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Bem Vindo a Pagina de Abdon Marinho, Ideias e Opiniões, Quarta-feira, 27 de Novembro de 2024



A palavra é o instrumento irresistível da conquista da liberdade.

Escrito por Abdon Marinho

O MARANHÃO NA ENCRUZILHADA DO ATRASO.
DIZIA o saudoso Rui Barbosa que “a palavra é o instrumento irresistível da conquista da liberdade”. Uso-a no frontispício do meu site.
Há alguns anos resolvi que era hora de expor o que penso publicamente, usar a palavra para dar o meu testemunho sobre os dias que vivemos. Minha opção foi pela palavra escrita.
Em todos estes anos, por onde passo, escuto uma pergunta recorrente: – você não tem medo de escrever estes textos?
Ouço tal inquisição de médicos, advogados, servidores públicos, estudantes, cidadãos comuns.
Já ouvia muito isso no governo da senhora Roseana Sarney e, agora, até com mais frequência, no governo do senhor Flávio Dino.
Somente o fato de alguém, a essa altura do século 21, fazer tal pergunta é motivo de preocupação para cidadãos de bem – e que coloca em xeque o discurso de que vivemos uma democracia plena.
Democracia onde as pessoas temem a liberdade de expressão?!
Se as pessoas não se sentem confortáveis para dizerem o que pensam por temerem represálias por parte dos donos do poder é de se perguntar que espécie de democracia é essa que tanto se propala.
Existem razões palpáveis para que a “cultura do medo” esteja tão presente na vida dos cidadãos, a ponto de alcançar as pessoas indistintamente, de diversas profissões ou atividades?
A leitura que faço a partir dos questionamentos que recebo é que, os cidadãos, efetivamente, não se sentem livres, e, pelo menos no aspecto da liberdade de expressão, enxergam os dias atuais com mais temor ou pessimismo que os anos do que ficou conhecido como sarneysmo.
E, nem falemos da Era anterior, o vitorinismo, já que a grande maioria dos vivos só a conhece através dos livros de história.
Acredito que o temor ainda sentido pelos cidadãos, decorra do fato dos integrantes do atual governo – e toda sua mídia –, disseminarem a ideia que vivemos sobre a égide de outra Era, o dinismo. Isso, apenas uma nova Era, uma continuidade das anteriores.
Para os cidadãos que me param nos corredores é como se Maranhão apenas tivesse mudado de donatário. Tivemos o vitorinismo, o sarneysmo, e agora, pasmem, o dinismo. A percepção é, na essência, que o chicote apenas tenha mudado de dono.
Faz sentido essa percepção dos cidadãos? Talvez. Lembro que nos primeiros meses do atual governo até escrever artigo na capa de jornal (no caso o Pequeno), o governador fez, copiando a prática do senador Sarney n’O Estado do Maranhão.
Depois de falar diversas vezes, levaram a coluna semanal para a página 4. Seria um indício?
As “eras” anteriores ficaram reconhecidas pelo patrimonialismo, pela utilização dos poderes do estado em benefícios de uma minoria. Mas, será que isso é muito diferente do que vemos hoje, onde pessoas que, se deixadas por sua conta não se elegeriam a inspetores de quarteirão e, pelo poder ou cargos que acumulam, são cotados para serem os mais bem votados?
Outro dia li (e até agora ninguém desmentiu), que se negocia a colocação da esposa de determinado secretário como suplente de senador de um dos candidatos majoritários apoiados pelo governo. Li, ainda, sobre as inúmeras nomeações de parentes, aderentes, etc.
Isso é muito diferente do filho do senador ser seu suplente? Da esposa ser deputada? Do genro ser deputado? Do filho do deputado federal ser deputado estadual? Dos amantes – de quaisquer dos sexos, abaixo o preconceito! – serem nomeados para este ou aquele cargo comissionado, muitas vezes, para, sequer trabalhar? Ou eleitos para mandatos pelo poder dos amásios?
Não seriam estes infindáveis aluguéis - conhecidos por camaradas -, também, uma expressão do patrimonialismo que se jurou combater?
Claro que podemos falar em avanços sociais e administrativos. Como os são o projeto escola digna, a distribuição de patrulhas agrícolas, novas unidades de saúde e mesmo a ajuda em alguns projetos de infraestrutura urbana.
No caso do Escola Digna, acho-o formidável. Já disse – e até escrevi sobre –, que retirar estudantes de escolas de taipa e chão batido ou “latadas", significa um extraordinário avanço. Embora, ressalve-se, ainda muito longe do ideal: escolas de qualidade, com ensino de qualidade, onde todas as crianças e jovens, do campo ou das cidades, tivessem iguais chances de aprendizagem que têm as crianças e jovens das mais caras escolas privadas. Um sonho!? Talvez.
Ainda estes “avanços”, são ofuscado por inúmeros erros de gestão cometidos, mais, principalmente, pelo estilo “iluminado", infalível de governar. Mesmo os aliados mais fieis, à “boca pequena”, reclamam do governo do "eu sozinho", do estilo seita com que governam.
Se aturam, é mais por conveniência que por convicção.
Vou além, o governo atual tem se mostrado absolutamente refratário a quaisquer criticas e questionamentos. Ainda aquelas críticas feitas no sentido de ajudá-los, de fazê-los ver além das paredes do palácio, são malvistas, tidas como “de adversários”. Uma espécie de obsessão que chega próximo de patológica.
