AbdonMarinho - BAIXARIA E REIS PACHECO.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sexta-​feira, 22 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

BAIXARIA E REIS PACHECO.

BAIXARIA E REIS PACHECO.

Um assunto parece dom­i­nar a pauta da cam­panha eleitoral do Maran­hão. Por onde se anda só se ouve falar em baixaria. Os próprios can­didatos denun­ciam uns aos out­ros como autores das baixarias con­tra si, seus famil­iares e suas cam­panha. Cada um apon­tando para o adver­sário, den­tro do roteiro, como se era de esperar. Como a pop­u­lação ainda não demon­strou muito inter­esse pela cam­panha, só toma con­hec­i­mento que está havendo a tal baixaria, pelas “víti­mas”, que só infor­mam que estão sendo ata­ca­dos sem pas­sar ao eleitor que “baixaria” foi essa. Isso me faz lem­brar que em tem­pos pretéri­tos um jor­nal da cidade era dono de fazer essas coisas, respon­der a uma acusação por vias atrav­es­sadas, sem dizer ao que estava respon­dendo. Com relação a baixaria na cam­panha, acon­tece o mesmo, todos se dizem víti­mas. Mas se há víti­mas em todos os lados, os autores estão, tam­bém, de todos os lados e os pro­tag­o­nistas das cam­pan­has pare­cem não perce­ber ou não querem agir para impedir. Deviam fazer algo.

Certa disso tudo é que a pop­u­lação, que até agora está recebendo os can­didatos com certa frieza e indifer­ença, talvez passé a ignorá-​los por com­pleto, trans­for­mando o já visível desin­ter­esse, em oposição ao pleito, um mero cumpri­mento de tabela.

A baixaria não é novi­dade, nem no Maran­hão nem noutros lugares, ape­sar disso, soa estranho o que vem acon­te­cendo nos dias atu­ais pois esta­mos falando de uma eleição para o gov­erno do Estado. Não se trata de uma eleição de asso­ci­ação, sindi­cato ou ainda de um municí­pio per­dido nos cafundós. Os can­didatos, tam­pouco, são capi­aus ou nés­cios, muito pelo con­trário, são pes­soas instruí­das, se não me falha a memória, todos pos­suem curso supe­rior – até mais de um –, são pro­fes­sores, inclu­sive uni­ver­sitários, ocu­pam ou ocu­param car­gos rel­e­vantes, juiz, senador, todos bem nasci­dos, com edu­cação vinda do berço, como bem dizia a minha velha e querida pro­fes­sora Mar­garida, nos meus bons tem­pos de primário.

Diante de tudo isso, me parece incom­preen­sível que a cam­panha eleitoral – festa maior da democ­ra­cia –, seja tomada por um clima de guerra, com insul­tos, com ataques pes­soais à honra e às famílias dos postulantes.

Não digo com isso que se deva igno­rar o pas­sado dos can­didatos. Pelo con­trário, as con­tradições de cada um, a (in)competência e (in)consistência para cargo, o que já fiz­eram ou deixaram de fazer, seja na gestão de negó­cios públi­cos, seja na gestão de negó­cios pri­va­dos, é matéria de inter­esse cole­tivo. A pop­u­lação tem o dire­ito de ser lem­brada ou relem­brada sobre os fatos e episó­dios desde que ver­dadeiros. Isso não ofende a democ­ra­cia, pelo con­trário, a for­t­alece. Quem se propõe a entrar numa dis­puta eleitoral deve está preparado para ser con­frontado com sua história de vida, os atos que já prati­cou, suas comis­sões e omis­sões. O peso de cada uma é decisão que per­tence ao eleitor. Se o cidadão/​eleitor, esclare­cido sobre a história dos can­didatos, ainda assim o escolhe, esse prob­lema é dele e a con­se­quên­cia tam­bém, paciên­cia. Esse é um dire­ito do eleitor. O dire­ito de errar.

O direto de ser infor­mado sobre os can­didatos cam­inha junto com o dire­ito de con­hecer as pro­postas deles para o cargo que dis­putam. Como cada um pre­tende fazer o que prom­ete e que capaci­dade pos­sui para fazer o prometido.

É necessário que se esta­beleça o divi­sor do que é esclarec­i­mento, do que é explo­rar os pon­tos fra­cos dos can­didatos do que seja baixaria, o ataque de ordem pes­soal, que em nada inter­feriria na função que exerce­ria o cidadão na even­tu­al­i­dade de ser eleito, o ataque a sua vida pes­soal ou a vida de seus familiares.

Outro dia alguém disse que as baixarias de hoje em muito se assemel­ham ao caso “Reis Pacheco”. Um exagero. Nestes anos todos em que acom­panho a política maran­hense poucos episó­dios se assemel­ham aquele caso ocor­rido nas eleições de 1994, em gravi­dade e em pes­soas envolvidas.

