AbdonMarinho - O PREÇO DA IMPREVIDÊNCIA.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Domingo, 24 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

O PREÇO DA IMPREVIDÊNCIA.

O PREÇO DA IMPRE­V­IDÊN­CIA.
– É MEU FILHO, cabeça não pensa, corpo padece.
Assim, cer­ta­mente, falaria meu pai, com os dentes cer­ra­dos, usando sua prover­bial sabedo­ria dos apren­deram com a vida.
Os últi­mos dias não têm sido fáceis para o gov­erno comu­nista insta­l­ado Maran­hão, sobre­tudo, agora com a defla­gração da oper­ação poli­cial apel­i­dada de “pegadores” — o próprio nome já uma pil­héria de gosto duvi­doso por parte dos seus ide­al­izadores. Até fico imag­i­nando as goza­ções e ilações a propósito da mesma -, que desco­briu desvios ocor­ri­dos na pasta da saúde estad­ual, do iní­cio do gov­erno, em 2015, até os dias atu­ais, con­sistindo no enx­erto de cen­te­nas de pes­soas na folha de paga­mento, sem a dev­ida con­traprestação, ou pagando a empre­sas que tiveram que alterar se objeto com fito a aten­der, segundo a polí­cia fed­eral, inten­tos crim­i­nosos.
Emb­ora o gov­erno tenha esboçado uma reação, fica com­pli­cado eximir-​se de respon­s­abil­i­dade quando famil­iares e/​ou secretários do gov­erno — ainda que indi­re­ta­mente -, fig­u­ram como impli­ca­dos no alcance que, ainda na ótica poli­cial, “aliv­iou” os cofres públi­cos em quase vinte mil­hões de reais.
Pior mesmo é, ainda ter que jus­ti­ficar que parte dos supos­tos desvios tin­ham como obje­tivo a sat­is­fação da lascívia de autori­dades públi­cas. Escan­daloso e pro­saico, con­quis­tar uma amante, enxerta-​la na folha de paga­mento e “empurrar” a conta para o con­tribuinte caso se con­firme o que foi-​se dito até aqui pelos inves­ti­gadores.
Antes de se apon­tar qual­quer respon­s­abil­i­dade, é essen­cial que apure com o máx­imo de rigor, para aferir se tais situ­ações, como explo­rado, à exaustão, pelos adver­sários, de fato ocor­reu. Caso con­fir­mado, vamos com­bi­nar que não fica bem um gov­erno eleito pre­gando uma mudança nos cos­tumes, seja pego, lit­eral­mente, com as calças nas mãos, usando ver­bas públi­cas para o paga­mento de amantes, apanigua­dos ou, sim­ples­mente, des­viando, por artifí­cios diver­sos, ver­bas que dev­e­riam ser apli­cadas na saúde da pop­u­lação.
Só o fato da polí­cia aman­hecer na porta de órgãos públi­cos já rep­re­senta um tapa na cara dos cidadãos de bem, pagadores de impos­tos, ainda mais, quando na lista dos impli­ca­dos nos deparamos com famil­iares de ele­vadas fig­uras públi­cas na hier­ar­quia político-​administrativa do estado saber que esta pode ser só a ponta do ice­berg, é algo muito grave, gravís­simo.
Daí a neces­si­dade de apu­ração rig­orosa, até para sep­a­rar cul­pa­dos de inocentes e víti­mas. Quem são os coman­dantes do grupo, apel­i­dado pela polí­cia, de orga­ni­za­ção crim­i­nosa? A ex-​secretária-​adjunta, presa pro­vi­so­ri­a­mente, estaria no ápice da cadeia de comando? Os diri­gentes das OCIPS? Out­ros fun­cionários? Ou teríamos, tam­bém, inte­grantes da classe política? Quem, de fato, man­dou fazer, aqui­esceu ou silen­ciou diante da ban­dalha?
O próprio gov­er­nador e seus secretários dev­e­riam vir a público cobrar, das autori­dades poli­ci­ais fed­erais, esclarec­i­men­tos mais con­tun­dentes sobre os fatos noti­ci­a­dos.
Não o fazem, ao invés disso, saem por aí, em redes soci­ais difundindo e com­par­til­hando tex­tos encomen­da­dos ten­tando poli­ti­zar a inves­ti­gação com insin­u­ações de que seria armação dos adver­sários; que bas­tou o novo super­in­ten­dente da Polí­cia Fed­eral assumir (há pouquís­simo tempo, registre-​se) para que fosse des­en­cadeada a tal oper­ação, como se fosse pos­sível e não fosse ofen­sivo tal insin­u­ação a todas as autori­dades e insti­tu­ições envolvida na inves­ti­gação há meses ou anos.
Asserti­vas assim, ditas por autori­dades – e não por mil­i­tante –, leva-​nos a deduzir que, tam­bém, estes gov­er­nantes pode­riam usar a máquina estatal em perseguição a adver­sários, como tan­tos têm denun­ci­ado, sobre­tudo aque­les que já foram pre­sos e tiveram suas ima­gens expostas pub­li­ca­mente por ocasião de seus infortúnios, numa espé­cie de punição adi­cional, cujo propósito é alquebra-​los pes­soal e politi­ca­mente – se ainda tiverem pre­ten­são política –, ou “convencê-​los” a aderir ao gov­erno.
