AbdonMarinho - Dino já pode vir pedir a bênção.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sexta-​feira, 22 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

Dino já pode vir pedir a bênção.


DINO PODE VIR PEDIR A BÊNÇÃO.

Por Abdon Mar­inho.

ANTES que algum desav­isado, adu­lador ou xerim­babo de plan­tão se melin­dre ou venha com grac­in­has, o título é ape­nas uma força de expressão.

Nada além disso, con­forme ver­e­mos na con­tin­u­ação do texto.

Diver­sos veícu­los de comu­ni­cação locais e nacionais têm anun­ci­ado com certa insistên­cia a mudança par­tidária do gov­er­nador Flávio Dino (PCdoB) para o Par­tido Social­ista Brasileiro — PSB. Inte­grantes de ambos os par­tidos já tratam tal pos­si­bil­i­dade com “favas con­tadas”.

Vi em algum meio de comu­ni­cação nacional que, não ape­nas ele, mas diver­sas out­ras lid­er­anças “comu­nistas” estariam de “malas prontas” ou “ten­cionar­iam” fazer o mesmo.

Pois bem, é destas leituras e con­statações que faço a pil­héria de dizer que o sen­hor Dino dev­e­ria “descer” até o Riba­mar para pedir a bênção, não ape­nas a São José, mas, sobre­tudo, a mim que o alertei, bem antes de ser can­didato ao gov­erno do estado, não uma, não duas, mas por diver­sas vezes, da “incon­veniên­cia” de ser gov­er­nador do Maran­hão pelo Par­tido Comu­nista do Brasil — PCdoB.

Fiz diver­sos aler­tas sobre o assunto muito antes do encer­ra­mento do prazo para fil­i­ações par­tidárias, que era um ano antes das eleições.

Lem­bro bem que um dos tex­tos, pelo começo de 2013, acho que março daquele ano, foi “Muito além do jacaré”. Aquela altura, o gov­er­nador, der­ro­tado pelo comando da cap­i­tal em 2008, já “emen­dava” na cam­panha de 2014, e sofr­era “patrulha” por ter sido “fla­grado” suposta­mente com uma camisa da marca Lacoste (daí o título) e as críti­cas se diri­giam ao fato de alguém dizer-​se “comu­nista” e osten­tar roupas de mar­cas – e out­ros mimos do mundo cap­i­tal­ista –, cun­haram até a “jargão” “comu­nistas de iPhone”.

Com o grupo Sar­ney em pleno declínio, Roseana Sar­ney demon­strando “enfado” para a política – tanto que não quis pleit­ear um mandato de senadora –, e para o gov­ernar – cada secretário já fazia o que que­ria, prin­ci­pal­mente, garan­tiam o futuro –, era certo que have­ria uma “rup­tura” com o “antigo régime”.

A situ­ação para forças políti­cas oposi­cionistas era tran­quila. E se tornou mais fácil quando come­teram o erro estratégico de sub­sti­tuir o “can­didato téc­nico”, com fama de com­pe­tente, Luís Fer­nando, pelo empresário e suplente de senador do pai, Edi­son Lobão Filho, com outro tipo de fama a lhe perseguir desde os tem­pos em que era homem forte no gov­erno do pai homôn­imo.

A despeito da vitória certa, enten­dia — e con­tinuo enten­dendo –, não fazer qual­quer sen­tido um can­didato que pre­tendia ser um político de expressão nacional con­cor­rer a um cargo majoritário como rep­re­sen­tante do Par­tido Comu­nista do Brasil — PCdoB.

Primeiro, que nen­hum destes políti­cos que mili­tam no PCdoB, e con­heço quase todos desde cri­ança, nunca foram comu­nistas, nem mesmo como car­i­cat­uras, acred­ito, inclu­sive, que bem poucos têm noção do que seja o comunismo.

Segundo, que de todos os par­tidos brasileiros, o PCdoB talvez seja o que pos­sui uma história e práti­cas pre­sentes, mais con­tro­ver­tidas. Sem­pre foi – e ainda é assim.

Até a idade do PCdoB é motivo de con­tro­vér­sia.

Se você olhar o histórico dos par­tidos políti­cos reg­istra­dos no Tri­bunal Supe­rior Eleitoral — TSE, encon­trará dois com a mesma idade, como se tivessem sido fun­da­dos no mesmo dia: o Cidada­nia e o PCdoB.

Abrirei um parên­te­ses para explicar de forma resum­ida o que se deu.

O Par­tido Comu­nista do Brasil — PCdoB, foi fun­dado em 1922, tendo como inspi­ração a rev­olução comu­nista que criou a União Soviética; com o surg­i­mento dos movi­men­tos nacional­is­tas dos anos 30, e para reti­rar o caráter “inter­na­cional” do par­tido, o seu nome foi alter­ado para Par­tido Comu­nista Brasileiro — PCB, não per­dendo de vista que isso se dava no con­texto do fra­casso da inten­tona comu­nista de 1935, que levou à prisão de Prestes e a depor­tação de Olga Benário Prestes, para a Ale­manha Nazista; nos anos 50, após a morte de Josef Stálin, em 1953, e a rev­e­lação dos seus crimes, houve o chamado revi­sion­ismo histórico, com os comu­nistas brasileiros seguindo as ori­en­tações do novo comando de Moscou, com Nikita Khrush­chov (18941971).

Aque­les comu­nistas do PCB que não con­cor­daram com o revi­sion­ismo histórico e con­tin­uaram a defender o stal­in­ismo deixaram o par­tido e, nos anos 60, fun­daram outra agremi­ação par­tidária, o Par­tido Comu­nista do Brasil – PCdoB, ou seja, retomaram a nomen­clatura ante­rior.

