã, falei uma ou duas vezes pelas redes sociais, já o irmão Rogério, o caçula, daquela época, nunca tive notícias. 

Anos depois, fui informado que o amigo Beal se tornara vereador de Gonçalves Dias, fiquei feliz com a notícia, muito embora nunca tenha tido a oportunidade de expressar tal alegria pessoalmente a ele. Nas poucas vezes que fui a nossa GD, não o encontrei, não acompanhei sua vida pessoal, seus relacionamentos, seus casamentos, filhos, etc. 

Na fotografia – de uma página ou site da nossa cidade e que ilustra esse texto –, não reconheci o meu melhor amigo de infância. 

Acabamos adiando as coisas na nossa vida. Deixamos para visitar o amigo numa outra oportunidade, de telefonar para um parente outro dia. 

E, vamos sempre adiando, até o dia em que não teremos mais a oportunidade de fazermos nada do que planejamos. 

Muitas vezes planejei ir a Gonçalves Dias ou a Governador Archer para reencontrar os amigos de infância, sempre adiando. Na pandemia perdi o amigo Gecimon, agora o amigo Beal. 

A vida vai passando e não nos damos conta que somos apenas passageiros. 

Vai com Deus, amigo. Saudades eternas de tudo que vivemos naqueles anos da nossa infância. 

Abdon C. Marinho.