AbdonMarinho - SOBRE GANHAR PERDENDO
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sábado, 23 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

SOBRE GAN­HAR PERDENDO

SOBRE GAN­HAR PERDENDO.

Muito antigo é o ditado que prega que em eleição só não pode perder. Ou que tudo é válido desde que o resul­tado seja a vitória.

Nas eleições de 2014 a pres­i­dente da República, então can­di­data à ren­o­vação do mandato, teria dito que faria «o Diabo» para gan­har. Fez e gan­hou. O resul­tado disso, segundo rev­e­lam as pesquisas, é que antes mesmo do iní­cio do novo período de mando já era con­tes­tada pelos eleitores.

Acon­te­ceu que a vitória foi con­seguida às cus­tas da men­tira, do engodo, da enganação.

A crise – ger­ada por ela e seu ante­ces­sor e às vis­tas de todos –, era ven­dida como um dis­curso der­ro­tista dos opos­i­tores, que tudo estava mar­avil­hoso e assim iria con­tin­uar caso fosse reeleita.

Noutra quadra, o inferno de insta­laria no caso da vitória do adver­sário, que somaria juros altos para col­her inflação, desval­orizaria a moeda, acabaria com os pro­gra­mas soci­ais, sucataria a edu­cação, a saúde, e todo o resto.

Se tudo que se disse não fosse sabido e con­s­abido por todos, diria que que a pres­i­dente inven­tou mais uma praga, a bumerangue. Tudo que disse que acon­te­ceria, em caso de vitória do seu adver­sário, voltou-​se para o seu gov­erno e con­tra o povo brasileiro.

Hoje, mais de nove em cada grupo de dez dese­jam a saída da pres­i­dente. Não tar­dam e criam o movi­mento: eu quero meu voto de volta. E ainda não com­ple­ta­mos o primeiro ano.

Final­mente, con­forme vimos na chamada reforma min­is­te­r­ial, a pres­i­dente abdi­cou do poder, entre­gando a tarefa de gov­ernar ao ex-​presidente (através de seus pre­pos­tos e pes­soal­mente – sabe-​se que a reforma foi definida por ele) e aos par­tidos de sus­ten­tação, sobre­tudo, ao PMDB, prin­ci­pal deles, num jogo de toma lá dá cá de fazer corar de ver­gonha qual­quer pes­soa com um mín­imo de brio.

A pres­i­dente é um exem­plo, quase que per­feito, do sig­nifi­cado de gan­har per­dendo. Tornou-​se uma espé­cie de Porcina – nen­huma relação com por­cos, mas sim, a per­son­agem fic­tí­cia da magis­tral obra de Dias Gomes, inti­t­u­lada «Roque San­teiro» – a que era sem nunca ter sido.

Dilma Rouss­eff vestiu-​se, defin­i­ti­va­mente, de Porcina, dizendo-​se pres­i­dente sem ser, talvez nunca tenha sido de fato, ainda que man­dasse, sentia-​se e era tute­lada pelo cri­ador, tanto que este sem­pre a tra­tou por «Dilma», já esta o trata por «presidente».

Agora, ofi­cializaram a relação de mando, com a pres­i­dente entre­gando o poder aos fiadores do governo.

O que assis­ti­mos no plano fed­eral não é muito difer­ente do que acon­te­ceu e acon­tece em grande parte dos municí­pios maran­henses. Os gestores munic­i­pais tam­bém fiz­eram o «Diabo» para se elegerem, assumi­ram com­pro­mis­sos líc­i­tos e ilíc­i­tos para alcançar o poder. Lá, no poder, têm que compartilhá-​lo com os que custearam suas eleições, fazer todo tipo de coisa para sal­dar o que ficaram devendo.

O resul­tado é o que assis­ti­mos: fal­tando pouco mais de um ano para o tér­mino dos mandatos con­quis­ta­dos em 2012, poucos são os gestores que têm algo a mostrar a seus munícipes.

