AbdonMarinho - A IGUALDADE É VERMELHA?
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sexta-​feira, 22 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

A IGUAL­DADE É VERMELHA?

A IGUAL­DADE É VER­MELHA?
Ado­les­cente travei con­tato com a obra do polonês Krzysztof Kieślowski (Não se pre­ocu­pem, tam­bém nunca aprendi a pro­nun­ciar. Rsrs.)(Varsóvia, 27 de junho de 1941 — Varsóvia, 13 de março de 1996). Den­tre tan­tas detive-​me na Trilo­gia das Cores (A liber­dade é azul, A Igual­dade é Branca e A Frater­nidade é Ver­melha). Não sei a razão que fez lem­brar essa trilo­gia, ape­nas um pal­pite.
As últi­mas notí­cias da polícia/​política dão conta da seguinte situ­ação: uma gangue apoderou-​se do poder estatal para repas­sar din­heiro a par­tidos políti­cos e aos seus líderes. O par­tido do gov­erno, prin­ci­pal envolvido no esquema, segundo depoi­men­tos usou o poder para sub­verter toda sua história. Um dos empresários, em curso de delação pre­mi­ada, entre­gou à justiça reci­bos que com­pro­vam a doação de propinas como se fos­sem ver­bas legí­ti­mas. Esse fato nos remete a outra situ­ação: o par­tido alega reit­er­ada­mente que as doações rece­bidas ocor­reram den­tro da lei e que suas con­tas foram aprovadas pela justiça eleitoral.
Temos empresários afirmando-​se víti­mas de achaques e con­fes­sando que a doação é fruto de propina, din­heiro sujo que sub­traído de obras públi­cas acabaram por ali­men­tar con­tas de cor­rup­tos e do par­tido através de doações faju­tas. Noutra ponta temos o par­tido afir­mando que suas con­tas foram aprovadas pela justiça.
A con­clusão desta equação me parece óbvia: o par­tido usou a instân­cia judi­ciária, no caso o TSE (Tri­bunal Supe­rior Eleitoral), para \\\\\\\«lavar\\\\\\\» o din­heiro sujo. Será que alguém tem notí­cia de maior ousa­dia?
Entre os argu­men­tos usado pelo Par­tido dos Tra­bal­hadores — PT, diante da avalanche de denún­cias, um me chamou mais a atenção: aquele que diz que ape­nas agem agora como todos os demais agi­ram no pas­sado. Não deixa de ser curiosa essa busca pela igual­dade extem­porânea.
Desde a sua origem o par­tido dizia ser difer­ente de tudo que estava ai, não se mis­tu­raria, nem abdi­caria da ética, da hon­esti­dade, do zelo com din­heiro público. Cri­ariam um jeito próprio de gov­ernar.
Se seus mil­i­tantes e lid­er­anças par­tic­i­param ati­va­mente da cam­panha pelas dire­tas em 1984, não tendo a emenda pas­sado (fal­taram 22 votos), colocaram-​se frontal­mente con­trários à par­tic­i­par da eleição de Tan­credo Neves que dis­putava con­tra Paulo Maluf no Colé­gio Eleitoral, pondo fim ao cír­culo mil­i­tar.
O argu­mento: não iriam legit­i­mar um instru­mento da ditadura.
Eleito Tan­credo Neves, com sua morte antes da posse, assumiu a presidên­cia o vice, José Sar­ney, a quem o par­tido fez oposição desde o começo. Tin­ham que man­ter a pureza do dis­curso. Em tem­pos de democ­ra­cia em con­sol­i­dação, orga­ni­zavam man­i­fes­tações con­tra o gov­erno. O líder máx­imo do par­tido, Sr. Lula, referia-​se ao pres­i­dente Sar­ney como o maior ladrão do Brasil, inclu­sive, em comí­cios.
O mesmo Sr. Lula, eleito em 1986, para o Con­gresso Nacional Con­sti­tu­inte, cun­hou a frase de que lá havia ao menos uns 300 picare­tas. Não duvido que estivesse com razão, nem nisso nem crit­i­cas ao gov­erno Sar­ney. Estranho foi ver Sar­ney e Lula fazendo juras de amor eterno vinte anos depois; ver o Sr. Sar­ney se tornar irmão de alma do líder petista, con­sel­heiro dos seus gov­erno e de sua suces­sora a ponto de, não sendo deten­tor de cargo algum na República, ocu­par posição de honra em poses e solenidades. Logo ele para qual, tan­tas vezes, foram feitas man­i­fes­tações de “Fora Sar­ney”.
O Con­gresso Nacional Con­sti­tu­inte empos­sado em 1987, em out­ubro de 1988, apre­sen­tou seu resul­tado: a Con­sti­tu­ição, apel­i­dada por Ulysses de Guimarães, Con­sti­tu­ição Cidadã. Em que pese os dep­uta­dos fil­i­a­dos ao Par­tido dos Tra­bal­hadores — PT, terem dado con­tribuições sig­ni­fica­tiva ao novel estatuto do Brasil, emb­ora criando inúmeras picuin­has durante todo processo, decidi­ram não assi­nar a Con­sti­tu­ição. Enten­deram que não rep­re­sen­tava o seu pen­sa­mento para o país, \\\\\\\«muito atrasada”, “dire­itista”, sín­tese do pen­sa­mento bur­guês. Em resumo: eram difer­entes, que­riam algo “mel­hor\\\\\\\».
