AbdonMarinho - A vitória já é do HAMAS.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Quinta-​feira, 21 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

A vitória já é do HAMAS.


A vitória já é do HAMAS.

Por Abdon C. Marinho*.

CER­TA­MENTE não é pos­sível dimen­sionar toda a tragé­dia humana da atual guerra no Ori­ente Médio que tem como pro­tag­o­nistas o Estado de Israel e o grupo ter­ror­ista HAMAS, acrôn­imo de Harakat al-​Muqāwamah al-​ʾIslāmiyyah ou, na tradução aprox­i­mada, Movi­mento de Resistên­cia Islâmica (fique conosco, Abdon Mar­inho é cul­tura, rsrs), entre­tanto, a minha avali­ação é que essa guerra, já tem como vence­dor o grupo ter­ror­ista.

Nos pará­grafos abaixo expli­carei meu posi­ciona­mento e as razões pelas quais acho que a guerra já tem um vence­dor e porque esse vence­dor é o HAMAS, der­rotando Israel, Esta­dos Unidos (prin­ci­pal­mente estes) e diver­sos out­ros países.

Quando, em 07 de out­ubro de 2023, o grupo ter­ror­ista deu um “passa moleque” nas forças de segu­rança de Israel e provo­cou o ter­ror come­tendo todo tipo de atro­ci­dades con­tra os israe­lenses e mesmo cidadãos de out­ras nacional­i­dades, inclu­sive, levando con­sigo mais de duas cen­te­nas de pes­soas como sequestra­dos para pos­te­ri­or­mente utilizá-​las como moeda de troca, tinha como obje­tivo prin­ci­pal causar a reação que cau­sou no estado israelense.

Fico per­plexo quando vejo supos­tos espe­cial­is­tas afir­marem que o HAMAS quer a o fim ou a destru­ição do Estado de Israel na leitura da guerra atual.

Um absurdo imag­i­nar ou colo­car como ponto de dis­cussão a pre­missa que um grupo ter­ror­ista com o número esti­mado de 20 mil inte­grantes seja capaz de elim­i­nar um Estado Nacional como o de Israel que conta com o apoio “incondi­cional” dos Esta­dos Unidos (falare­mos disso mais à frente) e que pos­sui as mais mod­er­nas armas de com­bate do mundo, sem con­tar o exército reg­u­lar e os reservis­tas em números infini­ta­mente supe­ri­ores.

Chamar a atenção para o fato do grupo ter­ror­ista “querer” o fim de Israel é ape­nas uma bobagem, pois não seria com aquele ataque que iria con­seguir isso – muito pelo con­trário. Eu, por exem­plo, todo final de ano “quero” acer­tar soz­inho as dezenas da mega sena da virada, nunca con­segui.

É dizer, muito emb­ora tal assertiva con­ste do seu ideário ou “estatuto” não foi isso que os moveu nos ataques ter­ror­is­tas que deram iní­cio a atual guerra.

Não foi uma ação visando a “destru­ição” do Estado de Israel como muitos divul­gam e até trazem para supos­tos debates “sérios”.

O que os moveu foi provo­carem a reação que provo­caram nos diri­gentes israe­lenses. Uma reação tão vio­lenta quanto inócua.

As forças de segu­rança de Israel, por mais que digam, não tem condições de elim­i­nar o HAMAS, seus mil­i­tantes, além da Faixa de Gaza, onde travam com­bates con­tra os sol­da­dos israe­lenses, estão espal­ha­dos por todos os países da região com seus prin­ci­pais diri­gentes com­ple­ta­mente a salvo em alguns deles.

Logo, o que as forças israe­lenses vem fazendo é exercer o “dire­ito de vin­gança” con­tra a pop­u­lação palestina, majori­tari­a­mente de mul­heres, cri­anças e idosos.

Quan­tos inocentes não já pere­ce­ram para cada suposto ter­ror­ista elim­i­nado? Como um exército que se van­glo­ria de ser um dos mais prepara­dos do mundo prat­ica uma guerra de terra arrasada com a morte de mil­hares de pes­soas sob o argu­mento de elim­i­nar um ou outro mem­bro do grupo ter­ror­ista que os ata­cou?

A estraté­gia é burra até porque os ver­dadeiros diri­gentes do HAMAS, como dito ante­ri­or­mente, estão a quilômet­ros de dis­tân­cia dos locais onde Israel despeja mil­hares de bom­bas diariamente.

Inde­pen­dente do ataque ter­ror­ista do HAMAS – hor­rendo, ter­rível, cruel e todas as demais adje­ti­vações pos­síveis –, a reação Israe­lense não pode­ria (e não pode) ser na mesma moeda ou no mesmo for­mato, por uma razão que já expli­camos em um texto ante­rior, e que o próprio Estado de Israel e seus ali­a­dos fazem questão de ressaltar: o grupo HAMAS é um grupo ter­ror­ista.

Já o Estado de Israel é um estado nacional legí­timo e recon­hecido por quase todos os países do mundo.

Um estado nacional legí­timo – não sei porque temos que repe­tir isso já que é óbvio –, não pode agir como um grupo ter­ror­ista.

O HAMAS venceu a guerra quando fez Israel uti­lizar suas estraté­gias para o com­bate: o ter­ror­ismo indis­crim­i­nado con­tra civis inocentes, com o agra­vante de pos­suir um poten­cial de letal­i­dade e de sofri­mento infini­ta­mente supe­rior aos dele.

Em todas as nações do mundo as pes­soas sen­sa­tas, muito emb­ora con­denem o ato ter­ror­ista do HAMAS, con­de­nam, com muito mais veemên­cia, a reação israe­lense.

