AbdonMarinho - UMA BREVE HISTÓRIA POLÍTICA DO MARANHÃO.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Domingo, 24 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

UMA BREVE HISTÓRIA POLÍTICA DO MARANHÃO.

UMA BREVE HISTÓRIA POLÍTICA DO MARAN­HÃO.
COMO acon­tece a cada véspera de eleição, basta que se diga um «ai» que destoe do sur­rado dis­curso anti-​Sarney para que passem a tachá-​lo como ali­ado do velho moru­bix­aba, uma chat­ice hor­ro­rosa.
Uma vez disse – e fiz a ressalva de não entrar no mérito se havia ou não cor­rupção, falta de plane­ja­mento, etc. –, que achava pos­i­tiva a ini­cia­tiva de ligar todas as sede dos municí­pios por rodovias asfal­tadas e que os hos­pi­tais que estavam fazendo era algo a aliviar o sofri­mento da pop­u­lação.
Foi um “Deus nos acuda”, dos supos­tos anti-​Sarney (a frente enten­derá o termo “suposto”), acusando-​me de haver me “ven­dido” ao grupo adver­sário, que virara um sane­y­sista. Escrevi dois tex­tos sobre isso, se não me falha a memória: “Onde Estavam?” e Sane­y­sista, Eu?”.
O leitor pode pesquisar estes tex­tos no meu site ou noutros veícu­los.
Ulti­ma­mente fiz algu­mas críti­cas ao atual gov­erno, sobre­tudo, ao estilo autocrático, que mais rev­ela frag­ili­dades e desapreços às liber­dades cidadãs, que qual­quer outra coisa. Mais uma vez, vieram com a “fres­cura» de que seria um saudoso do antigo gov­erno, um sar­ne­y­sista, roseanista, e todas estas tolices de quem pensa, mais pela bitola dos for­madores de opinião – que venderam até a alma –, do por suas próprias cabeças.
Diante disso faço uma breve ret­ro­spec­tiva da história política do Maran­hão – e da minha própria história.
Uma boa data para ini­ciar esta breve história é com a rede­moc­ra­ti­za­ção do Brasil, a par­tir de 1985. Estava me mudando para São Luís e na ilha par­tic­i­pando, na esteira das liber­dades recém con­quis­tadas, da fun­dação de grêmios estu­dan­tis, ainda nos reuníamos debaixo de árvores, por este período fun­damos o grêmio do Liceu Maran­hense, da Escola Téc­nica, do Gonçalves Dias, den­tre out­ros.
O ano de 1986 foi a eleição de gov­er­nador onde foi cos­tu­rado um grande acordão unindo a oposição agluti­nada no PMDB e o PFL, for­man­dos por egres­sos da ARENA e do PDS para eleição de Cafeteira no Maran­hão. A dis­puta para Cafeteira foi um “pas­seio» o adver­sário, o ex-​governador João Castelo, não fez nem medo.
Naquela eleição as pes­soas mais “avançadas”, eu, incluso, fomos com a pro­fes­sora Delta Mar­tins, do PT. Uma can­di­datura, como se dizia, na época, para “mar­car posição”. O “nosso» foco na ver­dade (lem­brando que eu era um menino de 15 para 16 anos) era a eleição con­sti­tu­inte, para a qual elege­mos muita gente boa como José Car­los Sabóia, Haroldo Sabóia, na esfera estad­ual, Juarez Medeiros, Con­ceição Andrade, entre out­ros.
Nas eleições de 1990, candidataram-​se João Castelo, agora apoiado por Cafeteira que saíra do gov­erno para ser senador da República e Edi­son Lobão do PFL, rep­re­sen­tante do grupo Sar­ney. O gov­erno, como lem­bram, estava nas mãos de João Alberto de Souza, que fora o vice de Cafeteira.
As “oposições”, enten­diam que a dis­puta Castelo X Lobão era uma dis­puta «deles», e fomos com a can­di­datura, para «mar­car a posição” de Con­ceição Andrade, já no PSB, que não fez feio, sem qual­quer estru­tura par­tidária e sem recur­sos ameal­hou quase 20% (vinte por cento) dos votos, que a cap­i­tal­i­zou para ser a prefeita da cap­i­tal dois anos depois.
A primeira eleição com chances reais de vitória da oposição con­tra o grupo Sar­ney deu-​se, efe­ti­va­mente, 1994, e com a can­di­datura do ex-​governador Cafeteira, que só seria – e foi can­didato –, com o apoio das «oposições». Era isso que apon­tavam as pesquisas de opinião qual­i­ta­ti­vas. O PSB, com Con­ceição Andrade, então prefeita da cap­i­tal, toparam apos­tar no pro­jeto indi­cando o dep­utado estad­ual Juarez Medeiros como can­didato a vice-​governador.
Ape­sar do não apoio do ex-​prefeito Jack­son Lago (que teve no primeiro turno da eleição eleição quase o mesmo per­centual de Con­ceição Andrade qua­tro anos antes), Cafeteira gan­hou aquela tumul­tuada eleição de 1994. Gan­hou, mas não levou.
