AbdonMarinho - Sem coveiro e sem tutor é cada um por si, ainda bem.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sexta-​feira, 22 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

Sem cov­eiro e sem tutor é cada um por si, ainda bem.

SEM COV­EIRO E SEM TUTOR É CADA UM POR SI, AINDA BEM.

Por Abdon Marinho.

O GOV­ER­NADOR do estado, sen­hor Flávio Dino (PCdoB), anun­ciou por estes dias, em entre­vista cole­tiva, a flex­i­bi­liza­ção das regras de iso­la­mento social por conta da pan­demia do novo coro­n­avírus.

Ques­tion­ado se não seria pre­cip­i­tada a flex­i­bi­liza­ção, em face do aumento de casos, e como se daria a fis­cal­iza­ção dos serviços autor­iza­dos a fun­cionar, segundo a imprensa local, saiu-​se como esta: “ — É uma decisão de cada um. Eu tam­bém não sou tutor de todas as pes­soas, não me cabe isso. Eu sou gov­er­nador do Maranhão”.

Não posso deixar de reg­is­trar que trata-​se de uma resposta bem assemel­hada às man­i­fes­tações do sen­hor Bol­sonaro, pres­i­dente da República, e que, politi­ca­mente, encontra-​se, em tese, no espec­tro político oposto ao do gov­er­nador, como este faz questão de ressaltar sem­pre, colocando-​se, aliás, como uma espé­cie de antípoda do primeiro.

É dizer-​se, o Flávio é Dino, não é Bol­sonaro, muito emb­ora nas práti­cas e nos dis­cur­sos de ambos encon­tremos muito mais con­vergên­cias do que divergên­cias

Logo no iní­cio da pan­demia, acred­ito que quando atingi­mos a casa dos mil óbitos deb­ita­dos à covid-​19, talvez um pouco mais disso, respon­dendo a um pop­u­lar sobre este fato, o pres­i­dente da República, saiu-​se com esta: “— Sei lá, pô, eu não sou cov­eiro”. Isso, dito lit­eral­mente, ou algo bem assemel­hado.

Agora é a vez do gov­er­nador, talvez imi­tando o presidente/​desafeto, dizer que não é tutor de ninguém, e sim, gov­er­nador.

Na mesma cole­tiva sua excelên­cia, ainda pon­tuou: — “Não serei eu que direi para uma pes­soa ir ou não ir a um restau­rante ou a um bar, mas a minha mãe, que tem 82 anos, não irá. Pedi a ela. Meu pai, que tem 88 anos, tam­bém não irá. Con­ver­sei com ele”, e ainda: “— Então, é pre­ciso que cada um cuide de sI”.

A nova posição do gov­er­nador Dino, no trata­mento a ser dis­pen­sado à pan­demia, é mais con­ver­gente do que diver­gente à posição do pres­i­dente Bol­sonaro, e é diame­tral­mente oposta ao que vinha pre­gando e prat­i­cando deste o iní­cio da pandemia.

Como a pan­demia no Brasil ainda não tem seis meses, a primeira morte reg­istrada atribuída à covid-​19 data do dia 12/​03, é pos­sível con­ferir as mudanças de comportamentos.

Antes do reg­istro do primeiro caso de infecção no estado, o que só foi acon­te­cer no dia 20 de março, segundo o próprio gov­er­nador anun­ciou nas suas redes soci­ais, o gov­erno já vinha ori­en­tando pelo dis­tan­ci­a­mento social, com a com­pro­vação do primeiro caso, no dia 21 de março o gov­er­nador foi para os meios de comu­ni­cação infor­mar que estava baixando diver­sos atos proibindo as ativi­dades econômi­cas no estado e impondo dis­tan­ci­a­mento social.

Naquela opor­tu­nidade – antes do reg­istro do primeiro caso no estado e nos esta­dos viz­in­hos –, ques­tion­ava se as medi­das necessárias não estavam sendo pre­cip­i­tadas e cobrava transparên­cia do gov­erno no com­bate à pandemia.

A argu­men­tação é a mesma que trago até hoje: o dis­tan­ci­a­mento social é o remé­dio mais efi­caz, mas pre­cisa ser ado­tado no momento certo e pelo tempo certo, sob pena das pes­soas relaxarem ou não terem como ficarem con­fi­nadas por um tempo muito longo.

Mais, que era necessário o máx­imo de transparên­cia para que as pes­soas con­fi­assem nas recomen­dações das autori­dades.

Como por aqui a pan­demia foi tratada como parte de uma estraté­gia política do gov­er­nador para se rivalizar com o pres­i­dente da República, não vimos nem uma coisa nem outra.

As regras de iso­la­mento social não foram cumpri­das como dev­e­riam, nem na cap­i­tal nem no inte­rior, tanto assim que desde o iní­cio do alas­tra­mento da pan­demia, o estado “está bem posi­cionado”, tanto no número de óbitos, quando no de con­t­a­m­i­na­dos. Sem­pre ali na sexta ou sétima posição.

