AbdonMarinho - VIVEMOS O FRACASSO DAS IDEOLOGIAS PARTIDÁRIAS?
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sábado, 23 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

VIVE­MOS O FRA­CASSO DAS IDE­OLO­GIAS PARTIDÁRIAS?

VIVE­MOS O FRA­CASSO DAS IDE­OLO­GIAS PARTIDÁRIAS?

Por Abdon Marinho.

poucos dias escrevi o texto “A RESPON­S­ABIL­I­DADE DOS PAR­TIDOS NA SOLUÇÃO DA CRISE”. O ponto de par­tida do texto era, naquele momento, a suposição de uma pos­sível “adesão» do Par­tido Democ­ratas – DEM ao gov­erno do Par­tido Comu­nista do Brasil – PCdoB, no Maran­hão, sug­erida pelas diver­sas mídias.

Colo­cava o quanto seria esdrúx­ula tal adesão, col­i­gação ou par­tic­i­pação no gov­erno, uma vez que são par­tidos histórica e doutri­nar­i­a­mente opos­i­tores. Frisava bem que não eram par­tidos que pos­suíam divergên­cias aqui e ali, mas, sim, que eram par­tidos que se opunha em tudo, desde à visão de sociedade e gov­erno ao posi­ciona­mento do país em relação a out­ras nações.

Os dias que se seguiram à pub­li­cação do texto vieram a con­fir­mar que suposição de união entre as duas agremi­ações opo­nentes não era ape­nas cortina de fumaça, o próprio pres­i­dente do DEM, no estado, con­fir­mou a união e uma pos­sível col­i­gação para o pleito que se aviz­inha, e o par­tido já pas­sava a par­tir de então, a ocu­par espaços no gov­erno comunista.

A união de democ­ratas e comu­nistas chamou-​me mais a atenção por se tratar de uma já, pub­li­ca­mente, anun­ci­ada aliança eleitoral para as eleições de 2018, na qual os par­tidos em questão, irão par­til­har a chapa majoritária ao gov­erno, como gov­er­nador e vice ou senador.

Antes dele, porém, já tin­ham aderido ao gov­erno comu­nista do Maran­hão, agremi­ações como o Par­tido Pro­gres­sista – PP, o Par­tido Repub­li­cano Brasileiro – PRB, entre out­ros. Estes, entre­tanto, não declararam, ainda, aliança para fins eleitorais.

A citação que faço de ape­nas estes três ocorre por serem par­tidos cujos ideários, em tudo, se opõem à dout­rina comunista.

Logo que publiquei aquele texto um amigo, muito querido, por sinal, sug­eriu que a referida união se dava mais por afinidades de cunho social e pes­soal do que par­tidária. Indo além, chamou a atenção para o momento de mudanças pro­fun­das em que vive­mos e quem sabe, como dis­cursão, a super­ação da fase dos par­tidos políticos.

A proposição deste amigo seria o esta­b­elec­i­mento e definição de cer­tas ideias as quais os “políti­cos» que aderis­sem seriam obri­ga­dos a adotar.

Neste ponto eu o atal­hei para dizer que a ideia de par­tidos políti­cos é jus­ta­mente essa: a adesão de um grupo de cidadãos a um con­junto de ideias, mais ou menos comuns, a todos os inte­grantes da agremi­ação as quais os mes­mos, ao se fil­iarem e a se can­di­datarem, pelas leg­en­das, se obrigam a seguir.

A dis­cussão são não deixa de ser inter­es­sante, sobre­tudo, quando se dis­cute, com maior inten­si­dade e urgên­cia, uma reforma política, a questão do voto dis­tri­tal misto (ou puro) e, mesmo, a questão das can­di­dat­uras avulsas.

Ape­sar disso tenho min­has inquietações.

Ora, se o cidadão estar em acordo com o pro­grama de gov­erno e seu pen­sa­mento se aprox­ima do ideário dos lib­erais por que não se fil­iar no par­tido que defende estas ideias? O mesmo ocor­rendo se estiver de acordo com o pro­grama de gov­erno e ideário dos comu­nistas, quando deve procu­rar fil­i­ação junto a esta ou out­ras leg­en­das que comungam com tais ideias. O exem­plo é ape­nas para citar exem­p­los de par­tidos com posições opostas.

O que me parece incon­gru­ente, a ponto de ques­tionar sobre o fra­casso das ide­olo­gias par­tidárias, é ter­mos leg­en­das cujo os pro­gra­mas se chocam – e estão em plena oposição doutrinárias –, faz­erem alianças e se col­i­garem para dis­putar eleições como se defend­essem ideias comuns.

Nada impede que pes­soas que comungam de deter­mi­nadas ideias se fil­iem aque­las agremi­ações que as defende ou pelo menos àque­las com ideias aproximadas.

Por isso mesmo, entendo, serem inad­mis­síveis a col­i­gação de leg­en­das que não par­til­ham do mesmo con­junto de ideias. Ou, pior, que defen­dem ideias antagônicas.

