AbdonMarinho - SOBRE LARANJA E JABÁ.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sábado, 23 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

SOBRE LARANJA E JABÁ.

SOBRE LARANJA E JABÁ.

Jabá na gíria das ruas sig­nifica gor­jeta, din­heiro, sub­orno. Tornou-​se ao longo dos anos, no jor­nal­ismo, o que era uma renda indi­reta tão comum que veio a, prati­ca­mente, tornar-​se a prin­ci­pal renda de muitos que vivem do ofí­cio de escr­ever, sobre­tudo, nos dias atu­ais onde cada e qual­quer cidadão tem a facil­i­dade de pos­suir um canal indi­vid­ual de comu­ni­cação, onde, livre­mente, expõe suas ideias e verdades.

No Maran­hão não são poucos os que vivem deste ofí­cio. Uns de forma digna, hon­esta, out­ros – e não são poucos –, da chan­tagem. Vendendo, como os vendil­hões, tudo a todos, desde que remu­ner­a­dos para tal.

O que a primeira vista seria algo saudável – pou­cas coisas são tão salutares à democ­ra­cia quanto a livre cir­cu­lação de pen­sa­mento e ideias –, ganha outro sen­tido quando a livre man­i­fes­tação de pen­sa­mento e análise é encomen­dada por pes­soas com inter­esse nas mes­mas que as compram.

A imprensa do Maran­hão está repleta disso.

Quase todos blogueiros, jor­nal­is­tas ou escribas, que não raro que­bram a ponta do lápis ao assi­nar o nome – para usar uma expressão do saudoso amigo Wal­ter Rodrigues –, são sub­sidi­a­dos por dep­uta­dos, prefeitos, vereadores, recebem, dire­ta­mente, ou por inter­postas pes­soas, sinecuras do poder público e até do setor pri­vado para expor deter­mi­nadas ideias, venderem deter­mi­na­dos pro­du­tos, inclu­sive candidaturas.

Não são ape­nas jor­nal­is­tas, com ou sem aspas, são, ver­dadeira­mente, asses­sores de comu­ni­cação, gan­ham para venderem pro­du­tos. E gan­ham bem para isso, frise-​se. O jor­nal­ismo sério deixou de exi­s­tir para ceder lugar as pau­tas de inter­esses pes­soais e de grupos.

Esta é uma con­statação não uma recrim­i­nação. Cada um tem o dire­ito de defender o seu ganha pão desde que de forma hon­esta, assim como têm o dever de esclare­cer isso aos seus leitores o móvel de suas pautas.

Mais do que os fatos que dev­e­riam relatar, análises que dev­e­riam pro­duzir, preocupam-​se com as van­ta­gens que auferem no fim do mês e quan­tas mais auferirão no futuro.

Laranja, além do cítrico fruto da laran­jeira, tem sido o termo usado no mundo político para des­ig­nar uma pes­soa que se coloca na dis­puta para servir de linha aux­il­iar de outra, muitas das vezes, para fazer o serviço sujo de descon­strução de deter­mi­nada can­di­datura, em proveito alheio, de outro candidato.

Assim como jor­nal­is­tas que se movem pelo jabá que recebem, tam­bém são muitos os laran­jas da política. Bons jor­nal­is­tas, jor­nal­is­tas ver­dadeiros, os que assim mere­cem ser chama­dos, sabem dis­tin­guir uns dos outros.

Já os asses­sores de imprensa não. Para eles e para quem os sub­sidiam, qual­quer político que seja do seu lado ou não reze na sua car­tilha ou os pague, é laranja de alguém.

Nos dias 29 e 30 de agosto par­ticipei do con­gresso do Par­tido Social­ista Brasileiro — PSB, par­tido ao qual sou fil­i­ado há 25 anos, desde 1990.

Abro um parên­tese para assen­tar que o par­tido no Maran­hão foi orga­ni­zado por lid­er­anças como Juarez Medeiros, ex-​deputado estad­ual, Con­ceição Andrade, ex-​deputada estad­ual e prefeita de São Luís, José Car­los Sabóia, ex-​deputado fed­eral, Domin­gos Paz, ex-​deputado, ex-​presidente da FETAEMA e cen­te­nas de out­ros líderes do campo e da cidade lig­a­dos as causas dos dire­itos humanos e dos tra­bal­hadores, prin­ci­pal­mente dos camponeses.

