AbdonMarinho - ELEIÇÕES 2020: O COMEÇO DO JOGO E OS DESAFIOS.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Domingo, 24 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

ELEIÇÕES 2020: O COMEÇO DO JOGO E OS DESAFIOS.

ELEIÇÕES 2020: O COMEÇO DO JOGO E OS DESAFIOS.
Por Abdon Marinho.

NO ÚLTIMO dia do ano pas­sado um dos edi­tores de jor­nal­ismo de uma emis­sora local me alcançou através de um aplica­tivo de celu­lar. Que­ria uma entre­vista sobre o cal­endário eleitoral, para o dia seguinte. Não vendo qual­quer óbice, já mar­camos para as oito e trinta horas do dia seguinte.

Se a primeira visita não pare­cesse muito ade­quado se falar de política logo no primeiro dia do ano, o assunto era mais do que opor­tuno. O dia primeiro já trazia as primeiras vedações a vin­cu­lar os agentes e o processo político eleitoral como um todo, como por exem­plo, a vedação de divul­gação de pesquisas sem prévio reg­istro na justiça eleitoral e den­tro das bal­izas legais; a proibição de doar bens, val­ores ou bene­fí­cios por parte da admin­is­tração pública, ressal­va­dos os casos de calami­dade pública ou pro­gra­mas soci­ais já em anda­mento e, ainda assim, podendo ser acom­pan­hado pelo min­istério público; a proibição de exe­cução de pro­gra­mas soci­ais por enti­dades vin­cu­ladas nom­i­nal­mente a can­didatos ou por estes man­ti­das; e, por fim, a lim­i­tação à pub­li­ci­dade da admin­is­tração pública fed­eral, estad­ual ou municipal.

Quem tem acom­pan­hado a cena política estad­ual – e nos municí­pios –, têm visto que desde o encer­ra­mento do último pleito munic­i­pal os pre­tendentes às sucessões já colo­caram seus “blo­cos” nas ruas come­tendo toda sorte de abu­sos.

Tais práti­cas recrude­sce­ram a par­tir do tér­mino do pleito estad­ual – e posse dos eleitos –, quando acrescentou-​se aos primeiros pre­tendentes uma série de out­ros pre­tendentes, estes, “calça­dos” nos mandatos de dep­uta­dos estad­u­ais e fed­erais, que pas­saram a usar as pre­rrog­a­ti­vas e poderes iner­entes aos car­gos para se apre­sentarem como pré-​candidatos e a faz­erem cam­pan­has com recur­sos públi­cos, se pro­movendo através das mais vari­adas mídias custeadas pelos contribuintes/​eleitores.

Se no inte­rior do estado – e mesmo na região met­ro­pol­i­tana –, temos pre­tendentes ao cargo de alcaide e/​ou vereadores sub­sti­tuindo o poder público na exe­cução de obras ou mesmo destru­indo benesses, tais como mate­r­ial de con­strução, ces­tas bási­cas, equipagem, equipa­men­tos de som, motos, pneus, etc., e até mesmo refeições, além de pro­moverem uma infinidade de ativi­dades fes­ti­vas, na cap­i­tal, prin­ci­pal­mente, na per­ife­ria, não é muito difer­ente.

A cidade está coal­hada de pro­pa­ganda pro­mo­cional dos pre­ten­sos can­didatos à sucessão munic­i­pal.

Isso sem con­tar a pro­moção regia­mente paga através de blogues e out­ras mídias.

O mal exem­plo vem de cima. Prati­ca­mente no mesmo dia em que assumia o segundo mandato o gov­er­nador do estado já “se lançou” can­didato à presidên­cia da República. Fez mais, a par­tir de então, os inter­esses da boa gestão foram joga­dos para “escant­eio” e o Estado do Maran­hão pas­sou a ser ape­nas um degrau dos seus son­hos (ou delírios).

A pop­u­lação mais esclare­cida da ilha – o pouco que restou –, assis­tiu, no penúl­timo dia do ano, a espetáculo, dig­amos, inusi­tado: um gov­er­nador de estado ir a “inau­gu­ração” de uma reforma de feira. Acho que já seria demasi­ado um gov­er­nador ir a inau­gu­ração de uma feira. Ir a inau­gu­ração de reforma, então, dis­pensa quais­quer comen­tários. Falta do que fazer ou, talvez, a rev­e­lação, inad­ver­tida, da real dimen­são do gov­erno.

Não que seja novi­dade o atual gov­erno “ape­que­nar” o papel do estado. Noutras opor­tu­nidades já o vimos inau­gu­rar “um” poço arte­siano, uma escol­inha de duas salas, etc.

Assim, não foi de todo sur­preen­dente que o gov­er­nador, em pes­soa, em pleno horário de expe­di­ente, fosse com seu séquito de pos­tu­lantes a can­didatos a prefeito da cap­i­tal à inau­gu­ração da “reforma” da feira da Macaúba, no antigo Cam­inho da Boiada, onde se deli­ciou com um fumegante mocotó.