O caso “Reis Pacheco” se deu às vésperas das eleições há 20 anos. Trata-​se, ao menos até onde lem­bro, da maior farsa já mon­tada na política. Os adver­sários do hoje senador Cafeteira cri­aram um roteiro para lhe atribuir um crime de homicí­dio, para isso não relu­taram em come­ter uma série de crimes, começando pela fal­si­fi­cação de doc­u­mento público para criar um per­son­agem fic­tí­cio, um falso irmão do suposto morto, chamado Anacreto Reis Pacheco. Esse falso irmão denun­ciou no STF que o senador Cafeteira teria man­dado matar seu irmão, no crime definido como denun­ci­ação caluniosa.

Como tudo começou? Em sua col­una sem­anal, se não me falha a memória, no domingo, 6 de novem­bro, o senador Sar­ney tra­tou de dis­sem­i­nar a patranha. No artigo “Liber­dade e Reis Pacheco”, \«plan­tava\» a história que o senador Cafeteira teria man­dado matar o cidadão Raimundo Reis Pacheco, fun­cionário da CVRD, que, num aci­dente de trân­sito, teria matado seu sogro, o con­sel­heiro Hilton Rodrigues. Já na segunda-​feira, 07, a história gan­hava o mundo, entre­vis­tas em TV na região tocan­tina, pan­fle­tos, etc. Aos oposi­cionistas restava – nos dias que fal­tava para a eleição –, desmon­tar a farsa. Os dep­uta­dos Ader­son Lago e Juarez Medeiros (can­didato a vice-​governador) con­seguiram localizar a mãe do suposto morto, que ques­tion­ada, infor­mou jamais ter parido um filho com o nome do denun­ciante ao STF. Em seguida, localizaram o “morto\» no Amapá que gravou um depoi­mento dizendo que a história do crime jamais exi­s­tira, que ele estava vivo e em boa saúde. O pro­grama eleitoral que dev­e­ria des­mas­carar a farsa não chegou a ser exibido em 40% (quarenta por cento) do Estado.

A pré­cisão da ação demon­strou uma artic­u­lação com pré­cisão cronome­trada. Dia 6, o senador divul­gou a men­tira; dia 7 a noti­cia foi difun­dida por todo o estado; dia 8 o falso irmão do falso morto bate às por­tas do judiciário.

No Maran­hão, naque­les idos, não havia inter­net, celu­lares e todos os demais meios que exis­tem hoje. A comu­ni­cação era feita só por tele­fone fixo, onde havia, rádio e TV.

O resul­tado da eleição, den­tre out­ros motivos, foi alter­ado por essa farsa, acred­ito na história política do Brasil, pouca coisa se aprox­i­mou disso em matéria de baixaria. Imag­ine a ousa­dia dos autores em fal­si­ficar doc­u­mento público, con­sti­tuir um advo­gado e levar uma falsa denún­cia a instân­cia máx­ima da justiça, con­tra o senador da República. Essa sim, uma baixaria para ninguém botar defeito.

Nos anais da Assem­bleia Leg­isla­tiva con­sta o dis­curso do ex-​deputado Juarez Medeiros em que ele narra todo o episó­dio ocor­rido, foi seu penúl­timo dis­curso como par­la­men­tar. Nele uma clara exposição de todos os crime que se comete para con­quis­tar o poder. O título escol­hido para o dis­curso foi: “Sar­ney é mar­ginal”. No dia que foi pro­ferido Assem­bleia Leg­isla­tiva, maior­i­tari­a­mente gov­ernista, calou-​se para escutá-​lo no grande expe­di­ente, durante todo o tempo, nen­hum aparte, nen­huma con­tes­tação ao que era dito. Ninguém pos­suía um mísero argu­mento con­tra os fatos articulados.

O episó­dio con­hecido como “Reis Pacheco” fez a história do Maran­hão ser mod­i­fi­cada – para o bem ou mal – pela baixaria per­pe­trada naquela eleição. A farsa e out­ros fatos mais, tiraram a vitória de Cafeteira. Muitos anos depois, soube que a ape­sar de tudo que fiz­eram, aquela eleição ainda foi ven­cida pela oposição, que gan­hou mas não levou. A liber­dade – slo­gan da cam­panha oposi­cionista –, perdeu para a fraude e a farsa. Não duvido façam algo semel­hante nesta eleição, cabe a sociedade repu­diar, de forma vee­mente, a fraude, o engodo ou a men­tira, impedindo que, mais uma vez, se mod­i­fique a von­tade popular.

Se cabe a sociedade ficar vig­i­lante quanto aos abu­sos per­pe­tra­dos, ven­ham eles de onde vierem, cabe aos can­didatos não per­mi­tirem que suas cam­pan­has per­cam o norte das pro­postas e do con­venci­mento leal aos eleitores.

Abdon Mar­inho é advogado.