AbdonMarinho - UM POUCO DE BOM SENSO AJUDARIA.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sábado, 23 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

UM POUCO DE BOM SENSO AJUDARIA.

UM POUCO DE BOM SENSO AJUDARIA.

LOGO que ter­minei de escr­ever o texto “Sem Insti­tu­ições Será o Caos”, um amigo me alcança, por um destes aplica­tivos de celu­lar, para indagar-​me como estou vendo a sucessão no Tri­bunal de Justiça do Maranhão.

Após recomendar-​lhe que lesse o texto que acabara de pub­licar, lhe disse que, a princí­pio, achava fal­tar juízo a suas excelên­cias na con­dução do processo eleitoral.

Ape­sar do processo democrático, através de escol­has livres, ser sem­pre saudável, quando tais con­tendas descam­bam práti­cas que mais se pare­cem com dis­putas de várzea, todos per­dem, sobre­tudo a instituição.

Fui além ao pon­derar que mais impor­tante do que saber quem vai diri­gir a corte é evi­tar que ela se frag­ilize – ainda mais.

O texto sobre a crise nas insti­tu­ições nacionais trata jus­ta­mente disso, da forma e dos motivos pelas quais elas (insti­tu­ições) se frag­ilizaram a ponto de colo­car em risco a própria nação e a segu­rança da sociedade.

Prova disso é uma pesquisa recente que rev­ela o quanto é grave a crise de con­fi­ança da sociedade nas suas instituições.

Acred­ito, nunca vi tamanha rejeição.

Pior mesmo, só a avali­ação da classe política que ficou em último lugar entre os mais de 130 países pesquisados.

Assen­tei, ainda, ser o descrédito insti­tu­cional fruto, em parte, dos desac­er­tos indi­vid­u­ais de muitos dos seus mem­bros, mas não con­seguindo, as insti­tu­ições, nos últi­mos tem­pos se mostrarem supe­ri­ores a eles e, por isso mesmo, acabam por, como se diz pop­u­lar­mente, “pagar o pato”.

O que temos visto são questões menores acabarem con­t­a­m­i­nando o todo. E erros ou ati­tudes indi­vid­u­ais pas­sarem a ofus­car muitas das vir­tu­osas ini­cia­ti­vas das insti­tu­ições em favor da sociedade.

Uma das coisas que tor­nam as insti­tu­ições maiores que seus mem­bros e, por isso mesmo, mais imunes as ingerên­cias exter­nas ou aos desac­er­tos inter­nos provo­ca­dos pelos seus mem­bros, é a rig­orosos obser­vação das tradições internas.

Por tradição, entenda-​se as nor­mas não escritas – ou mesmo escritas – que obrigam e aos quais se obrigam os seus inte­grantes a observar.

Antiga­mente era cos­tume dizer – em relação ao STF –, que mesmo o mais rejeitado indi­cado antes da nomeação, virava uma “outra pes­soa”, pelo poder da cor­po­ração a que pas­sava a inte­grar. E este, pelo poder da toga, não se tor­nava “devedor”de ninguém.

Quando o inte­grante de uma insti­tu­ição ou Poder do Estado fala, ele, antes de tudo deve ter em mente que não fala ape­nas em seu nome – pelo menos é assim que a sociedade entende – daí a neces­si­dade de se obser­var deter­mi­nadas regras bási­cas de condutas.

Era a isso que deter­mi­nado ex-​presidente chamava de litur­gia do cargo.

Se se deixa de obser­var as litur­gias dos car­gos, e as nor­mas inter­nas (escritas ou não), da insti­tu­ição fatal­mente começarão a sur­gir as fissuras.

A preser­vação da higidez insti­tu­cional deve ser bus­cada a todo custo e deve prevale­cer sobre os inter­esses indi­vid­u­ais por mais bem inten­ciona­dos que estes estejam.

Um tri­bunal – qual­quer que seja ele, do Supremo aos Tri­bunais Estad­u­ais – não deve ceder aos mod­is­mos ou deixar de obser­var suas tradições inter­nas, pois é isso que os tor­nam maiores que seus integrantes.

Muito menos romper suas tradições por questões mínimas.

No caso da eleição para o TJMA vê-​se um con­flito, ao meu sen­tir, sem muito sen­tido, uma vez que daqui a dois anos, respeitada a tradição bicen­tenária, o pos­tu­lante de hoje tem asse­gu­rado o seu dire­ito de con­duzir o tri­bunal por um biênio.

Vi um estudo nos quais é mostrado que em seus mais de duzen­tos anos, ape­nas uma vez, e por opção daquele que teria o dire­ito a investidura no cargo de pres­i­dente, a tradição não foi mantida.

Em mais de duzen­tos anos pode se dizer que é uma tradição considerável.

E serve estas e out­ras tradições para evi­tar tri­bunais com alas, o que não inter­essa a ninguém. Menos ainda ao próprio tri­bunal e aos jurisdicionados.

Em tem­pos de crises – como os atu­ais –, o mel­hor para as insti­tu­ições, sobre­tudo, as lig­adas ao Poder Judi­ciário, é man­ter suas tradições e coesões inter­nas afastando-​se o máx­imo pos­sível de quais­quer ati­tudes e con­tendas que as levem à fis­suras internas.

Suas excelên­cias pre­cisam ter bas­tante atenção sobre as con­se­quên­cias do que está em curso no momento.

A rup­tura de uma tradição interna por qual­quer insti­tu­ição abre cam­inho para insta­bil­i­dade e para a rup­tura de diver­sas outras.

O que garante, por exem­plo, que futu­ra­mente se estenda o mandato ou que possa ficar por dois biênios con­sec­u­tivos? Ou mesmo mais de um não con­sec­u­tivos? O que impede, dora­vante, que qual­quer um passé a dis­putar o comando da corte?

Ah! dirão: o Reg­i­mento Interno.

Ora, qual­quer um sabe, que romp­ida uma norma ou tradição, basta que a maio­ria de ocasião mude o regimento.

Mesmo uma lei, que depende de aprovação leg­isla­tiva, basta que a maio­ria a aprove e encam­inhe ao par­la­mento e depois “cab­ulem» os votos dos sen­hores deputados.

A mudança de uma tradição como essa – com mais de duzen­tos anos –, exige uma pro­funda reflexão, sob pena de com­pro­m­e­ter o reg­u­lar fun­ciona­mento da corte e da própria Justiça.

Não se trata, uni­ca­mente, como querem fazer pare­cer, de uma eleição para direção da justiça estad­ual, onde pode­ria pen­der a bús­sola da escolha por esse ou aquele pre­tendente – que sabe­mos são igual­mente mere­ce­dores do encargo –, onde possa aflo­rar as prefer­ên­cias pessoais.

Se assim o fosse seria fácil.

Na ver­dade, está em curso uma mudança de rumos com con­se­quên­cias para o futuro e por isso mesmo exige, não ape­nas dos pos­tu­lantes, mas do seleto colé­gio de eleitores uma pro­funda reflexão sobre os seus desdobramentos.

Um pouco de juízo e bom senso aju­daria muito.

Abdon Mar­inho é advogado.