CALA-TE!
É a Pitágoras de Samos, matemático e filósofo grego, que nos legou seu famoso teorema (Em qualquer triângulo retângulo, o quadrado do comprimento da hipotenusa é igual à soma dos quadrados dos comprimentos dos catetos), a quem devemos outro ensinamento, também relevante, entre tantos outros, com uma frase certeira, afirmou: "Cala-te ou diga coisas que valham mais que o silêncio".
Tal ensinamento nunca foi tão atual.
O Brasil, que desde 2008, era uma nação onde as agências de avaliação de risco faziam recomendação de investimentos à banca internacional, perdeu a recomendação. O nosso país passou a ser visto lá fora, e também, por muitos, aqui dentro, como um país que não mais possui condições de pagar suas contas, com potencial para dar calote aos seus credores.
Esta avaliação – e as outras que se seguirão –, já era mais que esperada, principalmente após o próprio governo, num surto de incompetência coletiva jamais visto, ter enviado ao Congresso Nacional um orçamento já deficitário em mais de trinta bilhões, e apontando receitas, que não se sabe exequível, o que potencializa esse déficit bem mais.
Pois bem, todo mundo, ao menos os que pensam de forma racional, externou grande e genuína preocupação, com o rebaixamento do país que, num exemplo singelo, ficou basicamente, sem crédito na praça, e que, se fosse um cidadão, equivaleria dizer, que foi inscrito na SERASA ou no SPC, com crédito só em algumas empresas, que não exigem nome "limpo" ou no, igualmente famoso, mercado financeiro informal, um eufemismo para agiotas, que cobram juros tipificados no Código Penal.
A preocupação de todos nós, não tem nenhuma razão de ser para o gênio de Garanhuns, também conhecido por Luís Inácio Lula da Silva. Para ele, o rebaixamento do país não significa nada. Nas suas palavras: "Isso não significa nada. Significa que apenas a gente não pode fazer o que eles querem. A gente tem que fazer o que gente quer". A colocação em si – nem é pelo vazio de conteúdo –, não faz qualquer sentido.
Faz menos sentido, ainda, quando confrontada com as colocações que fez quando o Brasil recebeu o grau de investimento. São suas estas palavras: "Eu não sei nem falar direito essa palavra (investment grade), mas, se a gente for traduzir isso para uma linguagem que os brasileiros entendam, o Brasil foi declarado um país sério, que tem políticas sérias, que cuida das suas Finanças com seriedade e que, por isso, passamos a ser merecedores de uma confiança internacional que há muito tempo o país necessitava". Pois bem, quando o país estava bem necessitava da confiança do mundo, agora que não consegue fechar o orçamento anual – coisa que até Satubinha consegue –, não precisa mais. Cala-te, Lula, ou dizes algo que valha mais que o teu silêncio.
Mas do senhor Lula já é esperado este tipo de rompante. Ele é um dos poucos cidadãos que se orgulha de ser ignorante, de nunca ter lido um livro, e do primeiro diploma que recebeu ter sido o de presidente, concedido pelo povo brasileiro.
Diploma que faz questão de enxovalhar.
Não se espera comportamento idêntico, é de pessoas inteligentes e que não tenham necessidade de fazer proselitismo político, saiam a endossar as tolices ditas pelo ex-presidente, e que ainda as aplaudam.
O salão de atos do Palácio do Planalto estava repleto de autoridades aplaudindo quando conseguimos o grau de investimento em 2008, destes, muitos agora saem a aplaudir as palavras do ex-presidente na sua tola afirmação. Estavam certos lá atrás ou agora?
Vejamos o caso do governador Flávio Dino, o Maranhão inteiro, sempre o teve na conta de uma pessoa muito inteligente, tanto assim, que até confundem com a arrogância suas explicações com ar professoral.
Tão inteligente que dizem chegar a rivalizar-se com Ricardo Murad, no cargo de professor de Deus, ele por saber, o segundo por pensar que sabe e acreditar piamente nisso.
Pois bem, desde que assumiu o cargo, o governador danou-se a dizer e a escrever tolices.
Antes de vir aplaudir o Lula por sua colocação de que o rebaixamento da nota do Brasil nada significa, argumentando, para tanto que o país vivia bem antes 2008, resolveu tornar-se uma espécie de fiador do governo Dilma, recebendo-a em evento fechado para que somente ouvisse aplausos, e endossando todos os desacertos.
Aqui cabe uma explicação lateral. Diferente do que muitos pensam, estas manifestações não são meros arroubos de uma militância juvenil ou que ele imagina poder fazer algo para conter o esfarinhamento do governo Dilma, do seu partido e de suas lideranças. Nada disso, ele sabe que não tem volta, o governo Dilma ou acaba agora ou passará o resto do tempo que falta, sangrando, se esvaindo. Tão pouco pensa em ter apoio do governo federal em obras de grande de monta para o Maranhão, sabe que nestes tempos isso não virar, assim como não virá o comando dos cargos federais no estado, estes pertecem ao espólio do ex-presidente Sarney, como, aliás, sempre foi.
O verdadeiro objetivo do governador é projetar-se e herdar o que sobrar do patrimônio político do petismo em âmbito nacional.
Aí que reside a tolice, a ênfase com que se expõe, ainda que atraía os poucos que ainda apoiam o governo, atrai todo o sentimento contrário ao governo, o que não é pouca coisa.
Outra tolice – e essa sem qualquer chance de ganho –, foi o tratamento de menosprezo com que tratou a grave crise que atravessa o Rio Grande do Sul. Não comporta a um governador de estado dizer não querer que seu estado se transforme noutro ente federado, sobretudo quando diante de uma situação tão dramática. É, no mínimo, uma indelicadeza.
Quando o governador gaúcho anunciou que não teria condições de pagar o salário do funcionalismo – fez isso pessoalmente, sem se valer de intermediário algum –, estava, praticamente, chorando pela decisão, visivelmente emocionado, com olhos marejados. E olhem que ele, pouca, ou nenhuma, culpa tem do caos econômico que passa aquele estado. O caos é oriundo das políticas equivocadas do antecessor. As mesmas que o governador maranhense defende no âmbito federal.
A analogia foi tola, ainda, por desconsiderar o fato de que, enquanto o RS fora administrado por um governador afinado com ele, Dino, o MA era administrado por seus adversários. Ao dizer não querer que aquela realidade se reproduza aqui, significa reconhecer os desacertos cometidos lá e os possíveis acertos daqui. Ao menos deveria. Ou isso ou calar-se.
Igualmente tolo é o desencontro existente em torno da ação rescisória contra os 21,7% concedidos à parte do funcionalismo. Não trata aqui de discutir a quem assiste razão. Mas sim, do governo assumir uma posição. A ação foi proposta pelo governo na gestão anterior, certo, mas o atual governo a encampou, se não a quisesse poderia ter desistido. Não cabe é beneficiar-se do resultado e atribuir o desgaste à antecessora. Se é para dizer algo assim, melhor seria o silêncio, calar-se.
Os governos não podem e não devem agradar a todos, se tentam fazer isso, certamente, vão fracassar. Mas os gestores têm o dever de assumir os riscos de contrariar interesses setoriais mostrando para a sociedade que isso é feito dentro interesse maior de todos.
Se vai usar argumentos vazios ou desprovidos de sinceridade o melhor caminho é calar-se.
Abdon Marinho é advogado.