A MAIOR DESGRAÇA DO BRASIL.
A CORRUPÇÃO nunca foi um mal ignorado por qualquer cidadão brasileiro. Sempre tivemos conhecimento – em maior ou menor grau – do que acontecia nos bastidores do poder fosse em Brasília, nas capitais dos estados, nas prefeituras municipais. Aliás, por seu próprio caráter indolente, o brasileiro sempre tratou essa chaga com um mal menor; um direito do politico “tirar o seu”. talvez por isso, nunca fez a correta ligação entre o fatos dos políticos gastarem, nas suas campanhas eleitores, valores bem superiores que os valores que perceberiam de salário ao longo do quadriênio, caso fossem eleitos. Sim, o político gasta na frente sem saber se terá êxito ou não no processo eleitoral, o que torna ainda mais suspeito que gastem tanto.
Fazem isso pelo salários? Pelo poder decorrente dos cargos? por altruísmo e desejo de servir à sua comunidade? Município? Estado? País?
Certamente que não. Se assim agem é na certeza que muito lucrarão (financeiramente) durante o período em que permanece no poder.
Nos “autogrampos" feitos pelo senhor Sérgio Machado, naquilo que apelidei de “delação preventiva”, entre tantas coisas que disse, uma, em especial, relacionada com o que escrevo, chamou-me a atenção. Lá pelas tantas, e contanto com a anuência do interlocutor, ele diz (não usando estas palavras) que uma investigação séria revelaria que nem cinco parlamentares teriam feito suas campanhas sem se socorrer do dinheiro da corrupção. Mais a frente, fala da necessidade de se sustentar toda engrenagem de corrupção, posto não se tratar apenas de financiamentos ilegais. Não era mesmo.
Apenas para termos uma ligeira noção, estamos falando de um universo de quase 600 parlamentares.
Sob qualquer exame, apenas o que já foi revelado no âmbito da Operação Lava-Jato, seria suficiente para reclamar a prisão de todos os envolvidos e a refundação do Brasil.
Destaco algumas coisas emblemáticas. Está dito pelo colaborador Nestor Ceveró que a presidente afastada Dilma Rousseff, então presidente do conselho de administração da Petrobras, e que deveria zelar pelos interesses da empresa, sabia de todas as tratativas para sangrar a empresa na compra de uma sucata de refinaria em Pasadena, USA, adquirida por U$ 45 milhões de dólares por uma empresa e vendida à empresa petrolífera brasileira por mais um bilhão de dólares. Só este negocio ruinoso causou um prejuízo de mais de R$ 800 milhões a empresa que a presidente da conselho tinha a obrigação de proteger.
Segundo notícias da mídia inteira, constará da colaboração de Marcelo Odebrecht, que propinas pagas pela empresa que presidiu financiou a campanha à reeleição da presidente afastada, dizem, ainda, que a própria teria ordenado um repasse de R$ 12 milhões para o pagamento de suas despesas de campanha. Desta suposta delação – apelidada por Sarney de metralhadora ponto 100 – constaria também o financiamento algumas dezenas de políticos e ainda 13 governadores de estado. É aguardar para conferir.
Outra revelação emblemática foi aquela feita pelo ex-deputado Pedro Corrêa – tido, pelo menos até aqui – como uma espécie de decano da corrupção nacional. Na verdade, são dois episódios na mesma revelação. O primeiro, dando conta das tratativas para nomeação de Paulo Roberto Costa (apelidado por Lula de “Paulinho”), na qual ameaça demitir o conselho da Petrobras caso não nomeiem o operador do Partido Progressista para a diretoria o quanto antes; o segundo episódio, infinitamente mais grave, revela que o ex-presidente teria recebido uma delegação do mesmo partido (PP) que foram reclamar com o então presidente que o PMDB, outro partido da base aliada, estaria avançando sobre a “sua diretoria”, aquela para qual teria sido nomeado o operador já referido.
O presidente Lula – ainda segundo o relato do ex-deputado Pedro Corrêa –, os teria admoestado, colocando que a diretoria em questão era muito grande e que daria para atender aos dois partidos (PP e PMDB), poderiam dividir o butim, a pilhagem que faziam na, então, maior empresa brasileira. Os “reclamões" deram-se por satisfeitos com as explicações do mandatário da República e não falaram mais no assunto.
Embora lido e tido com tamanha naturalidade, estamos diante de um absurdo inominável. Temos um presidente da República, responsável maior pelos destinos da nação – e que prometeu em seu discurso posse, não apenas um governo honesto, mas, também, impedir que a corrupção florescesse –, a portar-se como um chefe de quadrilha. Não só praticando os atos para que os compassas atuassem livremente, e, mais, partilhando o fruto do roubo. Não acredito que haja paralelo em nenhum lugar do mundo civilizado.
Alguém consegue imaginar o diálogo?
Líder do partido: – Presidente, nós estamos aqui para lhe fazer uma reclamação.
Presidente: – Qual reclamação?
Líder do partido: – Olha, presidente, o PMDB está avançando sobre a nossa propina na diretoria de Abastecimento. Assim não vai dar para continuar o apoio ao governo.
Presidente: – Nada disso. A diretoria é muito grande. Tem propina para todo mundo. Combinem uma divisão entre vocês.
Conhecendo a boca suja do ex-presidente – escutas telefônicas revelam o nível –, é capaz que o “diálogo" tenha sido recheado de palavrões e impropérios. Em qualquer caso, impensável.
Vejam, repito, não é que não soubéssemos da existência da corrupção. Ela está aí desde que Cabral aportou por aqui. Tendo sobrevivido a todos os governos. O inusitado é descobrirmos, agora, que a sede governo, o Palácio do Planalto, foi usado como covil de malfeitores, com os chefes da nação – temos notícia que também Dilma Rousseff usou o palácio para tais finalidades. Na colaboração do ex-senador Delcídio do Amaral, está dito que lá, no palácio, se tramou a nomeação de um ministro do STJ para soltar malfeitores presos – no papel de comandantes do alcance.
Este é o diferencial. A corrupção como protagonista do esquema de poder e o chefe da nação no seu comando.
Lembro – com saudades – do tempo em que se atribuía os malefícios da corrupção aos clãs regionais liderados por pessoas como Sarney, Renan, Jucá, Barbalho, entre outros. Estes, aliás, também referidos na colaboração de Sérgio Machado como beneficiários de polpudos repasses de propina. Apenas para os três primeiros, por parte do colaborador, foram repassados R$ 70 milhões. Quanto mais? Em quantos outros esquemas?
Não é sem razão que o jornal americano "The New York Times”, em editorial do dia 06 de junho de 2016, atribuiu a medalha de ouro em corrupção ao Brasil. E, provavelmente, nem desconfiam de tudo que ocorreu e vem ocorrendo esses anos todos. Mais, não sabe que a prática da corrupção se alastrou por estados e municípios como se fosse uma praga de gafanhotos no milharal.
Em meio a tanta desgraça, a esperança é que a luz sobre estas trevas resulte em algo de positivo.
Abdon Marinho é advogado.