AbdonMarinho - UMA TRAGÉDIA MAIS QUE ANUNCIADA.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sexta-​feira, 22 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

UMA TRAGÉ­DIA MAIS QUE ANUNCIADA.

UMA TRAGÉ­DIA MAIS QUE ANUNCIADA.

Talvez por ouvir­mos falar tanto em maus-​tratos a natureza não nos damos conta da tragé­dia que se avizinha.

Atual­mente esta­mos diante de uma imensa crise hídrica. Ape­sar de nós, nordes­ti­nos, estar­mos acos­tu­ma­dos com a seca e escassez de água a tendên­cia é que este fla­gelo só aumente.

Ainda cri­ança can­sei de ouvir que chegaria o dia em um copo de água cus­taria mais que poderíamos pagar. Meu pai, talvez meu avô ten­ham ouvido algo semel­hante. Ainda cientes disso, nada fize­mos para poupar água, preser­var nos­sas nascentes, rios e lagos.

Inúmeras vezes escrevi, aqui mesmo, sobre a destru­ição destes recursos.

A falta de con­sci­en­ti­za­ção da sociedade e a omis­são das autori­dades no que se ref­ere à política de preser­vação dos nos­sos rios. Hoje, a Ilha de São Luís, out­rora rica em nascentes, rios e Igara­pés, não pos­sui um rio com água limpa ou sequer aproveitável para tare­fas do dia a dia. Não sobrou um. E a agressão parece não ter fim: con­strução sobre anti­gas nascentes, con­fi­na­mento de mar­gens, esgo­tos sendo despe­ja­dos sem qual­quer tratamento.

Não pensem que a situ­ação é difer­ente no inte­rior do estado. Não é. A situ­ação dos rios maran­henses é deses­per­adora e o pior é que ninguém parece se pre­ocu­par ou ligar para a situação.

A mesma destru­ição que já cansamos de teste­munhar na região met­ro­pol­i­tana da cap­i­tal se repete pelo inte­rior, com a agra­vante das queimadas crim­i­nosas que se encar­regam de destruir a veg­e­tação ciliar.

Quem viaja pelo inte­rior do estado ver­i­fica o cenário de caatinga. Por onde passa avista queimadas. Os rios, out­rora perenes e cau­dalosos, não pas­sam de meros cur­sos de água, «dando pé» em muitas partes.

A cada ano que passa, aumenta o assore­a­mento e diminui o vol­ume de água. Rios como o Munin, o Corda, o Per­i­toró, o Pin­daré, e até o Itapi­curu (que abastece a cap­i­tal) estão deixando de ser perenes. Outro dia, fiquei des­o­lado ao pas­sar dois rios maran­henses (Munin e Per­i­toró) e perce­ber que daria para atravessa-​los a pé sem muitas difi­cul­dades. Se a situ­ação dos rios é essa, nem deve­mos falar dos Igara­pés. Estes, sim­ples­mente, desapareceram.

A incom­petên­cia, ignorân­cia, descom­pro­misso das autori­dades com a preser­vação do meio ambi­ente tem feito o Maran­hão perder uma de suas maiores riquezas: seus recur­sos hídri­cos. No mesmo embalo, suas florestas.

Local­izado entre o Norte e o Nordeste o Maran­hão pos­sui as mel­hores condições das duas regiões den­tre elas recur­sos hídri­cos em abundân­cia e solo fér­til que não encharca. Estas condições atraíram mil­hares brasileiros de todos os can­tos do país.

O des­cuido deste imenso patrimônio está se per­dendo as vis­tas de todos.

A con­se­quên­cia é o que esta­mos assistindo. O estado inteiro se tor­nando árido com sua pais­agem desér­tica, não tar­dando para as comu­nidades serem abaste­ci­das com carro-​pipas, como noutras partes do Nordeste.

Os cíni­cos ou desin­for­ma­dos bus­carão expli­cações que lhes aten­dam os inter­esses mais mesquin­hos. Dirão que é o aque­c­i­mento global de que tanto se fala; dirão que o cul­pado é o «El nino»; dirão que é assim mesmo, que todo ano acontece.

Os ingên­uos se con­tentarão com estas expli­cações e deixarão as coisas con­tin­uarem como estão.

Infe­liz­mente – para a des­graça de todos –, os prob­le­mas não são e não com­por­tam soluções tão simples.

A questão ambi­en­tal no nosso estado é tão urgente quanto à edu­cação, a saúde ou a segu­rança pública. Urge que os poderes públi­cos tracem um plano con­junto de ação envol­vendo os municí­pios e a sociedade civil, fazendo valer tanto a con­sci­en­ti­za­ção quanto à repressão no que se ref­ere aos crimes ambientais.

Uma das causas do meio ambi­ente está tão mal­tratado (e pio­rando), é que sem­pre rel­e­garam o assunto a uma posição secundária, sendo «tocado» de qual­quer maneira, com ver­bas min­guadas. Isso quando não servi­ram para o enriquec­i­mento de alguns picare­tas encar­rega­dos pelos gov­er­nantes da política ambi­en­tal do estado.

O Maran­hão, na ver­dade, repete o que foi feito país que não ape­nas des­cuidou da questão ambi­en­tal quando não fez pior ao dar-​lhe trata­mento ide­ol­o­gizado como se fosse incom­patível preser­var o o meio ambi­ente e desen­volver o país. Mas esse é um assunto para outro texto.

O Estado do Maran­hão pre­cisa se inve­stir da respon­s­abil­i­dade de não per­mi­tir mais o descaso com o meio ambi­ente. Não se trata de uma questão de cunho mera­mente ecológico ou ide­ológico. A preser­vação ambi­en­tal deve se dar por razões tam­bém econômi­cas. Trata-​se uma riqueza que a sociedade está per­dendo e que as futuras ger­ações não alcançarão.

Neste momento o estado inteiro arde por conta dos incên­dios crim­i­nosos, por out­ros provo­ca­dos pelo manejo inad­e­quado. Ao mesmo tempo a seca começa a viti­mar a agropecuária e as comunidades.

A atenção a estas questões não podem esperar pelo amanhã. Antes, dev­eríamos tratar delas desde ontem, desde sempre.

Esta­mos diante de uma tragé­dia anun­ci­ada é nosso dever ten­tar impedir que ocorra.

Abdon Mar­inho é advogado.

Comen­tários

0 #1 Car­los Rogério 20-​10-​2015 12:21
PARABÉNS pelo texto. Tomamos a liber­dade de aju­dar a divulgá-​lo para os cole­gas que, de alguma forma, dis­cutem e bus­cam sen­si­bi­lizar nos­sos gov­er­nantes para esta impor­tante causa.
É PRE­CISO IMPLE­MEN­TAR A POLÍTICA ESTAD­UAL DE RECUR­SOS HÍDRI­COS.
O Estado do Maran­hão aprovou, ainda em 1997, a Lei nº 7.052÷97 que foi pos­te­ri­or­mente revo­gada, dando lugar a Lei nº 8.149 de 15 de junho de 2004, porém não con­seguiu avançar na imple­men­tação dessa política em mais de dez anos, O Estado está atrasado na imple­men­tação da Política de Recur­sos Hídri­cos, que tem um caráter estratégico, na medida em que é vista como uma política estru­tu­rante vital para a pop­u­lação e de importân­cia cap­i­tal para pro­je­tos que definirão os novos rumos da econo­mia do Estado.
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