AbdonMarinho - PARAÍBA, SIM, SENHOR. PRECONCEITOS E FALSAS VÍTIMAS.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sexta-​feira, 22 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

PARAÍBA, SIM, SEN­HOR. PRE­CON­CEITOS E FAL­SAS VÍTIMAS.

PARAÍBA, SIM, SEN­HOR. PRE­CON­CEITOS E FAL­SAS VÍTI­MAS.

Por Abdon Marinho.

VEZ OU OUTRA me assom­bra uma per­gunta: quando nos tor­namos arremata­dos idio­tas manip­uláveis?

O fim de sem­ana que dev­e­ria ser ded­i­cado ao lazer foi tomado por um falso escân­dalo de pre­con­ceito envol­vendo o pres­i­dente da República e fal­sas víti­mas rep­re­sen­tadas pelo gov­er­nadores do Nordeste.

Estes, sobre­tudo, o do Maran­hão, valendo-​se dos recur­sos públi­cos, seja dire­ta­mente ou por meio da mídia dev­i­da­mente remu­ner­ada, tem aproveitado para “se vender” de vítima ao tempo em que reforça deter­mi­na­dos pre­con­ceitos.

A falsa polêmica tem iní­cio com uma frase do pres­i­dente da República, Jair Bol­sonaro, que disse para um min­istro em um áudio cap­tado durante um café da manhã: “Daque­les gov­er­nadores de ‘Paraíba’ o pior é o do Maran­hão. Não tem que ter nada com esse cara”.

O sen­hor Bol­sonaro – já disse diver­sas vezes –, é o maior “inimigo” de seu gov­erno, prin­ci­pal­mente pela falta de freios na lín­gua, que, como se dizia lá no sertão nordes­tino, “é o cas­tigo do corpo”. O gov­erno iria até bem se não fosse as colo­cações ou inter­venções intem­pes­ti­vas de seu coman­dante.

Mas, em relação a última frase do pres­i­dente, a quem imputam xeno­fo­bia e/​ou pre­con­ceitos, acred­ito que ambos os sen­ti­men­tos revelam-​se inseri­dos mais nas fal­sas víti­mas do que no presidente.

Expli­carei de outro modo e com um exem­plo prático.

Sem­pre que escrevo algo que o Palá­cio dos Leões não gosta aparece algum xerim­babo para ten­tar me ofender (até senti falta de ler alguma ten­ta­tiva de ofensa sobre um dos últi­mos tex­tos: “Sar­ney & Dino e o acordo que não ousa dizer o nome”), ora me chamam de alei­jado, pato manco, ora insin­uando que não tive pleitos aten­di­dos; ora que seria “viado”, etc.

Vejam que são pes­soas que, direta ou indi­re­ta­mente, recebem dos cofres públi­cos, do meu, do seu, do nosso din­heiro para “tentarem” assacar con­tra a honra alheia.

E digo “tentarem” porque em relação a minha pes­soa nada do dizem me atinge. Não vejo demérito em ser defi­ciente físico, até porque sê-​lo não depen­deu de escolha minha; com relação a supos­tos pleitos não aten­di­dos trata-​se ape­nas de uma men­tira e a insin­u­ação de “viadagem” não me atinge porque não me acho mel­hor que nen­huma pes­soa, tenha ela a situ­ação sex­ual que tenha.

Pois bem, voltando a fala do pres­i­dente, existe algo demais em ser­mos chama­dos de “paraíbas”? A caso somos mel­hores que nos­sos irmãos paraibanos, per­nam­bu­canos, cearenses, potiguares, baianos ou os ori­un­dos ou nativos de quais­quer out­ros esta­dos da fed­er­ação? O pre­con­ceito ou xeno­fo­bia é do pres­i­dente ou de quem se con­sid­era ofen­dido por ser chamado de “paraíba”?