Out­ros esta­dos, como Piauí e Tocan­tins, com quem faze­mos fron­teira, reg­is­tam números bem mais favoráveis que os nos­sos.

De igual modo, diver­sos out­ros esta­dos, como Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, entre outros.

A transparên­cia, jun­ta­mente com a explo­ração política da des­graça, foram out­ros fatores sem­pre ques­tion­a­dos.

Logo no iní­cio da pan­demia o gov­er­nador, seus ali­a­dos e adu­ladores, se ocu­pavam em con­tar os óbitos para atribuí-​los ao pres­i­dente da República, chegando a dizer, certa feita, que no dia seguinte aman­hece­riam na porta do palá­cio 300 mor­tos, enquanto o pres­i­dente nada fazia.

Os mor­tos começaram a aman­hecer nas por­tas dos palá­cios. Não ape­nas na porta do palá­cio pres­i­den­cial, mas, tam­bém, nos palá­cios dos gov­er­nos estad­u­ais.

Enquanto escrevo este texto já são mais 57 mil mor­tos, mais de um mil­hão e trezen­tos mil pes­soas infec­tadas, e o Brasil já é, há algum tempo, o epi­cen­tro da pan­demia.

Só no Maran­hão já são 2 mil mor­tos e mais de 80 mil infec­ta­dos. A taxa de mor­tal­i­dade diária, há sem­anas, girando na casa dos 35 mor­tos.

Vejam os sen­hores que quando não tín­hamos um único caso, só fomos reg­is­trar o primeiro em 20 de março, como já dito, mas inter­es­sava ao gov­er­nador ali­men­tar a guerra política con­tra o pres­i­dente, foram divul­gadas diver­sas medi­das de restrições para a pop­u­lação, e agora, com os mor­tos que se acu­mu­lam nos leões, já chegando ao ater­rador número de 2 mil e o de infec­ta­dos se aprox­i­mando de cem mil, sua excelên­cia, vem a público dizer não é tutor de ninguém e que cada um que cuide de si, enquanto adota um mod­elo de “liberou geral” das diver­sas ativi­dades econômi­cas.

Quer dizer que era mais fácil nos “con­t­a­m­i­n­ar­mos” pelo novo coro­n­avírus quando não tinha um único caso no estado do que agora, quando cam­in­hamos rápido para a casa dos cem mil? Ou será que as medi­das ado­tadas no iní­cio da pan­demia, sem um caso, sem um morto, tin­ham o condão de servir de instru­mento para explosão política? Ou será que se pre­cip­i­taram fiz­eram tudo antes da hora, de forma ata­bal­hoada e agora, com todos riscos que a pop­u­lação corre, não têm como “segu­rar” a pressão dos empresários e entrega a respon­s­abil­i­dade ao “cada um cuida de si”?

Ape­nas para reg­isto, com o número de mor­tos e infec­ta­dos atingindo pata­mares ele­va­dos, a exem­plo do pres­i­dente da República, não me recordo de uma nota de pesar ou um decreto de luto ofi­cial baix­ado pelo gov­erno – talvez tenha acon­te­cido e não vi –, como se os úni­cos mor­tos que inter­es­sas­sem fos­sem aque­les que serviriam naquele momento à guerra eleitor­eira.

Como podemos con­statar, os opos­tos de tanto se atraírem acabam por con­ver­girem, como agora pare­cem comungar o gov­er­nador Flávio Dino com o pres­i­dente Jair Bol­sonaro.

Tenho visto out­ros esta­dos, out­ras cidades que reg­is­tram menos casos que o Maran­hão, diante do aumento de casos, tomarem medi­das mais rígi­das para as nor­mas de iso­la­mento social, como por exem­plo, Minas Gerais e a região met­ro­pol­i­tana de Belo Horizonte.

Emb­ora a cap­i­tal do estado do Maran­hão tenha reg­istrado um decréscimo no número de infec­ta­dos e mor­tos, no inte­rior do estado existe um cresci­mento acen­tu­ado, reg­is­trando mais de mil novos casos de infec­ta­dos por dia.

Na hora que o gov­er­nador do estado “lava as mãos” e diz que “cada um cuida de si”, o inte­rior do estado, cuja respon­s­abil­i­dade pelo con­t­role da pan­demia foi entregue aos prefeitos, não terá como con­tro­lar a pressão para que tudo volte ao “nor­mal”.

Ora, se o gov­er­nador “liberou” qual é o prefeito que terá “força” para man­ter medi­das necessárias de iso­la­mento às vésperas de eleições municipais?

Emb­ora torcendo para estar errado, temo que muitas famílias ainda perderão seus entes queri­dos antes desta tragé­dia se dis­si­par do nosso estado e do Brasil.

E, neste quadro dan­tesco, esta­mos sem cov­eiro – como disse o pres­i­dente –, e sem tutor, cada um cuidando de si – como disse o gov­er­nador –, mas como diria, diante da tragé­dia, o ex-​presidente Lula, ainda bem.

Abdon Mar­inho é advo­gado.