AbdonMarinho - A VITÓRIA DOS ÍMPIOS.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Domingo, 24 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

A VITÓRIA DOS ÍMPIOS.

A VITÓRIA DOS ÍMPIOS.

Por Abdon Marinho

CERTA VEZ um amigo, já mais ido nos anos que eu, indagou-​me: — Abdon, viver­e­mos para teste­munhar­mos a vitória do bem sobre o mal?

Durante dias fiquei com a inda­gação na cabeça. Por diver­sas vezes encenei escr­ever sobre o tema sem no entanto alcançar toda a dra­mati­ci­dade da situ­ação, a angús­tia de um cidadão – falando não ape­nas sobre a sua ger­ação, mas, na ver­dade, de diver­sas ger­ações –, diante de um fla­grante fra­casso civilizatório.

Com o final do ano chegando – quando nos dedicamos aos bal­anços da vida –, voltei a pen­sar na inqui­etação deste amigo (que tam­bém é minha) sobre ter­mos fra­cas­sa­dos em legar para as ger­ações futuras um mundo mel­hor, ou mesmo, um país, ou um estado, melhores.

O meu amigo, pas­sando dos setenta e eu com cinquenta, já temos “um apu­rado” da vida, já sabe­mos o que fize­mos.

A morte (minha e dele) à espre­ita logo ali, já temos muito mais tempo vivido do que por viver, con­forme a ordem nat­ural das coisas e, no entanto, a sen­sação que sobra é a da der­rota. O mal venceu, não sabe­mos por quanto tempo mais estare­mos sub­ju­ga­dos pelos ímpios. Mas, sabe­mos, aque­les que dom­i­nam agora são que con­tin­uarão a dom­i­nar por muito tempo.

O nosso país é uma nação divi­dida pelo ódio, enquanto os cor­rup­tos de ambos os lados se locu­ple­tam do din­heiro público.

As provas disso estão aí, à vista de todos.

No Brasil os políti­cos (e tam­bém out­ros agentes públi­cos) enri­cam, de forma assus­ta­dora, nos mandatos para os quais foram eleitos para rep­re­sentarem e defend­erem os inter­esses do povo.

Isso não acon­tece porque econ­o­mizam os faus­tos salários (dos mais altos do mundo), mas sim, porque “pri­va­ti­zam” em proveito próprio, partes dos recur­sos da nação.

Antiga­mente os políti­cos que­riam levar uma obra estru­tu­rante para suas bases eleitorais para serem recon­heci­dos e obterem os votos daque­las comu­nas. Hoje, levam para qual­quer lugar em troca de van­tagem. Segundo dizem, até ven­dem suas “emen­das” pre­vi­a­mente para faz­erem recursos.

Mas, não estavam sat­is­feitos só em indi­carem emen­das para as obras aqui ou acolá, em bene­fí­cio próprio, aprovaram mecan­is­mos legais que as tor­nassem “impos­i­ti­vas”, qual seja, suas emen­das, obri­ga­to­ri­a­mente, pre­cisam ser liberadas.

E, foram além, na des­façatez, agora querem “man­dar” dire­ta­mente as emen­das aos gov­er­nos estad­u­ais e/​ou munic­i­pais sem qual­quer con­t­role da União.

Será que alguém, ainda a mais pura das almas, tem dúvi­das sobre o que pre­ten­dem?

Não pensem que se deram por sat­is­feitos. Leg­is­lando em causa própria, acharam que dev­e­riam criar um fundo par­tidário. Ini­cial­mente um fundo modesto, for­mado, basi­ca­mente de ver­bas ori­un­das de mul­tas e out­ras sobras orça­men­tárias. Estava pouco, resolveram “turbinar” o fundo para a casa dos bil­hões.

Como ninguém (ou quase ninguém) esboçou sinal de protesto, resolveram criar um fundo eleitoral.

Ora, nada mais nor­mal, pen­saram: se as empre­sas não podem doar e os cidadãos não estão con­ven­ci­dos dos “nos­sos” propósi­tos, que aprove­mos um fundo para “ban­car” nos­sas eleições.

E assim fiz­eram, cri­aram um fundo bil­ionário e como não haviam recur­sos sufi­cientes, acharam dev­ido que avançassem sobre os recur­sos da edu­cação e da saúde dos cidadãos, além das ver­bas para obras estruturantes.