Isso, não é fruto, uni­ca­mente das difi­cul­dades enfrentadas por todos: a escassez de recur­sos, o pacto fed­er­a­tivo que con­cen­tra a arrecadação na união ou mesmo a incom­petên­cia. Tive­mos tudo isso, é ver­dade, mas pesa, e muito, as gestões, prati­ca­mente, entregue aos finan­ciadores de cam­panha, aos oper­adores do mer­cado finan­ceiro infor­mal (eufemismo para agio­tagem). Estes, querem tirar das receitas públi­cas o que inve­sti­ram e com lucros supe­ri­ores a a cinco, dez vezes, talvez mais que isso, ao que emprestaram.

Exceto as autori­dades, que dev­e­riam inves­ti­gar, apu­rar, punir e impedir esse tipo de coisa, não há, no Maran­hão, quem descon­heça esta prática, cada vez mais inci­siva e crim­i­nosa no processo político.

Muitos gestores maran­henses, talvez a maior parte deles, foram eleitos assim: sendo finan­cia­dos pelo mer­cado finan­ceiro infor­mal, por isso não con­seguiram e jamais con­seguirão, apre­sen­tar resul­ta­dos sat­is­fatórios, respon­der aos anseios das pop­u­lações por esco­las dig­nas, saúde que atenda min­i­ma­mente, infraestru­tura que preste, assistên­cia social de qual­i­dade. Os gestores mal são hoje, repas­sadores de pro­gra­mas, chefes de RH e, assim mesmo, ineficientes.

Isso tudo, porque se deixaram influ­en­ciar pela cegueira do poder. Tanto quis­eram que fiz­eram todo tipo de pacto, obtiveram a vitória per­dendo. Muitas vezes mais que o caráter, a ver­gonha e o compromisso.

As novas regras eleitorais sobre finan­cia­mento de cam­panha, quanto mais as anal­iso, mais me con­venço que for­t­ale­cerão a ativi­dade do crime orga­ni­zado na política. Deixarão os mandatos mais frágeis e sucetíveis a todo tipo de ques­tion­a­men­tos o que será outra porta aberta ao lucro fácil dos lobis­tas de plan­tão. S

e os min­istros do STF, políti­cos, movi­men­tos soci­ais e a pres­i­dente da República, tivessem com­bi­nado com os crim­i­nosos que vivem de finan­ciar cam­pan­has e com os lobis­tas de tri­bunais, talvez a estraté­gia não tivesse dado tão certo quanto deu.

Ano que vem ter­e­mos eleições munic­i­pais, por onde passo já escuto falar que os empresários que operam o mer­cado finan­ceiro infor­mal estão se ofer­e­cendo para aju­dar deter­mi­na­dos candidatos.

Minha opinião é que os pos­tu­lantes, antes de aceitarem vender a alma ao demônio, devem se mirar e tan­tos exem­plo à dis­posição, de ex-​gestores respon­dendo a infini­tos proces­sos, sendo con­vi­da­dos a pas­sar tem­po­radas como hós­pedes do Estado, per­dendo seus bens, sendo jul­ga­dos e con­de­na­dos, tanto pelo que fiz­eram quanto pelo que per­mi­ti­ram fazer e, ainda, para aten­derem a todo o tipo de chantagem.

Gan­har per­dendo, não vale a pena. É o que penso.

Abdon Mar­inho é advogado.

Comen­tários

0 #1 JAD­SON PEIXOTO 09-​10-​2015 17:37
A solução pra isso dev­e­ria se ini­ciar por aquele que tem o maior poder «O Povo » que dev­e­ria escol­her seus rep­re­sen­tantes pelas pro­postas, caráter, histórico politico e não por » quem vai pagar mais? » penso que assim já cairia muito o preço das cam­pan­has eleitorais fazendo com o que os futuros gestores não retirem das ver­bas públi­cas para suprir as mes­mas divi­das acres­cen­tadas de juros da cam­panha. Devíamos cobrar mais, acom­pan­har mais e anal­isar bem que real­mente merece nossa confiança.
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