AbdonMarinho - NEM LONDRES NEM JUBA*
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Domingo, 24 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

NEM LON­DRES NEM JUBA*

NEM LON­DRES NEM JUBA*

O Maran­hão passa sem­ana envolto em mais uma falsa polêmica. Uma picuinha tola em torno de uma matéria do jor­nal britânico Finan­cial Times sobre o estado, dez meses após os comu­nistas chegarem ao poder em sub­sti­tu­ição ao grupo Sar­ney (chefi­ado pelo ex-​presidente José Sar­ney), que man­dava por estas ter­ras havia 50 anos.

Segundo os que deixaram o poder, nas palavras do próprio neto do ex-​presidente, dep­utado estad­ual Adri­ano Sar­ney, tratou-​se de uma matéria para “inglês ver”, que não retrata os prob­le­mas enfrenta­dos pelo estado e um exem­plo claro de mal jor­nal­ismo, uma vez que deixou de ouvir as forças oposi­cionistas e suas críti­cas à forma como o estado vem sendo gerido.

Só fal­tou dizer que a matéria saiu mais rósea que o papel no qual o jor­nal é impresso.

Já, para os novos donatários do poder, a matéria foi encar­ada e fes­te­jada como um recon­hec­i­mento aos feitos comu­nistas frente ao gov­erno do estado.

Nem uma coisa nem outra.

O Maran­hão não tornou-​se uma Inglaterra, nestes dez meses de mando comu­nista, mas tão pouco virou uma espé­cie de Sudão do Sul, como pregam aque­les que deixaram o poder.

São Luís, a nossa cap­i­tal, está tão dis­tante de Lon­dres quanto parece está de Juba.

Há mudança? Sim, há mudança. A prin­ci­pal delas na forma como os novos gov­er­nantes enx­ergam o papel do estado.

Con­heço o gov­er­nador Flávio Dino há trinta anos, desde o tempo de mil­itân­cia estu­dan­til, das reuniões e con­gres­sos no Sítio Pira­pora. Sei que há sin­ceri­dade nas suas palavras quando falar em querer um estado mais justo, com igual­dade de chance para todos os maran­henses e que todos pos­sam usufruir das riquezas; que tem boa intenção quando busca medi­das para mel­ho­rar o ensino, ele­var o IDH, diminuir a pobreza, etc.

Não são palavras, como cansamos de ouvir, ditas da boca para fora. Sem refle­tir nada além do inter­esse de se per­pet­uar no poder enganando o povo.

Entre­tanto, gov­ernar é, sobre­tudo, trans­for­mar palavras sin­ceras, boas intenções e ideias ino­vado­ras, na real­i­dade do cidadão.

Ainda que seja pre­matura a cobrança de solução de prob­le­mas que se arras­tam por décadas, no que­sito trans­for­mar boas ideias em real­i­dade, o gov­erno pre­cisa se des­do­brar mais, muito mais, sobre­tudo em áreas estratég­i­cas, para mostrar que as mudanças prometi­das são mesmo para valer.

Um exem­plo claro – e que afeta a todos – é a questão da segu­rança pública.

Se houve alguma mel­hora, a pop­u­lação ainda não perce­beu ou sen­tiu. Na ver­dade, sen­ti­mos que o estado está bem mais inse­guro. A ban­didagem age com desas­som­bro por todo o Maran­hão, são assas­si­natos, assaltos a ban­cos, lote­rias, pos­tos de gasolina, pos­tos dos cor­reios. As dro­gas chegaram a todos os municí­pios, inclu­sive, na zona rural dos mes­mos, com elas, a vio­lên­cia de todo tipo.

Outro dia escrevi um texto onde argu­mentei que esta – a segu­rança pública –, era uma questão para o gov­er­nador chamar para si a responsabilidade.

Não há como combatê-​la sem a união dos poderes do estado, sem que a polí­cia, min­istério público, judi­ciário, leg­isla­tivo, prefeitos munic­i­pais e demais autori­dades, tra­bal­hem em con­junto, de forma orde­nada e seguindo um plane­ja­mento estratégico.

Esta­mos diante de uma epi­demia de vio­lên­cia, com uma clara tendên­cia de aumen­tar cada vez mais.

