AbdonMarinho - CEM DIAS DE VEXAME.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sexta-​feira, 22 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

CEM DIAS DE VEXAME.

CEM DIAS DE VEXAME.

Chega a cem dias a greve dos servi­dores do mag­istério de São Luís. Cem dias com estu­dantes fora da sala de aula. Pode­ria se dizer que são cem dias, sem aula, sem justiça, sem autori­dade, sem bom-​senso.

O sindi­cato do pro­fes­sores chamou para 28/​08, uma assem­bleia geral da cat­e­go­ria para dis­cu­tir a pro­posta da prefeitura, o fim do movi­mento pare­dista, des­fil­i­ação de enti­dade de classe. Segundo informa o edi­tal a dita reunião ocor­re­ria na praça em frente ao Palá­cio La Ravardière, sede da prefeitura. A razão para que a reunião ocorra em tal ambi­ente é a ocu­pação do pré­dio público pelos mestres, alguns acor­renta­dos. A falta de notí­cias sobre a reunião leva a pen­sar que ainda não chegaram a uma solução para o impasse.

Inde­pen­dente do resul­tado, fim ou não do movi­mento, essa é uma batalha sem vence­dores, uma guerra de der­ro­ta­dos, con­forme mostraremos a seguir.

Os pro­fes­sores saem der­ro­ta­dos na medida em que par­al­is­aram as ativi­dades em maio com uma pauta com inúmeras reivin­di­cações, entre elas um rea­juste salar­ial de 20% (vinte por cento) e, após, cem dias saem com algo em torno de 6% (seis por cento), o máx­imo que o municí­pio pode oferecer.

A admin­is­tração munic­i­pal saí igual­mente der­ro­tada. Disse que não podia ir além de 3% (três por cento), rea­juste que fez os vereadores aprovarem para o con­junto de servi­dores e agora surge com quase o dobro da pro­posta ante­ri­or­mente apre­sen­tada. Se sabiam que podiam ir além dos três, por que só agora, cem dias depois, apre­senta mais esse per­centual? De onde saiu o recurso? Que despe­sas tiveram que cortar?

Veja, foi com o argu­mento que estavam no lim­ite, den­tre out­ros, acred­ito, que con­seguiram con­vencer o judi­ciário a dec­re­tar a ile­gal­i­dade da greve.

Não fazia e não faz o menor sen­tido que uma greve que a justiça con­siderou ile­gal con­tinue sem que o poder público adote qual­quer providên­cia. Sem cor­tar o ponto dos servi­dores que desafiem a decisão judi­cial e sem pro­mover a aber­tura dos proces­sos admin­is­tra­tivos com vis­tas a demis­são dos servi­dores gre­vis­tas. Mais que isso, que prossiga nas nego­ci­ações com os ile­gais. O gestor, difer­ente do que afir­mam os gre­vis­tas, não está sendo intran­si­gente, ele está sendo leniente. Parece acometido daquele mal que infesta as admin­is­trações públi­cas no Brasil: Todo mundo quer ser bonz­inho, ninguém quer assumir o ónus de tomar as medi­das impop­u­lares con­tra os out­ros, sobre­tudo con­tra uma grande categoria.

Estranho que esse tipo de coisa acon­teça. Se era para o gestores e gre­vis­tas igno­rarem a decisão judi­cial por qual razão foram bater às por­tas do Poder Judi­ciário? Ora, o papel do judi­ciário é dirimir con­fli­tos entre partes, dizer quem está certo e quem está errado. Foi por isso que foram bus­car a prestação juris­di­cional. Con­seguem a man­i­fes­tação da justiça em suas diver­sas instân­cias e con­tin­uam como se nada tivesse acontecido?

