AbdonMarinho - O MONOPÓLIO DO PRECONCEITO.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Domingo, 24 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

O MONOPÓLIO DO PRECONCEITO.

O MONOPÓLIO DO PRE­CON­CEITO.

Por Abdon Marinho.

AS CHAMADAS esquer­das brasileira sem­pre gozaram de uma certa “inim­putabil­i­dade” para os desati­nos que cos­tuma vocif­erar. Os exem­p­los estão aí para com­pro­var o acerto de tal assertiva.

Por estes dias o sen­hor Ciro Gomes, can­didato à presidên­cia da república pelo PDT, xin­gou a mãe de uma pro­mo­tora de Justiça do Estado de São Paulo. Chamou-​a de “puta”. A pobre sen­hora que não deve con­hecer o pres­i­den­ciável foi xin­gada por uma providên­cia legal de sua filha, que achou opor­tuno inves­ti­gar, por ser de ofí­cio, pos­sível come­ti­mento de crime de injúria racial prat­i­cada por ele con­tra um vereador da cidade de São Paulo.

A frase do pres­i­den­ciável foi: «Agora um pro­mo­tor aqui de São Paulo resolveu me proces­sar por injúria racial e pronto. Um filho da puta desses faz isso e pronto». Mais adi­ante, no mesmo debate, foi além: «Ele que cuide de gas­tar o restinho das atribuições dele por que se eu for pres­i­dente essa mamata vai acabar, porque ninguém pode viver autono­ma­mente», afir­mou o presidenciável.

Na origem de todo esse quipro­quó, o fato do sen­hor Ciro Gomes haver chamado o vereador de São Paulo, Fer­nando Hol­i­day, do Democ­ratas (DEM), de “capitãoz­inho do mato”. Temo que aqui, nesta afir­ma­tiva, ten­hamos dois pre­con­ceitos. O primeiro na definição clás­sica do indi­ví­duo que, com autor­iza­ção do gov­erno, andava armado e con­sti­tuía ban­dos de caça aos escravos fugi­dos da sen­zala. No caso do vereador, sendo ele negro, um traidor da raça, dos seus irmãos. O segundo pre­con­ceito que vis­lum­bro é, ao colo­car o termo no diminu­tivo, uma alusão à condição sex­ual do ofen­dido.

Mas, haverão de dizer: — foi o Ciro Gomes. Quem dá ouvido ao que ele fala? Ele tem passé livre.

Não deixa de ser ver­dade. Afi­nal, que outra pes­soa, em sã con­sciên­cia, iria dizer que o papel de sua mul­her na cam­panha era “dormir” com ele? E não falava de uma mul­her anôn­ima, alguém sem expressão na sociedade, mas sim de uma atriz das mais respeitadas na tele­dra­matur­gia brasileira, além de pro­du­tora, apre­sen­ta­dora, cineasta, com atu­ação em quase uma cen­tena de papéis – ou mais –, Patrí­cia Pil­lar.

Esse foi o trata­mento dis­pen­sado a ela numa cam­panha pres­i­den­cial ante­rior.

Pela forma como se referiu à mul­her até num momento del­i­cado de saúde, podemos imag­i­nar e até aquilatar as demais tolices, como a de referir-​se ao ex-​prefeito de São Paulo como “vead­inho com areia no …”. Aqui só para falar do monopólio dos pre­con­ceitos, não fale­mos na “democ­ra­cia venezue­lana”, no “seque­stro do Lula”, em “rece­ber Moro a bala”, estas deix­amos para a coleção de bra­vatas.

Podemos dizer, entre­tanto, que o neol­o­gismo “sin­cer­icí­dio”, comum na política por des­ig­nar os gestos de sin­ceri­dade que leva ao suicí­dio político, pode dar origem a um outro: o “sin­ceri­ciro”, com quase o mesmo sentido.

Engana-​se, entre­tanto, os que imag­i­nam que estas lou­curas, estes monopólios dos pre­con­ceitos, alcança ape­nas o can­didato pede­tista. Nada disso, vai muito além e alcança quase todos.

Outro dia assisti a uma polêmica envol­vendo a pré-​candidata comu­nista, Manuela D’Ávila.

A recla­mação era con­tra um pos­sível “machismo” que teria sido vítima num pro­grama de tele­visão. Quase uma sem­ana de protestos con­tra a emis­sora e jor­nal­is­tas pela prática “machismo”, isso porque, diante de algu­mas per­gun­tas que a can­di­data ter­giver­sava, os inquiri­dores a inter­rompia. O mundo quase veio abaixo nas hostes esquerdis­tas, com protestos e man­i­fes­tações de sol­i­dariedade a pré-​candidata, de dep­uta­dos, políti­cos com e sem mandatos, os supos­tos int­elec­tu­ais e até do gov­er­nador do Maran­hão, que dá pitaco até em jogo de cas­tanha.

Emb­ora como menos reper­cussão, tive­mos, recen­te­mente, os protestos da pres­i­dente do PT, senadora Gleisi Hoff­mann, tam­bém, con­tra um jor­nal­ista, acusando-​o de “machismo”. A busílis: o jor­nal­ista, num texto, chamara a pres­i­dente da agremi­ação, dev­ido aos seus arrou­bos, nem sem­pre jus­ti­ficáveis, de Maria Louca.

Foi o que bas­tou para os protestos con­tra o machismo voltassem as pau­tas dos enga­ja­dos nos movi­men­tos de empon­dera­mento fem­i­nino e todas as out­ras com seus “ismos”.

