Dino já pode vir pedir a bênção.
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- Criado: Sábado, 29 Maio 2021 21:48
- Escrito por Abdon Marinho
DINO JÁ PODE VIR PEDIR A BÊNÇÃO.
Por Abdon Marinho.
ANTES que algum desavisado, adulador ou xerimbabo de plantão se melindre ou venha com gracinhas, o título é apenas uma força de expressão.
Nada além disso, conforme veremos na continuação do texto.
Diversos veículos de comunicação locais e nacionais têm anunciado com certa insistência a mudança partidária do governador Flávio Dino (PCdoB) para o Partido Socialista Brasileiro — PSB. Integrantes de ambos os partidos já tratam tal possibilidade com “favas contadas”.
Vi em algum meio de comunicação nacional que, não apenas ele, mas diversas outras lideranças “comunistas” estariam de “malas prontas” ou “tencionariam” fazer o mesmo.
Pois bem, é destas leituras e constatações que faço a pilhéria de dizer que o senhor Dino deveria “descer” até o Ribamar para pedir a bênção, não apenas a São José, mas, sobretudo, a mim que o alertei, bem antes de ser candidato ao governo do estado, não uma, não duas, mas por diversas vezes, da “inconveniência” de ser governador do Maranhão pelo Partido Comunista do Brasil — PCdoB.
Fiz diversos alertas sobre o assunto muito antes do encerramento do prazo para filiações partidárias, que era um ano antes das eleições.
Lembro bem que um dos textos, pelo começo de 2013, acho que março daquele ano, foi “Muito além do jacaré”. Aquela altura, o governador, derrotado pelo comando da capital em 2008, já “emendava” na campanha de 2014, e sofrera “patrulha” por ter sido “flagrado” supostamente com uma camisa da marca Lacoste (daí o título) e as críticas se dirigiam ao fato de alguém dizer-se “comunista” e ostentar roupas de marcas – e outros mimos do mundo capitalista –, cunharam até a “jargão” “comunistas de iPhone”.
Com o grupo Sarney em pleno declínio, Roseana Sarney demonstrando “enfado” para a política – tanto que não quis pleitear um mandato de senadora –, e para o governar – cada secretário já fazia o que queria, principalmente, garantiam o futuro –, era certo que haveria uma “ruptura” com o “antigo régime”.
A situação para forças políticas oposicionistas era tranquila. E se tornou mais fácil quando cometeram o erro estratégico de substituir o “candidato técnico”, com fama de competente, Luís Fernando, pelo empresário e suplente de senador do pai, Edison Lobão Filho, com outro tipo de fama a lhe perseguir desde os tempos em que era homem forte no governo do pai homônimo.
A despeito da vitória certa, entendia — e continuo entendendo –, não fazer qualquer sentido um candidato que pretendia ser um político de expressão nacional concorrer a um cargo majoritário como representante do Partido Comunista do Brasil — PCdoB.
Primeiro, que nenhum destes políticos que militam no PCdoB, e conheço quase todos desde criança, nunca foram comunistas, nem mesmo como caricaturas, acredito, inclusive, que bem poucos têm noção do que seja o comunismo.
Segundo, que de todos os partidos brasileiros, o PCdoB talvez seja o que possui uma história e práticas presentes, mais controvertidas. Sempre foi – e ainda é assim.
Até a idade do PCdoB é motivo de controvérsia.
Se você olhar o histórico dos partidos políticos registrados no Tribunal Superior Eleitoral — TSE, encontrará dois com a mesma idade, como se tivessem sido fundados no mesmo dia: o Cidadania e o PCdoB.
Abrirei um parênteses para explicar de forma resumida o que se deu.
O Partido Comunista do Brasil — PCdoB, foi fundado em 1922, tendo como inspiração a revolução comunista que criou a União Soviética; com o surgimento dos movimentos nacionalistas dos anos 30, e para retirar o caráter “internacional” do partido, o seu nome foi alterado para Partido Comunista Brasileiro — PCB, não perdendo de vista que isso se dava no contexto do fracasso da intentona comunista de 1935, que levou à prisão de Prestes e a deportação de Olga Benário Prestes, para a Alemanha Nazista; nos anos 50, após a morte de Josef Stálin, em 1953, e a revelação dos seus crimes, houve o chamado revisionismo histórico, com os comunistas brasileiros seguindo as orientações do novo comando de Moscou, com Nikita Khrushchov (1894−1971).
Aqueles comunistas do PCB que não concordaram com o revisionismo histórico e continuaram a defender o stalinismo deixaram o partido e, nos anos 60, fundaram outra agremiação partidária, o Partido Comunista do Brasil – PCdoB, ou seja, retomaram a nomenclatura anterior.