Ade­mais há que se con­sid­erar que o termo “paraíba” encontra-​se dicionar­izado desde mea­dos do século pas­sado, servindo para des­ig­nar, em suas diver­sas acepções, de forma colo­quial o operário não qual­i­fi­cado da con­strução civil; ou, como region­al­ismo, fin­cado no Rio de Janeiro (ainda que pejo­ra­tivo), para des­ig­nação de quais­quer pes­soas ori­un­das dos esta­dos do Nordeste; ou nordes­tino.

Os “politi­ca­mente cor­re­tos” vão cen­surar os dicionários?

Assim, emb­ora, o pres­i­dente da República tente “con­ser­tar” para dizer que fez uma crítica aos dois gov­er­nadores do Nordeste (da Paraíba e do Maran­hão), acred­ito mesmo que tenha usado do region­al­ismo do seu estado para se referir a todos os gov­er­nadores.

Não foi ele que criou o termo ou o único a uti­lizar para se referir aos nordes­ti­nos em todo o Brasil, emb­ora não fique bem a um pres­i­dente da República ser “apan­hado” com este tipo de colo­cação – ainda que numa “con­versa pri­vada”.

O pres­i­dente é de todos os brasileiros jamais devendo referir-​se às pes­soas por suas ori­gens.

Por outro lado, o pre­con­ceito, ao meu sen­tir, não é dele, mas sim daque­les que se acham “ofen­di­dos” por serem referi­dos como habi­tantes de um dos esta­dos do Nordeste de povo mais aguer­rido.

Fico pen­sando o que passa pela cabeça de um paraibano: Quer dizer que ser chamado de “paraíba” é uma ofensa para os meus irmãos nordes­ti­nos?

Ainda me val­endo das aulas de inter­pre­tação de texto do ensino primário e recon­hecendo que pres­i­dente pos­sui um vício de lin­guagem: fala de forma “cor­tada”. Ainda mais numa con­versa pri­vada, seja na ver­são dele, ao dizer que refe­ria uni­ca­mente aos dois gov­er­nadores (da Paraíba e do Maran­hão), ou na inter­pre­tação da ver­são “esten­dida”, se referindo a todos os gov­er­nadores da região Nordeste, não cabe dizer – até por uma questão de hon­esti­dade int­elec­tual –, que houve uma refer­ên­cia ou “ofensa” aos mil­hões de irmãos nordes­ti­nos.

Em um ou noutro caso – dê-​se a César o que é de César –, a refer­ên­cia é feita aos gov­er­nadores: da Paraíba e do Maran­hão – ou de todos os esta­dos do Nordeste –, mas não ao povo nordestino.

A situ­ação posta, com suas inter­pre­tações apaixon­adas, faz muito pare­cer aque­las brigas infan­tis em que o menino fica provo­cando os out­ros maiores e quando leva um safanão corre para chorar debaixo da saia da mãe.

Os gov­er­nadores do Nordeste, prin­ci­pal­mente o do Maran­hão, todo dia, o dia todo, ao invés de gov­ernar, se ocupa em ten­tar “apare­cer” aí ao gan­har “atenção” corre para se vitimizar usando, covarde­mente, toda a pop­u­lação do estado como “escudo humano”.

Veja, emb­ora o pres­i­dente da República tenha dito “não tem que ter nada com esse cara”, não temos notí­cias, nestes seis meses de gov­erno, de nen­hum ato dis­crim­i­natório da parte do gov­erno fed­eral con­tra o nosso estado. Pelo con­trário, o que sabe­mos é que o pro­jeto do senador Roberto Rocha de implan­tar a Zona de Expor­tação do Maran­hão — ZEMA, avança; sabe­mos, tam­bém, que depois de anos par­al­isado, fina­mente começa a deslan­char o pro­jeto de explo­rar com­er­cial­mente o Cen­tro de Lança­mento de Alcân­tara; sabe­mos que se encon­tra em estu­dos um ramal fer­roviário lig­ando Bal­sas à fer­rovia Norte-​sul e a con­clusão desta até o Porto do Itaqui e, ainda se tem notí­cias de diver­sos out­ros pro­je­tos em anda­mento para o estado, como BR 308, indo de São Luís a Belém pelo litoral; a com­ple­men­tação da BR 402, de Bar­reir­in­has até Par­naíba – e de lá para o restante da região.

