BOLSONARO JÁ PODE CHUTAR A GRÁVIDA?
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- Criado: Domingo, 17 Abril 2022 20:47
- Escrito por Abdon Marinho
BOLSONARO JÁ PODE CHUTAR A GRÁVIDA?
Por Abdon Marinho.
O SAUDOSO Cafeteira (Epitácio Cafeteira Afonso Pereira), ex-deputado federal, ex-prefeito de São Luís, ex-governador, ex-senador, além de protagonista de “causos” memoráveis era possuidor de um feeling político extraordinário – o que não significa que também não errasse.
Estivemos juntos em duas eleições: a que ganhamos e não levamos, em 1994 e a que não poderíamos ganhar, em 1998. Depois ainda cuidei do processo em que questionavam sua eleição para o Senado República quando elegeu-se já numa coligação com o grupo Sarney, em 2006.
Pois bem, quando diante de determinados cenários políticos, Cafeteira dizia: – este só perde de começar a chutar grávida na Praça Deodoro; ou, — este aí nem se começar a chutar grávida na Praça João Lisboa perde a eleição.
A dupla Bolsonaro/Lula ou Lula/Bolsonaro, conforme preferirem, criou uma situação em que qualquer um dos dois poderá “chutar grávidas” sem que tal fato retire o país da nefasta situação de divisão em que se encontra, com o ódio, não apenas entre os políticos, mas, principalmente, entre os cidadãos.
Como venho dizendo há quatro anos, o maior aliado do petismo/lulista é o bolsonarismo, assim como o maior aliado do bolsonarismo é o petismo/lulista, são as faces da mesma moeda e trabalham juntos para levar o país à destruição.
Tanto fizeram que pela primeira vez desde a redemocratização do país, em 1985, poderemos ter uma disputa presidencial encerrada no primeiro turno, muito embora saibamos que a larga maioria da população, no fundo, no fundo, preferiria outras opções a estas duas que estão postas.
A maioria dos eleitores de ambos os lados, mesmos entre aqueles que já estão “cristalizados”, a opção por um ou por outro ocorre em função do adversário e não do candidato em si.
Veja que Bolsonaro mesmo com uma rejeição acima de 50%, segundo algumas pesquisas, teve um significativo crescimento e aproximou-se do Lula, primeiro, porque “suicidaram” a candidatura do ex-juiz Sérgio Moro e, segundo, por conta dos posicionamentos destrambelhados de Lula.
A polarização irracional é a responsável pela migração dos eleitores que discordam dos posicionamentos do ex-presidente, como por exemplo em relação ao aborto, à limitação do poder de compra da classe média, a esse anacronismo em relação as diversas ditaduras ditas de esquerda ao redor do mundo e mesmo o bisonho posicionamento em relação a invasão da Ucrânia pela Rússia (muito embora, no último caso, os dois candidatos se assemelhem na adoração ao carniceiro de Moscou), para a candidatura do atual presidente.
Na polarização mais do que as qualidades dos candidatos, conta de verdade, os defeitos dos oponentes.
Em análise anterior, quando se vislumbrava a possibilidade de surgimento e até do crescimento de uma terceira via, imaginava a candidatura do atual presidente apenas como anteparo a impedir o avanço das destas candidaturas, mas sem o potencial de ameaçar ou impedir a vitória do ex-presidente Lula.
E era assim que o cenário político se portava até o aniquilamento da candidatura Moro e o candidato Lula resolver falar o que pensa sobre determinados temas.
Nem mesmo o ex-governador e adversário histórico do petismo, Geraldo Alkimin, escalado como forma de equilibrar a chapa petista, foi suficiente para conter os arroubos anacrônicos de Lula quando este começou a falar, pelo contrário, parece que os mesmos arroubos acabaram por contaminar o político pindamonhangabense, reconhecido pela temperança.
Aos fatores acima – e não menos importante –, merece destaque a atuação da militância política dos bolsonaristas.
Estes “militantes-raiz”, que provavelmente não alcança vinte milhões de almas, estão em campanha vinte e quatro horas por dia, sete dia por semana, não conhecem o Natal, a Semana Santa ou qualquer outro feriado ou assunto, é o tempo todo em grupos de aplicativos, redes sociais ou mesmo na rua fazendo o seu proselitismo politico, com pautas verdadeiras ou falsas e, principalmente, fermentando o germe da discórdia entre os eleitores.
Para estes militantes o seu líder ou mentor, a sua família e o seu governo não possuem um defeito, estão efetivamente fazendo a transformação que o Brasil precisa e que nos aguarda um futuro glorioso.
