AbdonMarinho - O MACHISMO, O OPORTUNISMO E A HIPOCRISIA.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Domingo, 24 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

O MACHISMO, O OPOR­TUNISMO E A HIPOCRISIA.

O MACHISMO, O OPOR­TUNISMO E A HIPOCRISIA.

Por Abdon Marinho.

REPER­CU­TIU com inten­si­dade a “brin­cadeira” de um grupo de brasileiros na Rús­sia, por ocasião da Copa do Mundo da FIFA. Os “gajos” toma­dos, é fato, por inde­s­culpável grosse­ria, à guisa de pil­héria, faziam uma cidadã daquele país – que tão bem rece­beu a todos por conta do evento –, a repe­tir, como se fosse “engraçado” vocábu­los chu­los e pornográ­fi­cos na lín­gua de Camões.

E a moça estava lá, a repe­tir os tais ter­mos sem conhecê-​los para o deleite dos maus edu­ca­dos.

Emb­ora esse tipo de “brin­cadeira” seja mais antiga que os escritos de Matusalém, vamos com­bi­nar, que esse tipo de coisa não com­porta mais nos dias atu­ais, sobre­tudo, quando sabe­mos – e demos lutar por ela –, que deve exi­s­tir igual­dade e respeito entre os gêneros. Na ver­dade entre todos os seres humanos.

Fica mais grave ainda a con­duta dos brasileiros quando sabe­mos da forma machista com que são tratadas as mul­heres na sociedade russa.

Os brasileiros podiam ter abstido de darem sua “con­tribuição” à forma humil­hante de que já pade­cem as mul­heres e as mino­rias naquela nação.

Ora, qual­quer um sabe que os que foram à Rús­sia acom­pan­har os jogos da copa ou só mesmo fazer tur­ismo por ocasião de tal evento, acredita-​se, pos­suam nível edu­ca­cional acima dos demais cidadãos que estão ralando no dia a dia para sobre­viver.

Mas, dito isso, e reg­istrada a desaprovação à má con­duta dos nos­sos patrí­cios, devo recon­hecer que tem havido da parte de muitos (e muitas) suposta­mente defen­sores dos dire­itos da mul­heres e mino­rias, um certo opor­tunismo na explo­ração do assunto. Vou além, opor­tunismo e hipocrisia.

Li man­i­fes­tações e notas de repú­dio de muitas enti­dades, cole­tivos fem­i­ni­nos e até par­tidos políti­cos, onde só fal­tam pedir degredo eterno ou pena de morte para aque­les “imaturos” e gros­seiros brasileiros. Soube, até, que uma ex-​presidente da República se man­i­festou, a respeito do fato.

E por que digo que – emb­ora jus­tas –, estes atos de indig­nação são opor­tunistas e hipócritas?

Sim­ples, uma ligeira busca no Google, encon­trei as seguintes letras do “novo” can­cioneiro nacional, que recomendo a leitura ape­nas por pes­soas “fortes” e que retirem as cri­anças da sala antes de lê-​las.

A nov­inha não me quer, só que eu vim da roça. Roça, roça o peru nela que ela gosta”. MC Brinquedo.

Tava na rua fumando um baseado, chegou a nov­inha e pediu pra dar uns trago. Eu falei assim, Dá a buc­eta pra mim, o cu e fuma o beque todo”. MC Pikachu.

A nov­inha fica de qua­tro que eu vou te tacar o peru. Vou da choque no cu, vou dá cu, ah, meu nome é Pikachu”. MC Pikachu.

Nov­inha, tu é sen­sa­cional. Tá difer­ente demais, cai com a boc­eta pra frente, cai com a boc­eta pra trás”. MC Pedrinho.

Tua boca secou, você tá com calor, minha piroca vai te refres­car”. MC Pedrinho.

Se é matemática eu vou te explicar, se é por­cent­agem o R& vai ensi­nar, se é por­cent­agem o R7 vai te ensi­nar, 40% horas, 60 pra tu sen­tar”. MC Pedrinho.

No pau, senta com o popô no pau, fica com o popô no pau, desce com o popô no pau. Vou empurrar, vou empurrar no popozão”. MC Boladinho.

Estas letras são de meni­nos, quase cri­anças. Mas as meni­nas têm, tam­bém, sua participação:

Na pegada da Mary o que os menino estão fazendo. Tão virando a noite e o baile enlouque­cendo. Putaria rola solta e piqué o tempo voa, vou sen­tando assim de boa, vou sen­tando assim de boa”. MC Mary.

Espelho, espelho meu, espelho, espelho meu, será que alguém senta mel­hor do que eu.

Vou rebolando por baixo e sen­tando por cima, que ver se tua aguenta a pegada da menina”. MC Pikena.

Estas e tan­tas out­ras letras de músi­cas são can­tadas e ani­mam os bailes nas per­ife­rias das grandes cidades.

Não me recordo de ouvido, visto ou lido qual­quer man­i­fes­tação destes mes­mos que tanto protes­taram a respeito do mau com­por­ta­mento dos brasileiros na Rús­sia a respeito de tais letras ou músi­cas. Acred­ito, que, em nome da “liber­dade artís­tica”, sejam seus maiores defen­sores e incentivadores.