Naquela eleição, atuei – pelo menos durante o primeiro turno como um dos três coor­de­nadores da cam­panha de Cafeteira, os políti­cos mes­mos, talvez, por não acred­i­tar, estavam todos cuidando de suas próprias cam­pan­has pro­por­cionais e, tam­bém, porque não tín­hamos pes­soal.
Era uma cam­panha – a mel­hor palavra –, amadora, basta dizer que eram coor­de­nada por três pes­soas e o estú­dio de gravação da pro­pa­ganda de rádio e tele­visão era na casa do can­didato no Sítio Leal, o “pro­du­tor”, pode se dizer, era Ader­son Neto, filho do dep­utado Ader­son Lago, que, acred­ito, não tinha mais de quinze anos e que saía do Colé­gio Batista, no João Paulo, e lá ia pro­duzir os pro­gra­mas de tele­visão de uma can­di­datura a gov­er­nador, com duas câmeras, uma com defeitos mais que visíveis.
E, ainda assim, lev­a­mos a eleição para o segundo turno – e gan­hamos.
Mas isso são águas pas­sadas, o que desejo abor­dar aqui é a questão do mito anti-​Sarney de muitos que se ocu­pam em patrul­har as opiniões alheias no que­sito coerên­cia política.
Como coor­de­nador da cam­panha de Cafeteira, certo dia fui a grá­fica ver­i­ficar um mate­r­ial. Isso ainda no primeiro turno. Lá um dos dire­tores me chamou para mostrar sua última encomenda: mate­r­ial do can­didato do PCdoB con­junto com a Branca.
A própria can­di­data do grupo Sar­ney, Roseana em dobrad­inha com o rep­re­sen­tante do comu­nismo maran­hense, Mar­cos Kowar­ick (acho que é assim que se escreve).
Qual não foi minha sur­presa, até então, emb­ora não apoiassem a can­di­datura de Cafe­te­ria, esperava-​se que apoiassem a can­di­datura do Jack­son Lago.
Nos fins de tarde sem­pre pas­sava algum jor­nal­ista ou radi­al­ista pelo comitê, assim, acabaram sabendo e expondo pub­li­ca­mente o arranjo sarno/​comunista para os eleitores maran­henses.
Não se sabe se foi isso ou ape­nas a falta de votos que lhe cus­tou a sua eleição.
O con­strang­i­mento dos comu­nistas durou pouco tempo. Roseana Sar­ney eleita, pouco tempo depois estavam “cavando” suas posições den­tro do gov­erno da Branca, onde ficaram até o final de seu segundo gov­erno em 2002.
Isso ofi­cial­mente, pois muitos inte­grantes do par­tido nunca largaram as «boquin­has», pas­saram pelo gov­erno de Roseana, José Reinaldo, Jack­son Lago e Roseana Sar­ney, nova­mente.
Não deixa de ser curioso que hoje muitos destes ten­tem, a todo custo, rotu­lar os out­ros como sane­y­sis­tas, roseanistas, etc.
Como sabe­mos, em 1994, elegeu-​se, na esfera fed­eral, Fer­nando Hen­rique Car­doso, reeleito em 1998 – assim como Roseana que elegeu-​se sem “sair de casa”, na dis­puta que teve nova­mente con­tra Cafeteira, agora apoiado por todos que diziam que ele não prestava em 1994 –, mais que seu par­tido, o PSDB, os Sar­ney eram os ver­dadeiros rep­re­sen­tantes do gov­erno fed­eral no Maran­hão.
Esta situ­ação durou todo o gov­erno de FHC, só havendo um breve hiato quando o sonho de Roseana chegar a presidên­cia da República foi abatido na esteira da “Oper­ação Lunus”, e as mil­hares de notas de reais encon­tradas no escritório da empresa da família foram expostas em rede nacional, para as quais deram no mín­imo sete ver­sões.
Emb­ora “machu­ca­dos» pois que­riam muito mais, tiveram a des­culpa per­feita para se mudarem de malas e cuias para o pro­jeto de gov­erno petista de Lula.
Pois é, foge a nar­ra­tiva dos que se dizem anti-​Sarney a par­tic­i­pação no con­sór­cio que dirigiu o Brasil de 2003 até 2016. Petis­tas e comu­nistas sem­pre foram ali­a­dos no plano nacional, do tipo de não aceitar qual­quer crítica aos gov­er­nos de Lula e Dilma. Estranho que nunca sen­ti­ram qual­quer con­strang­i­mento em saber que o Sar­ney e asse­clas estiveram na linha de frente, ombrea­dos com eles na defesa dos qua­tro gov­er­nos petis­tas.
Quando Lula prin­ci­p­iou cair em 2005 na esteira do escân­dalo do “Men­salão”, que acabou levando, tem­pos depois, parte da cúpula do PT a serem hos­pedes do sis­tema carcerário nacional, lá estava Sar­ney defend­endo Lula, do mesmo modo quando Sar­ney esteve em apuros dev­ido aos “malfeitos” no Senado da República, lá estava o Lula defend­endo o Sar­ney.
