AbdonMarinho - Politica
Bem Vindo a Pagina de Abdon Marinho, Ideias e Opiniões, Segunda-feira, 25 de Novembro de 2024



A palavra é o instrumento irresistível da conquista da liberdade.

Escrito por Abdon Marinho

O COMEDIANTE, O COVARDE E O IDIOTA.

Por Abdon Marinho. 

CARNAVAL, enquanto o som de bombas apavoram uma população que não pediu uma guerra; enquanto militares e civis são mortos; enquanto mulheres, idosos, deficientes e crianças, numa tragédia sem precedentes fogem para os países vizinhos em busca de segurança, deixando para trás seus lares, patrimônio e, por assim dizer, suas vidas surge o idiota como uma das declarações mais entupidas ditas em qualquer tempo e mais grave em tempo de guerra: “o povo ucraniano confiou a um comediante os destino da nação”.

Algo mais ou menos assim em um dialeto entrecortado próximo do português. 

A frase do idiota depois copiada e “mesmerizada” por uma legião de seguidores “idiotizados” “ganhou” as redes sociais, inclusive com algumas ilustrações e/ou fotos dos dois presidentes e suas biografias onde se lia abaixo do ucraniano que fora ator, comediante, etc., e, abaixo do russo sua carreira como espião da KGB, campeão disso ou daquilo.

Como todo idiota é geralmente um machista misógino é como se dissesse: uma mulher dentro da sua casa com vestido curto está pedindo para ser violentada. 

O BRASIL tem uma vasta reputação de bons comediantes, verdadeiros gênios que mesmo nos momentos de maiores dificuldades, como nos duros tempos da ditadura, das sucessivas crises financeiras, conseguiam com sua inteligência e perspicácia nos fazer rir de nossas próprias desgraças. 

Quem não traz na memória os célebres personagens de Chico Anysio,  de Jô Soares ou de tantos outros? 

Um bom comediante até pode fingir ser um idiota, já o idiota jamais conseguirá ser um bom comediante. 

Quando muito poderá contar alguma piada sem graça em que a audiência rir-se-á mais dele do que da suposta piada. 

Em exercício de retórica, imagino que o nosso país estaria muito melhor posicionado no mundo se em algum momento de sua história tivesse sido conduzido por um comediante e não por boçais, imbecis e idiotas. 

Estamos assistindo isso “ao vivo”, enquanto um idiota tenta fazer piadas com o sofrimento alheio e se equilibra entre a covardia e adoração por um macho alfa, temos um comediante na distante Ucrânia resistindo à invasão do seu país numa guerra injusta, cruel e covarde. 

O comediante de quem os idiotas fizeram e fazem pouco caso é inspirador e inspirado por uma população que luta e resiste a numa guerra desigual. 

Quase que diariamente assistimos um profissional da comédia não fazendo graça, mas pedindo e  passando força para que o seu povo resista à tomada do seu país por uma potência estrangeira. 

O comediante não fugiu ao ouvir as ameaças e o barulho das bombas que caíram e caem sobre o seu país, fez o oposto disso. 

É a coragem e resiliência de um comediante que tem inspirado a resistência dentro da Ucrânia e mobilizado a sociedade civil ao redor do mundo contra uma guerra de expansão, injusta e absolutamente deslocada no tempo. 

Não tenho dúvidas que o poderio militar de uma superpotência mundial em algum momento vai se sobrepor à garra e determinação do povo ucraniano na defesa da sua pátria. 

Mas ainda assim, quando isso ocorrer, quem terá “vencido” a guerra será a Ucrânia e não a Rússia. 

O mundo inteiro já tem convicção que o covarde de Moscou é o agente provocador da guerra e que mesmo uma vitória pelas armas jamais o transformará em um vencedor, mas, apenas em um invasor e/ou ocupante de uma nação soberana. 

Essa conscientização coletiva sobre a guerra de expansão provocada pelo covarde de Moscou contra a Ucrânia e a consequente repulsa dos povos do mundo a ela só está sendo possível por conta da resistência firme e corajosa de um comediante que é inspirado e inspira toda uma nação. 

Caso fosse um covarde ou idiota e tivesse fugido do país ao estampido das primeiras bombas certamente o seu país já estaria anexado à potência agressora e o mundo, sequer, ainda estaria falando da guerra. 

Até aqui temos visto um comediante se portar como o mais altivo dos comandantes de guerra não apenas no plano da resistência interna, mas, principalmente, retirando o mundo de sua costumeira apatia e indiferença ao mostrar que a guerra que ocorre e destrói o seu país é uma guerra de toda sociedade civilizada contra a barbárie. 

Assim tem conseguido galvanizar os sentimentos contrários à guerra da população, dos governos e das empresas – nunca tínhamos visto tantas empresas e tantas marcas se posicionarem contra uma guerra quanto agora. 