Se ati­tude do sindi­cado em per­si­s­tir com o movi­mento após a dec­re­tação de ile­gal­i­dade é um desafio a autori­dade do tri­bunal o mesmo ocorre com relação a admin­is­tração que busca o socorro do Estado/​Juiz e ao obtê-​lo, passa a igno­rar a solução, con­tinua a nego­ciar, não toma as medi­das cabíveis con­tra os recalcitrantes.

Se a intenção da admin­is­tração era nego­ciar a exaustão por meses a fio até con­vencer o sindi­cato que os seus números estavam certo, não dev­e­riam ocu­par a justiça antes da hora. A decisão judi­cial põe – ao menos dev­e­ria por – termo a qual­quer con­tro­vér­sia. Ao prosseguirem com as nego­ci­ações após a man­i­fes­tação da justiça, inclu­sive ofer­endo van­ta­gens que disse antes não poder, igno­rando a decisão ou, pior, enganando o corte.

Assim, a greve, tam­bém, der­rota o Poder Judi­ciário que tem suas decisões desre­speitadas pelos dois lados. Pelo municí­pio que não teve cor­agem de fazer valer a decisão e pelos gre­vis­tas que sim­ples­mente a igno­ram. As con­se­quên­cias futuras desta der­rota do judi­ciário serão sen­ti­das em deman­das futuras. Se todos igno­ram a decisão judi­cial e não acon­tece nada, o que impede que quais­quer out­ros façam o mesmo?

Uma par­al­isação tida por ile­gal dev­e­ria ter como sen­tido lógico a sus­pen­são das nego­ci­ações, o corte dos paga­men­tos, a aber­tura dos proces­sos com vis­tas as demis­sões ao invés disso, a admin­is­tração, fazendo pouco caso da decisão que perseguiu, con­tinua como se nada tivesse acon­te­cido. Esque­cem, todos, gestores e sindi­cal­is­tas, que há uma decisão judi­cial sendo desre­speitada. O Estado Democrático de Dire­ito sendo vio­lado. A bagunça é tamanha que o Min­istério Público, o fis­cal da lei, faz a inter­me­di­ação das nego­ci­ações que afrontam decisão da justiça e fica tudo por isso mesmo. Não dev­e­riam está exigindo punição aos que desre­speitam a decisão judicial?

Dirão que todos os envolvi­dos estão toma­dos das mel­hores das intenções. O prob­lema é que de bem-​intencionados …

As víti­mas deste impasse – em última análise, os maiores der­ro­ta­dos –, são as cri­anças que cor­rem o risco de perder o ano letivo e que pare­cem não con­tar com a sol­i­dariedade de ninguém, nem dos seus pro­fes­sores, nem dos seus admin­istradores. Con­tin­uarão com esse impasse até quando? Quem pagará os pre­juí­zos que essas cri­anças estão sofrendo?

As cri­anças são os der­ro­tadas silen­ciosas, todos fazem ouvi­dos moucos as suas necessidades.

A edu­cação não pode ser tratada como uma questão menor. Cem dias é metade do ano letivo. O apren­dizado destas cri­anças, no tempo que resta, está com­pro­metido, elas não terão mais como cumprir o cal­endário, e se cumprirem será com atro­pe­los, com duvi­dosa capaci­dade de absorção do con­teúdo. Mas este é um prob­lema que passa longe das pre­ocu­pações de gre­vis­tas, da admin­is­tração, dos con­sel­hos tute­lares e do min­istério público.

Sem fazer pros­elit­ismo político, deve­mos inda­gar se a situ­ação estaria insolúvel se se tratasse das esco­las dos ricos? Decerto que não.

Se essa é uma guerra de der­ro­ta­dos, isso se dá porque todos os envolvi­dos, a exceção das cri­anças, estão erra­dos. Caso encer­rem já a greve por estes dias, ver­e­mos todos se cumpri­men­tando como se nada tivesse acon­te­cido, posando para as fotos e bus­cando div­i­den­dos políti­cos. As víti­mas? Que se lixem.

Abdon Mar­inho é advogado.