AbdonMarinho - A TRAGÉDIA SEM FIM DA EDUCAÇÃO MUNICIPAL.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sábado, 23 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

A TRAGÉ­DIA SEM FIM DA EDU­CAÇÃO MUNICIPAL.

A TRAGÉ­DIA SEM FIM DA EDU­CAÇÃO MUNICIPAL.

DEFIN­I­TI­VA­MENTE o prefeito Edi­valdo Holanda não tem «dado» sorte naquela que dev­e­ria ser sua pasta mais cara: a Edu­cação. Her­dado o gov­erno dele mesmo, ou, como diria um outro, de si para si, este ano ainda não mere­ceu uma boa notí­cia do setor. Mais de uma vez já foi «sur­preen­dido» com protestos dos pais e alunos que recla­mam nos vários pon­tos da cidade das pés­si­mas condições das esco­las, da ausên­cia de vagas, do ano letivo ante­rior que não ter­mi­nou e do atual que não começou. Ou com noti­cias de esco­las ruindo em diver­sos pon­tos da urbe.

Os jor­nais e demais órgãos da mídia dia sim, e no outro tam­bém, trazem notí­cias de esco­las sem condições de uso. A última matéria que li dava conta de que seriam 40 esco­las da rede munic­i­pal sem condições de rece­ber seus alunos. Estes, na mel­hor da hipóte­ses, devem está assistindo aula em pré­dios impro­visa­dos e que devem cus­tar fábu­las aos cofres públi­cos, enquanto as obras de recu­per­ação das esco­las da rede munic­i­pal têm a celeri­dade da con­fecção do manto de Pené­lope, basta citar como exem­plo as UEB’s Ban­deira Tribuzzi e Alberto Pin­heiro, fechadas, para refor­mas, já há mais de dois anos e, tendo con­sum­ido recur­sos vas­tos, per­manecem sem pre­visão de entrega.

Aqui e ali, ouve-​se o mur­múrio de denún­cias de cor­rupção na con­tratação de tais obras ou da pés­sima qual­i­dade das mes­mas, inca­pazes de resi­s­tir a uma fis­cal­iza­ção mais rig­orosa, se é que algum dia sofr­erão uma.

E, já no quarto pará­grafo, não tive­mos a chance de falar sobre qual­i­dade de ensino. A cap­i­tal do estado, para o nosso desalento, ainda admite como inte­grantes da rede as tais «escol­in­has comu­nitárias» que, com as hon­radas exceções, mas atra­pal­ham que aju­dam na for­mação dos alunos, tornando-​se, quase sem­pre, meros bio­m­bos para a san­gria dos cofres públi­cos, para uti­liza­ção política e out­ros crimes con­tra o futuro destes infantes.

São cri­anças e ado­les­centes que veem na edu­cação uma chance de mudar seu des­tino e que não recebem do poder público as mín­i­mas condições.

O prefeito, por último, tornou-​se, invol­un­tari­a­mente, pro­tag­o­nista de uma «tragé­dia pronta», com o desaba­mento da escola munic­i­pal Darcy Ribeiro. Estava longe, em Caru­ta­pera, quando alcançou-​me a notí­cia de que o tel­hado de tal escola ruiu. Não tive como deixar de refle­tir sobre o quão irônico tal noti­cia representava.

Ora, o prefeito já no ano de 2015 ingres­sou no Par­tido Democrático Tra­bal­hista — PDT, recen­te­mente li, inclu­sive, que fora ele­vado a condição de diri­gente do mesmo no âmbito nacional.

Pois bem, o PDT em que pese sua ver­tente tra­bal­hista – o que motivou, por ocasião de sua fun­dação, desen­tendi­men­tos com os fun­dadores do Par­tido Tra­bal­hista Brasileiro — PTB –, sem­pre teve como ban­deira prin­ci­pal a edu­cação, não qual­quer edu­cação, mas a de qual­i­dade. Basta assi­s­tir seus pro­gra­mas. Desde 1981 e mesmo antes, os seu fun­dadores, prin­ci­pal­mente Leonel Brizola sem­pre tiveram nesta ban­deira seu dis­curso mais inci­sivo. Lem­bro que na cam­panha de 1989, a música de cam­panha do PDT era um coro de cri­anças (lá, lá, Brizola, lá, lá, Brizola…).

Esta for­mu­lação política, coma edu­cação sendo o prin­ci­pal foco, teve como ideól­ogo, o escritor, antropól­ogo e político Darcy Ribeiro. Foi ele o ide­al­izador, plane­jador, cri­ador e implan­ta­dor dos CIEP’s (Cen­tros Inte­gra­dos de Edu­cação Pública), no gov­erno de Leonel Brizola, no Rio de Janeiro entre 1983/​1987, quando foi vice-​governador. Antes, no gov­erno par­la­men­tarista de João Goulart, fora min­istro da edu­cação. Em resumo, um brasileiro e político do tempo em que os políti­cos tin­ham pre­ocu­pações que iam além de suas con­tas bancárias.

Foi, tam­bém, um dos fun­dadores do PDT, um dos sig­natários do seu man­i­festo, junto com Jack­son Lago, que na condição de prefeito de São Luís, hom­e­na­geou o ilus­tre edu­cador, con­stru­indo e dando seu nome a uma das mais com­ple­tas esco­las munic­i­pais de sua época.