Mas há um ditado pop­u­lar – muito dito no nosso sertão –, que diz: “quem disso usa, disso cuida”, que serve muito bem para jus­ti­ficar todo esse escar­céu ence­nado pelo gov­er­nador e seus ali­a­dos, nas diver­sas mídias e redes soci­ais – além, claro, do extra­ordinário desejo de aparecer.

Não sei dos demais esta­dos do Nordeste, mas nós maran­henses acom­pan­hamos como o gov­er­nador e seus asse­clas tratam a oposição do estado (e mesmo alguns ali­a­dos), não lhes dando qual­quer “refresco”. Quem é o prefeito oposição –ou mesmo de situ­ação –, que é bem tratado pelo gov­erno? Que dep­utado de oposição tem emen­das par­la­mentares lib­er­adas? Quem não lem­bra a forma como os can­didatos de oposição nos municí­pios foram trata­dos pelo gov­erno estad­ual nas eleições de 2016? Quem não con­hece (ou já ouviu falar) na “máquina” de destruir rep­utações sob ori­en­tação do governo?

Em data recente, no Con­gresso Nacional, dois del­e­ga­dos (ou ex-​delegados) foram ouvi­dos e denun­cia­ram inves­ti­gações clan­des­ti­nas con­tra alvos escol­hi­dos pelo gov­erno, fos­sem de oposição ou mesmo ali­a­dos.

Os del­e­ga­dos con­fir­maram o que é voz cor­rente no estado.

A situ­ação da oposição no estado é tão vex­atória que na Assem­bleia Leg­isla­tiva a base gov­ernista não os deixa aprovar um requer­i­mento de infor­mação, um con­vite para um secretário ou qual­quer autori­dade, prestar algum esclarecimento.

Vejam que belo exem­plo de democ­ra­cia e republicanismo!

Mas não fica só nisso, as ações con­tra jor­nal­is­tas e blogueiros pro­postas pelo gov­er­nador e por seus secretários e adu­ladores são con­tadas às cen­te­nas, como forma de calar ou de coa­gir estes profis­sion­ais a aderirem ao gov­erno.

Noutra quadra, não é seg­redo para ninguém que sua excelên­cia, trans­for­mou o Estado do Maran­hão em “bunker” con­tra o gov­erno fed­eral, em espe­cial con­tra o pres­i­dente Bol­sonaro, não lhe recon­hecendo a vitória nas urnas, fustigando-​o dia sim e no outro tam­bém, e não per­mitindo, sequer, que foto ofi­cial do pres­i­dente da República cruze os umbrais do Palá­cio dos Leões. Que­ria ser tratado com flo­res?

Emb­ora não me cause sur­presa, o que acho em dema­sia é o fato do gov­er­nador do estado, demonstrar-​se tão valente quando se trata dos mais fra­cos, ten­tar usar, com men­ti­ras e meias ver­dades, a pop­u­lação do estado – e do Nordeste –, como escudo humano nos seus enfrenta­men­tos políticos.

Isso, sim, é uma vergonha!

No sábado, enquanto esta falsa polêmica atin­gia o seu pináculo, ouvia músi­cas diver­sas – nem pre­tendia escr­ever sobre isso –, e den­tre os artis­tas estava Alcione Nazaré, maran­hense, rad­i­cada há muito tempo no Rio de Janeiro, que tam­bém vestiu-​se de ofen­dida com o fato do pres­i­dente da República ter se referido aos nordes­ti­nos como “paraíbas”. Lembrei-​me de uma de suas músi­cas: “A Loba”, que numa de suas pas­sagens diz que “chumbo tro­cado não dói”.

A falsa polêmica é ali­men­tada pelos pre­con­ceitos dos fal­sos ofen­di­dos que acred­i­tam ser uma ofensa ser com­parado a alguém de um estado-​irmão e do próprio inter­esse de apare­cer.

No mais, somos todos “paraíbas” e nordes­ti­nos, com muito muito orgulho! Viva o Nordeste! Viva o povo brasileiro!

Abdon Mar­inho é advogado.