Se o gov­erno é vítima de alguma coisa – e acho difí­cil que seja –, é de suas próprias escol­has e impre­v­idên­cias, pois antes mes­mos de assumirem e logo depois que começaram a gov­ernar, por quase uma dezena de vezes, alertei-​os sobre a neces­si­dade de faz­erem pro­fun­das audi­to­rias nos diver­sos órgãos da admin­is­tração pública.
Pedi mais. Que con­tratassem audi­to­rias exter­nas para apu­rar os pos­síveis “malfeitos” de gestões ante­ri­ores e que dessem liber­dade para que os servi­dores do estado pudessem acom­pan­har e impedir pos­síveis malfeitos do atual gov­erno.
Com mais de vinte anos de exper­iên­cia na área pública, já me con­venci que ami­gos e ali­a­dos de gov­er­nantes causam mais males aos seus gov­er­nos que os adver­sários. Estes, quando atu­antes, fazem é aju­dar os gov­er­nos na pre­venção dos equívo­cos e/​ou crimes.
Autossu­fi­cientes, enten­deram não pre­cisar de ninguém e não con­trataram as audi­to­rias exter­nas e, gas­tando tempo e ener­gias em inves­ti­gações de gov­er­nos pas­sa­dos, esque­ce­ram (ou não quis­eram) apu­rar o que pas­sava no seu entorno, envol­vendo novos e vel­hos cama­radas.
As acusações tor­nadas públi­cas pela Polí­cia Fed­eral são graves e desnudam com­por­ta­men­tos incom­patíveis com tudo aquilo que se pre­gou uma vida inteira, quando, opos­i­tores apon­taram os malfeitos dos adver­sários e que no poder, teriam, incor­ri­dos nas mes­mas práti­cas.
Se hon­estos, pecaram pela impre­v­idên­cia, pela arrogân­cia de se acharem mais capazes que todos os demais,
Outra rev­e­lação das inves­ti­gações de órgãos como Polí­cia Fed­eral, MPF, CGU e out­ros, é o quão frágeis no com­bate à cor­rupção são os órgãos estad­u­ais, esque­mas, segundo dizem durando anos – apon­taram 2015, mas o gov­erno insinua que vem de antes – pas­saram e ainda devem pas­sar des­perce­bido do Tri­bunal de Con­tas do Estado e do Min­istério Público Estad­ual, órgãos que nos últi­mos anos têm se esmer­ado na apu­ração de supos­tos “malfeitos” cometi­dos por prefeitos e ex-​prefeitos munic­i­pais, rejeitando-​lhes as con­tas e pro­movendo diver­sas ações cíveis e penais.
Agora mesmo, empreen­dem rig­orosa (e nobre) cam­pan­has de com­bate ao nepo­tismo nos municí­pios, recomen­dando e até pro­pondo ações por impro­bidade con­tra os gestores ret­i­centes em demi­tir par­entes em até ter­ceiro grau (inclu­sive por afinidades) de prefeitos, vice-​prefeitos, vereadores, secretários munic­i­pais e quais­quer out­ros asses­sores e ocu­pantes de car­gos comis­sion­a­dos.
Estas e tan­tas out­ras mis­sões empreen­dem e cobram com espe­cial zelo dos gestores munic­i­pais, entre­tanto parece que não lhes chegam notí­cias de tan­tas práti­cas de nepo­tismo, ou mesmo desvios, como esta agora rev­e­lada pela polí­cia fed­eral, na esfera do gov­erno estad­ual.
Ora, se numa folha, suposta­mente, fan­tasma, revelou-​se a existên­cia de cerca de qua­tro­cen­tos con­tratos inde­v­i­dos a um custo de 18 mil­hões, quan­tos mil­hões não estão sendo alivi­a­dos dos cofres públi­cos com as nomeações inde­v­i­das pelo nepo­tismo (direto e cruzado) de cen­te­nas par­entes e ader­entes ou apanigua­dos que nada fazem, de dep­uta­dos, mag­istra­dos, con­sel­heiros, asses­sores, etc.?
O gov­erno estad­ual informa – bem depois de des­baratada a suposta orga­ni­za­ção crim­i­nosa –, que vem ten­tando desde os primeiros dias do gov­erno com­bater as práti­cas nefas­tas, suposta­mente her­dadas de gestões ante­ri­ores. O TCE e o MPE, bem que pode­riam, tam­bém, auxilia-​lo nesta mis­são.
Por fim, temos a con­vicção de que nunca é tarde demais para se inves­ti­gar, apu­rar e com­bater os “malfeitos” iner­entes ao apelo (quase) irre­sistível da cor­rupção e do din­heiro fácil.
Isso somente é pos­sível com um tra­balho árduo e diu­turno, enquanto isso, mesmo os hon­estos, pagam o preço da impre­v­idên­cia.
Abdon Mar­inho é advogado.