AbdonMarinho - PRESSÃO SOBRE A IMPRENSA É ATENTADO À LIBERDADE E A DEMOCRACIA.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sábado, 23 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

PRESSÃO SOBRE A IMPRENSA É ATEN­TADO À LIBER­DADE E A DEMOCRACIA.

PRESSÃO SOBRE A IMPRENSA É ATEN­TADO À LIBER­DADE E A DEMOC­RA­CIA.

Por Abdon Mar­inho.

ASSUSTOU-​ME a infor­mação de um único veículo de comu­ni­cação já responde a 18 ações, nas várias áreas, movi­das, ou pelo gov­er­nador Flávio Dino ou pelo gov­erno que rep­re­senta. Fiquei mais assus­tado, ainda, ao saber que além das ações movi­das con­tra a empresa, no caso a Grá­fica Esco­lar que edita o Jor­nal “O Estado do Maran­hão”, uma empresa sól­ida e orga­ni­zada, que pos­sui um corpo jurídico com­pe­tente próprio, a “fúria” poli­cialesca intim­i­datória alcança, tam­bém, diver­sos cidadãos que exercem a profis­são de jor­nal­ista e/​ou blogueiros que, sem firma e corpo jurídico próprio, têm que se defend­erem pes­soal­mente arcando com as despe­sas com advogados.

Após tomar con­hec­i­mento da matéria de “O Estado do Maran­hão” e do repú­dio da enti­dade que rep­re­senta os meios de comu­ni­cação, falei com um jornalista/​blogueiro sobre o quanto aquilo me escan­dal­izava, ao que ele, pronta­mente, retru­cou: — Doutor, eu soz­inho respondo quase isso.

Tendo por base esta afir­ma­tiva, há de se cog­i­tar estar­mos falando de mais de uma cen­tena de ações con­tra a liber­dade de imprensa ou de opinião.

Ainda que fosse uma, sem moti­vação, estaria a rev­e­lar um com­por­ta­mento incom­patível com os ideais democráti­cos.

Não con­sigo enten­der o obje­tivo de tamanha perseguição à imprensa e/​ou jornalistas/​blogueiros, pois, estou certo, tan­tas ações têm o propósito, não ape­nas de estran­gu­lar finan­ceira­mente empre­sas e jor­nal­is­tas, como tam­bém, além de lhes tirar o tempo necessário ao desem­penho de suas atribuições, intim­i­dar para que não denun­ciem o que enten­dem como errado.

Além, claro, do caráter intim­i­datório, referido acima, foge à minha com­preen­são este mod­elo de polit­ica repres­siva, sobre­tudo, ori­unda de um gov­erno que tenta pas­sar à opinião pública brasileira (não ape­nas maran­hense) uma per­feita sin­to­nia com a modernidade.

Ainda mais, porque não há razão para se implan­tar um mod­elo repres­sivo como se ainda estivésse­mos no século pas­sado.

Senão, vejamos: o gov­erno dis­põe – e disponi­bi­liza –, uma pequena for­tuna para “vender” seu peixe, onde aquela que dev­e­ria ser a pro­pa­ganda insti­tu­cional, em muito – ou em quase tudo –, se assemelha à pro­pa­ganda de cunho politico e eleitoral.

Sabe-​se, ainda, que uma outra pequena for­tuna é des­ti­nada ape­nas para cuidar da imagem do gov­er­nador por uma empresa do centro-​sul do país. E, por fim, mais recen­te­mente, tomamos con­hec­i­mento de um con­trato próx­imo da casa de mil­hão ape­nas para admin­is­trar, operar e difundir pro­pa­ganda pos­i­tiva do gov­erno nas redes soci­ais, pre­cisa­mente através do WhatsApp.

Além de tudo acima existe uma “rede” de jornalistas/​blogueiros remu­ner­a­dos – ou por “con­venci­mento” ide­ológico –, que pas­sam dias e noites tra­bal­hando no sen­tido de enal­te­cer o atual gov­er­nador e a desmere­cer os seus adver­sários, muitas das vezes sem se pre­ocu­parem com fato de estarem divul­gando fatos ver­dadeiros ou men­tirosos o que, nos dias de hoje, pas­sou a chamar-​se de «fakes news».

Isso, sem con­tar os fun­cionários do estado, den­tre os quais o gov­er­nador, que “gas­tam” muito do tempo que con­tribuintes pagam para cuidarem dos inter­esses da pop­u­lação se pro­movendo ou, quando não, divul­gando ou repro­duzindo men­ti­ras nas redes sociais.