Esta é a nota irônica. Uma escola con­struída para hom­e­nagear um dos maiores edu­cadores do país, respon­sável pela prin­ci­pal for­mu­lação política do par­tido, con­struída por outro ícone do par­tido, desaba na admin­is­tração de um gestor do mesmo partido.

Isso, ainda que indi­re­ta­mente, atesta às quan­tas anda a edu­cação munic­i­pal, aquela que dev­e­ria servir de mod­elo para os demais municí­pios, não con­segue sair do lugar, as pau­tas con­tin­uam as mes­mas, os prob­le­mas idem.

O municí­pio não con­segue, sequer, orga­ni­zar e gerir sua rede física pas­sa­dos qua­tro anos.

Assim, com o máx­imo de boa von­tade, fica difí­cil com­preen­der e aceitar esse tipo de coisa. Outro dia falava das quarenta creches tipo 1 e 2 con­seguidas pelo municí­pio das quais, até então, só lic­i­taram 23 e só se encon­travam em exe­cução 3 e, ainda estas, estavam com o crono­grama atrasado. E, já esta­mos no quinto ano de governo.

Além de creches, que o municí­pio não con­segue fazer sair do papel, o gov­erno fed­eral disponi­bi­liza através do MEC/​FNDE, esco­las em alto padrão com: 12 salas de aulas com capaci­dade para 40 alunos por sala;1 lab­o­ratório com 100 met­ros quadrados;1 refeitório; 1 biblioteca;1 coz­inha indus­trial; piso em habilite; ban­heiros com divisórias em gran­ito; esquadrias e cober­tura metálica; toda na laje pre-​moldada. pin­tura acrílica com emarsa­mento e com barra de reves­ti­mento cerâmico; abastec­i­mento de água com reser­vatório metálico; quadra polies­portiva com cober­tura metálica com arquiban­cadas e vestiários; e área externa pavi­men­tada em ladrilhos hidráulico; uma área total con­struída de 2.970 met­ros quadrados.

O custo total orçado desta mar­avilha de escola é de menos de 4 mil­hões de reais.

Com tanta neces­si­dade de vagas, com esco­las que não aten­dem a demanda ou obso­le­tas, não temos notí­cia de São Luís haver pleit­eado ao menos duas dúzias de esco­las assim para colocá-​las em pon­tos estratégi­cos da cidade e resolver, em defin­i­tivo, essa defi­ciên­cia de vagas e qual­i­dade de ensino. Se pedi­ram ou con­seguiram devem andar no mesmo passo das creches. O que é uma lás­tima pois esco­las neste padrão prontas para rece­ber as cri­anças ele­variam o pata­mar da edu­cação na capital.

Mas vamos dizer que o gov­erno munic­i­pal não con­seguisse uma única escola no padrão descrito acima do MEC/​FNDE, será que municí­pio não con­seguiria fazer um plane­ja­mento que asse­gurasse uma economia/​mês, mesmo dos recur­sos da edu­cação, que per­mi­tisse con­struir esco­las assim? O pro­jeto com todos os detal­hes estão no site do FNDE, a munic­i­pal­i­dade teria ape­nas o tra­balho de “baixar» e executar.

Ao nosso sen­tir tem fal­tado ao exec­u­tivo munic­i­pal deter­mi­nação política e plane­ja­mento estratégico no sen­tido de resolver um prob­lema que só se agrava com o pas­sar dos anos. Ainda com toda crise que, sabe­mos, atinge os municí­pios brasileiros, poupar 4 mil­hões de reais/​mês para inve­stir na con­strução de esco­las decentes, no padrão MEC/​FNDE, não é uma tarefa impos­sível, num orça­mento anual de quase 3 bil­hões de reais onde mais de 500 mil­hões de reais ape­nas na pasta da educação.

Se tivessem focado nesta pri­or­i­dade, nego­ci­ado con­tratos, econ­o­mizado nos diver­sos setores, já se teriam resolvido este prob­lema e o prefeito não estaria sobres­saltado com tan­tas cobranças – jus­tas – da pop­u­lação, de pais e alunos; e ficando em situ­ação descon­fortável den­tro de um par­tido que tem na edu­cação sua ban­deira principal.

Como disse – e repito –, em um orça­mento de quase três bil­hões econ­o­mizar 48 milhões/​ano não é uma tarefa de outro mundo. Ade­mais, a neces­si­dade de econ­o­mizar todos os 4 milhões/​mês seria ape­nas na situ­ação extrema do municí­pio con­tar ape­nas com recur­sos próprios, o que não é o caso pois, os gov­er­nos fed­eral e estad­ual, têm pro­gra­mas especí­fi­cos para isso, sem con­tar as famosas parce­rias tão alardeadas nas últi­mas eleições.

O prefeito ainda tem 44 meses de mandato, poderá esta­b­ele­cer como pri­or­i­dade econ­o­mizar os 4 mil­hões necessários e ir con­stru­indo uma escola no padrão descrito acima por mês. Seria uma justa com­pen­sação diante de tan­tos desac­er­tos e desati­nos cometi­dos no setor.

Abdon Mar­inho é advogado.