ANÕES EM CAMPO.
Antes de mais nada deixamos claro que o termo \'anão\' aqui usado é feito no sentido figurado que consta no dicionário nacional como significando “aquele que é de pouca inteligência e/ou cultura, de escasso merecimento, insignificante”.
O termo foi usado por um servidor israelense para definir o estágio da diplomacia atual do Brasil, no cenário mundial. O presente texto não tratará do conflito que ora ocorre no Oriente Médio e em outras partes do mundo sobre os quais o nosso país tem se manifestado mais orientado por ideologia do que seguindo o que determina a Constituição Federal. Falaremos, ainda que por alto da falta de perspectiva que assola o país e demonstra ainda que por vias tortas o quanto a assertiva do diplomada israelense estava certo na sua assertiva.
Todos compreendemos que governos erram e acertam na condução dos destinos do povo. O problema brasileiro vai além disso. Nos últimos anos o país, parece, perdeu o rumo, a noção do certo e do errado e passou a agir sem medir as conseqüências de nada. Como se o grupo que está no poder tudo pudesse, uma terra sem lei.
As notícias que chegam são de forma escandalosas e graves que as pessoas não têm tempo de processar ou dimensionar o seu alcance. Não faz muitos dias, por ocasião do julgamento pelo TCU da escandalosa compra da refinaria de Pasadena pela Petrobras, foi divulgado que um ministro de Estado, no caso o da Justiça, tentou por todos os meios pressionar o tribunal para que retardasse o julgamento, jogando-o para depois das eleições ou para as calendas ou ainda que livrasse a cara dos (in)responsáveis pelo escândalo. Mais, o governo, o ex-presidente Lula e seus aliados, teriam, entre os diversos mecanismos de pressão, colocado no “balcão” dos negócios da República até cargo de ministro do STF na vaga surgida com a renúncia do ministro Joaquim Barbosa.
Apesar da gravidade destas notícias, salvo um muxoxo aqui e ali, ninguém deu a mínima. A gravidade já seria imensurável só pelo fato de um ministro, um ex-presidente tentar retardar um julgamento de um tribunal, quanto mais tentar direcioná-lo. Provando que não há limites para barbárie moral vive o país, escacaram o nojento aparelhamento dos poderes republicanos.
Quando da renúncia do ministro Barbosa, escrevi sobre o desserviço que o ato significaria as instituições pois seria mais uma vaga que os donos do poder usariam para aparelhar o tribunal. Infelizmente, os últimos anos tem mostrado que não existe qualquer padrão ético e a verdade, embora não incomode mais ninguém, chega antes do podemos imaginar.
No julgamento da escandalosa compra da refinaria o tribunal apontou lesão ao país de quase 800 milhões e responsabilizou 11 (onze) de seus dirigentes mas livrou de qualquer responsabilidade o seu Conselho de Administração a época presidido pela atual inquilina-mor do palácio do planalto. Embora os mais apressados achem que houve altivez e que o tribunal não cedeu a nenhuma pressão, conhecendo o Brasil como conheço, sou capaz de apostar que caminharam para uma solução salomônica. Ao colocar tanta gente no mesmo barco, inclusive alguns que possam não ter responsabilidade sobejamente comprovada e atestar que o conselho que autorizou a compra não teve responsabilidade, me parece que conduzirão as coisas para lugar nenhum, sem o resultado prático que devolva aos cofres públicos o prejuízo integral e mande para a cadeia os tiveram culpa no cartório. Se bem que aí, já seria querer demais.
Analisando esse episódio, vemos que não há uma preocupação com o zelo institucional, um respeito a garantir o equilíbrio entre as forças gestoras do país. Usam as instituições como propriedade privada cujo objetivo é atuar como linha auxiliar de um projeto de poder, os interesses do país são o que menos importa. Apesar de condenar Israel e tratar o Hamas como uma instituição humanitária, o governo brasileiro quando se manifestou sobre o atentado terrorista que derrubou o voo MH17 na Ucrânia, matando 300 pessoas, através da própria presidente, foi para comprar a patranha que o ato terrorista poderia ser para assassinar o presidente russo que retomava do Brasil. Ninguém se deu conta da grave ilação feita pela presidente de que uma nação soberana poderia está por trás de um ato terrorista para derrubar um avião que conduzia um chefe de Estado. Não fosse o calor do momento os ucranianos poderiam pedir explicações ao governo brasileiro pelo desatino, no mínimo chamar o embaixador para esclarecer as colocações da mandatária.
O nanismo governamental capaz de atos como os narrados acima, tanto na destruição das instituições quanto na política externa vexatória, vai além, passa pela própria destruição da identidade nacional. A maioria das pessoas não se dão conta como isso acontece, apesar disso os danos vão sendo causados, como no dito popular: água mole em pedra dura tanto bate até que fura.
Outro dia, a própria presidente da República se referia as críticas sofridas como uma contrariedade da “elite branca” brasileira. Acho que de todas mal empregadas, esse talvez seja o a mais grave, a própria presidente separando os seus presididos por cor e por situação econômica. Estadistas, governantes sérios, comprometidos, entendem que o seu papel com condutores é diminuir as tensões entre os povos, principalmente entre o seu povo. Há racismo no Brasil? Claro que há. Há elite no Brasil? Acho que sim. Entretanto os governantes, ainda que esses elementos fossem mais presentes do que de fato são, ainda que houvesse tensão social causada por eles, deveriam eram buscar mecanismos para minimizá-los, reduzi-los e não, como fazem, passar enxergar conflitos raciais onde não existem e tentar dividir ainda mais a nação. O governo brasileiro, cada vez mais, apela para a desagregação social como instrumento de manutenção do poder. Sobre a tal “elite branca” escreverei um texto específico.
Tem sido assim ao longo dos últimos anos. Até as coisas positivas que fazem – esses governos, como os anteriores, tem feitos positivos –, não tem como razão de ser o engrandecimento da nação e sim a busca desenfreada pelo voto e a manutenção do poder.
A falta de compromisso com o papel do país no mundo e até mesmo com os interesses nacionais é tamanho que no momento em que os governantes das demais nações estravam em contato uns com outros em face do agravamento da crise no Oriente Médio e na fronteira ucraniana, o governo brasileiro, presidente à frente, estava reunido com os times de futebol para debater sobre as dívidas dos clubes com a previdência e talvez meter a colher no campeonato brasileiro, um assunto que não diz respeito ao governo. Como querem ser levados a sério com isso tudo?
Nas colocações do porta-voz do Ministério das Relações Exteriores de Israel, Yigal Palmor, sem discutir o mérito da guerra, faço um reparo, uma guerra, em hipótese alguma, pode ser comparada a uma derrota num campo de futebol, ainda que a derrota seja por um vexatório sete a um. Ao fazer a descabida comparação, se igualou a própria diplomacia brasileira. Apenas para relembrar, quando a aconteceu o desastre aéreo em Congonhas e o Sr. Marco Aurélio Garcia, conselheiro de relações exteriores do país, respondeu com um gesto obsceno quando saiu a notícia que o governo teria menos culpa no episódio quando se supunha no primeiro momento. Esse relativismo do que é de fato importante iguala os episódios por baixo, no desrespeito à humanidade.
Abdon Marinho é advogado.