Não faz muito vi numa rede do próprio gov­er­nador a difusão de uma deslavada men­tira: que o grupo adver­sário – e ele cita os nomes das famílias – estaria con­tra a con­strução de uma ponte lig­ando dois municí­pios da Baix­ada Maran­hense.

A moti­vação da “fake news”, porque um dos par­tidos que lhe faz oposição reclamou do uso eleitoral da obra, ou seja, que até o trans­porte do mate­r­ial estava sendo usado como out­door gigantes pelas vias do estado num claro favorec­i­mento e dese­qui­líbrio do pleito.

Ora, onde estar a ver­dade de que tal recla­mação – ou out­ras de igual sen­tido –, tem o condão de impedir ou obstar a real­iza­ção desta ou de qual­quer outra obra?

Trata-​se, por óbvio de uma men­tira deslavada, que é repro­duzida por toda mídia ali­ada e pelos adu­ladores de plan­tão que não se pre­ocu­pam com a veraci­dade do que divul­gam. Chega a ser espantoso.

E, o mais grave, uma men­tira que tem origem na rede social do próprio gov­er­nador, do man­datário maior do estado. Vamos com­bi­nar: não fica bem, é coisa de “menino do buchão” – e, sabe-​se só a última parte da sen­tença é verdadeira.

Os cidadãos de bem, temos o dever moral de protes­tar con­tra este tipo de com­por­ta­mento da parte do sen­hor gov­er­nador que é “nosso fun­cionário”, seja por não ficar bem a difusão de men­ti­ras por quem quer que seja; seja pela dig­nidade do cargo que ocupa.

Assim como temos o dever de nos colo­car­mos con­tra a insidiosa e abu­siva cam­panha intim­i­datória posta em prática con­tra os veícu­los de comu­ni­cação jornalistas/​blogueiros inde­pen­dentes e/​ou qual­quer cidadão que exponha seus pon­tos de vis­tas, man­tida ou não, com recur­sos públi­cos, mas, de qual­quer modo, com claro abuso de poder politico.

Não é razoável que um gov­er­nador de estado, secretários e o próprio ente Estado travem uma especie de. “Cruzada” con­tra todas as opiniões que lhes são con­trárias, quando pos­suem recur­sos – inclu­sive públi­cos –, e meios sufi­cientes para fazer difundir seu tra­balho para a sociedade.

Não há neces­si­dade de se valer da intim­i­dação e da difusão de infor­mações fal­sas.

Além de ser antiético, incor­reto e imoral como meu pai já dizia: é feio. E fica mais feio quando se sabe o atual gov­erno foi eleito com a promessa de novas práti­cas, uma nova era de paz, respeito, liber­dade e democ­ra­cia. Algo total­mente difer­ente do que se crit­i­cava no gov­erno ante­rior.

Mas, diante de tudo isso que esta­mos assistindo, não temos como nos fur­tar a fazer um para­lelo entre as atu­ais práti­cas e o que se assis­tiu em gestões ante­ri­ores, e forçoso recon­hecer que nunca cheg­amos nem perto de tan­tas práti­cas nefas­tas.

O grupo Sar­ney a quem se atribui o poder de mando no estado por quase cinco décadas pro­moveu ações con­tra a imprensa e con­tra jor­nal­is­tas, como por exem­plo as pro­postas con­tra o Jor­nal Pequeno e seus jor­nal­is­tas e edi­tores ou con­tra o Jor­nal “O Estadão” – sob cen­sura por conta de uma ação há quase uma década –, entre­tanto, arrisco dizer, nes­tas décadas todas o número das ações pro­postas é infe­rior ao número de ações pro­postas pelos atu­ais donatários do poder em ape­nas três anos e meio de poder.

Noutras palavras, o grupo Sar­ney, rep­re­sen­tante do que se habituou chamar de a der­radeira oli­gar­quia nordes­tina em com­para­ção com o “novo” e “mod­erno” gov­erno, revelou-​se infini­ta­mente mais tol­er­ante à liber­dade de expressão, às críti­cas e ao dis­senso que deve exi­s­tir e coex­i­s­tir em toda sociedade plural. E, temos que recon­hecer, gov­ernaram sob sev­eras críti­cas de opos­i­tores e da imprensa.

