AbdonMarinho - ESTILINGUES E VIDRAÇAS.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sábado, 23 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

ESTILINGUES E VIDRAÇAS.

ESTILINGUES E VIDRAÇAS.
Defino como tragé­dia quando ser perde uma vida quando se pode­ria evi­tar. Ouvi algo semel­hante de um médico, certa vez, e guardei comigo. Acred­ito que essa tragé­dia é ainda maior quando cer­tas pes­soas, igno­rando o sofri­mento de out­ras, usam estes fatos para faz­erem pros­elit­ismo político.
Por esses dias chamou minha a atenção os pro­nun­ci­a­men­tos de alguns dep­uta­dos na Assem­bleia Leg­isla­tiva, as man­i­fes­tações de cer­tas per­son­al­i­dades, os tex­tos de cer­tos jor­nal­is­tas.
Explo­raram a não mais poder o fato de famil­iares de uma cri­ança ter se socor­rido da justiça para garan­tir o trata­mento da mesma em face de uma enfer­mi­dade grave.
Ini­cial­mente, diante da gravi­dade da situ­ação, os pais agi­ram de forma cor­reta. Não havia razão para bus­car (se não bus­caram) o trata­mento da cri­ança através da rede pública ou do sis­tema único, se assim fizessem cor­riam o risco do socorro chegar tarde.
Os fatos que ouvi­mos aqui e ali com­pro­vam o quanto a saúde do Maran­hão está des­or­ga­ni­zada. Já vinha assim desde antes – emb­ora muitos digam que houve uma pio­rada, e não tenho razão alguma para duvi­dar que não –, pois nunca com­preen­deram que o sis­tema é único e, como tal, dev­e­ria pos­suir um só comando a ser exer­cido pelo Municí­pio de São Luís que é gestor pleno da rede, como já expli­camos noutra opor­tu­nidade.
O municí­pio nunca teve a dis­posição de assumir a respon­s­abil­i­dade per­mitindo a coex­istên­cia de três sis­temas de saúde den­tro do estado, o munic­i­pal, o estad­ual e o fed­eral (rep­re­sen­ta­dos pelas unidades sob a gestão da Uni­ver­si­dade: Materno Infan­til e Pres­i­dente Dutra).
Assim, sem comando, tem sido comum os pacientes penarem para con­seguir leito na rede do estado se é do municí­pio ou se é de qual­quer dos dois na rede fed­eral.
O drama vivido pela cri­ança e seus famil­iares – e que tocou a todos nós – não é o primeiro. Assim como não é o primeiro caso de paciente que tem que recor­rer à justiça para con­seguir um atendi­mento.
Ape­sar disso, há uma difer­ença. No gov­erno ante­rior, ainda que a justiça man­dasse, os gestores não cumpriam as decisões. Essa é uma difer­ença sig­ni­fica­tiva. Agora, pelo leio, a asses­so­ria da sec­re­taria, procu­rado­ria foram até São Paulo prestar apoio; o secretário estad­ual manifestou-​se dizendo que só dev­e­riam trans­ferir o infante quando isso não sig­nificar risco.
Out­rora – lem­bro de ter escrito o caso de amigo que acometido de câncer e já estando o mesmo bas­tante avançado pre­cisou de um equipa­mento (que no mer­cado não chegava a cus­tar cinco mil reais), uma espé­cie de res­pi­rador, que lhe garan­tisse res­pi­rar – ape­sar das reit­er­adas decisões judi­ci­ais, este amigo, pas­sou o resto dos seus dias sem que o Estado do Maran­hão, através da Sec­re­taria de Saúde lhe fornecesse o equipa­mento.
A família só foi ressar­cida depois de sua morte através de outra decisão judi­cial que deter­mi­nou o seque­stro dos val­ores nas con­tas de Estado.
Os ami­gos que acom­pan­haram o caso con­taram que nas suas pere­gri­nações pela SES chegaram a teste­munhar diver­sos casos semel­hantes, decisões judi­ci­ais sendo solen­e­mente igno­radas, uma decisão político-​administrativa dos gestores em pre­juízo da saúde e da vida de dezenas, cen­te­nas, talvez mil­hares de cidadãos.
Noutra quadra, assis­ti­mos tam­bém o poder público fre­tar avião, custear trata­men­tos de ali­a­dos políti­cos em hos­pi­tais de São Paulo, fazendo o que se dev­e­ria fazer a todos e não ape­nas aos que rezavam na car­tilha.
Assisto aos protestos destas pes­soas e não con­sigo imag­i­nar de onde tiram tanto cin­ismo. Ainda não se pas­saram seis meses que deixaram o poder, quando negavam o cumpri­mente de decisão judi­cial para garan­tir um mísero “balão de oxigênio” aos pacientes recla­marem de cru­el­dade do gov­erno, de insen­si­bil­i­dade.