Depois veio o golpe mil­i­tar, o fim do plu­ral­ismo político, e a colo­cação dos comu­nistas na clan­des­tinidade de onde saíram só com a rede­moc­ra­ti­za­ção do país, em 1985.

O Par­tido Comu­nista Brasileiro – PCB, virou Par­tido Pop­u­lar Social­ista — PPS e por último Cidada­nia.

O PCdoB, que surgiu como dis­sidên­cia reivin­dica para si, a fun­dação em 1922, e esse ano até fez “festa” para comem­o­rar os 99 anos.

Seria a mesma coisa que o PSOL que originou-​se de uma dis­sidên­cia do Par­tido dos Tra­bal­hadores — PT, reivin­di­cas­sem serem os ver­dadeiros petis­tas e a data de nasci­mento no iní­cio dos anos 80.

Mas, não era ape­nas o fato de pos­suir uma idade “con­tro­ver­tida” que me moti­vava a dizer do incon­ve­niente que seria para o can­didato a gov­er­nador con­cor­rer pela leg­enda.

O PCdoB, que nascera a par­tir da dis­cordân­cia com denún­cia pública dos crimes do stal­in­ismo, pas­sou (e passa) a sua existên­cia defend­endo as ditaduras mais abje­tas da história da humanidade: além do stal­in­ismo, o maoísmo, na China; o régime comu­nista do Cam­boja; do Cuba; da Cor­eia do Norte e a ditadura venezue­lana.

Não fazia muito tempo escrevera ou sub­screvera car­tas de apoio e sol­i­dariedade aque­las ditaduras, que só exis­tem como fós­seis históri­cos.

Pos­sivel­mente envaide­cido pela pos­si­bil­i­dade de “der­ro­tar tais par­a­dig­mas”, o gov­er­nador foi can­didato pelo Par­tido Comu­nista do Brasil — PCdoB, venceu a eleição e se reelegeu.

Emb­ora, na eleição de 2014 as incon­gruên­cias ide­ológ­i­cas ten­ham sido explo­radas, não foram sufi­cientes para impedir a vitória, o mesmo ocor­rendo em 2018.

Com a ascen­são do bol­sonar­ismo ao poder esse debate ide­ológico gan­hou nova feição.

O pres­i­dente da República ali­menta suas fran­jas com esse sen­ti­mento anti­co­mu­nista, que, como já disse em out­ros tex­tos, teria mais cabi­mento há cem anos.

O Par­tido Comu­nista do Brasil – PCdoB, tem sen­tido esse “baque”, tanto que nos últi­mos anos já falaram em refun­dação e até inven­taram um tal “Movi­mento 65”, ocul­taram a foice e o martelo, mudaram as cores, e escon­deram o nome. Tratei disso em um texto que se não me falha a memória, chamou-​se “Um par­tido que não ousa dizer o nome”.

Ainda que a cam­panha “anti-​comunista” do pres­i­dente não rep­re­sente um risco imi­nente à eleição do gov­er­nador ao senado ou a outro cargo leg­isla­tivo, cer­ta­mente prej­u­dica qual­quer pro­jeto maior, como can­di­datura a pres­i­dente da República ou a vice-​presidente, sem con­tar com o atraso que rep­re­senta para as forças políti­cas que querem der­ro­tar o bol­sonar­ismo no ano que vem ter que ficar jus­ti­f­i­cando essa xaropada ide­ológ­ica.

Se há oito anos – ainda que exótico –, pare­cia “da hora” apresentar-​se como um “gov­er­nador comu­nista” – muito emb­ora, repito, ele não saiba o que é isso –, tal cir­cun­stân­cia, nos dias atu­ais, soa como um entrave às forças oposi­cionistas, de cen­tro e esquerda, que tornaram questão de honra a der­rota do atual pres­i­dente.

Fal­tando dez meses para deixar o gov­erno – caso queira con­cor­rer –, o atual gov­er­nador encontra-​se neste dilema, que não teria exis­tido se tivesse lido meus tex­tos ou feito a leitura cor­reta da situ­ação política do Brasil.

Muito emb­ora a pro­pa­ganda que inunda os meios de comu­ni­cação ven­dam um mundo de fan­tasias, o gov­erno do sen­hor Flávio Dino está longe de ser exitoso.

Os números cole­ta­dos pelos mais diver­sos insti­tu­tos com­pro­vam isso.

Con­seguiu até superar o número de mis­eráveis deix­ado pelos quase cinquenta anos do grupo Sar­ney.

Tal situ­ação até per­mite um tro­cadilho infame – e que não tem nada a ver:

Não sabe­mos se fez um gov­erno ruim por ser comu­nista ou se é comu­nista por ter feito um gov­erno ruim”.

O certo mesmo é que a situ­ação do gov­er­nador não é das mais con­fortáveis.

Ficar no PCdoB traz todas as difi­cul­dades elen­cadas ao longo do texto.

Ir para o PSB sem que lhe garan­tam o comando da leg­enda – o que não é tão fácil, já que é um par­tido de base –, pode sig­nificar não coman­dar a própria sucessão.

Não que o par­tido lhe negue o dire­ito de candidatar-​se ao Senado, mas pode seguir outro rumo nas eleições.

Voltar ao par­tido da infân­cia, o PT, é não acres­cen­tar nada à política de alianças que o par­tido busca para retornar ao comando do país.

As out­ras opções são igual­mente ruins, sem con­tar que vai pare­cer que ficou com medo do sen­hor Bol­sonaro que prom­e­teu “var­rer o comu­nismo do Maran­hão”.

Sua excelên­cia encontra-​se naquela ter­rível situ­ação de “se cor­rer o bicho pega, se ficar o bicho come”.

É, talvez deva mesmo vir ao Riba­mar pedir a bênção ao Santo.

Abdon Mar­inho é advo­gado.