AbdonMarinho - O horror no leste da Europa é contra a humanidade.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sexta-​feira, 22 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

O hor­ror no leste da Europa é con­tra a humanidade.


O HOR­ROR NO LESTE DA EUROPA É CON­TRA A HUMANIDADE.

Por Abdon Marinho.

QUAL­QUER pes­soa com dois ou mais neurônios em fun­ciona­mento e com um mín­imo de bom senso sabe que a GUERRA provo­cada pela Rús­sia con­tra a Ucrâ­nia é injusta, descabida, cruel, covarde, injus­ti­fi­cada e desprovida de qual­quer motivo.

Trata-​se de uma guerra, uma invasão que depois se con­vert­erá em ocu­pação ou, na mel­hor das hipóte­ses, na insta­lação de um gov­erno fan­toche que aceite se sub­me­ter a Moscou.

A guerra de Putin con­tra o povo ucra­ni­ano é uma covar­dia, uma vez que o pode­rio mil­i­tar dos rus­sos é infini­ta­mente supe­rior ao daquela nação.

Tão supe­rior que as autori­dades da Rús­sia estran­ham que haja tanta resistên­cia o que coloca em risco a estraté­gia da ocu­pação per­ma­nente ou a imposição de um gov­erno fan­toche.

A guerra de Putin con­tra Ucrâ­nia é cruel. Em meio a uma pan­demia, em pleno inverno, famílias são sep­a­radas, mul­heres, idosos, enfer­mos, defi­cientes para fugir das tropas rus­sas são obri­gadas a andarem quilômet­ros em busca de refú­gio em algum país viz­inho.

A guerra de Putin é descabida porque a Ucrâ­nia não fez nada para ser ata­cada — e não teria como fazê-​lo –, ape­nas, como nação inde­pen­dente, recon­hecida no mundo inteiro, bus­cou exercer a sua sobera­nia den­tro do seu ter­ritório, fazendo suas alianças com quem acha que deve.

A guerra da Putin con­tra con­tra a Ucrâ­nia, con­tra os ucra­ni­anos é uma guerra con­tra a humanidade pois parte do pres­su­posto que uma nação pode pro­mover a invasão e ocu­pação do ter­ritório de out­rem sem qual­quer con­se­quên­cia.

Os cidadãos do mundo inteiro, inclu­sive rus­sos – por isso que digo que esta é uma guerra de Putin –, enten­dem e repu­diam o com­por­ta­mento do líder russo e até cobram dos seus gov­er­nos medi­das mais duras con­tra ele e con­tra a Rús­sia.

E cobram com razão. Em pleno século XXI, em plena Europa não é admis­sível que se pro­mova uma guerra de expan­são como faziam em out­ros tem­pos.

A resposta tímida dos líderes europeus e amer­i­canos á escal­ada bélica de Putin con­tra a Ucrâ­nia em muito se assemel­hou ao com­por­ta­mento dos seus ante­ces­sores quando Hitler ini­ciou o seu pro­jeto expan­sion­ista pela Europa nos anos trinta. Em nome da paz fiz­eram con­cessões que não deviam e acabaram tendo a guerra que temiam do mesmo jeito.

Foi sentindo essa “covar­dia” que no mesmo dia em começou a invadir a Ucrâ­nia uma porta-​voz do gov­erno russo já lançou ameaças de guerra ou ocu­pação mil­i­tar con­tra a Fin­lân­dia e a Sué­cia. Pois é, até con­tra a Sué­cia que todos os anos dis­tribui prêmios aos que se desta­cam nos vários cam­pos do con­hec­i­mento e tam­bém aos que desta­cam na luta pela paz.

Quem serão os próx­i­mos a serem ameaça­dos? A Polô­nia (nova­mente), a Hun­gria, a Romênia …

Claro que se com­preende que se deve sem­pre bus­car todas as alter­na­ti­vas antes de se par­tir para uma guerra sem vence­dores, mas precisa-​se enten­der que a linha que não pode ser cruzada é a linha de fron­teira.

