AbdonMarinho - Cartas e Carteiros.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sábado, 23 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

Car­tas e Carteiros.

CARTAS E CARTEIROS.

AS COISAS acon­te­cem com tamanha veloci­dade ulti­ma­mente que é provável que este texto não tenha qual­quer sen­tido na hora que for publicado.

Vejamos os últi­mos episó­dios da política nacional: pela manhã se fes­te­java uma pos­sível posse do ex-​presidente Lula no min­istério da pres­i­dente Dilma Rouss­eff, a noite o palá­cio estava siti­ado com mil­hares de pes­soas prote­s­tando, em Brasília e em diver­sas cidades do país.

O gov­erno perdeu o «time» para qual­quer ati­tude. A nomeação, agora de Lula, ao invés de ser uma chance de retomada, tornou-​se mais uma frente de prob­le­mas. Há um ano atrás quando sug­eri isso – a última vez que escrevi sobre o tema foi em agosto de 2015 –, talvez tivesse o efeito de bál­samo saneador, agora a situ­ação é total­mente distinta.

Ora, se lá atrás, os inves­ti­gadores, inte­grantes do min­istério público e do judi­ciário era unís­sonos em dizer que nada havia con­tra o ex-​presidente, que o mesmo não era objeto de inves­ti­gação – emb­ora qual­quer um soubesse que não tinha como as inves­ti­gações não chegar a ele –, no momento, quando já denun­ci­ado e ofi­cial­mente inves­ti­gado, o alo­ja­mento no cargo de min­istro, deixou claro que bus­cou guarita no cargo; que está escon­dido no min­istério e que espera con­tar com as nor­mais demora do trâmite proces­sual na Suprema Corte para escapar da cadeia; fazer pre­scr­ever algu­mas penas (já que beira os setenta anos) ou mesmo, como rev­elou as inter­cep­tações tele­fôni­cas, usar o peso do cargo para obstruir o tra­balho da Justiça.

Aí, cheg­amos a outro ponto cru­cial: a divul­gação do con­teúdo das inter­cep­tações tele­fôni­cas do ministro/​investigado. De antemão, entendo que os pro­ced­i­men­tos não estão isen­tos de serem ques­tion­a­dos – emb­ora, a princí­pio, tenha me pare­cido razoável a argu­men­tação do juiz Moro.

Entre­tanto, emb­ora os «peões», como o ex-​presidente se referiu a seus defen­sores, se agar­rem a argu­men­tação de ile­gal­i­dade, este não é o fato grave (ou mais grave, com queiram). O fato de gravi­dade ímpar é o con­teúdo das gravações mostrando as ingerên­cias inde­v­i­das – e até ile­gais –, do ex-​presidente em pro­ced­i­men­tos inves­ti­gatórios e judi­ci­ais em clara posição de obstrução à Justiça.

O con­teúdo das gravações tor­nadas públi­cas – não se trata aqui de um «vaza­mento «, como sem­pre alegam – somado ao que já disse o senador Del­cí­dio do Ama­ral, repises-​se, ex-​líder do PT e do gov­erno; o con­teúdo de diver­sas out­ras delações pre­mi­adas, desnudam, de forma inequívoca, ações de uma quadrilha que tomaram de assalto o poder.

O mais grave: tendo o ex-​presidente como chefe das ativi­dades crim­i­nosas e a atual pres­i­dente na posição (até aqui) de conivente, partícipe, a ponto de se prestar ao papel em que figura nas gravações.

Claro que se deve dis­cu­tir se houve ou não ile­gal­i­dade no que a polí­cia e justiça fiz­eram; se houve exces­sos e, caso pos­i­tivo, respon­s­abi­lizar, se for o caso. Entre­tanto isso não desmerece os fatos apu­ra­dos, que apon­tam o ex-​presidente na topo da cadeia de comando.

A ati­tude de algu­mas pes­soas diante de tamanha gravi­dade se assemelha a daque­les que matavam os carteiros quando não gostavam das notí­cias con­stante das car­tas. Os fatos são de gravi­dade ímpar. Esta é a real­i­dade que não pode ser ocul­tada ou igno­rada pouco impor­tando como nos foi revelada.

E, por falar em car­tas e carteiros, serve como reg­istro histórico que tudo começou lá atrás, com aquele servi­dor dos cor­reios recebendo aquela «peteca» de três mil reais, se não me falha a memória.

O dia prom­ete, logo mais ter­e­mos novidades.

Bom dia a todos.

Abdon Mar­inho é advogado.

(Texto sem correção)