Até aqui já vimos o comediante emocionar e arrancar lágrimas e aplausos do Parlamento Europeu, debater com o Congresso Americano e todos os dias ser consultado e ganhar a solidariedade de governantes do mundo inteiro. 

Se sair vivo desta guerra não duvido que conquiste o Nobel da Paz e seja requisitado como um pop Star por onde quer que passe. 

Enquanto isso o covarde de Moscou segue cada dia que passa mais isolado. 

Como trunfo para ser ouvido por alguém usa a ameaça do Armagedom nuclear. 

A cena mais patética desta guerra sem sentido é vermos o covarde senhor da guerra sentar-se à uma distância de vinte metros dos seus generais e ministros.

Sem coragem sequer para sentar-se próximo aos seus compassas, manda jovens soldados, filhos de alguém, namorados de alguém, netos de alguém, lutarem na “sua guerra”. 

Do seu quartel-general a centenas de quilômetros de distância manda soltar bombas sobre cidades, sobre civis, sobre uma nação que sabe ser incapaz de resistir ao poderio militar russo, até porque, voluntariamente desarmou-se lá atrás diante do compromisso (violado) de que nunca seria alvo de ataques. 

O covarde mente descaradamente para o povo russo ao dizer que não existe guerra – o termo foi, inclusive, proibido –, trata-se de uma “operação militar especial” para proteger cidadãos russos que estariam sendo humilhados pelo governo ucraniano. 

Como a mentira não se sustenta, impôs-se a censura com penas duríssimas (de até 15 anos de cadeia) para quem ousar divulgar qualquer notícia que esteja em desacordo com a versão oficial do governo. 

Os canais de rádio o televisão estrangeiros já estão deixando o país; as redes sociais estão bloqueadas. 

Ainda assim, o covarde enfrenta protestos cada vez mais frequentes internamente. 

O povo, apesar da censura, das retaliações e opressão de se viver em um regime autocrático começa a ir para as ruas protestar ou mesmo manifestar-se contrário à guerra. 

Em cada protesto ou manifestações centenas de pessoas são presas, inclusive idosos e crianças. 

O covarde, ainda que mande prender todos que protestarem contra a “sua guerra”, não conseguirá esconder a verdade de toda a população que começará a sofrer os efeitos da desvalorização da moeda, do bloqueio dos seus cartões de crédito, do fechamento ou encerramento de atividades de quase todas grandes empresas que atuam naquele país, sem contar a insatisfação pela perdas de seus soldados. 

Muito embora estejam acostumados a privações diversas, desde sempre, os russos nas últimas três décadas ainda que vivendo sob o jugo de regime autoritário experimentou os confortos e comodidades da vida moderna. 

Não acredito que vá aceitar com bom grado um retrocesso para os tempos da União Soviética sem qualquer insatisfação, ainda mais sabendo que a guerra só atende aos desejos pessoais de um tirano de um grupo de oligarcas que tem saqueado a Rússia há décadas. 

O idiota visitou o covarde de Moscou e na sua tosca imaginação tornou-se “amigo de infância” dele. 

Contrariando posições históricas do nosso país e os marcos legais contidos na Constituição, o idiota, até agora não manifestou solidariedade a uma nação soberana invadida e condenou a ação do invasor. Para diminuir nossa vergonha a diplomacia brasileira, ainda que titubeante, condenou a invasão. 

Conforme disse em texto anterior, o idiota não precisaria fazer nada além de reafirmar o que estabelece a Constituição Federal no que refere à política externa do país. Trata-se do artigo 4º, da Constituição. Está tudo lá. 

O idiota só precisaria dizer que a posição dele e do país é a contida na Constituição. Só isso. 

Ao fugir da Constituição como o diabo foge da cruz para postar-se implicitamente ao lado do covarde russo, alçado à condição de “melhor amigo de infância”, além de explicitamente descumpri-la, suspeito que tenha violado o artigo 84, que trata dos crimes de responsabilidade.

A sociedade moldada numa escala de valores. 

O primeiro deles é a vida, seguido da liberdade e daí pra frente. 

O idiota não possui hierarquia de valores. Acha que um saco de adubo vale mais que uma vida humana. O idiota vai para a televisão,  em plena guerra, com milhares sendo mortos, outros milhares perdendo tudo para viverem como refugiados, e diz que o fertilizante é sagrado. 

O idiota não  sabe que a vida é sagrada e não fertilizantes. 

Era carnaval, enquanto o comediante organizava a resistência aos ataques aéreos e por terra do covarde de Moscou, o idiota passeava de jet-ski. 

Já os líderes do mundo solenemente ignoravam sua existência. 

Abdon Marinho é advogado.