Não é seg­redo que a edu­cação pública brasileira é caótica e a saúde dis­pensa qual­quer comen­tário. Mas, suas excelên­cias decidi­ram que devem reti­rar recur­sos que seriam des­ti­na­dos a estas áreas para ban­car suas eleições – ou sim­ples­mente desviarem, como já ficou provado.

É assim que os políti­cos enri­cam no curso de seus mandatos e, tam­bém, fazendo todo tipo de traficân­cia, vendendo leis e abrindo facil­i­dades aos cor­rup­tores as cus­tas dos recur­sos da nação.

A farra desen­f­reada do Con­gresso Nacional não é dis­tinta da que obser­va­mos em out­ros poderes ou insti­tu­ições (pouco)republicanas.

Recen­te­mente uma revista nacional, a Revista Veja – que outro dia o Par­tido dos Tra­bal­hadores a tinha como pan­fleto –, divul­gou o patrimônio da família Lula da Silva, que antes do ex-​presidente Lula chegar ao poder lev­ava uma vida mod­esta, classe média baixa, treze anos de PT no poder, foram sufi­cientes para fazer a todos da família mil­ionários.

A origem da for­tuna, descorti­nada por inves­ti­gações é a velha com­pan­heira dos poderosos do Brasil, a cor­rupção, a san­gria dos cofres públi­cos.

A família Lula da Silva é ape­nas um exem­plo, usado aqui para demon­strar que mesmo aque­les que tiveram como ban­deira de luta o com­bate à cor­rupção, a ela sucumbiu sem muitos pudores.

Se, em algum momento, tive­mos a esper­ança de que à cor­rupção seria com­bat­ida com afinco a par­tir dos êxi­tos da “Oper­ação Lava Jato”, na atual quadra política, sabe­mos que isso não pas­sou de um sonho.

As elites políti­cas do Exec­u­tivo, Leg­isla­tivo e Judi­ciário, tra­bal­ham em sen­tido con­trário.

Com a falsa des­culpa de que estão pro­te­gendo a sociedade fiz­eram leis e tomaram decisões no sen­tido de per­pet­uar a impunidade, con­forme já trata­mos disso, aqui mesmo, inúmeras vezes.

Como podemos ter alguma esper­ança de uma vitória do bem sobre o mal? Não, não temos.

O Brasil cam­inha para um um está­gio de coisas onde a atual elite política vai se per­pet­uar no poder, pois dom­i­nam as máquinas par­tidárias e os recur­sos públi­cos, pes­soas de bem e/​ou inde­pen­dentes não terão qual­quer chance de dis­putar com eles espaços de poder.

O Poder Judi­ciário e/​ou o Min­istério Público que têm o dever de estarem aten­tos para ado­tar medi­das em defesa da sociedade – já esta­mos cansa­dos de saber –, cam­in­ham para irrelevân­cia e a desmor­al­iza­ção.

Cada dia que passa a sociedade con­fia menos nes­tas insti­tu­ições.

E não adi­anta cul­par a sociedade por suas descon­fi­anças. Foram elas que bus­caram isso, com suas decisões ao sabor das con­veniên­cias, com o eterno com­padrio, com os maus exem­p­los. Como alguém pode achar razoável que uma decisão judi­cial deva ser anu­lada pelo fato do juiz de primeira instân­cia, seguindo a lei, não ter “adi­v­in­hado” que, no futuro, \ o Supremo Tri­bunal Fed­eral — STF, iria criar uma regra com base em uma norma não escrita? Como alguém pode achar razoável que em um país onde uma grande parcela da pop­u­lação sobre­vive com um salário mín­imo, tenha mag­istrado que em ape­nas um mês receba mais de um mil­hão de reais, ainda que isso seja legal?

Uma piada se tornou usual nos nos­sos tem­pos, segundo ela, se você é rico, você con­trata um bom escritório de advo­ca­cia, mas se você for muito rico, muito poderoso, você con­trata o Supremo Tri­bunal Fed­eral.

É uma piada, claro, mas não deixa de ter seu fundo de ver­dade – se aplicar a out­ras esferas judi­ci­ais.

Quando “desce­mos” ao Maran­hão, a pos­si­bil­i­dade do bem vencer o mal ganha cores mais dramáti­cas.

Durante décadas (quase cinco), o “mal” foi iden­ti­fi­cado como sendo o grupo Sar­ney, uma âncora a segu­rar o estado em atraso sec­u­lar.

Depois de muita luta – de ger­ações –, alterou-​se o comando do estado e, cinco anos depois, con­stata­mos que nada – ou quase nada –, mudou, e o que mudou foi para pior.

