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Bem Vindo a Pagina de Abdon Marinho, Ideias e Opiniões, Quarta-feira, 27 de Novembro de 2024



A palavra é o instrumento irresistível da conquista da liberdade.

Escrito por Abdon Marinho

A ÚNICA filiação partidária que tive – e mantenho até hoje – é a do Partido Socialista Brasileiro – PSB onde ingressei logo no início dos anos noventa. Por conta desse engajamento, embora sem pretender concorrer a qualquer cargo público, eletivo ou não, participei, com meu partido, das campanhas do Partido dos Trabalhadores - PT, de 1989

 até aquela que elegeu o ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva em 2002  – sim, tenho minha parcela de culpa, peço perdão a todos.

Já no início do governo, vi que o mesmo "não tinha perigo de dar certo" e me afastei, embora o PSB, fizesse parte do governo. Assim, como me afastei, quase completamente de qualquer militância político/partidária durante os anos seguintes. Advogado novo, em início de carreira e sem – como se diz no sertão – ter um cachorro a latir por mim em qualquer lugar, tive que mergulhar no trabalho. 

Mas, apesar do trabalho, sempre me mantive ativo e inteirado sobre a política nacional e local. Até porque, como advogado atuante no direito eleitoral está era e é uma necessidade que se impõe. 

Fiz estas considerações para dizer que embora crítico do PT e do governo que fizeram, a imagem da sua sede nacional sitiada por policiais camuflados enquanto faziam uma busca de quase oito horas me falou fundo. 

Não me chamou atenção às prisões de importantes ex-ministros, mais de dezena de mandados de prisão contra outros cidadãos, as buscas ou apreensões realizada sem diversos lugares. O que ficou marcado, neste olhar fatigado – como diria Bandeira –, foram os homens das forças de segurança, armados, em posição de combate sitiando a sede do Partido dos Trabalhadores – PT. Não se trata, neste momento, sequer, de indagar as motivações. Certamente, motivos existem em abundância e bem poucos desconhecem o que o partido e seus dirigentes andaram fazendo com o dinheiro público. Ainda aqueles que encontram numa enganosa ascensão social uma justificativa para elidir os crimes cometidos, eles estão aí, à vista de todos e clamam para não serem ignorados. 

Apesar disso tudo, o que me desperta interesse é a simbologia. 

Lembro, como se fosse hoje, que chorei ao ouvir o discurso de posse de Lula em janeiro de 2003. Ainda recordo da emoção que senti ao ver, pela primeira vez, um homem do povo, operário, cidadão comum, com eu e tantos outros, chegar ao posto de mandatário maior do país. Mais, que chegava com uma ideia vendida para milhões de brasileiros de que o dinheiro público não iria mais ser desviado para uma elite que espoliava a nação para atender às suas ambições pessoais; que não iria roubar, não iria deixar que os roubos acontecessem mais e que iria investir com responsabilidade os recursos públicos. 

A imagem da polícia cercando a sede do partido, em plena democracia, com as instituições funcionando de forma regular, por seus "malfeitos", por terem suas lideranças máximas se tornado, em uma década, os verdadeiros ladravazes da República é algo efetivamente chocante e simbólico. 

Em meio a tanta informação, não lembro de ter testemunhado a polícia federal federal cercando outro diretório de partido. Não lembro ver cerco ao diretório do PMDB, do PR, do PP, apenas para citar outros integrantes do consórcio que dirigiu o país na última década. 

O cerco deu-se justamente naquele partido que um dia já foi depositário das esperanças de tantos e tantos milhões de brasileiros. 

Embora desde muito tempo soubéssemos dos malfeitos e traquinagens do partido a quem um dia confiamos o voto, o significado do cerco é que aqueles em quem depositamos tanta confiança são tão iguais ou piores que os demais aos quais nos habituamos a satanizar. 

O pior, repito, é sabermos que a Justiça Federal, o Ministério Público e a Polícia Federal não se equivocaram ao promover o cerco e ainda nos fazer comprovar que esperança um dia depositada num sonho de mudança foi uma aposta em quem nada tinha a oferecer. Mais, que montaram e comandaram uma estrutura com o claro propósito de saquear a nação, tanto para si e para o deleite pessoal dos seus, quanto para o deleite daqueles a quem se associaram no intento criminoso. 

Encerro com uma reminiscência. Logo que o senhor Lula chegou ao poder – quem me contou essa foi um amigo petista – um dos militantes mais aguerridos da legenda confidenciou-lhe que a maior decepção da sua vida seria descobrir que o presidente recém-empossado deixara o cargo rico, com fazendas, etc. Infelizmente, acho, que este militante estava longe de imaginar que coisas bem piores faria e que a imagem do diretório nacional do partido sitiado pela polícia seria a mais expressiva prova do mal que o senhor Lula e os seus causaram ao país. 

Tamanha desgraça não é algo a se festejar, é, sim, motivo para refletir e lamentar. Sobretudo lamentar pelos milhões que viram suas esperanças se esvair. 

 

Abdon Marinho é advogado. 

Observação: imagem colhida do site UOL.