AbdonMarinho - BOLSONARO X HADDAD E OS RISCOS PARA A DEMOCRACIA.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sábado, 23 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

BOL­SONARO X HAD­DAD E OS RISCOS PARA A DEMOCRACIA.

BOLSONARO X HAD­DAD E OS RISCOS PARA A DEMOCRACIA.

Por Abdon Marinho.

UM ASSUNTO tem sido dis­cu­tido exaus­ti­va­mente no segundo turno desta eleição pres­i­den­cial: um suposto risco que a democ­ra­cia brasileira estaria cor­rendo com uma pos­sível eleição do dep­utado Jair Bol­sonaro, PSL, à presidên­cia da República.

São artis­tas, “int­elec­tu­ais”, inclu­sive estrangeiros, colo­cando tal infor­mação no debate politico como uma ver­dade abso­luta. O próprio can­didato Fer­nando Had­dad, PT, afir­mou tex­tual­mente ser patente esse “risco” caso o opos­i­tor seja eleito. Na mesma entre­vista deu-​nos conta que o adver­sário planeja “entre­gar” a Amazô­nia a nações estrangeiras.

E, agora, até um grupo de “juris­tas” aparece para dizer que só o can­didato Had­dad “pode garan­tir a democ­ra­cia no país”.

Con­fesso que sinto um frio na espinha quando ouço as opiniões políti­cas de quais­quer destes gru­pos: artis­tas, int­elec­tu­ais ou juris­tas, pois anal­isam os fatos a par­tir do seu con­venci­mento ide­ológico e não com base na real­i­dade prática ou histórica.

Decerto que sobraram razões para mil­hões de cidadãos/​eleitores repu­di­arem e não votarem no sen­hor Bol­sonaro. Ao longo da vida, sobre­tudo da vida política, e já se vão vinte oito anos, ele plan­tou essa repulsa.

Sobram razões porque indifer­ente a dig­nidade do cargo – e talvez valendo-​se disso –, ofendeu de forma injus­ti­fi­cada inúmeros segui­mento da nossa sociedade. Uma ligeira pesquisa nos canais de comu­ni­cação e se desco­bre ofen­sas a mul­heres, negros, indí­ge­nas, homos­sex­u­ais, etc.

São palavras chu­las, inju­riosas que não caberia a um rep­re­sen­tante do povo proferi-​las.

E foram tan­tos os momen­tos assim que o can­didato ao invés de Bol­sonaro pode­ria chamar-​se de “Boçalnaro”.

Sobram razões porque em vinte oito anos no exer­cí­cio do mandato, pouco ou nada se aproveita em bene­fí­cio da pop­u­lação, o mesmo podendo-​se se dizer em relação aos votos proferidos.

Sobram razões porque é patente a falta de preparo do candidato.

Pois bem, com tan­tos motivos seus adver­sários e/​ou detra­tores não dev­e­riam valer-​se de um que, a meu sen­tir, é falso. Qual seja, que um provável gov­erno do sen­hor Bol­sonaro rep­re­senta um risco a democ­ra­cia no país.

Quando vejo tanta gente impor­tante, artis­tas, int­elec­tu­ais, juris­tas, pes­soas por quem se tem algum tipo de con­sid­er­ação dizendo tamanha tolice passo a duvi­dar se, de fato, são mere­ce­do­ras do respeito que os brasileiros lhes devotam.

Qual risco corre a democ­ra­cia com a eleição do sen­hor Bol­sonaro? Nen­hum. Acaso acham que ele iria pro­mover um golpe de estado? Com quem?

Não faz muito sen­tido isso. Aliás não faz nen­hum sen­tido.

E, em que pese suas pro­postas de gov­erno serem mais um aglom­er­ado de intenções, se imple­men­tadas cam­inha jus­ta­mente em sen­tido inverso, tem um aspecto nacional­ista, coloca de forma clara a questão da pro­teção às fron­teiras nacionais.

Além do mais, temos um con­junto de insti­tu­ições con­sol­i­dadas. Um Poder Leg­isla­tivo ren­o­vado além das expec­ta­ti­vas; um Poder Judi­ciário atu­ante; um Min­istério Público ativo; sem con­tar com as Forças Armadas que, em qual­quer out­ros momento da história, se mostrou tão con­sciente do seu papel insti­tu­cional quanto agora.

Outro detalhe que depõe con­tra a falsa imputação de “risco a democ­ra­cia” é a pro­posta do can­didato de facil­i­tar o acesso às armas para a pop­u­lação civil. Em lugar algum, em nen­hum momento da história alguém que plane­jou “aten­tar” con­tra a democ­ra­cia facil­i­tou acesso às armas a pop­u­lação civil é o con­trário.

Isso é bem fácil de com­preen­der: quem quer tomar – e man­ter o poder indefinida­mente –, pre­cisa de uma pop­u­lação vul­nerável, inca­paz de defender-​se por si pois esta poderá e dev­erá rebelar-​se con­tra um poder total­itário.

Um cotejo entre as pro­postas dos dois can­didatos, o que se percebe é que a pro­posta do sen­hor Had­dad, esta sim, tem cunho bem mais anti­democrático.

O que só con­firma o ensi­na­mento de papai: “med­i­mos os out­ros pela nossa trena”.

