AbdonMarinho - UMA VERDADE DOÍDA E SENTIDA.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sábado, 23 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

UMA VER­DADE DOÍDA E SENTIDA.

UMA VER­DADE DOÍDA E SENTIDA.

A prisão do senador Del­cí­dio do Ama­ral (PT/​MS) não inco­modou seus com­pan­heiros de par­tido. Alheios ao fato ou sem dimen­sionar o seu real sig­nifi­cado, até se com­por­taram como se nada tivesse com ela.

Já no dia da prisão o próprio pres­i­dente da leg­enda, Rui Fal­cão, expe­diu uma nota des­o­bri­g­ando a todos do dever de sol­i­dariedade, dizendo que ela (a prisão) ocor­rera em decor­rên­cia de uma ativi­dade “pri­vada”, abso­lu­ta­mente dis­tante dos inter­esses partidários.

A falta de pudor foi tamanha que «chocou» até o notório pres­i­dente do Senado da República, Renan Cal­heiros, que dis­pen­sou a nota os epíte­tos de intem­pes­tiva, opor­tunista e covarde.

Na linha de defesa traçada pela leg­enda para afastar-​se do senador – que até horas antes era ouvido e opinava sobre tudo –, ainda, no mesmo dia, blogues e jor­nal­is­tas ami­gos, começaram a espal­har nos meios de comu­ni­cação e nas redes soci­ais que o preso era um tucano dis­farçado, que nunca serviu ao par­tido e out­ras tolices.

Tudo isso para afastar-​se, o máx­imo pos­sível da ondas que tra­garam o fil­i­ado enquanto este estava em plena ativi­dade crim­i­nosa, arquite­tando a fuga de um preso para o estrangeiro, e, se movendo para obstruir a ação da Justiça e assim, ele próprio, sair impune de seus atos criminosos.

Agia ape­nas no seu inter­esse? Ten­tava com isso pro­te­ger mais alguém? Quem? A pres­i­dente? O ex-​presidente? Só o ban­queiro amigo tam­bém preso?

Mas, isso tudo, não foi avali­ado e não cau­sou incô­modo entre os fil­i­a­dos, sim­pa­ti­zantes ou sim­ples­mente ben­efi­ciários do mod­elo clep­tocrático implan­tado no Brasil.

O que parece ter des­per­tado a fúria da com­pan­heirada foram as palavras firmes e certeiras da min­is­tra Car­men Lúcia, do STF, ao se man­i­fes­tar sobre as prisões – a do senador em espe­cial. Disse ela: “Na história recente da nossa pátria, houve um momento em que a maio­ria de nós, brasileiros, acred­i­tou que a esper­ança tinha ven­cido o medo. Depois, desco­b­ri­mos que o cin­ismo tinha ven­cido aquela esper­ança. Agora parece se con­statar que o escárnio venceu o cin­ismo. O crime não vencerá a Justiça”.

Estas palavras, uma espé­cie de quadro-​resumo do que tem sido a história do Brasil de 2002 para cá, sim, inco­modou, ver­dadeira­mente, os inte­grantes do par­tido e seus discípulos.

Inco­modou tanto, que um bispo da Igreja Católica (destes que se con­fundiu e pas­sou a seguir o bar­budo errado) foi escal­ado para con­tes­tar a ministra.

Out­ros, com maior desas­som­bro, pas­saram a fazer insin­u­ações mal­dosas sobre seu patrimônio pes­soal, seu con­hec­i­mento jurídico e demais estraté­gias do jogo sujo que estão acos­tu­ma­dos a fazer con­tra todos aque­les que não rezam pela sua cartilha.

No jogo da desqual­i­fi­cação, talvez só sejam menos efi­cientes do que na prática de malfeitos con­tra o din­heiro do con­tribuinte, con­forme mostram, a exaustão, as cen­te­nas de ações poli­ci­ais, os proces­sos e as con­de­nações pela Justiça.

No processo do “men­salão” (AP 470), o alvo era o min­istro Joaquim Bar­bosa, acusaram-​no de tudo, até de ser “negro”, mal­dosa­mente, dizendo que entrara no tri­bunal graças à políti­cas de cotas raci­ais. Foram atrás da com­pra de um aparta­mento nos Esta­dos Unidos e, até, de pos­síveis amantes que pudesse ter tido. Tudo, porque ele se mostrara um rela­tor inflexível no cumpri­mento da lei con­tra os inte­grantes do par­tido que, sem qual­quer con­strang­i­mento, saíram das pági­nas políti­cas para as pági­nas poli­ci­ais dos jornais.

