AbdonMarinho - A IDEOLOGIA DA CONVENIÊNCIA.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sábado, 23 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

A IDE­OLO­GIA DA CONVENIÊNCIA.

A IDE­OLO­GIA DA CONVENIÊNCIA.

Escrevi outro dia sobre caso da vereadora do municí­pio de São Luís, que eleita sob o par­tido comu­nista mudara-​se de malas e cuias para o par­tido que, ao menos nos man­i­festos e estatu­tos, rep­re­sen­tava o seu oposto, o pro­gres­sita. Ques­tion­ava falta de con­sistên­cia destas siglas — mais de trinta — que infesta o cenário político nacional.

Vendo que o par­tido além de ligar muito para esses questões de fidel­i­dade ide­ológ­ica, tam­bém não se mostrava dis­posto a abraçar a can­di­datura da nova fil­i­ada, esta já tenta abrigo noutra sigla. Segundo li, a tomada de decisão dava-​se pelo fato da sigla escol­hida não se mostrar muito «confiável».

Se aos políti­cos — aos que ligam — parece com­pli­cado tan­tas mudanças, imag­inem para o eleitor que vota mais pelo dever cívico.

Em todo caso fica mesmo difí­cil saber a quem assiste razão. Se a fil­i­ada que antes jurava devota do comu­nismo mais fer­voroso, daquele capaz de jus­ti­ficar as bar­báries cometi­das pelo Stal­in­ismo, pelo régime cubano ou norte-​coreano, ou se o par­tido que tendo jurado apoiar a neo pro­gres­sista, egressa do comu­nismo, flerta pública e despu­do­rada­mente com a can­di­datura popular-​socialista.

Como dizem, o Brasil não é para amadores. O Maran­hão menos ainda.

No caso de com­por­ta­men­tos políti­cos eleitorais inusi­ta­dos – sem falar nas sérias denún­cias que os par­tidos não orga­ni­zam seus órgãos dire­tivos munic­i­pais para faz­erem todo tipo de negó­cio às vésperas das eleições e quando se fala «todo» deve se enten­der no sen­tido mais amplo do termo –, pen­sei que fosse ficar no caso da comu­nista que virara pro­gres­sista e que agora busca outra leg­enda «con­fiável» que pare­ceu não ser o caso da leg­enda pro­gres­sista que escalara uma ex-​comunista para dis­puta, mas que na ver­dade, ten­ciona apoiar uma popular-​socialista, cuja afinidade ide­ológ­ica é pro­por­cional aos números das pesquisas de intenção de voto.

Aliás, a afinidade ide­ológ­ica deve ser recíp­roca, uma vez que os populares-​socialistas bus­cam, na real­i­dade, é tempo no rádio e na tele­visão e para isso não se impor­tarão muito de onde os mes­mos vierem.

Mas como dizia, a fora as out­ras situ­ações, pen­sei que ficaria somente neste caso. E ai, eis que me aparece o ilus­tra­tivo caso de São José de Riba­mar, municí­pio onde resido, com uma situ­ação, tam­bém, bas­tante peculiar.

No final dos anos oitenta, como quase todos os jovens daquela época, fiz cursinho preparatório para o vestibu­lar (só exis­tiam no Maran­hão as duas uni­ver­si­dades públi­cas: UFMA e UEMA), no curso do saudoso Pro­fes­sor José Maria do Ama­ral, um dos cristãos mais extra­ordinários que con­heci. Meu pro­fes­sor de química ou biolo­gia (não lem­bro) era o médico Júlio Matos (pop­u­lar­mente con­hecido como Dr. Julinho), naquela época já mil­i­tante político do Par­tido Democrático Tra­bal­hista — PDT e pre­tenso can­didato a prefeito de São José de Riba­mar, sendo vito­rioso, naquele ou no pleito seguinte. Pois bem, sem­pre iden­ti­fiquei o mil­i­tante das causas ditas «esquerdis­tas», mas, sobre­tudo e prin­ci­pal­mente, pedetista.

Por estes dias soube que, não só que pas­sara a mil­i­tante do Par­tido do Movi­mento Democrático Brasileiro — PMDB, par­tido que sem­pre estivera no lado oposto ao seu, como tam­bém, pas­mem, os seus eter­nos adver­sários, cap­i­tanea­dos pelo prefeito do municí­pio bal­neário, sen­hor Gil Cutrim, viraram os neosso­cial­ista morenos – no dizer do velho Leonel Brizola –, defen­sores, ardorosos, das causas tra­bal­his­tas. Mais até que Getúlio Var­gas, João Goulart e o próprio Leonel Brizola.

Pelos veícu­los de comu­ni­cação, vi a festa de acol­hi­mento dos novos inte­grantes da leg­enda tra­bal­hista e, como cidadão, fiquei a inda­gar como se dera tamanha trans­mu­dação: pemede­bis­tas virando tra­bal­his­tas e vice-​versa. Como se uns e out­ros tivessem pas­sado a vida inteira do lado errado da história.

Longe de mim ques­tionar se estavam cer­tos ou erra­dos, nada disso, mas não deixa de ser estranho alguém pas­sar a vida inteira de um lado e, de repente, desco­brir que estava errado.

Já pen­saram se, num passé de mág­ica, aque­les a quem jurá­va­mos mocin­hos, fos­sem os ban­di­dos da história?

A leg­is­lação brasileira tenta, a todo custo, empurrar a ideia de for­t­alec­i­mento dos par­tidos políti­cos e nos deparamos com situ­ações como estas, ou out­ras bem piores, como o caso de par­tido que pas­sam a vida inteira se vendendo como difer­ente e no poder, con­seguem pio­rar todas as práti­cas que combatia.

Como acred­i­tar num quadro par­tidário assim? Como con­fiar em política feita desta fora?

Não nos ilu­damos, se ainda for­mos capazes de nos sur­preen­der­mos como algo, até o dia 5 de out­ubro, ter­e­mos motivos de sobra para isso.

Abdon Mar­inho é advogado.