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Bem Vindo a Pagina de Abdon Marinho, Ideias e Opiniões, Quarta-feira, 27 de Novembro de 2024



A palavra é o instrumento irresistível da conquista da liberdade.

Escrito por Abdon Marinho

ESTAMOS CONDENADOS AO ATRASO ETERNO?

QUANDO escrevi “O Maranhão na Encruzilhada do Atraso”, onde analisava as duas alternativas de candidaturas que achava mais viáveis para conduzir o estado a partir de 2019, o atual governador, Flávio Dino e a ex-governadora Roseana Sarney, um amigo ligou para reclamar do pessimismo exposto em relação ao futuro do Maranhão.

Com efeito, as duas alternativas são terríveis. A Era Sarneysista e o que a Era Dinista tem mostrado não levará o Estado do Maranhão a lugar algum. O futuro prometido nada mais se revelou que uma continuação, mal engendrada do passado. Mais de meio século que tem assistido o nosso povo empobrecer e o estado ficar para trás. Mais de meio século de atraso já deu. Como ser otimista?

Dois amigos, um que viaja constantemente para o Ceará e outro que viaja sempre para o Pará, ambos de carro, mais de uma vez já me disseram: – Abdon, se estiveres de olhos fechado, quando cruzares a fronteira do Maranhão tu vais perceber o quanto ficamos para trás.

O que se vê e percebe de mudança na estrutura viária é o reflexo do quanto o nosso estado tem ficado para trás em relação aos seus vizinhos. Ainda que aqueles enfrentem os problemas comuns de todos no Brasil, percebe-se, claramente a existência de um norte, um rumo para um futuro melhor.

Essa é a constatação que fazemos ao perguntar aos maranhenses que costumam fazer turismo nos estados vizinhos. 

São unânimes em dizer que não dá para comparar, por exemplo, Fortaleza ou Belém e, mesmo, Teresina com São Luís, em todos os aspectos. Pois é quem iria imaginar que os maranhenses fossem preferir Fortaleza, Belém e Teresina para suas férias? É que vem ocorrendo.

Certamente tem algo de muito errado com nossa capital, pois temos um patrimônio histórico reconhecido mundialmente, temos praias belíssimas, coisas que, teoricamente, deveriam atrair o turismo, pelo menos. Nada. Estamos às moscas. 

O mesmo vem acontecendo o Maranhão. Temos um estado riquíssimo em recursos hídricos (por enquanto, pois nossos rios estão morrendo à mingua); segundo maior litoral do país; minérios diversos; ventos em abundância; inverno e verão bem definidos; um vasto território; um dos melhores portos do mundo e o que vemos no estado todo são pessoas, entrando dia, saindo dia, esperando as esmolas dos governos. Como se dizia no meu interior, de cara pro vento. 

A constatação que fazemos é que nosso povo foi desacostumado do trabalho e, por isso mesmo, está muito mais pobre. Noutras palavras faltou e falta governo para estimular o desenvolvimento.

E pensar que o Maranhão já foi grande produtor de grandes culturas, que mesmo os mais pobres conseguiam sustentar seus famílias com o seu trabalho, pois tinham suas roças, tinham seus porcos, suas galinhas, seus patos, suas cabras e mesmo umas cabeças de gado para garantir o leite das crianças. 

O Maranhão de quarenta ou cinqüenta anos era assim. Hoje,  se,  de uma hora para outra cortarem o bolsa família, poucos serão os que vão escapar. 

Conheço na prática a realidade antes (meu pai criou mais de dez filhos sem nunca ter conhecido uma prefeitura ou órgão público, só com o seu trabalho) e de agora (viajo o Maranhão inteiro e o que vejo são pessoas desocupadas qualquer que seja o dia da semana, qualquer que seja a hora do dia). 

Como o estado vai, ao menos alcançar os estados vizinhos?

Esse amigo me dizia: – Abdon, imaginas, o Ceará, com aquela secura toda, está produzindo brócolis. Imagina, brócolis. 

Viajando pelas nossas péssimas estradas, encontro os caminhões carregados de frutas, legumes, verduras… todos vindos dos estados vizinhos.

Avessos ao reconhecimento dos próprios erros, os aduladores do atual governo, dirão que este atraso todo, aqui retratado, é fruto da “herança maldita” da Era Sarneysista. 

Faz bem ao seus egos dizerem isso. Infelizmente não é apenas isso. 

Já estamos findando o terceiro ano deste governo, que nos prometeu um novo rumo, e o que vemos é uma continuação, piorada, da oligarquia anterior. 

Qual é proposta de desenvolvimento que implementaram nestes três anos? Nenhuma. 

O Maranhão continua empobrecendo. 

O governo “inaugura" a perfuração de um poço artesiano (dar para acredita que inauguram poços?), em um povoado onde Judas perdeu as botas, e faz uma festa; substitui uma “tapera" por uma escolinha de uma ou duas salas e isso é motivo para festejar um mês. 