Uma nação não pode invadir outra, muito menos sem qual­quer motivo.

Foi o que a Rús­sia fez.

Os cidadãos do mundo inteiro, nas condições esta­b­ele­ci­das no primeiro pará­grafo deste texto enten­deram isso. Os protestos mundi­ais con­tra a guerra e con­tra Putin são a prova disso.

Os cidadãos enten­demos que não é pos­sível nos ocul­tar­mos por atrás de uma des­culpa qual­quer para jus­ti­ficar o injus­ti­ficável.

Quase todos os gov­er­nantes do mundo – ape­sar dos seus inter­esses com­er­ci­ais ou geopolíti­cos –, apressaram-​se em con­denar a invasão e guerra inten­tada pela Rús­sia con­tra a Ucrâ­nia.

As exceções foram o gov­er­nante da China, que tem inter­esse em ela própria invadir e ocu­par Tai­wan e ocupa desde sem­pre o Tibete; da Bielor­rús­sia, de Cuba e da Venezuela.

O Brasil, con­trar­iando sua longa tradição diplomática “patina” nesta questão.

Ape­sar do embaix­ador brasileiro ter assi­nado uma moção de repú­dio à invasão da Ucrâ­nia pela Rús­sia, até hoje o pres­i­dente brasileiro não fez o mesmo, limitando-​se a dizer que a posição do país é aquela expres­sada nos organ­is­mos inter­na­cionais.

Muito emb­ora veja diver­sos esbir­ros defend­endo esse posi­ciona­mento muitos até jus­ti­f­i­cando o que fez o Putin, trata-​se de um dos maiores absur­dos diplomáti­cos em tem­pos recentes.

Os inter­esses do Brasil no cenário global vão muito além de garan­tir o fer­til­izante russo para a nossa agri­cul­tura, como vi um âncora de um tele­jor­nal defender.

Inter­esses econômi­cos não podem e não devem se sobre­porem ao imper­a­tivo ético-​moral de se con­denar uma injus­ti­fi­cada invasão de uma nação por outra.

O sen­hor Bol­sonaro não ape­nas insis­tiu em vis­i­tar a Rús­sia – e não digo que não o fizesse desde que tivesse o cuidado de aproveitar para vis­i­tar a Ucrâ­nia tam­bém –, como fez questão dizer que estava solidário aquele país. Tudo isso quando estava claro que a invasão era emi­nente. Fez mais: vendeu a fake news que impedira “ter­ceira guerra mundial”, con­fir­mada a invasão e a guerra, gan­hou o “meme” que impediu a ter­ceira guerra mundial mais esque­ceu de “com­bi­nar com os rus­sos”. Parafrase­ando a famosa piada nacional.

Além de não ter tido o cuidado de vis­i­tar e tam­bém prestar “sol­i­dariedade” a Ucrâ­nia até o momento não con­de­nou a invasão russa.

O com­por­ta­mento dúbio do gov­erno brasileiro sus­ci­tou um pedido de reunião dos embaix­adores de diver­sos países e até uma lig­ação do Secretário de Estado Amer­i­cano ao chanceler brasileiro cobrando posi­ciona­mento claro.

Somente depois disso veio a man­i­fes­tação no Con­selho de Segu­rança da ONU.

A mim resta claro que o pres­i­dente brasileiro, a despeito de toda a “macheza” que dia sim e no outro tam­bém diz pos­suir, não con­segue resi­s­tir a um “macho alfa”, antes era ado­rador de Trump, agora de Putin, a quem chama de amigo.

Só isso para jus­ti­ficar que con­trarie toda tradição diplomática brasileira e até os nos­sos inter­esses nacionais e não se man­i­feste como dev­e­ria con­tra Putin e a invasão russa a Ucrâ­nia.

