AbdonMarinho - AMIGOS, ALIADOS, COMPANHEIROS, CÚMPLICES?
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sábado, 23 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

AMI­GOS, ALI­A­DOS, COM­PAN­HEIROS, CÚMPLICES?

AMIGOS, ALI­A­DOS, COM­PAN­HEIROS, CÚMPLICES?

Quando fui asses­sor da Assem­bleia Leg­isla­tiva do Maran­hão, lá pelo começo dos anos noventa, tive a opor­tu­nidade de teste­munhar um dos momen­tos mais engraça­dos daquela legislatura.

Acom­pan­hava a sessão de uma Comis­são Par­la­men­tar de Inquérito – CPI, que apu­rava o crime orga­ni­zado no Estado.

Naquela tarde um dos dep­uta­dos estad­u­ais iria prestar esclarec­i­men­tos sobre o fato apurado.

O deputado/​relator começou sua inquirição:

– Dep­utado, Vossa Excelên­cia con­heceu fulano de tal?

– Sim. Foi meu amigo. Morreu.

– E bel­trano de tal?

– Tam­bém con­heci, gente muito boa, tam­bém já morreu.

– E sicrano de tal?

– Tam­bém foi meu amigo, infe­liz­mente já morreu.

Assim foi por mais, se não me falha a memória, uma dúzia de pes­soas, ami­gas do inquirido e já falecidas.

O deputado/​relator então encerrou:

– Dep­utado, Vossa Excelên­cia não acha estranho que tan­tos ami­gos seus este­jam mortos?

Ao que o deputado/​inquirido respon­deu de pronto:

– Acho não, dep­utado, tanto é assim que tenho mais ami­gos vivos que mortos.

A plateia não con­teve a gargalhada.

Desde as primeiras horas da manhã acom­panho o desen­ro­lar dos fatos sobre a prisão do senador Del­cí­dio do Ama­ral (PT/​MS). Neste tempo, não tive como não me lem­brar daque­les dias.

Nos últi­mos dez anos (talvez até antes), não passa um mês sem que um escân­dalo envol­vendo algum des­mando neste gov­erno do Par­tido dos Tra­bal­hadores – PT, não venha à tona. Todos eles, invari­avel­mente envol­vendo, diri­gentes par­tidários, deten­tores de mandatos, pes­soas do cír­culo ínti­mos do ex-​presidente Lula.

Acred­ito que o ex-​presidente se tivesse na condição daquele ex-​deputado/​inquirido nos anos noventa não pode­ria dizer, difer­ente daquele, que tem mais ami­gos, ali­a­dos, com­pan­heiros de par­tidos, não envolvi­dos que envolvi­dos em escân­da­los de corrupção.

Já em 2005, no ter­ceiro ano de mandato foi a vez do todo-​poderoso, min­istro da Casa Civil, José Dirceu, pon­tif­icar o escân­dalo do men­salão. Saiu fugido da Casa Civil, foi cas­sado pela Câmara dos Dep­uta­dos, con­de­nado pelo Supremo Tri­bunal Fed­eral — STF, preso. Cumprindo a pena já em régime aberto foi nova­mente preso pela Oper­ação Lava Jato.

Junto com ele no escân­dalo do Men­salão (Ap 470) foram igual­mente con­de­na­dos o sen­hor Delúbio Soares, a quem o ex-​presidente Lula referia-​se, car­in­hosa­mente, como o com­pan­heiro Delúbio (ex-​tesoureiro da leg­enda); na mesma ação ainda foram igual­mente con­de­na­dos o ex-​deputado José Genoíno, ex-​presidente da leg­enda e um dos ícones do par­tido e o ex-​deputado e ex-​presidente da Câmara dos Dep­uta­dos João Paulo Cunha, só para citar os grandes, vez que na mesma rede tam­bém caíram os ali­a­dos do régime e ami­gos de primeira hora.

Agora, no chamado escân­dalo do “Petrolão”, que iniciou-​se ainda no ano pas­sado, não tem um dia que não sejamos sur­preen­di­dos com um fato novo – se é que ainda existe quem se sur­preenda com os vex­ames pro­tag­on­i­za­dos por essa turma. Durante todo processo do “Men­salão”, a máquina de pro­duzir escân­da­los e aliviar os cofres públi­cos não deixou de tra­bal­har um dia sequer, sem­pre ali­men­tando e se ali­men­tando da mis­éria do povo brasileiro.