A sim­biose chegou a ponto de tran­scen­der a matéria, Lula, comandante-​mor do petismo cun­hou que o Sar­ney seria o seu “irmão de alma” e mais, que seria um cidadão “difer­en­ci­ado”, isso sig­nif­i­cando dizer, fora do alcance da lei.
Em resumo, durante os gov­er­nos de Lula e Dilma, os Sar­ney, os petis­tas, os comu­nistas, e tan­tos out­ros críti­cos, estiveram juntin­hos, usufruindo das benesses do poder. Nunca vi nen­hum, dos fazem o dis­curso do anti-​Sarney no Maran­hão, recla­mar da pre­sença e influên­cia do próprio junto aque­les gov­er­nos ou a renun­cia­rem suas «boquin­has» na máquina pública.
Não lem­bro, tam­bém, de quais­quer protestos, mais enfáti­cos, quando unidos, Sarney-​Lula, não medi­ram esforços para reti­rar o Jack­son Lago do poder estad­ual con­quis­tado nas eleições de 2006, graças à dis­sidên­cia prov­i­den­cial do ex-​governador José Reinaldo.
Em 2010, no plano fed­eral, coroaram a aliança com o Par­tido dos Tra­bal­hadores – PT, cedendo a vice-​presidência ao PMDB, através de Michel Temer (o que repetiu em 2014), na chapa Dilma/​Temer. Não vi nen­hum petista ou comu­nista maran­hense se esgoe­lando ou mor­rendo con­tra a aliança, pelo con­trário, estavam lá pedindo votos para a chapa.
Quando algum me cobra que fale do gov­erno Temer que, recon­heço, é uma des­graça, cos­tumo dizer: – Michel Temer e PMDB são coisas do PT.
Aqui, no Maran­hão, o PT acabou foi col­i­gando com o próprio Sar­ney, na chapa da sen­hora Roseana, não se con­strangendo em repe­tir a façanha e apoiar o notório Edinho Lobão ao gov­erno em 2014, agora con­tra o can­didato comu­nista, Flávio Dino, feito politico por José Reinaldo Tavares, quando ainda era juiz fed­eral, em 2006.
Pois é, meus ami­gos, essa turma fica imbuída do propósito de “patrul­har» qual­quer um que não reza pela car­tilha ofi­cial, sem olhar para o próprio pas­sado, para a própria história e, até mesmo, fin­gindo igno­rar o pre­sente.
Agora mesmo, o que se sabe é de uma parce­ria, mais que van­ta­josa, entre o atual gov­erno e o grupo do senador Lobão, mais sar­ne­y­sista que o próprio Sar­ney, na explo­ração do sis­tema Difu­sora de comu­ni­cação, parce­ria esta inter­me­di­ada pelo pres­i­dente do PDT, o dep­utado Wew­er­ton Rocha, de todos con­hecido; o que se sabe, é que aque­les que acusaram (e acusam) o PMDB de golpista, por conta do impeach­ment da sen­hora Dilma Rouss­eff, estão cos­tu­rando uma nova aliança PT/​PMDB em diver­sos esta­dos, quiça não alcance o plano fed­eral, onde estarão, todos jun­tos, no propósito de destruir, mais ainda, o Brasil.
Fal­tam a estes valentes que, abo­le­ta­dos no poder, se ocu­pam de patrul­har os out­ros, con­sistên­cia e coerên­cia de ideias. Na ver­dade, sem­pre lhes valeu o poder pelo poder, a busca pela boquinha, pelos negó­cios, mes­mos os mais mesquin­hos.
Não lem­bro de vê-​los, nestes anos todos, colo­carem os inter­esses do Maran­hão à frente dos seus próprios inter­esses. Nen­hum deles.
Não sem ver­gonha, con­fesso que votei no sen­hor Lula em 2002, mas, tão logo pressenti o engodo que seria o seu gov­erno, perce­bido logo nos primeiros dias de 2003, me afastei e pas­sei a criticá-​lo, mesmo quando – enquanto lançava os os fun­da­men­tos para destruir o país –, sua pop­u­lar­i­dade e aceitação pas­savam dos 80% (oitenta por cento), mantive-​me firme nas min­has posições, pois, con­tra todos, sabia que era um castelo de car­tas prestes a ruir.
Já são mais de trinta anos vivendo a história do Maran­hão, con­hecendo e sabendo onde estavam cada um dos per­son­agens. São frag­men­tos da história que vivi. E a vivi longe das som­bras dos palá­cios. Com a inde­pendên­cia para dizer o que penso só pro­por­cionada pela liber­dade dos nunca se escon­deram do tra­balho árduo.
Abdon Mar­inho é advogado.

Nota de rodapé: Não faço qual­quer juízo de valor. Qual­quer um sabe onde se sen­tia bem e a causa que defende, ape­nas reponho parte da história (que vivi) para ten­tar inibir cer­tas hipocrisias.