São rel­e­vantes estas con­sid­er­ações para assen­tar que, no mesmo momento, em que estes protestos con­tra o suposto “machismo” sofrido pela pré-​candidata Manuela e con­tra a pres­i­dente do par­tido gan­havam corpo e adquiria adep­tos, out­ras mul­heres, talvez mais mere­ce­do­ras, eram alvo dos ataques mais ver­gonhosos – e ainda são –, ori­un­dos, em grande parte, jus­ta­mente, dos que mais protes­tam.

Basta uma ligeira pesquisa nas infini­tas pági­nas nas redes soci­ais e mesmo de veícu­los de comu­ni­cação ban­ca­dos, finan­ciado ou de sim­pa­ti­zantes das pau­tas esquerdis­tas para nos deparar­mos com todos tipos de ataques vocif­er­a­dos con­tra a Min­is­tra Lau­rita Vaz, do STJ; con­tra a juíza fed­eral Car­olina Leb­bos, da vara de exe­cuções penais do Paraná e mesmo con­tra a min­is­tra Carmem Lúcia, do STF.

Os ataques, que além dos autores dos tex­tos prin­ci­pais, alcança uma malta treinada pra comentá-​los e vender suas nar­ra­ti­vas, são mate­ri­al­iza­dos por inúmeras grosse­rias à honra, à sug­estão de vio­lên­cia sex­ual con­tra aque­las mul­heres, que come­teram o grave pecado de não rezarem nos man­u­ais dos par­tidos políti­cos da devoção esquerdis­tas e, prin­ci­pal­mente, por cumprirem com suas obri­gações fun­cionais para as quais são pagas pelos con­tribuintes.

A cada decisão con­trária aos inter­esses da horda, prin­ci­pal­mente se ref­er­ente ao líder-​mor da seita que apel­i­daram de par­tido, as redes soci­ais e sites amil­ha­dos fervil­ham de ataques a estas mul­heres, ori­un­dos, jus­ta­mente, de muitos dos que cer­ram fileiras dos movi­men­tos que dizem defend­erem as mul­heres e mino­rias.

Diante de tais fatos não há como deixar de recon­hecer o império da hipocrisia. A pre­ocu­pação não ocorre em função da vio­lên­cia de gênero prat­i­cada, mas sim em razão de quem são os autores e quem são as viti­mas.

Assim, nunca se ouviu protestos dos notórios defen­sores dos dire­itos humanos e igual­dade de gênero ou con­tra o machismo em relação as asneiras e agressões do sen­hor Ciro Gomes, ou con­tra o sen­hor Lula por ocasião das piadas ofen­si­vas aos gays (esque­ce­ram a trans­vi­adon­ica? As vezes que fez coro aos ataques homofóbi­cos con­tra adver­sários nas ditaduras ali­adas?); as mul­heres (esque­ce­ram as “mul­heres do grelo duro?); a insin­u­ação ao estupro que pode­ria ter sido sofrido por uma secretária do Insti­tuto Lula numa oper­ação da PF e tan­tas out­ras.

Nada. Silên­cio total. Estão lib­er­a­dos para agredi­rem com palavras e insin­u­ações infames, mul­heres, gays, quem quiserem.

Agora mesmo, nada se ouve em matéria de protestos con­tra as agressões per­pe­tradas con­tra estas mul­heres, emb­ora sejam patentes as agressões as insin­u­ações, e todos os tipos de vio­lên­cias morais prat­i­cadas.

Ninguém tem nada a dizer. Inter­romper uma colo­cação, ainda que estapafúr­dia de Manuela D’Ávila é machismo, xin­gar a juíza Leb­bos ou a min­is­tra Lau­rita Vaz, de todos os nomes, sug­erir que sejam estupradas não é nada? As úni­cas mul­heres mere­ce­do­ras do respeito são as fil­i­adas as suas agremi­ações, são as enga­jadas nas suas pau­tas?

Assis­ti­mos rotineira­mente esses trata­men­tos difer­en­ci­a­dos em relação as mul­heres ou out­ras mino­rias. Se são “nos­sas” ali­adas, rezam na nossa car­tilha qual­quer coisa que lhes diga, vira ofensa, ataque machista, homofóbico , etc., se não são, se adver­sárias ou não ten­ham papel politico, podem xin­gar de tudo que pud­erem, vacas, putas, vagabun­das, via­dos, capitãoz­inho do mato, tudo mais que quis­erem, a estes tudo é permitido.

Essa é a prat­ica que sem­pre ocor­reu em todo país e até aqui na provín­cia do Maran­hão. Agora mesmo assisti a inúmeras man­i­fes­tações de defesa e protestos no episó­dio envol­vendo a pré-​candidata comu­nista e a emis­sora TV Cul­tura, tudo por algu­mas inter­rupções numa entre­vista, mas aqui, parece um esporte ofi­cial – deve ser pois muitos recebem dos cofres públi­cos –, atacar e agredir de todas as for­mas a can­di­data adver­sária ao atual grupo politico.

Pois é, não pre­cisa ir longe, basta olhar nas pági­nas pes­soais, nas redes soci­ais, nos veícu­los de comu­ni­cação. Os mes­mos que acharam um “absurdo” o ocor­rido com a pré-​candidata à presidên­cia pelo PCdoB, não vêem nada demais nos ataques e agressões que des­ferem con­tra a pré-​candidata do MDB ao gov­erno estadual.

Com desas­som­bro, querem exercer até o monopólio das agressões e preconceitos.

Abdon Mar­inho é advogado.