AbdonMarinho - DINO “ENTERRA” OS 5O ANOS DE ATRASO.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Domingo, 24 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

DINOENTERRAOS 5O ANOS DE ATRASO.

DINOENTERRAOS 5O ANOS DE ATRASO.

Por Abdon Marinho.

ANTES que o apres­sado leitor con­clua que o gov­erno comu­nista acabou com o atraso no estado e colo­cou o Maran­hão nos rumos do desen­volvi­mento, alerto que não é nada disso, o que fez foi ape­nas sepul­tar o velho hábito – depois de qua­tro anos –, de colo­car a culpa do próprio insucesso na admin­is­tração do estado no grupo político a quem sucedeu.

O fato político dos últi­mos tem­pos na política estad­ual foi o encon­tro do gov­er­nador Flávio Dino (PCdoB) com o ex-​presidente José Sar­ney (MDB) em todas as rodas só ouve, só se indaga sobre este fato. Cada um espec­u­lando de uma forma.

A cabeça dos xerim­ba­bos deu um nó. Acos­tu­ma­dos a defender o atual gov­erno colo­cando a culpa nos gov­er­nos ante­ri­ores, mais, pre­cisa­mente, nos cinquenta anos de atraso da oli­gar­quia Sar­ney, muitos ainda não sabem o que dizer, ou, cini­ca­mente, indifer­ente a tudo que dis­seram até então, pas­saram a elo­giar esse “grande ato político” destes “homens extra­ordinários”.

Quando soube do “encon­tro” a primeira lem­brança que me veio à cabeça foi da “Pen­itên­cia de Canossa”, a que se sub­me­teu o rei Hen­rique IV, do Sacro Império Romano-​Germânico, em janeiro de 1077, quando ficou por três dias fora das por­tas de Canossa, descalço, sobre a neve, vestindo ape­nas uma túnica, para lev­an­tar a sua exco­munhão dec­re­tada pelo papa Gregório VII e con­tin­uar rei. (A pin­tura de Eduard Schweizer, de 1862 – que ilus­tra este texto –, retrata aquele momento).

Com mente fér­til, imag­inei sua excelên­cia indo bater à porta da man­são de Sar­ney, após sem­pre tê-​lo “destratado” e lhe impingido todas as cul­pas pelas des­graças do estado e do nosso povo. Claro, difer­ente de Hen­rique IV, Dino não teve que ficar três dias à porta para ser rece­bido por Sar­ney. Bateu, algum empre­gado abriu a porta e o con­duziu ao ambi­ente onde estava o velho moru­bix­aba. Talvez este o tenha feito esper­ado um pouquinho – nada capaz de ferir a boa edu­cação –, bem difer­ente do que pas­sou o antigo rei exco­mungado.

O encon­tro foi tratado com dis­crição pelo anfitrião – exceto pelos comuns vaza­men­tos aos jor­nal­is­tas ami­gos do clã famil­iar –, que a ele não se referiu na col­una que assina no O Estado do Maran­hão ou mesmo nas suas redes soci­ais.

Inda­gada sobre o assunto, a filha, ex-​governadora do estado, teria dito: “— Nor­mal. Sar­ney é o maior político que o Maran­hão já teve e até hoje uma das maiores expressões do nosso país. Por­tanto, ele não pode­ria jamais deixar de aten­der a um pedido de visita do gov­er­nador do seu estado”.

A dis­crição de Sar­ney sobre a tertúlia con­trasta com o com­por­ta­mento do gov­er­nador, que fez questão de alardeá-​la, colocando-​a na conta de grande feito político, são suas estas palavras: “hoje con­ver­sei com o ex-​presidente José Sar­ney sobre o quadro nacional. Apre­sen­tei a ele a minha avali­ação de que a democ­ra­cia brasileira corre perigo, em face dos graves fatos que esta­mos assistindo. Já estive com os ex-​presidentes Lula e Fer­nando Hen­rique, com a mesma pre­ocu­pação”.

Ora, sabe-​se que a política é um xadrez intri­cado, mas o que esperar de resul­tado prático do diál­ogo entre o que “já teve” com o que “nada tem”. Em política, uma das primeiras lições é: manda quem tem mandato.

Daí causarem as mais diver­sas espec­u­lações o “pedido de visita” – como fez questão de frisar a ex-​governadora Roseana Sar­ney –, feito pelo sen­hor Flávio Dino ao sen­hor Sar­ney.

É certo que o ex-​presidente ainda goza de prestí­gio, mas esse é mera­mente cer­i­mo­nial. Já não “man­dando” na política nacional como out­rora. Mesmo aque­les que “se fiz­eram” graças ao seu nome, por ele já não que­bram lanças.

O maior exem­plo é o que ocor­reu no Maran­hão, quando o único mem­bro da família a con­seguir um mandato abdi­cou do nome dele.

Já o gov­er­nador, por mais que tente, até aqui, não con­seguiu “vender-​se” como lid­er­ança nacional. Ape­sar do quadro político nacional dan­tesco, ninguém de relevân­cia “dá bola” pra ele.

Assim como a Sar­ney, deve ter avi­ado “pedi­dos de vis­i­tas” aos ex-​presidentes Lula e Fer­nando Hen­rique, suposta­mente, para revelar-​lhes pre­ocu­pação com o “perigo” que corre a democ­ra­cia brasileira. A exceção de Lula, acred­ito que, tam­bém, FHC o tenha rece­bido por educação.