Não estou dizendo que estas não são coisas importantes, são sim, reflete o quanto o nosso povo é carente. Mas, também, é o reflexo do quanto o atual governo é pequeno, essas coisas não eram sequer para ser inauguradas, entretanto, ganham meses de propaganda, divulgando nossa própria miséria.

Em suma, o atual governo, repito, é uma continuação, piorada, do governo anterior, sim, pois não bastasse a falta de visão, obras mal feitas, envereda agora pela política de cooptação, o velho conhecido “toma lá, dá cá”, trazendo para o lado do governo, segundo dizem, com muitos "mimos", tudo que foi liderança política nos tempos da governadora Roseana Sarney. 

As informações que me chegam é os “sarno-comunistas" – gostaram do neologismo? – têm pedido “alto”, quase absurdo, se os atuais inquilinos dos Leões "bancarem", "estarão feitos", se não cumprirem, voltam para o seio da amada. 

Aliás, dizem que pede “alto" justamente para, na eventualidade, de não cumprirem, já terem a desculpa para voltar. 

Até agora, pelo menos em termos de promessa não têm pedido “desconto”. Os defeitos de ontem, são qualidades ímpares, agora.

Essa escancarada política de cooptação revela duas coisas, ao meu sentir. Primeiro, que não há diferença de métodos entre este “governo novo” e o governo anterior.  Segundo, que as pesquisas intimidatórias do palácio são tão confiáveis quanto cédulas de três reais. Teriam necessidade de “convencerem" tantos próceres do "sarneysismo" se estivessem “surfando" em índices estratosféricos acima de cinquenta por cento, como revela pesquisa oficial mais pessimista? A resposta, certamente, é não. 

Mas não é isso que estamos vendo, dia sim e no outro também, lá está o governador, posando em Palácio, com alguém que foi convencido a lhe fazer juras de amor, ainda que falsas. 

Até arrisco dizer que deve ter mais "sarneysistas" no atual governo que comunistas ou integrantes dos demais partidos que apoiaram a eleição do governador. Isso é só um cálculo.

Por tudo isso, exceto pelo estilo da franquia comunista, materializado no autoritarismo, na prepotência, na refração à divergência, é que digo enxergar apenas um governo de continuidade com substituição: A Era Sarneysista  pela Era Dinista, com as agravantes já referidas.

Aí volto ao começo deste texto. Quando este dileto amigo reclamava de que no texto fui bastante pessimista, pelo fato da eleição parecer definida entre os dois candidatos mais bem posicionados nas pesquisas, disse-lhe: – Até aqui.

O “até aqui” tem uma significância. Neste momento, se eleição fosse hoje ou amanhã, não tenho dúvidas de que seria decidida entre aqueles dois. 

Entretanto, faltando ainda quase um ano para o pleito e conversando muito com as pessoas por onde passo, mesmo entre os partidários mais militantes, percebo que o voto em um ou outro candidato dar-se mais pelo critério da exclusão. 

Muitos são os que dizem: no atual governador não voto de jeito nenhum. outros que dizem: se só tiver estes dois voto no atual para o governo não voltar para a Sarney, em que pese haver mais "sarneysistas" neste que governo que no da senhora Roseana – e cada vez chegando mais.

Assim, percebo que existe, sim, espaço para o surgimento de uma terceira via. 

Uma candidatura que consiga mostrar para a sociedade que representa algo novo, diferente do maniqueísmo desta política pró e anti-Sarney, pró e contra o “dinismo”. Alguém que mostre ideias e propostas capazes de, efetivamente, retirar o Maranhão do atraso a que está submetido esses anos todos. 

O Alguém que faça o papel que esperávamos fosse exercido pelo atual governo, que era virar a página do atraso e que ele não foi capaz de fazer,  e, ainda, tornou-se uma espécie de “coveiro" da esperança dos maranhenses que ousaram pensar num estado diferente, avançado, com plena liberdade de pensamento e desenvolvimento econômico e social. 

A sociedade maranhense tem a necessidade de encontrar esse alguém capaz de fazer a ruptura definitiva com o atraso, sem o risco de vir a tornar-se apenas mais um engodo. 

Acredito que só assim, o Maranhão poderá pensar em acompanhar seus vizinhos e tornar-se, graças a tantos recursos que possui, e a seu povo, um estado próspero e desenvolvido.

A permanecer o atual quadro não tenho motivos para qualquer otimismo pois esta é a quadra do atraso.

Encerro dizendo que certa vez atribuíram a Sarney uma colocação emblemática. Perguntado sobre por que não unir o Piauí com o Maranhão, teria respondido que melhor juntar com São Paulo ou outro estado mais desenvolvido. A junção destes dois, do meio norte, só serviria para criar o “Piorão”. 

Se disse ou não, eu não sei, mas, pelo andar da carruagem, com o Maranhão tão mal na fita, acho que quem não quer se unir a ele é o Piauí.  

Mas podemos mudar isso e só depende de nós fazê-lo.

Abdon Marinho é advogado.