Depois veio o golpe militar, o fim do pluralismo político, e a colocação dos comunistas na clandestinidade de onde saíram só com a redemocratização do país, em 1985.
O Partido Comunista Brasileiro – PCB, virou Partido Popular Socialista — PPS e por último Cidadania.
O PCdoB, que surgiu como dissidência reivindica para si, a fundação em 1922, e esse ano até fez “festa” para comemorar os 99 anos.
Seria a mesma coisa que o PSOL que originou-se de uma dissidência do Partido dos Trabalhadores — PT, reivindicassem serem os verdadeiros petistas e a data de nascimento no início dos anos 80.
Mas, não era apenas o fato de possuir uma idade “controvertida” que me motivava a dizer do inconveniente que seria para o candidato a governador concorrer pela legenda.
O PCdoB, que nascera a partir da discordância com denúncia pública dos crimes do stalinismo, passou (e passa) a sua existência defendendo as ditaduras mais abjetas da história da humanidade: além do stalinismo, o maoísmo, na China; o régime comunista do Camboja; do Cuba; da Coreia do Norte e a ditadura venezuelana.
Não fazia muito tempo escrevera ou subscrevera cartas de apoio e solidariedade aquelas ditaduras, que só existem como fósseis históricos.
Possivelmente envaidecido pela possibilidade de “derrotar tais paradigmas”, o governador foi candidato pelo Partido Comunista do Brasil — PCdoB, venceu a eleição e se reelegeu.
Embora, na eleição de 2014 as incongruências ideológicas tenham sido exploradas, não foram suficientes para impedir a vitória, o mesmo ocorrendo em 2018.
Com a ascensão do bolsonarismo ao poder esse debate ideológico ganhou nova feição.
O presidente da República alimenta suas franjas com esse sentimento anticomunista, que, como já disse em outros textos, teria mais cabimento há cem anos.
O Partido Comunista do Brasil – PCdoB, tem sentido esse “baque”, tanto que nos últimos anos já falaram em refundação e até inventaram um tal “Movimento 65”, ocultaram a foice e o martelo, mudaram as cores, e esconderam o nome. Tratei disso em um texto que se não me falha a memória, chamou-se “Um partido que não ousa dizer o nome”.
Ainda que a campanha “anti-comunista” do presidente não represente um risco iminente à eleição do governador ao senado ou a outro cargo legislativo, certamente prejudica qualquer projeto maior, como candidatura a presidente da República ou a vice-presidente, sem contar com o atraso que representa para as forças políticas que querem derrotar o bolsonarismo no ano que vem ter que ficar justificando essa xaropada ideológica.
Se há oito anos – ainda que exótico –, parecia “da hora” apresentar-se como um “governador comunista” – muito embora, repito, ele não saiba o que é isso –, tal circunstância, nos dias atuais, soa como um entrave às forças oposicionistas, de centro e esquerda, que tornaram questão de honra a derrota do atual presidente.
Faltando dez meses para deixar o governo – caso queira concorrer –, o atual governador encontra-se neste dilema, que não teria existido se tivesse lido meus textos ou feito a leitura correta da situação política do Brasil.
Muito embora a propaganda que inunda os meios de comunicação vendam um mundo de fantasias, o governo do senhor Flávio Dino está longe de ser exitoso.
Os números coletados pelos mais diversos institutos comprovam isso.
Conseguiu até superar o número de miseráveis deixado pelos quase cinquenta anos do grupo Sarney.
Tal situação até permite um trocadilho infame – e que não tem nada a ver:
“Não sabemos se fez um governo ruim por ser comunista ou se é comunista por ter feito um governo ruim”.
O certo mesmo é que a situação do governador não é das mais confortáveis.
Ficar no PCdoB traz todas as dificuldades elencadas ao longo do texto.
Ir para o PSB sem que lhe garantam o comando da legenda – o que não é tão fácil, já que é um partido de base –, pode significar não comandar a própria sucessão.
Não que o partido lhe negue o direito de candidatar-se ao Senado, mas pode seguir outro rumo nas eleições.
Voltar ao partido da infância, o PT, é não acrescentar nada à política de alianças que o partido busca para retornar ao comando do país.
As outras opções são igualmente ruins, sem contar que vai parecer que ficou com medo do senhor Bolsonaro que prometeu “varrer o comunismo do Maranhão”.
Sua excelência encontra-se naquela terrível situação de “se correr o bicho pega, se ficar o bicho come”.
É, talvez deva mesmo vir ao Ribamar pedir a bênção ao Santo.
Abdon Marinho é advogado.