AbdonMarinho - ELEIÇÕES, CONSCIÊNCIA E “DERROTAS”.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sábado, 23 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

ELEIÇÕES, CON­SCIÊN­CIA E “DERROTAS”.

ELEIÇÕES, CON­SCIÊN­CIA E “DER­RO­TAS.

Por Abdon Marinho.

DESDE menino que a política faz parte da minha vida. Já em 1982, ainda cri­ança, tive par­tic­i­pação nas eleições daquele ano.

Com mal ou bem vivi­dos cinquenta, exper­i­mentei mais der­ro­tas que vitórias. Posso dizer, entre­tanto, que as der­ro­tas mais doí­das foram aque­las que gan­hei.

Certa vez, um amigo que acom­panha, ao menos em parte, essa história, indagou-​me se não me inco­mo­dava em, quase sem­pre, escol­her o “lado errado”.

Respondi-​lhe que não, pois na ver­dade minha escol­has se davam por aquilo que, segundo o meu entendi­mento, eram as mel­hores opções para o país, o estado ou o municí­pio; que o impor­tante para mim era ter a con­sciên­cia de ter feito a coisa certa.

E é assim que penso, pior que fazer a escolha “errada” é fazer a escolha “certa”, não por ser a mel­hor opção para o bem comum, para a nação, estado ou municí­pio, mas sim pela con­veniên­cia de escol­her aquele que a eleição se apre­sente mais fácil, mesmo sabendo que se trata de um escroque, um cor­rupto que está imbuído dos piores propósi­tos.

Faço a escolha de ficar em paz com a minha con­sciên­cia, com aquilo que acred­ito ser o cor­reto, ético e das quais não tenha que me enver­gonhar depois (e devo dizer que fiz escolha que me envergonharam).

Um dis­cur­sos dos mais emo­cio­nantes do Senado da República foi pro­ferido pelo bril­hante senador ama­zo­nense Jef­fer­son Peres, lá pelos idos de 2006.

Naquela opor­tu­nidade o senador descorti­nava toda a cor­rupção trazida a público pelo chamado escân­dalo do “Men­salão Petista”. E refle­tia dizendo que a despeito disso, de toda a cor­rupção exposta o ex-​presidente de então, Sen­hor Luís Iná­cio Lula da Silva, apare­cia nas pesquisas de intenção de votos como favorito.

O senador dizia que o can­didato a reeleição pode­ria ter quase a total­i­dade dos votos dos brasileiros, mas não o dele.

Foi neste dis­curso que aquele grande brasileiro (não na estru­tura física, mas no caráter) anun­ciou que não mais seria can­didato, tal o nojo que tomara da política brasileira, tal a decepção que lhe acome­tia. Daquele dis­curso até sua morte o senador vive­ria pouco menos de dois anos.

As proféti­cas palavras do senador foram igno­radas pelos eleitores que reelegeram o ex-​presidente para mais um mandato emb­ora sabendo (e par­tic­i­pando, sabe-​se hoje) de toda a ban­dal­heira ocor­rida em seu gov­erno.

Já naquela opor­tu­nidade qual­quer pesquisa ou enquete dava conta que a pop­u­lação tinha con­hec­i­mento que o ex-​presidente era sabedor de toda a cor­rupção exis­tente no seu gov­erno e ainda assim preferiu elegê-​lo e o resul­tado daquele desac­erto de 2006 todos con­hece­mos hoje. Naquele histórico dis­curso o senador Peres crit­i­cava a sociedade, o povo, os eleitores e tam­bém classe artís­tica e int­elec­tual que se mostrava conivente e aceitava de bom grado a cor­rupção como estraté­gia de poder prat­i­cada pelo ex-​presidente Lula e a quadrilha que instalou no poder, desde que lá chegou, no já longín­quo ano de 2003.

Essa mesma sociedade, esse mesmo povo, os mes­mos artis­tas e pseudo-​intelectuais que ainda hoje – como fiz­eram naquele 2006 –, fin­gem que nada de errado acon­te­ceu com este país nos des­gov­er­nos de Lula e Dilma, que a política é mesmo esse pân­tano fétido e que é “líc­ito” aos políti­cos meterem a mão na “merda”, con­forme disse um destes artis­tas num show em apoio ao ex-​presidente Lula naquela opor­tu­nidade.

No pleito de 2006, como em diver­sos out­ros fiz a opção de “votar errado”, escolhi o can­didato que seria der­ro­tado por mais de sessenta por cento dos eleitores, pela classe artista e pelos “int­elec­tu­ais”, os “bonzinhos”.

Mas, olhando para trás, será que fui eu o “errado”? Será que não teríamos evi­tado todos os males que ocor­reram no país na última década, se em 2006 a maio­ria do povo brasileiro não tivesse escol­hido um pro­jeto político que já sabia car­co­mido pela cor­rupção? Será que não estaríamos bem mel­hores se tivésse­mos dado um “basta” na cor­rupção naquele momento?

Hoje assisto as pes­soas se per­guntarem como cheg­amos a esse nível de ban­dalha, a esse nível de rad­i­cal­iza­ção, a esse nível de deses­per­ança. Como? Explico: foi em 2006, quando a maio­ria da pop­u­lação eleitora ape­sar de aler­tada resolveu “fin­gir” acred­i­tar que o ex-​presidente Lula era inocente e votar nele para con­tin­uar um pro­jeto crim­i­noso de poder. Ou, pior que isso, resolveu que era “nor­mal” a cor­rupção fazer parte da vida cotid­i­ana da sociedade.

Acon­tece que os eleitores não fiz­eram isso ape­nas porque os “artis­tas” ou “int­elec­tu­ais” pedi­ram, dis­seram que o país estava no cam­inho certo. Não. Fiz­eram porque são indifer­entes aos males da cor­rupção desde que tirem alguma van­tagem, desde que rece­bam a bolsa disso, daquilo, ou uma esmola de algum político safado.

A prova maior disso é que ainda hoje con­tin­uam a votarem em políti­cos que são “cor­rup­tos de nascença”.

Isso mesmo, não escol­hem alguém que depois de eleito virou cor­rupto, nada disso, escol­hem aque­les que sabem serem cor­rup­tos desde sem­pre, que em tudo que fiz­eram foi com o propósito de roubar, desviar, tirar algum proveito próprio.

A sociedade, os eleitores sabem quem são eles, con­hecem as for­tu­nas que são feitas da noite para o dia, como num passé de mág­ica. Mas aceitam, e até acham “bonito” que fulano que nunca tra­bal­hou, nunca enfiou um “prego numa barra de sabão” vire mil­ionário roubando o din­heiro da escola que falta aos seus fil­hos, o posto de saúde que pode­ria socorrê-​los numa emergên­cia, na estrada que os levaria a algum lugar, etc. acham bonito que esses recur­sos virem a for­tuna dos seus rep­re­sentes.

O Brasil escol­heu e escolhe a cada pleito sua própria des­graça.

Não, não tenho receio de “perder meu voto” escol­hendo aque­les que acred­ito mais prepara­dos, mais hon­estos e com­pro­meti­dos com o inter­esse público. Infe­liz­mente, estes estão cada vez mais raros.

A minha con­sciên­cia impõe que pre­fira a “der­rota” à cumpli­ci­dade. É o que penso.

Abdon Mar­inho é advo­gado.