O ano de 1989 foi espe­cial, pela primeira vez iríamos eleger um pres­i­dente da República dire­ta­mente. Den­tre os can­didatos, pes­soas com a história de Ulysses Guimarães, Mário Covas, Leonel Brizola. O povo brasileiro escol­heu para dis­putar o segundo turno os can­didatos Sr. Lula, líder do Par­tido dos Tra­bal­hadores e o obscuro ex-​governador de Alagoas Fer­nando Col­lor de Mello. Ven­cendo o segundo, como é do con­hec­i­mento de todos.
Remem­oro esse fato para reg­is­trar que o Par­tido dos Tra­bal­hadores — PT, que pre­tendia diri­gir o país, recu­sou o apoio de pes­soas como Ulysses Guimarães, dizia que não que­ria se mis­tu­rar.
O gov­erno Col­lor começou a cair no dia da posse, em março de 1990. Basta dizer que a primeira medida do novo gov­erno foi o con­fisco da poupança dos brasileiros. Mas não caiu por isso e sim pelos negó­cios escu­sos, cor­rupção. Claro que se olhar­mos com a per­spec­tiva dos atos de cor­rupção prat­i­ca­dos na atu­al­i­dade, Col­lor não pas­sou de um inocente trom­bad­inha com o seu tesoureiro de cam­panha PC Farias no papel de ladrão de gal­in­has. Além da mobi­liza­ção da sociedade pelo impeach­ment de Col­lor, dos movi­men­tos soci­ais, estu­dantes, destacou-​se na cam­panha o Par­tido dos Tra­bal­hadores, um dos primeiros a par­tic­i­par do movi­mento “Fora Col­lor”.
Vendo os fatos daque­les anos (1991÷1992), com os olhos de hoje, imag­ino o quanto foi traumático para a nossa democ­ra­cia: o primeiro pres­i­dente eleito pelo povo foi o primeiro a sofrer processo de impeach­ment.
O gov­erno Ita­mar Franco tinha a enorme respon­s­abil­i­dade de não tran­si­gir e de bus­car forças políti­cas que garan­tis­sem a nor­mal­i­dade democrática. Bus­cou a todos. O PT não quis par­tic­i­par, pelo con­trário, como no gov­erno ante­rior, fez-​lhe cer­rada oposição, denun­ciou min­istros (que difer­ente de agora, foram afas­ta­dos até que provassem suas inocên­cia), colocou-​se con­tra o Plano Real, dizia que era mais um plano con­de­nado ao fra­casso. Estavam erra­dos, e, prin­ci­pal­mente, graças ao Plano Real, FHC elegeu-​se duas vezes pres­i­dente da República con­tra o Sr. Lula, can­didato do Par­tido dos Tra­bal­hadores – PT.
Como não pode­ria ser difer­ente, o PT fez oposição sem trégua aos gov­er­nos FHC, acusando-​os de tudo, cor­rupto, neolib­eral, entreguista, etc. Acho que os ade­sivos “Fora FHC”, sur­gi­ram ainda no primeiro gov­erno.
Após uma existên­cia inteira apon­tando os peca­dos dos out­ros, o Par­tido dos Tra­bal­hadores — PT, através do Sr. Lula con­quista o poder nas eleições de 2002, começando a gov­ernar em 2003. Não é seg­redo que para con­quis­tar a vitória, compromete-​se a man­ter as mes­mas políti­cas do gov­erno ante­rior. A mesma tan­tas vezes satanizadas, para eles uma leve con­cessão.
Ape­sar de man­tida as lin­has mes­tras da política econômica o par­tido tra­tou de implan­tar seu pro­jeto político e de poder para o país. Assim, temos, já a par­tir de 2003/​04, segundo o Sr. Pedro Bar­usco, que ameal­hou pelo menos US$ 97 mil­hões de dólares em propina e que era o sub do sub do Sr. Duque, homem do par­tido den­tro da Petro­bras, dizendo com todas as letras que neste período, entre 2003 e 2004, que a cor­rupção foi insti­tu­cional­izada den­tro da empresa.
Em out­ras palavras, tudo que qual­quer empre­it­eira, fizesse tinha que con­tribuir com o par­tido do pres­i­dente e mais alguns par­tidos da base ali­ada. A mesma prática – isso já foi con­fes­sado por quem par­ticipou do esquema – se esten­deu por todos os demais órgãos, min­istérios. Isso sem con­tar­mos os emprés­ti­mos gen­erosos do BNDES que ninguém quer mexer ou os fun­dos de pen­são dos tra­bal­hadores das estatais, cujo o patrimônio foi dilap­i­dado e querem que a sociedade brasileira pague por isso.