Na inau­gu­ração da “reforma” da feira o gov­er­nador cumpriu o duplo papel: apresentar-​se como líder pop­u­lar e apre­sen­tar, à pop­u­lação local, seus prováveis can­didatos à sucessão do atual alcaide.

A nota pitoresca – sem a qual o evento não estaria com­pleto como a comé­dia bufa, que foi –, é que um dos pré-​candidatos do con­sór­cio gov­ernista apre­sen­tado a uma legí­tima iguaria da culinária maran­hense, o mocotó, comportou-​se como se estivesse diante de um guisado de “krip­tonita”, o que foi cap­i­tado pelas lentes indisc­re­tas de alguns dos pre­sentes e explo­rado, à exaustão, pelos próprios inte­grantes do con­sór­cio, através dos diver­sos veícu­los de comu­ni­cação a soldo ou sim­páti­cos aos out­ros con­cor­rentes, que não “des­cansaram” na “queimação” do pre­tendente a prefeito nem durante a queima de fogos da virada de ano.

Nunca se viu tanto “fogo amigo” con­tra uma pes­soa quanto este, dis­pen­sado pelos próprios ali­a­dos, con­tra o con­cor­rente.

O jogo político maran­hense para esta eleição, e para a de 2022, se apre­senta como o espetáculo dan­tesco. Com rarís­si­mas exceções, impondo ao cidadão a obri­gação de escol­her entre o pior e o menos ruim.

Com rarís­si­mas exceções, repito, olhamos para os quadros sucessórios nos municí­pios – e, mesmo, o que se desenha para o pleito estad­ual –, e ficamos com a clara sen­sação que o homem de bem desis­tiu da política, resolveu deixar o comando dos des­ti­nos das cidades – e do estado –, nas mãos dos arriv­is­tas de sem­pre, os que enricaram enquanto diziam rep­re­sen­tar o povo.

O pior é que, na maio­ria das vezes, são jovens, mas já “doutores” nas vel­has práti­cas, o que nos leva ter menos esper­ança no futuro do que no pre­sente.

A política maran­hense não apre­senta qual­quer novi­dade entre o que viven­ci­amos nos quase cinquenta anos sob o jugo do sarneísmo e que se vivên­cia agora, sob o comando dos comu­nistas.

Arriscamos-​nos a dizer, até, que essa nova hege­mo­nia se apre­senta muito mais deletéria que a ante­rior, não ape­nas sob a ótica da dom­i­nação política como, tam­bém, no que se ref­ere à gestão da máquina admin­is­tra­tiva.

A sucessão munic­i­pal que está posta não apre­senta para os cidadãos quais­quer mel­ho­ras (ressal­vando a exceção que jus­ti­fica a regra) em relação aos pleitos ante­ri­ores, antes, pelo con­trário.

Mesmo a cap­i­tal, sem­pre recon­hecida como celeiro de novi­dades e rebel­dia, se deser­ti­fi­cou. Den­tre as pré-​candidaturas postas a única que se apre­senta como “algo novo” é a do (ex) juiz Car­los Madeira. Não que eu acred­ite que possa obter êxito no pleito que se aviz­inha, quando, até aqui, se apre­senta, segundo a última pesquisa do ano pas­sado, com menos de um por cento de prefer­ên­cia do eleitorado – a não ser que acon­teça alguma coisa impre­visível –, mas pelo que rep­re­senta como alter­na­tiva futura.

Ressaltando, entre­tanto, que para isso é necessário que ele se coloque como oposição a tudo isso que está posto, não se deixando “abduzir” pelo antigo régime, rep­re­sen­tado pelo grupo Sar­ney ou pelo atual mod­elo vin­cu­lado aos “comu­nistas”. Numa ou noutra hipótese será ape­nas mais um.

Em um quadro político tão ruim, com tan­tos abu­sos acon­te­cendo diari­a­mente em todos os municí­pios e prat­i­ca­dos por pes­soas que se acos­tu­maram a desafiar a lei, a Justiça Eleitoral, por suas diver­sas instân­cias, pre­cisa ficar atenta e com­bater com sev­eri­dade e celeri­dade os “desvios” e/​ou crimes per­pe­trado pelos pre­ten­sos candidatos.

Emb­ora enten­dendo que os abu­sos que vêm sendo cometi­dos nos últi­mos anos não este­jam isen­tos de punição e/​ou mesmo do imped­i­mento à par­tic­i­pação destes can­didatos no pleito vin­douro, ainda que se lim­ite a uma ação efe­tiva a par­tir do primeiro dia deste ano, já pode con­tribuir – e muito –, com o igual­dade de condições na dis­puta entre todos os candidatos.

Durante o ano tentare­mos acom­pan­har e expor nos­sas opiniões sobre o quadro político, os proces­sos sucessórios e as demais novi­dades na área da Justiça Eleitoral.

Um bom ano de 2020 a todos com esper­ança e fé.

Abdon Mar­inho é advo­gado.