Em todos os grandes cen­tros do mundo, sem­anal­mente, exis­tem mon­u­men­tais protestos con­tra as ações de Israel na Faixa de Gaza.

Ninguém con­segue ficar indifer­ente às crat­eras aber­tas pelas bom­bas que são jogadas à cada min­uto, à destru­ição de hos­pi­tais, esco­las, cam­pos de refu­gia­dos e, prin­ci­pal­mente, a imagem de cri­anças trê­mu­las de pavor ou mor­tas.

O HAMAS venceu porque em todo o mundo já se dis­cute que a Faixa de Gaza é uma prisão a céu aberto onde estão con­fi­na­dos mais de dois mil­hões de pes­soas pas­sando todo tipo de pri­vações e sofrendo com as humil­hações mais diver­sas.

Imag­inem um europeu, que pode se deslo­car por todos os países do mundo, saber que na Faixa de Gaza ou mesmo na Cisjordâ­nia os palesti­nos não podem se loco­moverem livre­mente e que até mesmo para fugir da guerra Israel tem que per­mi­tir.

O HAMAS venceu a guerra porque em todos países ou fóruns globais estão dis­cutindo a neces­si­dade e urgên­cia de um estado palestino sober­ano e estão se debruçando para a real­i­dade de que Israel, desde que venceu a guerra de sua cri­ação, em 1948, e as guer­ras seguintes, vem, sis­tem­ati­ca­mente, avançando sobre os ter­ritórios que na par­tilha feita pela ONU, em 1947, caberia aos palesti­nos.

Muito emb­ora con­de­nando o ataque ter­ror­ista do HAMAS, o secretário-​geral da ONU, Anto­nio Guter­res, em declar­ação recente – que cau­sou revolta aos israe­lenses –, pon­tuou algu­mas ver­dades, den­tre as quais que o (injus­ti­ficável) ataque ter­ror­ista não ocor­reu no vácuo; e que ao longo dos anos os palesti­nos veem sofrendo infini­ta­mente com a perda de seus dire­itos.

Foi como se dissesse: — olha eles agi­ram errado ao “meter o bicho como meteram”, mas ao longo dos anos vocês provo­caram tal situ­ação.

O HAMAS já venceu a guerra con­tra Israel pois a sua ação ter­ror­ista por mais abom­inável que tenha sido (e foi) parece infini­ta­mente (e é) menos gravosa do que vem sendo a reação israe­lense na Faixa de Gaza onde joga bom­bas inces­san­te­mente con­tra os civis.

Ora, o ataque ter­ror­ista matou mil e qua­tro­cen­tas pes­soas inocentes que se diver­tiam ou estavam em suas casas, os ataques de Israel, em menos de um mês, tirou mais de dez mil vidas inocentes, com a des­culpa de ter elim­i­nado um, dois, uma dúzia de ter­ror­is­tas.

Tem jus­ti­fica­tiva que se faça assim? Então para se tirar um cisto é cor­reto que se mate o paciente?

As pes­soas sen­sa­tas e mesmo as nações, enten­dem que não.

A reação de Israel ao ataque ter­ror­ista tem cau­sado um efeito reverso, mesmo os palesti­nos (e out­ros árabes) que nunca apoiaram HAMAS pas­saram a apoiá-​lo.

O apoio, registre-​se, não é apoio ao ato ter­ror­ista, mas con­tra a reação Israe­lense, con­tra o mor­ticínio de civis, con­tra as prisões arbi­trárias, con­tra os deslo­ca­men­tos força­dos, con­tra as pri­vações impostas.

Essas pes­soas – se algum dia voltarem as eleições em Gaza e/​ou na Cisjordâ­nia –, votarão nos can­didatos do HAMAS.

Essa é outra der­rota de Israel.

O mundo assiste estar­recido a uma guerra assimétrica (ou seja onde Israel é muito mais forte) com mil­hões de inocentes, sobre­tudo, cri­anças sofrendo seus impactos mais dev­as­ta­dores.

A vitória é do HAMAS porque o apoio a cam­panha israe­lense vai reduzir-​se ainda mais à medida que o sofri­mento dos palesti­nos vai aumen­tando.

O próprio Joe Biden avaliando a impli­cação do seu “apoio incondi­cional”, já man­dou o Secretário de Estado pedir mod­er­ação.

Ele sabe que, muito emb­ora haja um apoio sig­ni­fica­tivo ao povo judeu nos EUA, mesmo os segui­men­tos mais orto­doxos já vêem com pre­ocu­pação os exces­sos cometi­dos. Biden sabe que, se a sua reeleição em 2024 já era uma incóg­nita, esse apoio incondi­cional a Netanyahu pode tornar a der­rota nas urnas uma certeza.

O pre­mier israe­lense que será cat­a­pul­tado do poder na hora que a guerra acabar, pode estar dando o seu último “abraço de afo­gado” no pres­i­dente amer­i­cano.

A única solução de paz pos­sível – que acred­ito possa ser aceito pelos palesti­nos e pela comu­nidade inter­na­cional –, é o esta­b­elec­i­mento dos dois países sober­a­nos e inde­pen­dentes nos ter­mos esta­b­ele­ci­dos pela ONU em 1947.

Em todos os cenários, a vitória é do HAMAS.

Abdon C. Mar­inho é advo­gado, escritor e cro­nista.

P.S. — Após con­cluir o texto tomei con­hec­i­mento que um min­istro israe­lense propôs o lança­mento de uma bomba atômica con­tra a Faixa de Gaza por conta disso teria sido sus­penso. A lou­cura parece-​me descon­hecer limites.