Emb­ora não seja a rela­tora dos proces­sos da Oper­ação Lava Jato, a artil­haria petista voltou-​se con­tra a min­is­tra Carmem Lúcia, desta vez porque ela, como qual­quer brasileiro, con­sta­tou e expres­sou durante o seu voto, aquele que é o sen­ti­mento da sociedade, em relação ao régime que implan­taram no Brasil a par­tir de 2003.

Eu, como a maio­ria dos eleitores de 2002, car­rego a culpa de ter acred­i­tado no engodo – tudo mar­ket­ing – do par­tido de que a «esper­ança vence­ria o medo». Vimos no que deu, no que está dando. Usar con­quis­tas soci­ais como des­culpa para jus­ti­ficar o roubo, a dilap­i­dação do patrimônio público, o apar­el­hamento do Estado, é ape­nas mais uma ver­tente da absurda e ver­gonhosa estru­tura mon­tada con­tra os inter­esses da nação e de suas instituições.

Arrependi-​me do mau passo logo nos primeiros dias de 2003 quando vi o que estavam fazendo na for­mação do gov­erno. Senti que jamais tiveram qual­quer inter­esse em mudar os des­ti­nos do país, pelo contrário,pretendiam apropriar-​se (que v/​cio) da exper­iên­cia dos ante­ces­sores nos «malfeitos» e sofisticar seus méto­dos de apro­pri­ação do Estado.

Lembro-​me que em 2005, quando veio à tona todo escân­dalo do “men­salão” – que levou a cas­sação, renún­cia, e, pos­te­rior, con­de­nação e prisão de altos diri­gentes do par­tido –, falava com um amigo que ten­tava jus­ti­ficar, dizendo que no jogo bruto da política tin­ham que fazer aquilo, que todos faziam, que não havia outro jeito de con­duzir o país sem que faziam.

Tratava-​se, obvi­a­mente, de um despropósito, jus­ti­ficar atos de cor­rupção e sub­orno como necessários ao fun­ciona­mento da “causa”, do bem-​estar dos cidadãos, den­tro dos nobres propósi­tos do partido.

Mas não fora isso que pro­puseram a com­bater? o toma lá dá cá? Não estaria aí, a esper­ança sendo ven­cida pelo cin­ismo? O cin­ismo de se dizer que não have­ria outro modo de fazer política no Brasil senão com as mes­mas prática?

Não tenho divida, o CIN­ISMO VENCEU A ESPERANÇA.

Há um ano eclodiu mais escân­dalo desta mesma gente, deste grupo politico. Este, muito maior que o ante­rior, envol­vendo bil­hões e bil­hões de reais, de dólares, de euros. e qual­quer outra moeda com valor de mercado.

O escân­dalo, apel­i­dado de “petrolão”, por ter seu foco prin­ci­pal na maior petrolífera do país, fun­cio­nou – e talvez ainda fun­cione – durante todo o período em fun­cionava o escân­dalo ante­rior e con­tin­uou durante o processo e con­de­nação dos envolvi­dos no processo do ‘men­salão”, inclu­sive com o paga­mento de despe­sas, mul­tas, etc., decor­rentes daquele processo, sendo pagas com os fru­tos deste outro roubo.

Não se trata de escárnio? Não teria o escárnio ven­cido o cinismo?

A ver­dade dói. Por isso o incô­modo. Não ficam con­strangi­dos, só inco­moda­dos quando alguém mostra a ver­dade, a nudez do rei.

Não passa um mês, um dia, sem que a engrenagem da cor­rupção des­canse. Não há nicho no gov­erno, no par­la­mento que não esteja sob a sus­peita dos desvios, da apro­pri­ação, do pat­ri­mo­ni­al­ismo. For­tu­nas sendo desvi­adas dos cofres públi­cos para enricar políti­cos e empresários. Quan­tos não fiz­eram for­tuna assim? Com desvios? Com traficância?

Por último – até aqui, temos que ter sem­pre esse cuidado de ressaltar que falamos no pre­sente – temos um senador da República, um líder do gov­erno preso, tendo sido fla­grado tra­mando a fuga de um preso uma obstrução da Justiça. Temos um pres­i­dente de par­tido assu­mindo clara­mente que os atos, os malfeitos, se feitos em nome da causa serão defendidos.

Isso tudo não é o mais escan­car­ado escárnio? Não é uma afronta aos sen­ti­men­tos dos bons brasileiros que pagam seus impos­tos e que levam uma vida honesta.

O meu receio é, sim, que os crim­i­nosos vençam a Justiça. Aí estare­mos diante do fim.

Abdon Mar­inho é advogado.