AbdonMarinho - A EDUCAÇÃO DO ATRASO.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sábado, 23 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

A EDU­CAÇÃO DO ATRASO.

A EDU­CAÇÃO DO ATRASO.

Ainda não cri­aram um insti­tuto de pesquisa ou organ­ismo mundial que apre­sente a edu­cação brasileira numa situ­ação favorável. Todos institutos/​organismos aler­tam para a indigên­cia int­elec­tual e de con­hec­i­mento dos nos­sos jovens.

Quando qual­quer dado é divul­gado, não pre­cisamos ter muito tra­balho para encon­trar o Brasil, basta olhar a planilha ou tabela de trás para frente. É batata! Lá está o Brasil na rabeira, pon­tif­i­cando nas últi­mas posições.

Faz pouca difer­ença se anal­is­ar­mos con­hec­i­men­tos bási­cos em lin­guagem, matemática ou ciên­cias, o caos é generalizado.

Mas, o que esperar da edu­cação de um país quando, a começar das autori­dades, impera a ignorân­cia? Quanto até a pres­i­dente da República dirigi-​se à pat­uleia como TODOS e TODAS? ou cria con­ceitos absur­dos como “mul­her sapi­ens”? Faz odes à man­dioca e mis­tura ciên­cia co a Arca de Noé, além de out­ras tolices que já entraram para ane­dotário nacional?

Inca­pazes de recon­hecer seus próprios desac­er­tos, os gov­er­nantes brasileiros acham mais opor­tuno encon­trar cul­pa­dos exter­nos ou ide­ol­o­gizar o debate.

Um cenário tão dan­tesco seria de se imag­i­nar que as ideais para mel­ho­rar a edu­cação nacional fos­sem con­sid­er­adas bem-​vindas ou quando menos dis­cu­ti­das. Infe­liz­mente, para infe­li­ci­dade geral da nação e das cri­anças, tudo se torna motivo de embate político, dis­putas ide­ológ­i­cas que trans­bor­dam dos inter­esses da educação.

Um exem­plo que ilus­tra bem o clima de guerra ide­ológ­ica em pre­juízo da edu­cação é o que vimos recen­te­mente no Estado de São Paulo por ocasião de uma pro­posta de reor­ga­ni­za­ção do ensino. Reparem que dos esta­dos brasileiros, São Paulo se encon­tra entre os mel­hores, o que não é grande coisa diante do quadro nacional de fim de fila.

Pois bem, a ten­ta­tiva de mudança a ser implan­tada quase gera um “guerra civil”, mais uma vez de cunho ide­ológico, Claro. O que mais ouvi foi: “os tucanos vão fechar esco­las”; os tucanos são inimi­gos da edu­cação”; os tucanos isso, os tucanos aquilo.

Emb­ora de longe, não con­segui enx­er­gar um motivo plausível para repulsa à pro­posta de reforma do ensino. Até ten­tei enten­der. Me esfor­cei para assi­s­tir uma entre­vista dos chama­dos lid­eres estu­dan­tis por trás do movi­mento. O entre­vis­ta­dor per­gun­tou a mocinha por que ela era con­tra a reor­ga­ni­za­ção. Ela respon­deu que estu­dava na escola desde que era cri­ança, que chamava os pro­fes­sores de tios e tias, que tinha uma lig­ação afe­tiva com a escola. Desisti na primeira resposta. Entendi, pela primeira resposta, que a oposição à reforma não tem base racional e sim, emo­cional, que foi explo­rada de forma ine­scrupu­losa pelas forças opos­i­toras ao gov­erno paulista, que incen­ti­varam o movi­mento dos jovens e depois pas­saram a usá-​lo politicamente.

Ora, o eixo cen­tral da pro­posta do gov­erno paulista é a sep­a­ração em cír­cu­los edu­ca­cionais: o primeiro do 1º ao 5º ano; o segundo do 6º ao 9º ano; e, o ter­ceiro voltado para o ensino médio.