Ora, se o gov­erno brasileiro acha “nor­mal” a ponto de não con­denar a invasão de uma nação por outra, o que, em tese, impediria que out­ras nações de arvo­rasse do dire­ito de invadir o Brasil e tomar a Amazô­nia? Pode­riam ale­gar, por exem­plo, o inter­esse cole­tivo mundial a um ambi­ente saudável e que o Brasil não estaria pro­te­gendo a flo­resta, “um patrimônio de todos”; pode­riam ale­gar, tam­bém, a falta de pro­teção aos povos indí­ge­nas e o cos­tumeiro con­flito de garimpeiros con­tra essas pop­u­lações.

Não foi com des­culpa semel­hante que Putin ini­ciou a invasão da Ucrâ­nia?

Registre-​se que o pres­i­dente Bol­sonaro não está soz­inho na omis­são de con­denar Putin e Rús­sia pela injus­ti­fi­cada invasão à Ucrâ­nia, o seu prin­ci­pal adver­sário na dis­puta deste ano, o ex-​presidente Lula, tam­bém é outro que covarde­mente se omite de uma con­de­nação vig­orosa a esta guerra sem sen­tido em pleno século XXI.

O seu par­tido, PT, o máx­imo que fez foi emi­tir uma nota “chocha” cheia de vaselina que não diz nada com nada do que inter­essa, sem con­tar que a ban­cada do Senado emi­tiu nota de apoio a invasão, justificando-​a e con­de­nando os Esta­dos Unidos.

Em meio tragé­dia humana que atrav­es­samos não deixa de ser engraçado assi­s­tir Lula, Bol­sonaro e Maduro “pagando pau” para Putin.

Em meio a tan­tos absur­dos que assisto neste episó­dio triste, já vi pro­fes­sor de história dizer que a invasão da Rús­sia “é para pro­te­ger os irmãos ucra­ni­anos”; vi jor­nal­ista dizer que o Brasil não deve dizer nada para “não aumen­tar o preço do nosso arroz com fei­jão”, vi até uma dep­utada que tam­bém se diz pro­fes­sora de dire­ito ten­tar jus­ti­ficar o com­por­ta­mento dúbio do pres­i­dente da República em não con­denar a invasão.

Fiquei com a impressão de que a “con­sti­tu­cional­ista” nunca chegou a estu­dar ou mesmo pas­sar a vista no artigo 4º da nossa Con­sti­tu­ição.

No Brasil tam­bém tem disso: con­sti­tu­cional­ista que não con­hece a Con­sti­tu­ição.

Lá, na Con­sti­tu­ição está claro, basta saber ler, ver­bis:

Art. 4º A República Fed­er­a­tiva do Brasil rege-​se nas suas relações inter­na­cionais pelos seguintes princí­pios: I — inde­pendên­cia nacional; II — prevalên­cia dos dire­itos humanos; III — autode­ter­mi­nação dos povos; IV — não-​intervenção; V — igual­dade entre os Esta­dos; VI — defesa da paz; VII — solução pací­fica dos con­fli­tos; VIII — repú­dio ao ter­ror­ismo e ao racismo; IX — coop­er­ação entre os povos para o pro­gresso da humanidade; X — con­cessão de asilo político”.

As autori­dades do país, prin­ci­pal­mente o pres­i­dente, que fala em nome do país, só pre­cis­aria se man­i­fes­tar na estrita deter­mi­nação do artigo acima. Nada além disso.

Já sabe­mos o resul­tado da guerra: o Ucrâ­nia por mais guer­reira que seja não terá forças sufi­cientes para resi­s­tir ao pode­rio russo, enfrentado soz­inha uma guerra desigual, por isso mesmo os cidadãos de todo mundo deve fazer tudo que puder para repu­diar e con­denar tal agressão.

O inva­sor russo pode ate vencer o con­flito pela força das armas, mas nós, cidadãos e cidadãs de todo o mundo podemos derrotá-​lo com a força das ideias.

Abdon Mar­inho é advo­gado.