AbdonMarinho - A DESGRAÇA É MAIOR.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sábado, 23 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

A DES­GRAÇA É MAIOR.

A DES­GRAÇA É MAIOR.

O IPEA (Insti­tuto de Pesquisa Econômica Apli­cada), órgão de pesquisa vin­cu­lado a presidên­cia da República, final­mente parou de fazer política e resolveu divul­gar sua análise sobre os dados pesquisa­dos pelo IBGE na PNAD (Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios), que não haviam feito antes para que os dados não influ­en­ci­assem o resul­tado das eleições. Noutras palavras, querem dizer que o povo não tem o dire­ito de saber sobre uma pesquisa nacional, custeada com o din­heiro público, porque o o dono da pesquisa, o povo, pode­ria não gostar do resul­tado. Fico per­plexo com esse tipo de insulto, mas, fazer o quê?

O resul­tado era aquele que todos descon­fi­avam, que foi divul­gado por fontes ofi­ciosas – sem chancela ofi­cial –, que a aumen­tara no último ano o número de mis­eráveis, aos mais de dez mil­hões abaixo da linha da pobreza, somaram-​se mais quase qua­tro­cen­tos mil.

O índice rev­elou que o Maran­hão (o Estado que mais cresce na região nordeste) é o segundo mais mis­erável da federação.

O que isso tem demais? Nada. Não tem nada nesta pesquisa que já não tenha dito nos meus tex­tos ou que as pes­soas mais aten­tas não ten­ham se dado conta.

Ape­sar disso, acred­ito que a pesquisa esteja errada. Na minha opinião pesquisadores, econ­o­mis­tas e demais int­elec­tu­ais que anal­isam os dados não têm a real dimen­são da mis­éria no Brasil e no Maranhão.

Explico min­has razões.

Há mais de trinta anos viajo por todo o Estado. Acred­ito que con­heça já todos os seus municí­pios, senão, fal­tam bem poucos. Desde que me tornei advo­gado, não tem uma sem­ana, um mês em que não faça uma pequena viagem.

Por onde passo observo, con­verso com um ou com outro. A última viagem que fiz não faz muito tempo, fui a região da baixada.

Em todas essas via­gens observo que as áreas de plan­tios estão encol­hendo, nos últi­mos tem­pos quase não encon­tro mais nen­huma. Se fal­tam plan­tios, sobram pes­soas ociosas, nos povoa­dos, nas cidades do inte­rior. A qual­quer hora do dia vejo mul­ti­dões de des­ocu­pa­dos, nas mesas dos bares, nas por­tas de casa, debaixo de alguma árvore, jogando dom­inó, bar­alho, tomando uma pinga.

Vejo isso e sei que o cresci­mento do Maran­hão, como mostra a pro­pa­ganda ofi­cial estad­ual, a redução da mis­éria como mostra pro­pa­ganda fed­eral, é ilusória, cortina de fumaça.

Vamos a um pequeno exem­plo. A leg­is­lação em vigor exige que ao menos 30% (trinta por cento) da ali­men­tação esco­lar seja adquirida junto aos pro­du­tores locais. Como vemos não é muito, mas que mais tenho ouvido é que a maio­ria dos municí­pios não con­seguem pro­duzir o sufi­ciente para fornecer essa ali­men­tação as escolas.

Outro dia, par­tic­i­pando de uma reunião com um prefeito e um pro­mo­tor de justiça, ouvi o primeiro expor de forma categórica que por mais que faça chamadas públi­cas, que con­voque a sua comu­nidade, para cumprir a leg­is­lação vigente, tem que recor­rer a out­ras praças, até noutros esta­dos. Que gostaria de com­prar mais dos pro­du­tores locais, incen­ti­var as econo­mias dos povoa­dos. Não con­segue. Assim como esse, são muitos os prefeitos e gestores que não con­seguem com­prar na pro­dução local a ali­men­tação esco­lar, de hos­pi­tais e de out­ros programas.

O gov­erno anun­cia recordes de pro­dução, mas na ver­dade estão falando da mono­cul­tura de expor­tação. A pequena pro­dução para ali­men­tar a econo­mia local não existe mais mais no Maran­hão. Prati­ca­mente tudo que se con­some nas grandes, médias e até peque­nas cidades, vem de out­ros mer­ca­dos, da Bahia, de Goiás, Tocan­tins e até do região sul. Como disse out­ras vezes, basta fazer o teste da CEASA. É um absurdo quando se con­sid­era que o Maran­hão já foi con­sid­er­ado um dos celeiros do Brasil, ainda pos­sui recur­sos hídri­cos em abundân­cia e ter­ras férteis exten­sas. Não nos sur­preende, em nada, que ten­hamos ficado em segundo lugar entre os mais mis­eráveis. As pes­soas mais aten­tas assi­s­ti­ram esse empo­brec­i­mento. Outro dia falava sobre isso com meu irmão, sobre a nossa infân­cia e juven­tude, sobre a far­tura da nossa família e dos nos­sos viz­inho, não havia quem não pos­suísse gal­in­has, por­cos, capri­nos, ovi­nos, uma vaca, uma roça com arroz, fei­jão, milho, legumes, etc., tanto para con­sumo quando para vender. Pro­curem isso, hoje, no inte­rior do nosso estado. Não há mais nada disso.

Quando digo que as pesquisas não refletem a real­i­dade é elas igno­ram esses fatos. Pegam uma situ­ação estanque em o cidadão agrega a sua renda, os bene­fí­cios que recebem do gov­erno para retirá-​los da linha pobreza. Acon­tece que essa renda não é própria. Exper­i­mentem reti­rar da econo­mia das famílias essas bol­sas para ver quais as índices reais. Exper­i­mentem colo­car essa mul­ti­dão para procu­rar emprego e vejam o que acon­tece. A situ­ação econômica do cidadão não sofreu qual­quer alter­ação para mel­hor, pelo con­trário, sem as esmo­las rece­bidas estão bem mais pobres. Não temos como nos afas­tar desta ver­dade. Não há, tam­bém, como nos afas­tar dos efeitos colat­erais per­ver­sos que estão ocor­rendo atual­mente, den­tre os quais o aumento da taxa de natal­i­dade das famílias mais pobres que bus­cam, através dos fil­hos, rece­ber um pouco mais do gov­erno; ado­les­centes engravi­dando para sat­is­fazer um luxo, com­prar uma moto, uma geladeira, um fogão…

É ele­men­tar que as autori­dades não com­preen­dam que não pode haver riqueza sem pro­dução, sem ger­ação de tra­balho, emprego e renda, com as pes­soas vivendo de esmolas.

As políti­cas soci­ais – que são necessárias, há que se recon­hecer –, são usadas para mas­carar a grave real­i­dade social que atrav­essa o país. O que resta as pes­soas de bem é que não tar­dem a acor­dar desde delírio. antes que seja tarde.

Abdon Mar­inho é advogado.