SOBRE GANHAR PERDENDO
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- Criado: Domingo, 04 Outubro 2015 14:22
- Escrito por Abdon Marinho
SOBRE GANHAR PERDENDO.
Muito antigo é o ditado que prega que em eleição só não pode perder. Ou que tudo é válido desde que o resultado seja a vitória.
Nas eleições de 2014 a presidente da República, então candidata à renovação do mandato, teria dito que faria «o Diabo» para ganhar. Fez e ganhou. O resultado disso, segundo revelam as pesquisas, é que antes mesmo do início do novo período de mando já era contestada pelos eleitores.
Aconteceu que a vitória foi conseguida às custas da mentira, do engodo, da enganação.
A crise – gerada por ela e seu antecessor e às vistas de todos –, era vendida como um discurso derrotista dos opositores, que tudo estava maravilhoso e assim iria continuar caso fosse reeleita.
Noutra quadra, o inferno de instalaria no caso da vitória do adversário, que somaria juros altos para colher inflação, desvalorizaria a moeda, acabaria com os programas sociais, sucataria a educação, a saúde, e todo o resto.
Se tudo que se disse não fosse sabido e consabido por todos, diria que que a presidente inventou mais uma praga, a bumerangue. Tudo que disse que aconteceria, em caso de vitória do seu adversário, voltou-se para o seu governo e contra o povo brasileiro.
Hoje, mais de nove em cada grupo de dez desejam a saída da presidente. Não tardam e criam o movimento: eu quero meu voto de volta. E ainda não completamos o primeiro ano.
Finalmente, conforme vimos na chamada reforma ministerial, a presidente abdicou do poder, entregando a tarefa de governar ao ex-presidente (através de seus prepostos e pessoalmente – sabe-se que a reforma foi definida por ele) e aos partidos de sustentação, sobretudo, ao PMDB, principal deles, num jogo de toma lá dá cá de fazer corar de vergonha qualquer pessoa com um mínimo de brio.
A presidente é um exemplo, quase que perfeito, do significado de ganhar perdendo. Tornou-se uma espécie de Porcina – nenhuma relação com porcos, mas sim, a personagem fictícia da magistral obra de Dias Gomes, intitulada «Roque Santeiro» – a que era sem nunca ter sido.
Dilma Rousseff vestiu-se, definitivamente, de Porcina, dizendo-se presidente sem ser, talvez nunca tenha sido de fato, ainda que mandasse, sentia-se e era tutelada pelo criador, tanto que este sempre a tratou por «Dilma», já esta o trata por «presidente».
Agora, oficializaram a relação de mando, com a presidente entregando o poder aos fiadores do governo.
O que assistimos no plano federal não é muito diferente do que aconteceu e acontece em grande parte dos municípios maranhenses. Os gestores municipais também fizeram o «Diabo» para se elegerem, assumiram compromissos lícitos e ilícitos para alcançar o poder. Lá, no poder, têm que compartilhá-lo com os que custearam suas eleições, fazer todo tipo de coisa para saldar o que ficaram devendo.
O resultado é o que assistimos: faltando pouco mais de um ano para o término dos mandatos conquistados em 2012, poucos são os gestores que têm algo a mostrar a seus munícipes.
Isso, não é fruto, unicamente das dificuldades enfrentadas por todos: a escassez de recursos, o pacto federativo que concentra a arrecadação na união ou mesmo a incompetência. Tivemos tudo isso, é verdade, mas pesa, e muito, as gestões, praticamente, entregue aos financiadores de campanha, aos operadores do mercado financeiro informal (eufemismo para agiotagem). Estes, querem tirar das receitas públicas o que investiram e com lucros superiores a a cinco, dez vezes, talvez mais que isso, ao que emprestaram.
Exceto as autoridades, que deveriam investigar, apurar, punir e impedir esse tipo de coisa, não há, no Maranhão, quem desconheça esta prática, cada vez mais incisiva e criminosa no processo político.
Muitos gestores maranhenses, talvez a maior parte deles, foram eleitos assim: sendo financiados pelo mercado financeiro informal, por isso não conseguiram e jamais conseguirão, apresentar resultados satisfatórios, responder aos anseios das populações por escolas dignas, saúde que atenda minimamente, infraestrutura que preste, assistência social de qualidade. Os gestores mal são hoje, repassadores de programas, chefes de RH e, assim mesmo, ineficientes.
Isso tudo, porque se deixaram influenciar pela cegueira do poder. Tanto quiseram que fizeram todo tipo de pacto, obtiveram a vitória perdendo. Muitas vezes mais que o caráter, a vergonha e o compromisso.
As novas regras eleitorais sobre financiamento de campanha, quanto mais as analiso, mais me convenço que fortalecerão a atividade do crime organizado na política. Deixarão os mandatos mais frágeis e sucetíveis a todo tipo de questionamentos o que será outra porta aberta ao lucro fácil dos lobistas de plantão. S
e os ministros do STF, políticos, movimentos sociais e a presidente da República, tivessem combinado com os criminosos que vivem de financiar campanhas e com os lobistas de tribunais, talvez a estratégia não tivesse dado tão certo quanto deu.
Ano que vem teremos eleições municipais, por onde passo já escuto falar que os empresários que operam o mercado financeiro informal estão se oferecendo para ajudar determinados candidatos.
Minha opinião é que os postulantes, antes de aceitarem vender a alma ao demônio, devem se mirar e tantos exemplo à disposição, de ex-gestores respondendo a infinitos processos, sendo convidados a passar temporadas como hóspedes do Estado, perdendo seus bens, sendo julgados e condenados, tanto pelo que fizeram quanto pelo que permitiram fazer e, ainda, para atenderem a todo o tipo de chantagem.
Ganhar perdendo, não vale a pena. É o que penso.
Abdon Marinho é advogado.
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