Os atu­ais donatários do poder não ape­nas con­tin­uaram com as vel­has práti­cas, como ado­taram out­ras bem mais nefas­tas a qual­quer ideia do que seja democ­ra­cia.

Basta dizer que não temos mais debate político, o par­la­mento é uma espé­cie de “chance­laria” do Poder Exec­u­tivo, servindo para dizer “sim, sen­hor” na hora, e como, o gov­er­nante quer.

As provas disso estão aí para quem quiser con­ferir. Já vimos o par­la­mento aprovar medi­das quase que por una­n­im­i­dade e depois, quando a matéria é vetada, o mes­mos par­la­mentares man­terem o veto sem qual­quer ques­tion­a­mento.

Não faz muito tempo, aten­dendo a solic­i­tação do Poder Exec­u­tivo, a Assem­bleia Leg­isla­tiva aprovou mudanças na con­tribuição prev­i­den­ciária dos servi­dores.

Aten­dia a um comando da Emenda Con­sti­tu­cional nº. 103, de 12 de novem­bro de 2019. Quanto a isso não se dis­cute, o que mere­ceu atenção foi o fato dos par­la­mentares terem aprovado o pro­jeto de lei sem qual­quer dis­cussão, em menos de 24 horas, e, assim mesmo, porque par­la­mentares da oposição pedi­ram vis­tas do pro­jeto, senão a aprovação teria se dado em questão de horas.

A alternân­cia no poder que prom­e­teu desen­volvi­mento e democ­ra­cia, temos-​a tra­bal­hando em sen­tido inverso.

O debate político foi total­mente inter­di­tado no par­la­mento e nas ruas; a imprensa local se encon­tra total­mente dom­i­nada, e, com os poucos que teimam em escr­ever algo dis­so­nante do poder, sendo proces­sa­dos pelas as autori­dades e, pas­mem, pelo próprio estado.

Essa é a democ­ra­cia prometida?

Outro dia um fato me chamou atenção. Um amigo me man­dou o artigo de um juiz de dire­ito que fazia refer­ên­cia a um texto que havia escrito jus­ta­mente sobre a forma de aprovação do pro­jeto de lei sobre as mudanças nas alíquo­tas prev­i­den­ciárias.

Quando cliquei no link da matéria desco­bri que a mesma tinha “sum­ido” do blogue que a pub­li­cou. Só depois pude ler o texto é assim mesmo porque me man­daram por What­sApp.

O texto nunca mais voltou ao blogue. Até hoje não sei se a “cen­sura” se deu por ini­cia­tiva do jor­nal­ista, aten­dendo sabe se lá o quê, ou, por ini­cia­tiva do próprio mag­istrado.

O certo é que um texto que não tinha nada demais, nada ofen­sivo, sofreu uma bru­tal censura.

Como acred­i­tar em democ­ra­cia, liber­dade, tri­unfo do bem diante de tais coisas?

O poder exec­u­tivo dom­ina total­mente o leg­isla­tivo, os meios de comu­ni­cação, as enti­dades de classe e, dizem, o judi­ciário local, inclu­sive, com inter­venções inde­v­i­das na escolha dos diri­gentes daquele poder.

A real­i­dade do Maran­hão é de “semi-​ditadura”, onde um poder cen­tral dom­ina todos os demais e as insti­tu­ições, e, a despeito disso não apre­senta os resul­ta­dos esperados.

Nos últi­mos cinco anos não reduzi­ram a mísera – pelo con­trário, a aumen­taram –, não mel­ho­ram nen­hum dos indi­cadores africanos do estado, que con­tinua na “rabeira” de tudo, que­braram a pre­v­idên­cia dos servi­dores e fes­te­jam por con­seguirem (ainda) pagar os salários e pen­sões dos servidores.

Fal­tou din­heiro? Não, fal­tou com­petên­cia. Se com­para­r­mos as receitas ori­un­das da arrecadação própria e dos repasses con­sti­tu­cionais, ver­e­mos que, ape­sar da crise que assola o país, no Maran­hão, elas mel­ho­ram em cerca de 50% (cinquenta por cento), con­forme lev­an­ta­mento de um jor­nal local.

Refletindo sobre a angús­tia do meu amigo, que me trouxe até aqui, tenho por certo que o Maran­hão piorou, e, pior, não tem per­spec­tiva de mel­hora. É só olhar para o que nos reserva o futuro.

O mal venceu e con­tin­uará a man­dar nos cidadãos de bem.

Abdon Mar­inho é advo­gado.