Geri­ram o sis­tema ainda ontem, é até capaz da asses­so­ria jurídica da SES que recor­reu da decisão judi­cial, seja a mesma que fez isso inúmeras vezes por deter­mi­nação do ex-​gestor, talvez usando petições idên­ti­cas às usadas antes do começo deste ano, quando havia a deter­mi­nação de recor­rer de tudo e não acatar as decisões judi­ci­ais. Só lamento o fato de nen­hum juiz ter tido a cor­agem de man­dar pren­der os des­obe­di­entes.
Onde será que estavam todos estes que agora protes­tam até o ano pas­sado? Será que não tin­ham con­hec­i­mento das reit­er­adas decisões judi­ci­ais sendo des­cumpri­das pela SES? Será que não sabiam dos inúmeros sofri­men­tos cau­sa­dos aos pacientes e seus famil­iares?
Cada vida pre­cisa ser preser­vada, cada vida é igual. Estranho é ver tan­tos protestos diante do sofri­mento de uma cri­ança e quase nen­hum aos que pere­ce­ram no pas­sado ou até mesmo com relação às quase duzen­tas cri­anças que mor­reram na mater­nidade em Cax­ias ou um gesto de sol­i­dariedade as out­ras vinte que ficaram cegas.
Talvez não ten­ham cor­agem de apon­tar para os respon­sáveis, talvez ten­ham medo de perder as benesses do poder. Qual a razão de toda essa indig­nação ser sele­tiva?
A impressão que fica é que a sol­i­dariedade é dire­ta­mente pro­por­cional aos inter­esses envolvi­dos e não o sen­ti­mento de piedade cristã, de amor ao próx­imo.
Não faz muito tempo vi alguns prote­s­tando con­tra a lei que per­mi­tiu a soltura de um cidadão que teria provo­cado a morte de uma cri­ança em aci­dente de trân­sito. Entre­tanto, essa mesma indig­nação não foi vista quando dois fil­hin­hos de papai, menores, fazendo «pega», cei­faram a vida de duas donas de casa, tra­bal­hado­ras, domés­ti­cas, que saiam do tra­balho. Ou tan­tos out­ros casos. Nada dizem e muitas das vezes fazem questão de ocul­tar.
Outro fato a chamar a atenção foi uma man­i­fes­tação de ex-​secretário de segu­rança, aquele mesmo que dizia pouco antes do cal­endário de 2014 virar a fol­hinha que ”a sen­sação de inse­gu­rança na região met­ro­pol­i­tana era arti­fi­cial». Pois é, agora protesta con­tra a política de segu­rança do atual gov­erno.
Não digo que esteja errado. Não está errado, a vio­lên­cia na região met­ro­pol­i­tana e em todo o estado inspira muita pre­ocu­pação, assim como já inspi­rava quando, o agora insat­is­feito, era secretário da pasta.
Já can­sei de dizer um número que sin­te­tiza bem a situ­ação: em 2002 tive­mos poucos mais de 200 homicí­dios. Hoje, e nos últi­mos anos, esse é quase o número de um único mês.
O atual gov­erno que começou bem neste que­sito da segu­rança (até escrevi elogiando-​o), demon­stra um certo cansaço. Deu uma inde­v­ida trégua a ban­didagem e ela está per­dendo o respeito pelo gov­erno. Cometeu-​se o mesmo erro dos gov­er­nos ante­ri­ores: ser tol­er­ante e leniente com os ban­di­dos, quando dev­e­riam sufocá-​los até que saíssem do estado.
Um erro que con­traria o que foi prometido na cam­panha. Prom­e­teram mão firme. Os ban­di­dos acred­i­taram e refu­garam um pouco, agora já duvi­dam disso é partem para desmor­alizar o gov­erno (não duvido que conte com apoio de out­ras forças). São assas­si­natos de poli­ci­ais, fugas espetac­u­lares, assaltos a ônibus, invasão de residên­cias, homicí­dios. Por fim invadi­ram uma sec­re­taria de estado e fiz­eram reféns.
O gov­erno pre­cisa agir com firmeza, não admi­tir que o estado para­lelo tome o fôlego. Uma das promes­sas que fez o gov­er­nador a uma eleitora, era que ela iria poder abrir a janela. As por­tas, janelas daquela eleitora con­tin­uam cer­radas, tran­cadas a sete chaves e gradeadas.
O dire­ito de crítica é de todos, entre­tanto, quem esteve no cargo e não apre­sen­tou nada de novo, não fez o dever de casa, não pode vir agora querer posar de bonz­inho. Ade­mais, quem até ontem era vidraça pode querer virar estilingue do dia para noite.
Abdon Mar­inho é advogado.

Comen­tários

0 #1 Lune Car­valho 22-​05-​2015 14:52
Ótimo texto..falou tudo que todos maran­henses querem dizer e não tem cor­agem ou esta­mos anestesiados.NADA MUDOU!
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