Na plataforma do can­didato petista con­sta a pro­posta de uma nova con­sti­tu­inte; uma reforma do poder judi­ciário para torná-​lo “mais democrático”; reforma dos tri­bunais de con­tas; “democ­ra­ti­za­ção” dos meios de comu­ni­cação, etc. Con­sta ainda a chamada inte­gração sul-​americana, sul-​sul, que nada mais é que um bio­mbo para con­tin­uar o apoio aos san­guinários regimes total­itários, como fiz­eram com Cuba, com a Venezuela, com a Nicarágua, com a Cor­eia do Norte e diver­sas ditaduras africanas, inclu­sive fornecendo-​lhes apoio finan­ceiro, recur­sos públi­cos que dev­e­riam ser investi­dos no Brasil, na redução das desigual­dades soci­ais.

O mote das pro­posta do can­didato petista é o que chamam de “democ­ra­ti­za­ção das insti­tu­ições”, o que nos leva a crer que acima das insti­tu­ições do Estado e até mesmo inseri­das nelas, estaria a sociedade fis­cal­izando e con­trolando, através de inúmeros con­sel­hos pop­u­lares.

Quem não é acos­tu­mado com isso imag­ina tratar-​se de algo muito bom, quanto mais “povo” no con­t­role mel­hor. Não é bem assim. Isso que chamam de con­t­role social de tudo, na ver­dade, é feito por movi­men­tos, cole­tivos soci­ais, sem­pre con­tro­la­dos e manip­u­la­dos pelos que estão no poder.

O roteiro da pro­posta de gov­erno do sen­hor Had­dad não é orig­i­nal, é uma cópia do que foi implan­tado na Venezuela, cujo os resul­ta­dos todos esta­mos assistindo. Con­siste no apar­el­hamento da máquina pública, das insti­tu­ições e assim, usando instru­men­tos próprios da democ­ra­cia, destruí-​la.

Não é novo porque já assis­ti­mos o apar­el­hamento da máquina pública e das insti­tu­ições nos treze anos em que o Par­tido dos Tra­bal­hadores — PT, esteve à frente dos des­ti­nos da nação.

Um novo gov­erno petista será a con­tinuidade deste propósito.

E ninguém pode se con­sid­erar enganado, o pro­grama de gov­erno do sen­hor Had­dad esta­b­elece, com todas as letras as pre­mis­sas de um gov­erno nos moldes do implan­tado na Venezuela.

Não bas­tasse con­star no plano de gov­erno, tam­bém foi dito de forma categórica pelo sen­hor José Dirceu que o plano deles não é ape­nas gan­har as eleições e sim “tomar o poder”.

Alguém duvida que o sen­hor Dirceu será figura de proa num gov­erno petista? Alguém duvida que ele exerce uma influên­cia até maior que a do ex-​presidente Lula junto ao par­tido? Alguém duvida que, caso eleitos, não ten­tarão “tomar o poder”, como já foi con­fes­sado pelo sen­hor Dirceu?

Os que acred­i­tam que um gov­erno do sen­hor Had­dad é o único capaz de garan­tir a democ­ra­cia brasileira estão com­ple­ta­mente desconec­ta­dos da real­i­dade. É jus­ta­mente o contrário.

Caso seja eleito o can­didato petista eles “tomarão” o poder, porque pre­cis­arão fazer isso. Eles pre­cis­arão romper com a ordem insti­tu­cional para soltar o comando par­tidário que está preso e tam­bém os que estão em vias de sê-​lo.

Será que alguém acred­ita que o sen­hor Dirceu, num gov­erno petista, vai querer ir para pen­i­ten­ciária cumprir os seus mais de trinta anos de cana? Que o primeiro ato do sen­hor Had­dad não será anis­tiar o sen­hor Lula e os demais encar­cer­a­dos? Não será impedir o prossegui­mento das inves­ti­gações e a con­tinuidade dos processo que poderão esten­der ainda mais suas penas?

Ora, só será pos­sível fazer isso com a rup­tura da ordem democrática e insti­tu­cional. E no caso petista, difer­ente­mente do que pode­ria acon­te­cer num gov­erno Bol­sonaro, é bem mais fácil, pois ainda hoje a máquina pública e as insti­tu­ições estão “coal­hadas” de seus inte­grantes que foram “apar­el­hando” o Estado nos últi­mos anos.

A tomada do poder com a rup­tura da ordem democrática é o plano do petismo para se rein­serir e se man­ter no poder com seu pro­jeto crim­i­noso. Não é sem razão que até hoje, depois de tudo que foi rev­e­lado para a pop­u­lação, grande parte dos crimes cometi­dos expos­tos (será impos­sível desco­brir tudo), nunca assumi­ram nada, nunca fiz­eram uma “mea culpa”, pelo con­trário, se acham víti­mas, se acham injustiça­dos, enten­dem que o povo brasileiro ainda não atingiu o nível int­elec­tual de com­preen­der a cor­rupção como uma prática aceitável de gov­erno em nome da “causa maior”.

Assim, pelas razões expostas acima, entendo que se o critério para escolha do diri­gente da nação, for por conta “risco à democ­ra­cia”, a opção cor­reta não é a can­di­datura petista.

Se há algum risco à ordem democrática, acred­ito que o risco maior vem da can­di­datura do Par­tido dos Tra­bal­hadores – PT, tanto pelo que já viven­ci­amos, como tam­bém, pelo que con­sta no seu plano de governo.

O que restou aos cidadãos foi uma espé­cie de “escolha de Sofia” entre o que de pior qual­i­dade poderíamos optar: chance­lar a can­di­datura sem rumo do PSL ou ceder à chan­tagem do pro­jeto crim­i­noso do PT ou enten­der a neu­tral­i­dade como uma posição política aceitável.

Deus tenha piedade do Brasil e dos brasileiros.

Abdon Mar­inho é advo­gado.