A sucessão estadual em tempos de Game Of Thrones.
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- Criado: Sábado, 07 Agosto 2021 14:34
- Escrito por Abdon Marinho
A SUCESSÃO ESTADUAL EM TEMPOS DE GAME OF THRONES.
Por Abdon Marinho.
HAVIA decidido não me manifestar sobre a sucessão estadual até termos clareza da ruptura na Casa Dino, atualmente ocupando o Trono de Ferro dos Leões.
A minha opinião – já externada outras vezes –, é que qualquer análise política feita no momento em que todos os candidatos embora se “bicando” dizem fazer parte do mesmo grupo e com o ocupante do Palácio dos Leões “jogando” a decisão para o futuro é mero chute conjectura, boato ou assessoria de imprensa deste ou daquele candidato.
O grupo do atual governador criou uma equação política em que dificilmente perde a eleição se mantiverem a unidade.
Há quem surgira até que o governador pretenderia acomodar – como fez ao longo dos anos – os interesses de todos e lançar mão de um nome de sua extremada confiança para o governo estadual.
Nesta leitura o nome seria do deputado federal Márcio Jerry, que atualmente comanda uma secretaria estadual.
E porque o senhor Jerry? Segundo esta mesma análise o senhor Dino é governador na “cota de Jerry” e não ao contrário e, na hora de decidir ele, Jerry, tenderia a optar pelo próprio nome e não por outro do grupo.
Uma outra linha de raciocínio já aponta para o seguinte: o senhor Dino não conseguindo concretizar o sonho de ser candidato a vice-presidente da República, sairia mesmo candidato ao senado com Jerry de primeiro suplente; Brandão a governador com atual secretário de educação de vice-governador, deixando em aberto a possibilidade de, em 2026, o próprio Dino voltar ao governo do estado ou deixar a disputa para o crustáceo.
A equação faz sentido uma vez que na eventualidade de uma vitória do Lula ou de outro nome de oposição, é quase certo que o senhor Dino vire ministro (deixando o mandato de senador para o suplente) e tente se viabilizar para ser candidato a sucessão nacional na condição de candidato a presidente ou a vice-presidente.
No mundo que pediu a Deus, ganhando ou perdendo ganharia, parafraseando a ex-presidente Dilma Rousseff.
O certo é que o mesmo grupo se manteria no poder no cenário estadual com Dino no papel de Vitorino/Sarney no Senado e governo estadual e até mesmo no Planalto ou Jaburu.
Estes seriam os cenários dos sonhos.
Ocorre que a equação de “poder perpétuo” engendrada pelo Casa Dino encontra-se ameaçada por forças externas e internas podendo haver comunhão de interesses entre elas para tomarem o Trono de Ferro das mãos do senhor Dino.
Pois bem, de uns dias para cá passaram a surgir notícias na imprensa local (não sei se também na nacional) de que a “batata” de Dino/Brandão estaria assando em fogo alto no Tribunal Superior Eleitoral — TSE, por conta da chamada “farra dos capelães”, estratagema pela qual o governador nomeou diversos pastores e padres para ocuparem cargos públicos de capelão no sistema de segurança e prisional.
Me ocupei do assunto em 5 de maio de 2018 no texto “Em nome de Deus — A polêmica das capelanias”.
Não tratarei – não neste momento –, do processo em si, até porque não conheço sua instrução e tramitação, mas das suas consequências caso tenha um efeito desfavorável ao atual governador e seu vice.
Recordando os meus tempos de leitor assíduo dos livros de mistérios de Agatha Christie e Sir Conan Doyle, a primeira coisa a me perguntar é: “a quem aproveita o crime?”
Transportando tal indagação para a realidade da política local, a pergunta seria: “quem seriam os beneficiários diretos e indiretos de um resultado desfavorável para a chapa Dino/Brandão no TSE?” Ou, noutras palavras, quem aproveitaria o crime?
Se fosse a minha batata que estivesse assando teria a resposta em três letras: W, O, C. W de Weverton; O de Othelino e C de Cutrim.
Não estou dizendo que estas pessoas estão “cavando” um resultado desfavorável a Casa Dino/Brandão no TSE – muito embora possuam poder e “estrutura” para isso e muito mais –, apenas que em caso de “desgraça” dos atuais comandantes do estado, serão eles que estarão no mundo que pediram a Deus.
Apenas para servir de alerta, meu saudoso pai costumava dizer que “no Maranhão o que dinheiro ou “taca” não resolver é porque foi pouca”, já para Brasília existe um outro adágio: “Brasília é como um mercado persa, tudo pode se vender e se comprar bastando ajustar o preço”.
