SOBRE LARANJA E JABÁ.
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- Criado: Terça, 01 Setembro 2015 10:38
- Escrito por Abdon Marinho
SOBRE LARANJA E JABÁ.
Jabá na gíria das ruas significa gorjeta, dinheiro, suborno. Tornou-se ao longo dos anos, no jornalismo, o que era uma renda indireta tão comum que veio a, praticamente, tornar-se a principal renda de muitos que vivem do ofício de escrever, sobretudo, nos dias atuais onde cada e qualquer cidadão tem a facilidade de possuir um canal individual de comunicação, onde, livremente, expõe suas ideias e verdades.
No Maranhão não são poucos os que vivem deste ofício. Uns de forma digna, honesta, outros – e não são poucos –, da chantagem. Vendendo, como os vendilhões, tudo a todos, desde que remunerados para tal.
O que a primeira vista seria algo saudável – poucas coisas são tão salutares à democracia quanto a livre circulação de pensamento e ideias –, ganha outro sentido quando a livre manifestação de pensamento e análise é encomendada por pessoas com interesse nas mesmas que as compram.
A imprensa do Maranhão está repleta disso.
Quase todos blogueiros, jornalistas ou escribas, que não raro quebram a ponta do lápis ao assinar o nome – para usar uma expressão do saudoso amigo Walter Rodrigues –, são subsidiados por deputados, prefeitos, vereadores, recebem, diretamente, ou por interpostas pessoas, sinecuras do poder público e até do setor privado para expor determinadas ideias, venderem determinados produtos, inclusive candidaturas.
Não são apenas jornalistas, com ou sem aspas, são, verdadeiramente, assessores de comunicação, ganham para venderem produtos. E ganham bem para isso, frise-se. O jornalismo sério deixou de existir para ceder lugar as pautas de interesses pessoais e de grupos.
Esta é uma constatação não uma recriminação. Cada um tem o direito de defender o seu ganha pão desde que de forma honesta, assim como têm o dever de esclarecer isso aos seus leitores o móvel de suas pautas.
Mais do que os fatos que deveriam relatar, análises que deveriam produzir, preocupam-se com as vantagens que auferem no fim do mês e quantas mais auferirão no futuro.
Laranja, além do cítrico fruto da laranjeira, tem sido o termo usado no mundo político para designar uma pessoa que se coloca na disputa para servir de linha auxiliar de outra, muitas das vezes, para fazer o serviço sujo de desconstrução de determinada candidatura, em proveito alheio, de outro candidato.
Assim como jornalistas que se movem pelo jabá que recebem, também são muitos os laranjas da política. Bons jornalistas, jornalistas verdadeiros, os que assim merecem ser chamados, sabem distinguir uns dos outros.
Já os assessores de imprensa não. Para eles e para quem os subsidiam, qualquer político que seja do seu lado ou não reze na sua cartilha ou os pague, é laranja de alguém.
Nos dias 29 e 30 de agosto participei do congresso do Partido Socialista Brasileiro — PSB, partido ao qual sou filiado há 25 anos, desde 1990.
Abro um parêntese para assentar que o partido no Maranhão foi organizado por lideranças como Juarez Medeiros, ex-deputado estadual, Conceição Andrade, ex-deputada estadual e prefeita de São Luís, José Carlos Sabóia, ex-deputado federal, Domingos Paz, ex-deputado, ex-presidente da FETAEMA e centenas de outros líderes do campo e da cidade ligados as causas dos direitos humanos e dos trabalhadores, principalmente dos camponeses.
Como nunca vivi às custas de política – exceto pelos quatro anos que fui assessor de Juarez na Assembleia e alguns meses na prefeitura de São Luís – e pela necessidade de ganhar meu próprio sustento, afastei-me da militância partidária.
Ano passado fui escolhido, sem saber, para um cargo na executiva estadual. Numa das reuniões da executiva eu e outras lideranças defendemos a necessidade do partido apresentar um nome para candidatar-se a prefeito da capital, conforme amplamente divulgado nos meios de comunicação, na oportunidade foi decidido que colocávamos os cargos ocupados na administração municipal à disposição do prefeito. Fecho o parêntese.
No congresso os seguimentos organizados do partido, seus delegados e militantes defenderam a proposta da candidatura própria a prefeito da capital – que é aliás, uma decisão nacional – indicando o nome do deputado estadual e secretário de estado Bira do Pindaré. O senador Roberto Rocha, na condição de presidente da comissão provisória do partido na capital disse que acolhia aquela indicação é que também se colocava à disposição do partido como pré-candidato.
Tudo normal e dentro das regras democráticas.
As quase duas pessoas presentes no encontro que aplaudiram ou vaiaram uma e outra proposição não estavam participando de uma farsa.
Pois bem, bastou esse pré-lançamento da candidatura do deputado Bira do Pindaré para que alguns assessores de comunicação e não jornalistas, passassem a dizer que a candidatura posta era de um «laranja» que serviria aos propósitos de ajudar ao atual prefeito.
Vemos que tal opinião não corresponde a um jornalismo sério.
Embora não seja um especialista em política, acho que dos nomes postos para a disputa, poucos chegam perto da história política do candidato socialista.
O deputado Bira do Pindaré (embora do Pindaré) reside na capital do estado desde os cinco anos de idade, conhece como bem poucos os problemas da cidade.
E, conhece as dificuldades do povo, não de estatísticas, de pesquisa ou de ouvir dizer, mas porque durante quase toda sua vida os viveu, morou na periferia, pegou os coletivos lotados, estudou na rede pública de ensino, usou os serviços de saúde oferecidos aos cidadãos de baixa renda, padeceu de toda a falta de atenção dispensada pelo poder público aos cidadãos.
Lembro que desde cheguei à ilha em 1985, há trinta anos, portanto, ouço falar de Bira do Pindaré, do movimento estudantil, do movimento sindical, do exercício de mandatos, das lutas em defesa dos trabalhadores. São trinta anos, só os que conto.
Não vejo no cenário político, com todo o respeito aos demais postulantes, ninguém com maior respaldo e história de vida e política para pleitear a honra de conduzir os destinos do município que o pré-candidato socialista.
Trata-se de uma candidatura – caso se confirme – que falará diretamente ao coração dos cidadãos pois conhece cada um dos problemas que assombra a capital. Trata-se de alguém com história, cor e cheiro de povo, por isso mesmo, capaz de catalisar uma gama de apoios.
Não enxergo nenhum outro com maior potencial de crescimento.
Falar que uma candidatura dessas é «laranja» é não enxergar o quadro político como ele se apresenta, não ver, por exemplo, que os demais competidores só têm a diminuir seus percentuais quando começarem os confrontos de ideias, de história, do que cada um fez e onde esteve ao longo dos anos.
Talvez a visão de certos analistas esteja desfocada pelo brilho das moedas.
Mas não se veem não é por não quererem e sim por não poderem.
Abdon Marinho é advogado.