AbdonMarinho - DESAFIOS DO MARANHÃO: AGRICULTURA.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sábado, 23 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

DESAFIOS DO MARAN­HÃO: AGRICULTURA.

DESAFIOS DO MARAN­HÃO: AGRICULTURA.

A par­tir de agora pas­sarei a dis­cu­tir sobre os prob­le­mas que con­sidero rel­e­vantes para o debate político no estado. Começo pela agri­cul­tura. Já falei deste tema algu­mas vezes. O que faze­mos hoje é uma revis­i­tação ao tema.

Não faz muitos dias vi alguns políti­cos soltarem rojões com a história de que o Maran­hão teria, este ano, uma safra recorde, algo em tono de 4 mil­hões de toneladas de grãos. Os donos do poder fes­te­jam como se fosse um gol de placa essa safra.

Os números pare­cem grandiosos, infe­liz­mente, não são. A safra brasileira neste mesmo período chegou a 190 mil­hões de toneladas, logo, a pro­dução maran­hense, rep­re­senta algo em torno de 2% (dois por cento) da safra brasileira de grãos. O que é quase nada. Uma irrelevân­cia em ter­mos de números. Olhando mais de perto essa safra verifica-​se que a maior con­tribuição é da mono­cul­tura de expor­tação e muito pouco para ali­men­tar o povo.

Con­verso muito com as pes­soas lig­adas ao setor, agrônomos, vet­er­inários, pro­du­tores. Todos dizem como que em coro que a agri­cul­tura do estado foi destruída nos últi­mos anos. O diál­ogo que man­tenho, na ver­dade, é ape­nas para cor­rob­o­rar meu próprio pen­sa­mento. Salta aos olhos que o estado, emb­ora o gov­erno pregue e fes­teje seus recordes agrí­co­las, está muito longe de pro­duzir o que deveria.

Com área total de 331.937,450 km2, o Maran­hão, em exten­são ter­ri­to­r­ial, só fica atrás dos esta­dos do Ama­zonas, Pará, Bahia, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e Goiás. Alguns destes a difer­ença em exten­são nem é tão sig­ni­fica­tiva. Exceto por pou­cas áreas (reser­vas flo­restais, áreas de areia) o estado é quase todo agricultável, pos­sui solo ade­quado a quase todo tipo agri­cul­tura. Pela posição geográ­fica, quan­ti­dade de rios, estações climáti­cas definidas o coloca em situ­ação de muita van­tagem em relação aos demais. A essas condições some-​se ao fato de não pos­suir uma pop­u­lação muito grande pos­si­bil­i­tando um maior aproveita­mento do solo.

Ape­sar destas van­ta­gens todas em relação aos demais esta­dos a con­tribuição maran­hense na pro­dução de grãos gira em torno de 2% (dois por cento) da pro­dução nacional. É muito pouco. Não temos razão para tanto festejo.

O Maran­hão hoje não pro­duz o sufi­ciente para ali­men­tar sua pop­u­lação. Não pre­cisamos ir muito longe para con­statar­mos isso, basta acom­pan­har o tráfego de veícu­los na CEASA da cap­i­tal. A pro­fusão de veícu­los chegando aqui, ori­un­dos de out­ros esta­dos, com todo tipo de ali­mento, dimen­siona bem a nossa pro­dução. Cheg­amos ao ponto de estar­mos impor­tando de out­ros esta­dos até cheiro-​verde. A mesma situ­ação é vivida nos demais municí­pios, sejam eles grande, médios ou de pequeno porte. O que mais vemos são os cam­in­hões chegando nos mer­ca­dos, feiras e no comér­cio local para o abastecimento.

Faço aos can­didatos ao gov­erno o desafio da CEASA. Que aman­heçam um dia por lá para ver­i­ficar a situ­ação que nos encontramos.

O próx­imo gov­er­nante pre­cisa explo­rar o grande poten­cial que pos­sui o estado neste setor. Alguém com capaci­dade para aliar o desen­volvi­mento com a preser­vação dos nos­sos recur­sos ambi­en­tais. Ao longo das últi­mas décadas as agên­cias estad­u­ais de desen­volvi­mento do setor primário foram sendo desati­vadas, não restando quase nada nos dias de hoje. Tem fal­tado políti­cas públi­cas que incen­tive a pro­dução do pequeno agricul­tor para que o con­junto de peque­nas pro­duções ali­mente nossa pop­u­lação e provoque algum superávit. O gov­erno estad­ual deixou de focar num dos setores mais impor­tantes da econo­mia e que equi­li­bra a bal­ança com­er­cial todos os anos. A pro­dução plane­jada de ali­men­tos poderá fazer do Maran­hão um dos celeiros do Brasil. Temos feito o con­trário. A nossa política para o campo tem incen­ti­vado que as pop­u­lações cam­pone­sas migrem para a per­ife­ria das cidades.

Não é aceitável que um estado tão rico como é o nosso, tenha mais de 60% (sessenta por cento) de sua pop­u­lação inscrita no Pro­grama “Bolsa Família” e um outro tanto inscrita noutros pro­gra­mas assis­ten­ci­ais. Quem viaja pelo estado e se dá o tra­balho de obser­var a vida das pes­soas, já deve ter perce­bido que a qual­quer hora do dia, qual­quer dia da sem­ana, o que mais se vê são pes­soas ociosas, jogando, bebendo, de cara para o vento. Ao lado vas­tas áreas des­ocu­pada, com água próx­ima sendo con­sum­ida pelo mato, sem pro­duzir nada, nem capim para ali­men­tar o gado.

Não temos como com­preen­der que o nosso estado tenha desati­vado os órgãos de incen­tivo ao setor primário, que não haja pesquisa con­sis­tente na área.

O Maran­hão pre­cisa enten­der sua vocação para esse setor, pesquisar mais, garan­tir assistên­cia téc­nica aos pro­du­tores, pos­suir um cadas­tro atu­al­izado de todas as pro­priedades e garan­tir que cada pro­du­tor receba incen­tivo e assistên­cia para pro­duzir. Explo­rar, repito, esse potencial.

Nas min­has andanças tenho obser­vado, e pesquisas ates­tam isso, que um dos pro­du­tos mais con­sum­i­dos pelo maran­hense, é cerveja. Ouso dizer tam­bém que a pro­dução de sin­u­cas e bil­hari­nas tam­bém não cessa de aumen­tar. Por onde pas­samos encon­tramos pequenos bares, bute­cos. A maio­ria com seus bil­hares, as vezes mais de uma. As pes­soas recebem suas bol­sas e out­ros incen­tivos e reserva uma parte para gas­tar com cerveja, cachaça e para jogar.

E, ape­nas para reg­istro, pas­sando pela BR 135, encon­tro uma placa na porta da AMBEV. Lá, a infor­mação, impor­tante, de que a pujante indus­tria de bebida conta com os incen­tivos do Estado do Maran­hão. Nada con­tra, mas custa incen­ti­var e inve­stir no setor pro­du­tivo primário?

É essen­cial que o nosso estado redes­cubra sua agri­cul­tura, que os próx­i­mos gov­er­nantes reestru­ture o setor devol­vendo a assistên­cia téc­nica e os incen­tivos ao homem do campo. Sem essa com­preen­são con­tin­uare­mos a impor­tar batata, tomate, abób­ora e até cheiro-​verde e a empurrar os tra­bal­hadores do campo para as per­ife­rias das cidades, para o vício e para a violência.

O povo brasileiro e maran­hense não pode mais con­tin­uar a viver de esmo­las. Não esse povo que sem­pre teve cor­agem de trabalhar.

Abdon Mar­inho é advogado.