Como nunca vivi às cus­tas de política – exceto pelos qua­tro anos que fui asses­sor de Juarez na Assem­bleia e alguns meses na prefeitura de São Luís – e pela neces­si­dade de gan­har meu próprio sus­tento, afastei-​me da mil­itân­cia partidária.

Ano pas­sado fui escol­hido, sem saber, para um cargo na exec­u­tiva estad­ual. Numa das reuniões da exec­u­tiva eu e out­ras lid­er­anças defend­emos a neces­si­dade do par­tido apre­sen­tar um nome para candidatar-​se a prefeito da cap­i­tal, con­forme ampla­mente divul­gado nos meios de comu­ni­cação, na opor­tu­nidade foi deci­dido que colocá­va­mos os car­gos ocu­pa­dos na admin­is­tração munic­i­pal à dis­posição do prefeito. Fecho o parêntese.

No con­gresso os segui­men­tos orga­ni­za­dos do par­tido, seus del­e­ga­dos e mil­i­tantes defend­eram a pro­posta da can­di­datura própria a prefeito da cap­i­tal – que é aliás, uma decisão nacional – indi­cando o nome do dep­utado estad­ual e secretário de estado Bira do Pin­daré. O senador Roberto Rocha, na condição de pres­i­dente da comis­são pro­visória do par­tido na cap­i­tal disse que acol­hia aquela indi­cação é que tam­bém se colo­cava à dis­posição do par­tido como pré-​candidato.

Tudo nor­mal e den­tro das regras democráticas.

As quase duas pes­soas pre­sentes no encon­tro que aplaudi­ram ou vaiaram uma e outra proposição não estavam par­tic­i­pando de uma farsa.

Pois bem, bas­tou esse pré-​lançamento da can­di­datura do dep­utado Bira do Pin­daré para que alguns asses­sores de comu­ni­cação e não jor­nal­is­tas, pas­sas­sem a dizer que a can­di­datura posta era de um «laranja» que serviria aos propósi­tos de aju­dar ao atual prefeito.

Vemos que tal opinião não cor­re­sponde a um jor­nal­ismo sério.

Emb­ora não seja um espe­cial­ista em política, acho que dos nomes pos­tos para a dis­puta, poucos chegam perto da história política do can­didato socialista.

O dep­utado Bira do Pin­daré (emb­ora do Pin­daré) reside na cap­i­tal do estado desde os cinco anos de idade, con­hece como bem poucos os prob­le­mas da cidade.

E, con­hece as difi­cul­dades do povo, não de estatís­ti­cas, de pesquisa ou de ouvir dizer, mas porque durante quase toda sua vida os viveu, morou na per­ife­ria, pegou os cole­tivos lota­dos, estu­dou na rede pública de ensino, usou os serviços de saúde ofer­e­ci­dos aos cidadãos de baixa renda, pade­ceu de toda a falta de atenção dis­pen­sada pelo poder público aos cidadãos.

Lem­bro que desde cheguei à ilha em 1985, há trinta anos, por­tanto, ouço falar de Bira do Pin­daré, do movi­mento estu­dan­til, do movi­mento sindi­cal, do exer­cí­cio de mandatos, das lutas em defesa dos tra­bal­hadores. São trinta anos, só os que conto.

Não vejo no cenário político, com todo o respeito aos demais pos­tu­lantes, ninguém com maior respaldo e história de vida e política para pleit­ear a honra de con­duzir os des­ti­nos do municí­pio que o pré-​candidato socialista.

Trata-​se de uma can­di­datura – caso se con­firme – que falará dire­ta­mente ao coração dos cidadãos pois con­hece cada um dos prob­le­mas que assom­bra a cap­i­tal. Trata-​se de alguém com história, cor e cheiro de povo, por isso mesmo, capaz de catal­isar uma gama de apoios.

Não enx­ergo nen­hum outro com maior poten­cial de crescimento.

Falar que uma can­di­datura dessas é «laranja» é não enx­er­gar o quadro político como ele se apre­senta, não ver, por exem­plo, que os demais com­peti­dores só têm a diminuir seus per­centu­ais quando começarem os con­fron­tos de ideias, de história, do que cada um fez e onde esteve ao longo dos anos.

Talvez a visão de cer­tos anal­is­tas esteja des­fo­cada pelo brilho das moedas.

Mas não se veem não é por não quer­erem e sim por não poderem.

Abdon Mar­inho é advogado.