Para eles não existe inflação e se existe a culpa jamais pode ser atribuída ao governo, as aos adversários ou a mídia e também ao STF que não deixa o governo trabalhar.
A destruição da Amazônia atestada por todos os institutos de pesquisa do Brasil e do mundo, inclusive oficiais, não existe e se ocorre não é por culpa do governo brasileiro, mas dos governos estrangeiros, da mídia e do STF.
Assim, também, como são culpados pela frouxidão com que governo lida com a grilagem de terras, a invasão de reservas ambientais ou mesmo da exploração das terras indígenas por garimpeiros criminosos.
Se o dólar subiu e ocorreu de forma injustificada a desvalorização do real, também, não foi culpa do governo mas dos governos anteriores, bem como o aumento dos combustíveis não lhes dizem respeito.
A corrupção não existe mais no Brasil por isso mesmo acabou-se com a Operação Lava Jato. Sem corrupção qual o sentido de se continuar investigando “malfeitos”?
Se pastores estavam intermediando negócios dentro MEC ou do FNDE, mesmo que nas reuniões com os prefeitos estivessem sentados ladeando o ministro e depois das reuniões saíssem para achacarem os prefeitos, o governo ou mesmo o ministro nada tinha com o fato, bem provável que o ministro fosse o Cristo reencarnado na sua figura e ali estivesse entre os dois pastores. Muito embora tenha sido o próprio ministro que tenha dito no áudio vazado que as regalias dos servos do Senhor dentro da pasta se dava por recomendação do próprio presidente.
Como o presidente nada tenha com fato daqui a cem anos saberemos os motivos de tantas reuniões com os pastores dentro do Palácio do Planalto.
Os mais afoitos do bolsonarismo chegam a cobrar os vídeos das entregas das propinas ou das negociações das mesmas e colocam a culpa na imprensa ou em que fez as denúncias.
Os mesmos vídeos que cobram para dizerem que as torturas ocorridas no Brasil durante o período da ditadura militar nunca existiram.
Mesmo os desacertos do governo federal, as omissões ou retardo na aquisição de vacinas durante a pandemia que ceifou a vida de quase setecentas mil pessoas não ocorreu por culpa do governo ou por sua inquestionável negação.
Na verdade nem mesmo a pandemia existiu e todas essas mortes são uma ficção midiática ou porque os que morreram eram mesmo “morredores”.
Se algum incauto ousa questionar por que não dizer que se tratar de assunto de interesse da segurança nacional e decretar um sigilo por 100 anos?
O governo, o presidente, os seus asseclas nada têm a ver com os infortúnios que atormentam o país mas são donos de todo mérito das coisas boas que ocorrem.
Agora mesmo estão dia e noite divulgando que presidente baixou a conta de luz da patuleia em vinte por cento ou mais. Isso é dito à exaustão.
Na verdade, a conta de luz foi elevada através de diversas taxas por conta da escassez de água nos reservatórios. Como este inverno foi/está sendo bastante chuvoso os reservatórios estão cheios, natural que se retirasse as bandeiras que elevaram as contas, porém mesmo isso que parece tão óbvio é “vendido” como mérito do governo.
Não tarda passarão a difundir agradecimentos ao presidente pelas chuvas que estão caindo.
Ainda que não representem o pensamento majoritário do país, a difusão que fazem – através de grupos de aplicativos, redes sociais, etc –, de suas ideias ou mesmo das próprias pautas, sejam elas religiosas, armamentistas, anti-vacinas, de costumes ou mesmo dos preconceitos que carregam, acabam por induzir o voto no atual mandatário, mais, principalmente, minam as candidaturas adversárias, principalmente, a candidatura do ex-presidente Lula, eleito como inimigo a ser batido.
Não vejo esse nível de militância em nenhuma outra candidatura, mesmo na candidatura do
Lula, que sempre foi maior que o petismo, ainda que muitos eleitores estejam dispostos a votar nele, segundo as pesquisas mais de quarenta por cento ou num cenário de segundo turno, bem mais de cinquenta por cento, não vemos os seus eleitores ou defensores se ocupando (não como os bolsonaristas) em fazer qualquer defesa ou defendê-lo dos mais variados tipos de ataques, devidos ou indevidos.
Para os bolsonaristas o fato do senhor Bolsonaro chutar ou não grávidas não faz qualquer diferença, mas irão espalhar que os outros estão fazendo isso para conquistar estes votos.
No cenário atual – e se nada diferente acontecer –, acho que a eleição poderá ser definida no primeiro turno, conforme dito anteriormente, e o resultado me parece indefinido.
Abdon Marinho é advogado.