Li, com pesar, preocupação e incredulidade, que este é o governo onde as autoridades públicas mais demandam contra jornalistas, blogueiros e qualquer um que ouse discordar ou criticar seus métodos de governar ou mesmo supostos erros em mais de trinta anos.
E, como se processar todos que discordam do seu estilo de governar fosse um grande feito, fazem questão de divulgar pelas redes sociais e outros meios, que processaram e vão continuar a fazer isso contra este ou aquele e que ninguém baterá o “estado" impunemente.
Vejam, que a exemplo dos governantes absolutistas de séculos pretéritos, confundem a pessoa do governante com o estado. Por isso mesmo, acham normal que o procurador do ente público peça aos veículos de comunicação direito de resposta em nome do governante.
Não sei é de forma deliberada, mas a impressão que tenho é que essa “cultura do medo” é uma estratégia (equivocada) de governar. Daí a pergunta recorrente: – você não tem medo?
Querem que os cidadãos, temam o governo e seus governantes, senão sofrerão as consequências.
E estas consequências vão desde os processos judiciais, como fazem questão de anunciar, às campanhas de difamação na mídia oficiosa. E já há quem diga que o braço policial do Estado também está sendo colocado nesta estratégia de poder, o que é algo gravíssimo.
Será que as pessoas indagam se não tenho medo, temem esse tipo de coisa?
Já nas eleições de 2016 o que mais se ouviu foram denúncias de que o aparelho estatal, a chamada máquina pública, estava sendo usada, com desassombro, em beneficio dos aliados do governador no interior do estado.
Há quem achem mérito nisso. Há quem diga admirar os que sabem usar o poder. Ainda, ou principalmente, para o mal.
Não enxergo mérito algum. Que mérito pode haver quando se “briga” para baixo? Quando se usa do poder que tem contra os mais fracos?
Governante que se preza não tenta infundir temor. Pelo contrário, conquista o respeito pela humildade e benevolência, pois está sempre pronto a conciliar e aberto ao diálogo, aceita as criticas como um instrumento de crescimento pessoal e político.
Nas minhas conjecturas mais íntimas e pessoais me ponho a perguntar: não foi isso que se propuseram a combater?
A proposta não era a “libertação do Maranhão” das amarras do atraso, do autoritarismo, do patrimonialismo e da prepotência?
Existe algo mais atrasado que tentar promover, como estratégia de governo, a cultura do medo?
Certamente os milhares de sufrágios que o atual governador teve em relação ao representante do “antigo regime”, foi no sentido de efetivas mudanças de pensar, de efetiva liberdade em todos os sentidos.
O sonho sonhado era o da liberdade.
Por onde ando escuto reclamações diversas a respeito dos atuais inquilinos dos Leões. Reclamações de que se trata de um governo fechado, de bem poucos, perseguidor, que não aceita ideias divergentes. Críticas aos aluguéis, apelidados de camaradas; críticas à fúria arrecadatória, que levou milhares de maranhenses a serem negativados na SERASA; críticas à apreensão de milhares de veículos, e por aí vai.
Aliás, sobre essas apreensões de veículos escutei uma história curiosa numa destas minhas andanças.
Perguntava a um cidadão sobre as eleições do ano que vem:
– Doutor, não sei ainda em quem votarei, mas já sei em quem não vou votar, é no atual governo.
Curioso, perguntei:
– Mas, por quê?
– Olhe, doutor, eu só tinha uma moto financiada em mais de 20 prestações. Quase acabo com ela na campanha do Flávio "na espera” de melhorar "pro" meu lado. Não consegui nada. E depois, como aqui no interior, não tinha costume de andar com documento em dia, “tomaram”, minha moto.
Encerrei a conversa. Certamente, trata-se de um caso isolado.
Por tudo isso, não estranhei que pesquisas apontem disputa entre o “sarneysmo" e o "dinismo” em situação de empate técnico.
Embora o cidadão comum não consiga identificar muito bem, os dois postulantes, tanto a ex-governadora, Roseana Sarney, quanto o atual governador, Flávio Dino, têm estilos parecidos de governar: voltado para as práticas do passado e não apontam um rumo de desenvolvimento para o futuro, como fizeram os políticos do Ceará e mesmo do Piauí.
A anterior, não poderia, posto ser a continuação de uma oligarquia familiar.
O atual, que esperávamos fosse este fanal para o futuro, tornou-se, na verdade, uma seita. Eles até pensam que é governo, mas é uma seita, devotada as mais práticas atrasadas, autoritárias, inclusive, anteriores, ao próprio sarneysmo que juraram combater.
Infelizmente esta é outra distorção da nossa política.
Como dizem que no Maranhão quem não é sarneysista é anti-Sarney, impedem o surgimento de um pensamento crítico autônomo e alheio a esta dicotomia maniqueísta.
Esta é a encruzilhada do atraso.
A política do estado, decorridos 50 anos, tendo que ser disputada entre o Sarney e o que se intitula anti-Sarney, como se por aqui o tempo não tivesse passado.
Esta é a desgraça do Maranhão. Não temos outras opções políticas com potencial para disputar as eleições e apontar um rumo para o desenvolvimento.
O atraso político, econômico e histórico impossibilitou o surgimento de outras lideranças e as que ensaiam, infelizmente – embora não todas –, trazem o ranço da velha dicotomia.
Não vislumbro, até aqui, uma candidatura, competitiva, que represente algo novo. E o que era para ser novo tornou-se mais antigo que o passado.
Esta é a síntese do atraso Maranhense.
Abdon Marinho é advogado.