E vou além, as letras das músi­cas das meni­nas talvez sejam vis­tas como “empodera­mento” fem­i­nino para usar um termo do momento.

Li que alguém se sen­tira eno­jada com tal “brin­cadeira” dos brasileiros, pois, na sua visão, aquela moça inocente estava reduzida ao seu órgão sex­ual e nada mais; aquela moça no entendi­mento destes era tão somente a “buc­eta rosa” que os mar­man­jos gros­seiros a fiz­eram repe­tir para o deite insano dos mes­mos.

Mas o que dizer destas letras musi­cais can­tadas e repeti­das à exaustão nos nos­sos bailes? As “nov­in­has” que tanto repetem nes­tas músi­cas são, na ver­dade, cri­anças de tenra idade, ou mal saí­das da puber­dade. Detalhe, estes autores, tam­bém, são cri­anças.

As letras são, por demais, explíc­i­tas para com­portarem quais­quer out­ras inter­pre­tações que não as con­ti­das em todos os seus ter­mos.

Ape­sar disso, nunca soube de qual­quer man­i­fes­tação de repú­dio ou tra­balho edu­ca­cional volta­dos à redução da sex­u­al­iza­ção infan­til, para o com­bate a gravidez na infân­cia e ado­lescên­cia. Sem­pre vi, pelo fora os dis­cur­sos todos em sen­tido con­trário, pre­gando a ampla total e irrestrita lib­er­al­iza­ção das práti­cas sex­u­ais, sem a pre­ocu­pação de saber se estas cri­anças e jovens têm o dis­cern­i­mento de saberem o que querem da vida.

Estes valentes defen­sores das mul­heres e das mino­rias que se escan­dalizaram com a tal “brin­cadeira” sem graça, repita-​se, dos dos brasileiros na Rús­sia, são os mes­mos que nada dis­seram quando o ex-​presidente Lula con­vo­cou o seu “exército” de mul­heres do “grelo” duro para o e enfrenta­mento nas ruas dos seus críti­cos; ou quando insin­uou (na ver­dade afir­mou) a incon­tida feli­ci­dade uma secretária do seu insti­tuto por ocasião de busca e apreen­são deter­mi­nada pela Justiça, sug­erindo uma pos­si­bil­i­dade de estupro.

E nem fale­mos na famosa rodovia “trans­vi­adônica” pro­posta anos atrás, que suposta­mente lig­aria Pelotas no Rio Grande do Sul a Camp­inas em São Paulo.

Não duvido que deva­mos recrim­i­nar e repu­diar o mau com­por­ta­mento daque­les cidadãos, mas muitos dos que se arvo­ram no direto de criticar e pedir punições por tais trans­gressões são os mes­mos que emude­cem quando a crítica ou recrim­i­nações deva recair sobre seus ali­a­dos políticos.

Alguém já os ouvir, em seis décadas, criti­carem o régime cubano pela repressão aos homos­sex­u­ais, naquele país, emb­ora sabendo que muitos foram mor­tos por sua condição sex­ual? Ou protestarem con­tra a prisão das “damas de Branco”, no mesmo país por crime de opinião? Não faz muito tempo – e reg­istrei aqui –, diver­sas cidadãs cubanas foram pre­sas ou deti­das sim­ples­mente por protestarem. Na ver­dade por estarem jun­tas num mesmo lugar vesti­das de branco.

Os valentes e indig­na­dos cidadãos nada tin­ham a dizer sobre isso – e nada dis­seram.

Alguém já os ouvi criticar as mes­mas práti­cas con­tra mul­heres ou mino­rias na Venezuela, na Cor­eia do Norte ou na China?

Nada, em relação à Venezuela, estavam lá pre­stando con­tinên­cia ou adu­lando o dita­dor Maduro quando este, em palanque público agre­dia ver­bal­mente o adver­sário chamando-​o de veado.

Alguém já os ouviu criticar ou protes­tar con­tra a vio­lên­cia do Hamas con­tra mino­rias na Faixa de Gaza ou na Palestina? Quan­tos cidadãos não foram elim­i­na­dos, inclu­sive com­pan­heiros de armas, pelo delito de ser “gay”?

Agora que a Rús­sia “está na moda”, alguém já os ouviu criti­carem o gov­erno Putin pela repressão sem tréguas e até incen­ti­vada aos homos­sex­u­ais, onde estes, sequer, têm sua existên­cia recon­hecida e não podem se man­i­fes­tar ou mesmo por­tar pub­li­ca­mente uma ban­deira do movi­mento gay?

Já disse out­ras vezes e volto a repe­tir: muitos do vemos por aí só con­hecem a causa das con­veniên­cias. Suas “pre­ocu­pações” não são com as víti­mas das diver­sas modal­i­dades de vio­lên­cias, mas com os que per­pe­traram as con­du­tas infamantes. Se estes forem seus ali­a­dos políti­cos, tudo podem; se adver­sários, mere­cem o fogo eterno do inferno.

Abdon Mar­inho é advo­gado.