Noticia-​se que o Sr. José Dirceu, até enquanto cumpria a pena no presí­dio da Papuda rece­bia pelo seu tra­balho de con­sul­tor. Talvez o pre­sidiário mais bem suce­dido da história do país.

Tanto fez e com tanto deste­mor (con­fi­ante na impunidade) que foi, mais uma vez, con­vi­dado a ser hós­pede do Estado, desta vez no estado do Paraná.

Mais uma vez, a alta hier­ar­quia do par­tido envolvida e sendo motivo de cha­cota no resto do mundo. Além do Sr. Dirceu quem tam­bém é hós­pede do Estado é o ex-​tesoureiro da agremi­ação, João Vac­cari Neto, cri­ador da moeda da propina chamada “pix­uleco”, o ex-​deputado e ex-​vice-​presidente da Câmara dos Dep­uta­dos André Var­gas. Isso, sem falar nos ami­gos empre­it­eiros e ex-​diretores da Petro­bras que fiz­eram parte do con­luio que san­graram a empresa brasileira, patrimônio nacional em mais de U$ 20 bil­hões de dólares, sem con­tar os pre­juí­zos indi­re­tos, com a desval­oriza­ção no mer­cado, e os out­ros que virão à medida em que a empresa for con­de­nada a pagar vul­tosas ind­eniza­ções aos investi­dores estrangeiros.

Os escân­da­los não se resumem a estes com pre­sos e con­de­na­dos. Difi­cil­mente se encon­tra uma área do gov­erno imper­me­ável à gana dos cor­rup­tos. Até o Min­istério do Plane­ja­mento que se pen­sava não inter­es­sar a ninguém alcançou o inter­esse de dos petis­tas ilus­tres, o ex-​ministro Paulo Bernardo e sua esposa, a senadora Gleisi Hoff­mann, sem falar nos que orbitam e operam o esque­mas de corrupção.

Caso o sen­hor Lula seja inocente – e não há motivos para descon­fiar que não seja –, será o cidadão mais traído da história deste país, senão, talvez, o mais tolo. Seus com­pan­heiros de par­tido, o enga­naram em esque­mas mon­u­men­tais de cor­rupção. Ao menos dois dos seus fil­hos fiz­eram for­tuna de encher os olhos nos últi­mos anos – um deixando de ser zelador de zoológico para ser um dos empresários mais promis­sores e ricos do país.

A pros­peri­dade repentina faz sur­gir sus­peitas de esque­mas mal expli­ca­dos envol­vendo traficân­cia de influên­cia e out­ros for­matos de corrupção.

Nos últi­mos dias o empresário José Bum­lai, empresário com fazen­das nas quais o ex-​presidente costumava/​costuma pas­sar tem­po­radas pes­cando e a quem foi dado passé-​livre ao gabi­nete pres­i­den­cial a qual­quer hora do dia ou da noite apre­sen­tando uni­ca­mente um crachá, exper­i­men­tou o diss­a­bor de ser preso e con­duzido ao cen­tro da oper­ação Lava Jato no Paraná, desta feita por sus­peitas de envolvi­mento com esque­mas na Petro­bras e tam­bém no BNDES.

Por último – até aqui – foi a vez da prisão do senador Del­cí­dio do Ama­ral (PT/​MS), líder do gov­erno, o primeiro senador e líder do gov­erno preso até onde me lem­bro. Acusação e o escopo doc­u­men­tal dão conta de uma con­duta gravís­sima: atra­pal­har as inves­ti­gações poli­ci­ais, obstruir o anda­mento do processo, pro­mover a evasão de um cidadão preso para o estrangeiro para que o mesmo não con­fesse crimes que o envolva.

Não há notí­cias nos anais do Senado da República de con­duta tão grave. Um senador envolvido em coisas assim já são de chocar. Quando este senador é tam­bém líder do gov­erno e o crime a que se tenta acober­tar envolve out­ras pes­soas impor­tantes do gov­erno, não há o que se pensar.

São tan­tos os ami­gos, os ali­a­dos, os com­pan­heiros, envolvi­dos em crimes cuja as penas já pas­saram com sobra de mil anos de con­de­nação que o ex-​presidente Lula acabará por ficar soz­inho do lado de fora das grades.

Por enquanto.

Abdon Mar­inho é advogado.

Em tempo: O fato nar­rado sobre a ALEMA efe­ti­va­mente ocor­reu. Preferi omi­tir os nomes para evi­tar o fuxico.