O argu­mento de que sua excelên­cia encontra-​se pre­ocu­pado com o “perigo” que corre a democ­ra­cia brasileira não resiste – mesmo –, a um exame super­fi­cial.

Como temos assis­tido o gov­er­nador do Maran­hão tem fomen­tado por todos os meios de comu­ni­cação disponíveis a insta­bil­i­dade política no país.

Basta dizer que até hoje não recon­hece a legit­im­i­dade do pres­i­dente eleito com mais de 57 mil­hões de votos, não per­mitindo que a foto ofi­cial do pres­i­dente da República cruze os umbrais do Palá­cio dos Leões; fustiga dia sim e no outro tam­bém o gov­erno Bol­sonaro, tendo razão ou não; coloca-​se frontal­mente con­trário a Oper­ação Lava Jato, inclu­sive, defend­endo a sua anu­lação e, con­se­quente­mente, a soltura de todos con­de­na­dos decor­rentes da oper­ação; por último, pelo que ficamos sabendo, até se tornou sub­scritor de uma nota defend­endo a soltura do ex-​presidente Lula, con­de­nado por três instân­cias da justiça brasileira e o afas­ta­mento do min­istro Sér­gio Moro do Min­istério da Justiça e Segu­rança Pública; além de todas as demais tolices que ele e seus ali­a­dos, empre­ga­dos e adu­ladores pub­li­cam diari­a­mente no afã de deses­ta­bi­lizar o gov­erno e as insti­tu­ições brasileiras.

Feliz­mente para o Brasil, como dito ante­ri­or­mente, relevân­cia do gov­er­nador nes­tas investi­das é quase nula. A nota que sub­screveu (fraquinha, por sinal) con­tou com o apoio dos sen­hores Had­dad, Bou­los, e de mais duas ou três pes­soas de menor expressão ainda.

O escárnio revela-​se ainda maior quando sabe­mos que sua excelên­cia é fiel apoiador dos regimes total­itários da Venezuela (que vemos as con­se­quên­cias em cada rotatória da cap­i­tal), Cuba e da Cor­eia do Norte. Quem tem apreço a democ­ra­cia não apoia ditaduras.

Fosse uma pre­ocu­pação real e efe­tiva a primeira coisa a fazer seria respeitar as insti­tu­ições do país e as instân­cias da justiça. Sua excelên­cia faz o con­trário disso.

Emb­ora o gov­er­nador não tenha dito, poder-​se-​ia argu­men­tar que o encon­tro serviu (ou servirá) para inau­gu­rar um novo momento na política local: a união de todos pelo bem do Maran­hão.

Alguns dos ali­a­dos do gov­er­nador, aliás, fes­te­jam isso, saudando a “grandeza destes dois grandes homens”.

Esta foi a pro­posta do ex-​governador José Reinaldo Tavares ainda em 2015. E, por conta de tal sug­estão, pas­sou a ser boico­tado, ali­jado, excluído e tratado como adver­sário do gov­erno que aju­dou (mais que qual­quer outro) a eleger. Por conta desta ideia de união, no começo do gov­erno, acabaram com a sua car­reira política.

Estes mesmo que agora falam na “grandiosi­dade” do gesto do gov­er­nador, foram os primeiros a “ati­rarem pedras” e a cer­rar fileiras con­tra o ex-​governador. O que foi a “des­graça” de José Reinaldo agora é o “mérito” de Dino. Cíni­cos!

Há qua­tro anos o ex-​presidente tinha força política efe­tiva no gov­erno Dilma Rouss­eff e, depois no de Michel Temer. Havia espaço, como defen­dido pelo visionário ex-​governador José Reinaldo Tavares, para uma união em torno dos inter­esses do Maran­hão.

Agora o quadro é outro, e pelo que sabe­mos o político do estado com maior “trân­sito” junto ao gov­erno fed­eral é o senador Roberto Rocha (PSDB), que o gov­er­nador finge não con­hecer – aliás, sem­pre foi assim, desde que se elegeram jun­tos em 2014.

Assim, con­forme demon­strado, a “pen­itên­cia a Conossa”, digo à Brasília, do gov­er­nador Flávio Dino nunca foi por pre­ocu­pação com o “risco que corre a democ­ra­cia brasileira”, como ele disse, ou pelos “inter­esses mar­i­oles do estado”, como pregam seus ali­a­dos.

Ao enter­rar o sur­rado dis­curso da “her­ança maldita” e dos “cinquenta anos de atraso” – não que seu gov­erno seja mel­hor ou não padeça dos mes­mos males dos out­ros que tanto crit­ica, outro dia, para meu espanto, soube que um dos maiores “tocadores” de obras públi­cas do estado ostenta (ou osten­tou), em uma das per­nas, um vis­toso acessório cedido pela Justiça Fed­eral, e é até o de menos –, fê-​lo em nome dos próprios inter­esses, que ainda não sabe­mos quais. Mas isso não dev­e­ria sur­preen­der ninguém.

Meu pai sem­pre dizia que “quem destrata quer com­prar”, por­tanto é de se con­cluir com outro dito das pro­fun­dezas do meu sertão: “essa alma quer reza”.

Abdon Mar­inho é advo­gado.