Lem­bro que em 2005, logo que ficou patente o envolvi­mento do par­tido no esquema apel­i­dado de Men­salão, muitos par­la­mentares e fil­i­a­dos do par­tido deixaram a leg­enda. Out­ros, mais cíni­cos – e digo isso por que ouvi da boca de alguns –, enten­deram que para fazer sua “rev­olução\\\\\\\» teriam que fazer uso das armas dos adver­sários. É isso que muitos dizem cini­ca­mente ainda hoje, que todos que chegam ao poder têm que fazer isso, tem que roubar o din­heiro público, têm que enricar suas lid­er­anças e seus apanigua­dos, pois estes darão sus­ten­tação ao pro­jeto rev­olu­cionário. Por isso que o Sr, Dirceu, o maior con­sul­tou da história da humanidade, capaz de fat­u­rar com suas con­sul­to­rias, até atrás das grades, é o herói do povo brasileiro, para eles; o Sr. Lulinha, que era empre­gado de um zoológico, se torna um empresário de sucesso e a ver­são dada pelo Sr. Lula, seu pai, para tanto tal­ento, surgido da noite para dia, mais pre­cisa­mente, depois da noite que o pai virara pres­i­dente, de que o rapaz é um “Ronald­inho\\\\\\\» dos negó­cios é aceita como um dogma de fé. E por aí vai. Estão quase todos ricos, mil­ionários. A cada oper­ação da Polí­cia Fed­eral se desco­bre o envolvi­mento direto ou indi­reto dos que juraram gov­ernar o Brasil de maneira difer­ente, ética, com zelo.
Os campeões da ética e da pureza usaram o poder para enrique­cer.
Ape­sar disso, com doze anos de mandato o Par­tido dos Tra­bal­hadores – PT, seus diri­gentes de fora e den­tro do gov­erno recla­mam da oposição. Logo eles que não deram um dia de trégua a qual­quer gov­erno os pre­ced­eram. Não deixa de ser irónico.
Outro dia ouvi um debate onde se ques­tion­ava o \\\\\\\«absurdo\\\\\\\» que seria o imped­i­mento da pres­i­dente Dilma Rouss­eff pois quem assumiria seria o vice, Michel Temer, do PMDB, e ainda, esten­deram a linha sucessória para o Cunha, pres­i­dente da Câmara dos Dep­uta­dos e para o Renan, pres­i­dente do Senado Fed­eral.
Quer dizer que a Dilma não pode sair por que cor­re­mos o risco de ser­mos gov­er­na­dos por eles? Mas não foi PT que os for­t­ale­ceu nos seus anos de gov­erno? Não são de sua inteira con­fi­ança? Não foi o par­tido que os con­vi­dou para serem seus ali­a­dos de primeira hora? Para serem sócios no poder?
Não é demais lem­brar que o PMDB, que acham um risco para o país, como o Sar­ney (ex-​maior ladrão do Brasil, alçado à condição de irmão de alma do Sr. Lula), como Maluf, como Col­lor (ex-​filhote da ditadura, ali­ado de primeira hora), como Renan, como Jucá, como Bar­balho, como a turma do PP, como tan­tos out­ros, são os par­ceiros e sócios de poder do Par­tido dos Tra­bal­hadores, são os dile­tos aux­il­iares do par­tido no con­domínio.
Antes que ven­ham dizer tiveram que fazer isso para poderem gov­ernar, para traz­erem os grandes bene­fí­cios ao povo brasileiro, afirmo que isso não é ver­dade. Quando chegaram ao poder em 2003, pode­riam ter cri­ado outra cor­re­lação de forças, com os tucanos, com os avul­sos, com os segui­men­tos mais respeitáveis da sociedade. Pode­riam fazer um gov­erno ver­dadeira­mente de união nacional, com as mel­hores cabeças do país. A sociedade dava condições para isso. A opção pela banda podre da política; a escolha de bus­car a com­pra de par­la­mentares; de aliar-​se aos mais atrasa­dos foi uma escolha con­sciente de quem que­ria se igualar ao pior.
O grande mantra do Par­tido dos Tra­bal­hadores, hoje, é querer ser igual aos demais par­tidos. Repetem aos qua­tro can­tos: só fize­mos os que os out­ros fazem, somos iguais aos out­ros. O prob­lema é que os out­ros dizem que jamais ousariam tanto, que são inocentes diante de tudo que já fiz­eram.
O par­tido que pas­sou a vida dizendo ser difer­ente dos demais, apela para ser igual aos demais, só que todos acham que é, de fato, difer­ente. Difer­ente para pior. Defin­i­ti­va­mente, a igual­dade não é ver­melha.
Abdon Mar­inho é advo­gado.
P.S. Os fatos estão com lem­brei nesta manhã de Pás­coa. Uma impro­priedade ou outra não tira seu mérito. Emb­ora acred­ite que não haja nenhuma.