A própria ex-​governadora Roseana Sar­ney, que coman­dou o estado por quase uma década e meia, sob ásperas críti­cas que, muitas das vezes, invadi­ram sua vida pes­soal, não reg­is­tramos – pelo menos não é do meu con­hec­i­mento –, ações cíveis e penais, como as que vemos hoje, ten­dentes a calar e a amor­daçar veícu­los de comu­ni­cação e jor­nal­is­tas.

Não tenho dúvi­das que o abuso con­sis­tente na proposi­tura de tan­tas ações judi­ci­ais con­tra jornalistas/​blogueiros e con­tra os meios de comu­ni­cação ferem Con­sti­tu­ição Fed­eral e, cer­ta­mente, serão cen­suradas pela justiça, seja nas instân­cias ordinárias, seja nas instân­cias superiores.

O dire­ito à liber­dade de imprensa e expressão, aliás, são assun­tos paci­fi­ca­dos na nossa Suprema Corte.

Por ocasião de um sem­i­nário sobre os 30 anos da Con­sti­tu­ição e a liber­dade de imprensa, a pres­i­dente do STF pon­tif­i­cou, den­tre out­ras coisas: “— Sem a imprensa livre, a Justiça não fun­ciona bem, o Estado não fun­ciona bem”, «todo cen­sor é um pequeno dita­dor» e, ainda: “— Quem não tem dire­ito livre à própria liber­dade de expressão não tem garan­tia de qual­quer outro dire­ito, porque palavra é a expressão da sua alma, do seu pen­sa­mento”.

Espe­cial­mente neste tema, o posi­ciona­mento da pres­i­dente da Corte foi ref­er­en­dado por todos os min­istros que a com­põe, con­forme demostrado no jul­ga­mento da Ação Direta de Incon­sti­tu­cional­i­dade nº. 4451, movida pela Asso­ci­ação Brasileira de Emis­so­ras de Rádio e TV (Abert) ques­tion­ava a incon­sti­tu­cional­i­dade de dis­pos­i­tivos da lei 9.504, de 1997, que impe­dem as emis­so­ras de rádio e tele­visão de fazer trucagem, mon­tagem ou sáti­ras com can­didatos durante o período eleitoral.

No jul­ga­mento, por una­n­im­i­dade, o STF decidiu pela incon­sti­tu­cional­i­dade dos tre­chos da lei que proibia a sátira aos can­didatos, assen­tando os min­istros: «Entendo que nos dis­pos­i­tivos impug­na­dos está pre­sente o traço mar­cante da cen­sura prévia, com seu caráter pre­ven­tivo e abstrato. […] Quem não quer ser crit­i­cado, que não quer ser sat­i­rizado, fica em casa, não seja can­didato». – Alexan­dre de Moraes; «Faço “dis­crimen» entre liber­dade de expressão e pro­pa­ganda eleitoral sabida­mente inverídica e que causa dano irreparável aos play­ers. Se o voto deve ser livre, não podemos chance­lar notí­cias sabida­mente inverídi­cas, que viral­izam em tempo recorde, sob o pálio da liber­dade de expressão» – Luiz Fux; por sua vez, o min­istro Celso de Mello afir­mou: «O riso e humor expressões de estí­mulo à prática con­sciente da cidada­nia e ao livre exer­cí­cio da par­tic­i­pação política. O riso e o humor são trans­for­madores, são ren­o­vadores, são sau­dav­el­mente sub­ver­sivos, são esclare­ce­dores, são rev­e­ladores. É por isso que são temi­dos pelos deten­tores do poder». O min­istro Gilmar Mendes, con­cor­dando com decano, assen­tou: «Muitas repro­du­toras de tele­visão nos esta­dos estão em mãos de famílias de políti­cos. Cer­ta­mente tem um dire­ciona­mento e pode ocor­rer. Ou que uma ori­en­tação edi­to­r­ial leve a fazer um noti­ciário mas­si­va­mente con­tra um deter­mi­nado can­didato. Aqui há o bom e fun­da­men­tal dire­ito de resposta”.

São posições con­tun­dentes que traduzem, per se, a reprovação ao que vem ocor­rendo no Maran­hão, onde os diri­gentes do estado, a começar pela mais alta autori­dade, tenta calar a imprensa e a crítica lícita e, ao mesmo tempo, se ocupa em pro­duzir e a difundir infor­mações fal­sas con­tra seus opos­i­tores reais ou imaginários.

Abdon Mar­inho é advo­gado.