Em ver­dade, ao meu sen­tir, trata-​se de uma fraude à von­tade do eleitor e um desserviço a poli­ti­za­ção dos cidadãos, sobre­tudo, no nosso país, em que a classe política parece «tão igual”, prin­ci­pal­mente, nos maus costumes.

Quando vejo esse tipo de aliança fico imag­i­nando: será que a pre­ten­são é con­fundir, ainda mais, o já descrente eleitor, passando-​lhe a ideia de que par­tidos e políti­cos são todos iguais? Se esta, estão con­seguindo e colo­cando em risco a democ­ra­cia brasileira.

A sen­sação de fraude aos cidadãos se amplia, quando sabe­mos que os par­tidos recebem, anual­mente, ver­dadeiras fábu­las, mil­hões e mil­hões de reais do Fundo Par­tidário – recur­sos públi­cos –, para, den­tre out­ras coisas, aplicar na pro­pa­ganda doutrinária e política (art. 44, II, da Lei 90961995).

Só no ano pas­sado foram quase R$ 700 mil­hões de reais. Todo ano é isso.

Para este ano eleitoral, além dos recur­sos do Fundo par­tidário, no valor esti­mando acima, terão mais, aprox­i­mada­mente, R$ 1,7 bil­hão (Um bil­hão e sete­cen­tos mil­hões de reais) para inve­stirem nas cam­pan­has de seus candidatos.

Esta din­heirama toda é rateada, con­forme a rep­re­sen­tação na Câmara dos Dep­uta­dos, para que con­vençam os cidadãos que as ideias que defen­dem seus can­didatos, sub­meti­das ao ideário par­tidário, são as mel­hores para o país, para o estado e serão postas em prática com a ajuda de suas rep­re­sen­tações nas casas dos parlamentos.

Que pro­grama irão exe­cu­tar se a eleição foi ven­cida por agremi­ações col­i­gadas cujo ideários se opõem e no sis­tema pro­por­cional os votos dos col­i­ga­dos definem as vagas?

A Lei Orgânica dos Par­tidos Políti­cos já no seu artigo ini­cial define bem a que se des­ti­nam os par­tidos: «Art. 1º O par­tido político, pes­soa jurídica de dire­ito pri­vado, destina-​se a asse­gu­rar, no inter­esse do régime democrático, a aut­en­ti­ci­dade do sis­tema rep­re­sen­ta­tivo e a defender os dire­itos fun­da­men­tais definidos na Con­sti­tu­ição Federal.”

Mais à frente, na esteira do que esta­b­elece a Con­sti­tu­ição Fed­eral, assenta: «Art. 5º A ação do par­tido tem caráter nacional e é exer­cida de acordo com seu estatuto e pro­grama, sem sub­or­di­nação a enti­dades ou gov­er­nos estrangeiros.”

Resta claro que par­tidos têm a respon­s­abil­i­dade de darem aut­en­ti­ci­dade ao sis­tema rep­re­sen­ta­tivo e a defend­erem os dire­itos fun­da­men­tais estatuí­dos pela Carta Con­sti­tu­cional. Porém essa ação/​atuação deve ter caráter nacional e ser exer­cida de acordo com o seu estatuto e programa.

Dito isso, tenho que os par­tidos pos­suem um “con­trato» com a nação brasileira: preenchi­dos deter­mi­na­dos critérios, pré-​estabelecidos, podem se orga­ni­zar livre­mente e con­ferirem a aut­en­ti­ci­dade do sis­tema rep­re­sen­ta­tivo, pro­movendo a defesa dos dire­itos fun­da­men­tais, entre­tanto, essa «pre­rrog­a­tiva” deve ser exer­cida por uma ação de caráter nacional e de acordo com os estatu­tos e pro­gra­mas de cada partido.

Não é sem razão que tais estatu­tos e pro­gra­mas devem ser reg­istra­dos junto à Justiça Eleitoral, para que esta autor­ize seu fun­ciona­mento, o que prova a natureza “con­trat­ual» da relação.

Assim, entendo, não ser pos­sível que uma agremi­ação receba recur­sos públi­cos (fundo par­tidário e fundo para as cam­pan­has) para defend­erem deter­mi­nadas posições nacionais – nos ter­mos dos seus estatu­tos e pro­gra­mas – , e, con­comi­tante a isso, nos esta­dos, este­jam col­i­gadas ou apoiando posições opostas aque­las reg­istradas per­ante a Justiça Eleitoral.

Na ver­dade, entendo, impos­síveis tais col­i­gações ou adesões, mesmo que estas ocor­ram no plano nacional. Vale dizer, par­tidos que pos­suam pro­gra­mas opos­tos, não podem, com din­heiro público – ou mesmo com recur­sos próprios –, se col­i­garem pois incor­re­riam em fraude con­tra o eleitor.

Admi­tir que os par­tidos políti­cos, que têm recon­hecido papel na orga­ni­za­ção do Estado, ajam por con­veniên­cia e em desacordo com seus pro­gra­mas e ideários, ou faça deles tábua rasa, é colo­car em risco a própria democ­ra­cia e, por con­seguinte, o Estado/​nação.

Esta é uma reflexão que ire­mos apro­fun­dar ao longo do ano.

Abdon Mar­inho é advogado.