A jovem líder estu­dan­til dis­corda. Ela quer todo mundo junto e mis­tu­rado na mesma escola.

Eu dis­cordo dela, edu­cadores e espe­cial­is­tas sérios, também.

Qual­quer pes­soa, ainda aque­les que não vivam o dia a dia da edu­cação, sabem que esco­las voltadas exclu­si­va­mente para cri­anças, pré-​adolescentes e ado­les­centes, têm mais chance de dar certo, são mais seguras e focal­izam mais a espe­cial­i­dade. Esco­las voltadas só para cri­anças até o quinto ano, com todos os instru­men­tos de ensino volta­dos para elas, cer­ta­mente, terão mel­hor aproveita­mento. O mesmo acon­te­cendo com as des­ti­nadas as cri­anças do sexto ao nono e as exclu­si­vas do ensino médio.

Tanto isso é ver­dade que a maio­ria das esco­las com fun­ciona­mento misto (do primeiro ano ao ensino médio) ten­tam colo­car inclu­sive bar­reiras físi­cas para impedir o con­tato entre eles, até mesmo para evi­tar a prática do “bul­ly­ing” e out­ras for­mas de vio­lên­cia pre­sentes nas esco­las. Não vejo como saudável cri­anças de 5 ou 6 anos con­vivendo no mesmo ambi­ente que jovens de 16 ou 17 anos; meni­nas de 12, 13 ou 14 anos com rapazes do ensino médio.

Há quem diga isso não tem relação com o apren­dizado. Há quem defenda, até, que cri­anças estu­dem com adul­tos em salas mis­tas. Sus­ten­tam que “a troca de exper­iên­cias” entre cri­anças e jovens facili­tam o aprendizado.

Volte­mos a pro­posta dos cír­cu­los. Dados téc­ni­cos apon­tam que as esco­las que o ado­taram o mod­elo apre­sen­taram mel­hora que variam de 15 a 30% (quinze a trinta por cento). Isso não é bom? Num país onde as ini­cia­ti­vas para mel­ho­rar o ensino min­guam, uma mel­ho­ria nestes per­centu­ais é alvissareira.

Em con­tra­posição a isso, o que têm os opos­i­tores da pro­posta? Ninguém sabe.

Não deixa de ser esquisito que rep­re­sen­tantes da cat­e­go­ria dos pro­fes­sores tenha emprestado apoio aos estu­dantes quando a pro­posta de espe­cial­iza­ção, da sep­a­ração dos estu­dantes por idade, é uma pauta histórica deles.

A crit­ica de que esco­las serão fechadas ou que a ideia de a reforma é mera­mente mon­e­tarista, como enten­dem alguns, inclu­sive do Min­istério Público e do Judi­ciário, não se sustentam.

Primeiro porque exis­tem regras quanto ao número de alunos por sala a serem obe­de­ci­das. Caso colo­quem alunos que extrapolem as nor­mas cabe as enti­dades protestarem. O mesmo fazendo em caso de redução dos inves­ti­men­tos no setor.

Segundo porque não o fim do mundo fechar esco­las se estas já não cumprem seu papel, se estão sendo sub uti­lizadas. Nes­tas condições, o ideal é que sejam mesmo fechadas e os recur­sos des­ti­na­dos a out­ras esco­las. Ou que ten­ham out­ras funções: como esco­las de música, idiomas, cen­tros de con­vivên­cia ou de práti­cas esporti­vas, etc.

Entendo que para o país superar o atraso pre­cisa inve­stir com racional­i­dade os recur­sos públi­cos, se desape­gar de vel­hos con­ceitos que têm lev­ado a edu­cação brasileira para a rabeira da fila.

O Brasil não suporta mais uma edu­cação ide­ol­o­gizada, ine­fi­ciente, que se ocupa de for­mar anal­fa­betos funcionais.

Abdon Mar­inho é advogado.

(Texto sem correção).