Antiga­mente nos enver­gonhava o fato do Maran­hão expor­tar tra­bal­hadores para out­ros esta­dos, por falta de tra­balho por aqui. De uns tem­pos para cá, além de tra­bal­hadores o estado pas­sou a expor­tar ban­di­dos para os esta­dos viz­in­hos. Acon­te­cem um crime no Piauí, Tocan­tins ou Pará e lá vem a notí­cia de que o delito foi prat­i­cado por ban­di­dos do nosso estado.

Diante deste quadro só o gov­er­nador pos­sui autori­dade para con­duzir este processo, chamar os poderes, as autori­dades e a sociedade em geral para um esforço comum de com­bate a violência.

Pre­cisamos de ati­tudes das autoridades.

Não faz sen­tido que, diante de tanta vio­lên­cia, o judi­ciário – den­tro da lei, mas sem con­t­role rig­oroso – solte cen­te­nas de pre­sos, quando já tornou-​se praxe que uma parcela sig­ni­fica­tiva não retornarão, e que, soltos irão a delin­qüir até serem pre­sos nova­mente. Sen­tido tam­bém não há para que as rodovias no estado, por­tos, sejam tão despro­te­gi­dos, per­mi­tido o ingresso de armas e drogas.

Assim são tan­tas out­ras, como é o caso sério e grave de que agentes da lei, poli­ci­ais ou del­e­ga­dos faz­erem “vis­tas grossas” ao trá­fico nos municí­pios, isso quando não estão dando cober­tura ou traf­i­cando eles próprios, Denún­cias assim, ouve-​se falar todos os dias sem que haja um posi­ciona­mento mais efe­tivo das corregedorias.

Mas tudo isso, começa com o gov­er­nador chamando para si a responsabilidade.

Outro setor que passa a sen­sação de que não houve mudança e que, até mesmo, houve um retro­cesso, é o setor da saúde pública.

Por onde passo escuto dizer que não há médi­cos, que não há medica­men­tos, que não há insumos bási­cos para o fun­ciona­mento das unidades de saúde con­struí­das e sob a respon­s­abil­i­dade do gov­erno estadual.

Prefeitos, ami­gos, cidadãos comuns, com quem tenho fal­ado, rev­e­lam sen­tirem uma piora nos serviços em relação ao ofer­tado no gov­erno anterior.

Talvez esta sen­sação de piora se deva ao corte lin­ear de recur­sos para o setor anun­ci­ado pelo gov­erno no começo do mandato, talvez ao aumento da procura pelos serviços em decor­rên­cia da crise, talvez pelo fato dos municí­pios terem pas­sado a atuar mais na atenção básica, talvez pela redução dos recur­sos feita pelo Min­istério da Saúde, talvez pela própria descon­tinuidade na gestão do sis­tema, talvez a soma de todos estes fatores.

O setor da saúde é como um trem que não admite parar para sub­sti­tuir o maquin­ista, a troca tem que ser feita com ele em movi­mento. Daí, qual­quer alter­ação na rotina ser sen­tida na ponta: nos pacientes, nas suas famílias.

Uma saída para mel­ho­rar e fazer avançar a saúde pública seria o gov­erno estad­ual “brigar” com o gov­erno fed­eral para este repasse ao Maran­hão, ao menos, a média da per capita de recur­sos. O nosso estado recebe menos da metade do que dev­e­ria rece­ber. Mas este é um assunto para um texto específico.

Prob­le­mas como os nar­ra­dos acima, tam­bém exis­tem noutras pas­tas – que ainda não “se acharam” a ponto de não ofer­e­cerem as respostas esper­adas pela população.

É nor­mal que prob­le­mas ocorram.

O gov­erno não tem um ano, tra­balha no com­bate de vícios que se con­sol­i­daram durante décadas e o país se encon­tra enfrentando uma crise sem precedentes.

O impor­tante é não ceder as vel­has práti­cas e bus­car a solução dos prob­le­mas sem perder de vista o inter­esse da sociedade.

Abdon Mar­inho é advogado.

*Cap­i­tal do Sudão do Sul.