A DESESPERANÇA COMO DESTINO.
ALGUNS amigos costumam me indagar sobre quais as expectativas para o futuro do Brasil diante destes acontecimentos.
Outro dia um me perguntou: — Abdon, e o Brasil? Respondi-lhe: —fulano, o Brasil acabou!
Ele riu e dei por encerrado o assunto.
Depois, com mais vagar, pus-me a pensar na dureza das minhas palavras. Como o Brasil chegou ao ponto de, mesmo os mais otimistas, como eu, não terem palavras melhores sobre o futuro que a desesperança?
Infelizmente essa aspereza das pessoas em relação ao país é fruto do testemunho do mar de lama que nos tragou.
O que descobrimos – embora já desconfiássemos – é que quadrilhas "davam as cartas na política nacional, colocando os interesses privados de corruptores e corrompidos acima dos interesses nacionais.
E, pior, a corrupção financiava, indistintamente, a todos. Talvez existam exceções – ainda não identificadas –, de resto, em algum momento recursos desviados de serviços e obras públicas, irrigaram as contas da elite política brasileira, as de campanha e as particulares.
Como podemos acreditar num futuro diferente para o país, se faltando pouco mais de um ano para as eleições gerais, não temos em quem votar?
Aqui cabe um parêntesis. Muito se fala em antecipação de eleições. Me pergunto: para votar em quem?
As pesquisas revelam que o senhor Lula, ex-presidente e líder máximo do Partido dos Trabalhadores - PT, aparece como o mais bem posicionado nas pesquisas de intenção de votos, dependendo, unicamente, de está solto ou não condenado em segunda instância, para sagrar-se campeão nas eleições.
Não conheço paradoxo mais perfeito. O Brasil findará 2018 com um ex-presidente conhecendo da perspectiva interna a realidade carcerária do país ou de volta ao luxo e esplendor dos palácios.
O que nos deixa angustiados é que a preferência pelo ex-presidente não vem apenas da massa ignara – estes até entendo a predileção pelo senhor Lula. Argumentam que se todos são iguais, por que não votar, supostamente, naquele que fez algo pelos "pobres" –, causa-me estranheza é ver que grande parcela do seu eleitorado é formada por pessoas tidas por esclarecidas, pessoas "intelectualizadas", formadoras de opinião. Pessoas que têm o conhecimento de que, nunca na história deste país, a Presidência da República foi tão aviltada quanto na Era petista, sobretudo no período presidencial do senhor Lula.
Vejam, estou falando de pessoas que passaram "a vida" dizendo-se contrárias a corrupção, a malversação dos recursos públicos. Pessoas que tínhamos "em boa conta" e que, agora, revelam-se defensoras das piores práticas políticas e aliadas daqueles que fizeram do poder um instrumento para o enriquecimento ilícito.
Será que têm dúvidas sobre a veracidade dos depoimentos de tantos colaboradores da justiça, que atestam e provam que o ex-presidente da República não passava – no cargo mais alto da nação –, de um estafeta das grandes corporações? Ou será que passaram a achar normal e aceitável a corrupção como método de fazer política? É isso, se a corrupção é dos "nossos" está valendo?
A corrupção sempre existiu no Brasil, isso é inquestionável. Acontece que quando elegemos o ex-presidente Lula, quando colocamos seu partido no poder, o fizemos com o compromisso de que iam mudar tais práticas.
O compromisso era não só não roubar ou impedir que roubassem, era também aplicar com eficiência os recursos da nação em benefício de todo o povo brasileiro.
No poder, fizeram o oposto, montaram engrenagens de corrupção tão complexas e sofisticadas que os instrumentos de controle do Estado, ainda hoje, com todos os mecanismos e colaborações que dispõem, não foram capazes de desmontar todos.
Na ânsia de roubar desviaram recursos da nação para ditaduras amigas no estrangeiro, desviaram recursos das aposentadorias dos servidores públicos, fizeram negócios ruinosos para os bancos oficiais, quebraram o Estado.
Aí, vejo pessoas "ditas" comprometidas com a probidade, com a honestidade, cerrarem fileiras ao lado do senhor Lula e atacarem a Policia Federal, o Ministério Público Federal, e até o Poder Judiciário, simplesmente por estes órgãos estarem fazendo o seu papel constitucional. Mais que isso, trabalham com afinco no sentido de constrangerem toda e qualquer crítica aos que foram e estão sendo flagrados roubando os recursos públicos.
Como costumo dizer, a experiência dos dois últimos governos fez a proverbial corrupção brasileira mudar de patamar, a ponto – conforme revelam as investigações –, dos corruptores criarem departamentos de propinas apenas para pagar os subornáveis. Mas, não apenas isso, destruíram o sonho de mudança de toda uma geração de brasileiros.
Não satisfeitos, destruíram, os fundamentos da economia nacional com consequências para todos os cidadãos: os servidores públicos, os aposentados, os que perderam seus empregos, os jovens que perderam as chances de consegui-los, os que não conseguiram seus finaciamentos e tantos outros.
Sim, o Brasil de hoje é o fruto destes últimos anos de desacertos, de apropriação do Estado por autênticas quadrilhas. Mesmo os valentes que se colocam contra as reformas do atual governo, estavam "mansos" se aproveitando das benesses da cleptocracia implantada no país.
Como acreditar novamente em alguém se aqueles que prometeram fazer diferente foram além do imaginável no que se refere à apropriação e desvio da coisa pública?
Como aceitar que estes mesmo se coloquem como "alternativa" de mudança?
Na realidade, a degradação ética da política nacional atingiu quase todos os políticos e quase todos partidos, sobrando quase ninguém para conduzir a nação pelos próximos anos.
Noutra oportunidade já expus o ressentimento do país em não possuir uma pessoa em quem os brasileiros possamos depositar alguma esperança. Essa ausência torna a nação um campo fértil a qualquer aventureiro.
Agora mesmo, vejo a oposição ensaiar pedidos de antecipação de eleições, uma clara ruptura constitucional, para se aproveitarem do fato do ex-presidente aparecer bem nas pesquisas e não ter sido condenado, ainda.
Repito do o paradoxo: Alguém que tem quase cem porcento de chances de ser condenado à prisão tem como outra vertente tornar-se presidente da República e fugir ao alcance da lei. Logo ele, um dos principais responsáveis pela degradação ético-moral que tomou de conta do país.
O pior de tudo isso é que as alternativas apresentadas a esta política claramente fracassada, calcada na corrupção, não passam de um amontoado de ideias exóticas, impraticáveis e descoladas do mundo real.
Nós que crescemos praticando o ideal de que o voto é um ato cívico não temos opção de voto. Nem isso. Não existe mais, no momento, uma opção menos ruim.
A indigência de quadros políticos é replicada nos estados e municípios (sempre com as cada vez mais raras exceções), deixando os cidadãos de bem reféns de uma escória cada vez mais audaciosa.
O Brasil se encontra entre a barbárie e a barbárie.
A desesperança, mais que um destino, é uma certeza.
Abdon Marinho é advogado.