Sem Dino/Brandão no páreo, cassados e inelegíveis por oito anos, o senador Weverton poderia voltar a sonhar com o governo estadual e consolidar-se como um dos mandatários do estado.
O deputado estadual Othelino assumiria o governo interinamente, marcaria eleições indiretas e, muito provavelmente, seria eleito para tirar o restante do mandato, podendo, até mesmo, ser candidato a reeleição, com o compromisso de apoiar o senador pedetista em 2026.
O deputado Cutrim assumiria à presidência da Assembleia Legislativa, aumentando as chances de ser reeleito deputado estadual e consequentemente, presidente da casa novamente.
Uma outra “vantagem” para o atual presidente da Assembleia numa situação desfavorável a Dino/Brandão, ela chegando o quanto antes é que ele próprio se livraria do processo das sucessivas reeleições para o comando da Casa de Bequimão, que em situações semelhantes envolvendo outros estados, o Supremo Tribunal Federal — STF, anulou.
Tais perspectivas seriam motivos suficientes para suas casas tramarem contra a Casa Dino/Brandão na corte Brasiliense?
Não tenho a resposta. Talvez sim, talvez não; talvez só aguardem o desenrolar dos fatos. Mas, certamente, não irão chorar de tristeza se a Casa Dino/Brandão cair.
Como os amigos puderam perceber, é dentro do grupo governista, tanto nas equações iniciais, com o governador e o vice-governador voando em “céu de brigadeiro”, quanto na equação em que os mesmos personagens habitam “Inferno de Dante”, o espaço para comunhão entre os dois grupos, é pouco, estreito ou nenhum.
São projetos e interesses políticos que se excluem, na verdade um casamento de conveniência.
Conforme temos constatado, nos últimos tempos as casas Weverton, Othelino e Cutrim, que co-habitam a Casa Dino pelos benesses do trono de ferro, têm trabalhado em perfeita harmonia.
Isso ficou mais patente quando nas eleições municipais do ano passado “desertaram-se” juntos, correndo léguas do candidato dos Leões e quando o deputado federal Gil Cutrim deixou o PDT, sem ser molestado por ninguém, pelo contrário, com juras de amor eterno.
Dentro do grupo governista, não prevendo uma desgraça mas se preparando para a eventualidade da mesma ocorrer, dois outros candidatos já se colocam como possíveis “herdeiros” do trono de ferro: o secretário Simplicio Araújo, pelo Partido Solidariedade, e o secretário Camarão, pelo Partido dos Trabalhadores — PT.
Resta saber, com Dino fora do jogo, quem ele iria apoiar e que força teria numa situação de adversidade. Agravando-se tal situação em relação ao crustáceo por conta dos interesses partidários do partido que escolheu para filiar-se (PT).
Sem Dino/Brandão no páreo outras casas também entram na guerra pelo trono de ferro.
A Casa Sarney poderá vir com ex-governadora Roseana ao governo, uma vez que aparece muito bem na “fita” ou mesmo numa aliança com a Casa Holanda, com o ex-prefeito Edivaldo Holanda como candidato ao governo e ela (Roseana), candidata ao senado.
Aqui cabe um parênteses para registrar que é surpreendente a performance do ex-prefeito de São Luís no cenário político estadual e com o grande potencial de crescimento, caso não seja abatido por algum infortúnio relacionado a sua gestão frente à prefeitura da capital. Registrando que ele sempre teve uma imagem muito melhor que a própria gestão. Mesmo as pessoas dizendo que a administração dele era ineficiente, incompetente e por vezes até corrupta, sempre o preservaram dos desacertos e bandalhas.
Assim, não será surpresa se ele chegar a conquistar o trono de ferro para a Casa Holanda.
Outra casa que também pode melhorar de performance caso ocorra o infortúnio da Casa Dino/Brandão é a Casa Rocha, senador Roberto Rocha.
Com Dino fora do páreo e com um deserto de candidatos ao Senado Federal ele poderá ter uma votação muito acima do cenário que tem hoje.
Como podemos perceber são muitos os interesses em jogo em torno do trono de ferro e muitas casas com muito a ganhar no caso de conquista-lo.
Na política dizia o pai de um amigo meu basta um acontecimento para mudar toda uma trajetória.
Em Game Of Thrones é assim.
Aguardem os próximos episódios.
Abdon Marinho é advogado.