CÉSAR E O DILEMA DE LULA.
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- Criado: Segunda, 19 Outubro 2015 10:40
- Escrito por Abdon Marinho
CÉSAR E O DILEMA DE LULA.
A expressão «à mulher de César não basta ser honesta, tem que parecer honesta», remonta ao ano de 62 a. C., refere-se à segunda esposa do imperador romano Caio Júlio César, Pompeia Sula.
Os historiadores narram que em maio daquele ano, a festa da Boa Deusa, organizada por Pompeia, reservada, exclusivamente, às mulheres, foi profanada por um jovem rico de Roma, chamado Publius Clodius, que era apaixonado pela esposa do imperador, e que, disfarçado de mulher, adentrou ao recinto da festa. No mesmo dia o fato tornou-se conhecido e César decretou seu divórcio de Pompeia. Chamado a depor sobre o fato perante o Senado, que apurava o suposto sacrilégio, o imperador alegou desconhecer qualquer coisa a respeito, ao que foi questionado pelos senadores sobre a razão do decreto de divórcio. César respondeu-lhes: «a mulher de César tem de estar acima de qualquer suspeita».
Herdamos desta afirmação a expressão tão em voga.
Ao tomar posse no cargo de presidente da República do Brasil, lá pelo meio do discurso primeiro, o senhor Luís Inácio Lula da Silva, pontificou:
«O combate à corrupção e a defesa da ética no trato da coisa pública serão objetivos centrais e permanentes do meu Governo. É preciso enfrentar com determinação e derrotar a verdadeira cultura da impunidade que prevalece em certos setores da vida pública.
Não permitiremos que a corrupção, a sonegação e o desperdício continuem privando a população de recursos que são seus e que tanto poderiam ajudar na sua dura luta pela sobrevivência.
Ser honesto é mais do que apenas não roubar e não deixar roubar. É também aplicar com eficiência e transparência, sem desperdícios, os recursos públicos focados em resultados sociais concretos. Estou convencido de que temos, dessa forma, uma chance única de superar os principais entraves ao desenvolvimento sustentado do país. E acreditem, acreditem mesmo, não pretendo desperdiçar essa oportunidade conquistada com a luta de muitos milhões de brasileiros e brasileiras”.
O discurso da mudança – eixo central do texto –, parece, hoje, diante de tantas descobertas sobre seus anos de presidência, parece um mero jogo retórico.
O ex-presidente compareceu, espontaneamente, a Ministério Público Federal, onde, segundo informa sua mídia aliada, declarou-se orgulhoso de fazer lobby para empreiteiras brasileiras, ainda aquelas envolvidas em desvios de bilhões e bilhões dos cofres públicos.
Não deixa de ser estranho que assuma a prática de lobbies com tanto desassombro quando prometeu o combate à corrupção e a defesa da ética no trato da coisa pública, como objetivos centrais do seu governo.
Pelo que se sabe, tal meta nunca deixou o papel para enveredar pela prática, muito pelo contrário, a corrupção e a ausência de ética tornaram-se um estilo de governar.
O senhor Helio Bicudo, advogado, fundador do partido dos trabalhadores, que assina um dos pedidos de impeachment da presidente Dilma Rousseff, em entrevista à TV Cultura, afirmou ter estranhado a vertiginosa prosperidade do ex-presidente e de seus familiares, lembrando que quando conheceu ele habitava uma casa de 40 metros quadrados.
Sobre este fato ouvi de um membro do partido dos trabalhadores o seguinte questionamento: «– será que o Lula que tanto fez pelo Brasil não pode morar bem?». Claro que pode, tem todo direito.
Acredito que nem eu, nem Bicudo, ou qualquer outro cidadão brasileiro, tenha algo contra a prosperidade de quem quer que seja, desde que honesta, fruto do trabalho sério, pelo contrário.
O que se questiona – e com base no que estamos vendo, assistindo, lendo – é a estranha coincidência de tal prosperidade casar justamente com o tempo em o senhor Lula recebeu a confiança do povo para conduzir os destinos do Brasil, dizendo que «ser honesto é mais do que apenas não roubar e não deixar roubar. É também aplicar com eficiência e transparência, sem desperdícios, os recursos públicos focados em resultados sociais concretos.»
O senhor Lula prometeu-nos mudança de práticas. Mas, que mudança há, quando a cada dia que passa, descobrimos que um filho, de zelador de zoológico, virou empresário multimilionário? Um outro de auxiliar massagista, também, virou empresário do setor de marketing tendo recebido, supostamente, por uma Medida Provisória editada no governo do pai? Quando lobista declara em delação que teria repassado dois milhões a uma nora? Um sobrinho, de microempresário, a parceiro de obras de engenharia ao redor do mundo? O próprio ex-presidente ter recebido mimos, como reforma de sítio, de apartamento triplex, jatinhos e dinheiro, muito dinheiro por «palestras» de empreiteiras envolvidas até a medula em fraudes, corrupção e sonegação? A mídia informa que por apenas dez «palestras» teriam custado a empreiteira Odebrecht a quantia de quatro milhões. Acho que poucas pessoas já falaram tão caro. Outras empresas pagaram fortunas idênticas.
A ninguém é lícito imaginar que tanta prosperidade, em tão pouco tempo, foi obtida de forma ilegal, ilícita. Mas, a ninguém pode ser negado o direito de questionar o por quê de tanto talento e aptidão para a iniciativa privada não tenha sido despertada antes de chegarem ao poder, quando ainda, moravam «de favor» ou dividiam o imóvel de 40 metros quadrados, segundo o Dr. Bicudo.
O direito à suspeição e ao estranhamento nos é devido desde que os escândalos com a terminação «ão» (mensalão, petrolão, eletrolão…) passou a ser rotina nas nossas vidas; desde que a cúpula do governo e dos partidos do governo, deixaram às páginas políticas dos jornais e passaram a ser figurinhas conhecidas no noticiários policiais; desde que muitas destas lideranças passaram a ser hóspedes do Estado por crimes como corrupção, formação de quadrilha e tantos outros.
Os governos petistas do ex-presidente Lula e da atual presidente Dilma Rousseff, trouxeram muitas conquistas ao povo brasileiro, como o Bolsa Família (que feitas inúmeras ressalvas e abusos) melhorou a vida de muitas pessoas miseráveis, como o Minha Casa Minha Vida; como a expansão do crédito do Fies, como o Prouni, o PRONATEC, e tantos outros. Entretanto, o germe da corrupção, do embuste e da mentira, fez com que desperdiçassem a chance de superar os inúmeros entraves ao desenvolvimento do Brasil, quando já passava da hora do país não mais conviver com «o rouba mais faz».
Assim, o ex-presidente Lula fez tábula rasa de suas próprias palavras: «E acreditem, acreditem mesmo, não pretendo desperdiçar essa oportunidade conquistada com a luta de muitos milhões de brasileiros e brasileiras”.
Pois bem, desperdiçou. O que vemos, hoje, no semblante de milhões de brasileiros e brasileiras é o descrédito, a angústia, a incerteza, a falta de fé num futuro melhor. Aquele, que, no início do discurso de posse, naquele dia 1° de janeiro de 2003, disse que a esperança havia vencido o medo, nos lega, novamente, o medo como herança.
Abdon Marinho é advogado.