AbdonMarinho - Educação: Inclusão e Universalização.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Domingo, 15 de Junho de 2025



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

Edu­cação: Inclusão e Universalização.


Educação: Inclusão e Universalização

Por Abdon C. Marinho

Quando um assunto é muito dis­cu­tido, há o risco de se tornar repet­i­tivo. Vamos ten­tar evi­tar isso.

Recen­te­mente, par­ticipei de um sim­pó­sio sobre edu­cação inclu­siva, o primeiro real­izado no Maran­hão. Parece que o tema está gan­hando espaço entre os edu­cadores, prin­ci­pal­mente porque a maio­ria deles não se sente preparada para lidar com um público tão diverso.

Nossa par­tic­i­pação foi como empresa do ramo edu­ca­cional, a AME Mais Edu­cação, uma EDUTEC que com­bina fer­ra­men­tas pedagóg­i­cas com tec­nolo­gias de ponta. Por isso, esta­mos sem­pre ino­vando e bus­cando soluções para a edu­cação pública.

Ape­sar do pouco tempo para falar, ape­nas para apre­sen­tar a empresa, come­cei com uma provocação:

— Sou Abdon Mar­inho, tenho cinco anos, moro em um povoado, no inte­rior do inte­rior, sou defi­ciente físico, estou voltando a andar agora, acabo de ficar órfão de mãe. Que solução vocês têm para me oferecer?

Diante das críti­cas à minha provo­cação, esclareço: todas as infor­mações são ver­dadeiras, exceto o fato de não ter mais cinco anos. Essa era a minha real­i­dade há cinquenta anos. Após per­cor­rer todos os cam­in­hos da edu­cação pública, desde a escol­inha de latada no meu povoado, pas­sando pelo primário e giná­sio na sede do municí­pio, o ensino médio no Liceu Maran­hense e a Fac­ul­dade de Dire­ito na Uni­ver­si­dade Fed­eral do Maran­hão, posso afir­mar que a edu­cação trans­for­mou a minha vida. No entanto, muitos do meu povoado não tiveram essa opor­tu­nidade e con­tin­uam per­pet­uando o ciclo de mis­éria de que herdaram.

A neces­si­dade de enfa­ti­zar esse ponto é sim­ples: muito além da inclusão, pre­cisamos uni­ver­salizar as opor­tu­nidades edu­ca­cionais. Isso sig­nifica garan­tir que todas as cri­anças, inde­pen­den­te­mente de sua local­iza­ção ou neces­si­dades espe­ci­ais, ten­ham acesso a uma edu­cação de qualidade.

O Brasil enfrenta um para­doxo sig­ni­fica­tivo na edu­cação. Emb­ora ten­hamos feito pro­gres­sos, como a val­oriza­ção do mag­istério, a redução do anal­fa­betismo e o aumento das matrícu­las na idade certa, a qual­i­dade do ensino básico per­manece estag­nada e a uni­ver­sal­iza­ção da edu­cação de qual­i­dade con­tinua sendo um sonho distante.

Uma matéria recente da Folha de São Paulo destaca a neces­si­dade urgente de inve­stir mais de 60 bil­hões de reais ape­nas neste ano para garan­tir que as esco­las ten­ham condições mín­i­mas para aten­der às cri­anças. No entanto, esse finan­cia­mento não está garan­tido para este ou para o próx­imo ano, e não há pre­visão para quando será disponibilizado.

Esse inves­ti­mento é ape­nas o primeiro passo para garan­tir que as esco­las ten­ham condições mín­i­mas de funcionamento.

O ver­dadeiro desafio reside na uni­ver­sal­iza­ção do con­hec­i­mento. Os gestores munic­i­pais, respon­sáveis pela edu­cação das cri­anças desde a crèche até o ensino fun­da­men­tal, pre­cisam encon­trar maneiras de fornecer condições de apren­diza­gem iguais e de alta qual­i­dade para todos os alunos.

A par­tir do ensino infan­til, é cru­cial man­ter viva a chama da curiosi­dade e do con­hec­i­mento. As cri­anças devem ser edu­cadas sobre a importân­cia do con­hec­i­mento como fer­ra­menta para o cresci­mento pes­soal e para a ascen­são social e profissional.

Para alcançar esses obje­tivos, é necessário imple­men­tar estraté­gias que mel­horem as práti­cas educa­ti­vas e tornem o ensino mais atraente. Sem esses esforços, e sem ofer­e­cer alter­na­ti­vas atra­ti­vas, cor­re­mos o risco de perder essas cri­anças para a vio­lên­cia e as dro­gas. Não é por acaso que a evasão esco­lar aumenta ano após ano a par­tir do sexto ano.

O Brasil tem se mostrado relu­tante em recon­hecer que seu maior patrimônio reside em seu povo.

Para nos torn­ar­mos uma nação com­pet­i­tiva que possa com­pe­tir com as grandes potên­cias mundi­ais, pre­cisamos inve­stir na edu­cação e qual­i­fi­cação de nossa pop­u­lação. Não é sufi­ciente sim­ples­mente afir­mar que reduz­i­mos o anal­fa­betismo; pre­cisamos garan­tir que nossa pop­u­lação tenha as habil­i­dades e o con­hec­i­mento necessários para pros­perar em um mundo cada vez mais globalizado.

O seg­redo de um sis­tema edu­ca­cional efi­caz reside em ter um cur­rículo que respeite as vocações indi­vid­u­ais e region­ais, ao mesmo tempo em que fornece uma base uni­forme de con­hec­i­mento para todas as cri­anças, desde o ensino infan­til até os anos ini­ci­ais do ensino fundamental.

É ina­cred­itável que, no século XXI, o Brasil ainda seja um país monoglota. Ocu­pamos a 57ª posição em profi­ciên­cia em inglês glob­al­mente e a 11ª posição na América Latina. Essa dis­crepân­cia é par­tic­u­lar­mente pre­ocu­pante con­siderando a importân­cia econômica, cul­tural e social do Brasil.

A prin­ci­pal razão para essa dis­pari­dade é que o ensino de lín­guas estrangeiras só se torna obri­gatório no cur­rículo a par­tir do sexto ano. Enquanto as cri­anças de esco­las par­tic­u­lares já são flu­entes em pelo menos duas lín­guas aos dez ou onze anos, as cri­anças de esco­las públi­cas só começam a ter con­tato com lín­guas estrangeiras nessa idade.

Essa dis­pari­dade tem con­se­quên­cias sig­ni­fica­ti­vas para a edu­cação dessas cri­anças. Elas ficam em desvan­tagem em relação aos seus cole­gas de esco­las par­tic­u­lares e per­dem opor­tu­nidades de apren­der com cri­anças de out­ras partes do mundo.

O desen­volvi­mento de uma nação depende dire­ta­mente do com­pro­misso de seus líderes com a edu­cação de suas cri­anças. As cri­anças de qua­tro ou cinco anos que estão ingres­sando no ensino infan­til hoje serão a força motriz do desen­volvi­mento do país daqui a vinte anos. O nível de edu­cação que lhes ofer­e­ce­mos hoje deter­mi­nará se o país avançará ou retrocederá.

Quando a AME Mais Edu­cação lançou o pro­jeto Cidade Bilíngue, nosso obje­tivo era (e é) alfa­bet­i­zar todas as cri­anças da rede pública em duas lín­guas difer­entes (por­tuguês e inglês) em qua­tro anos, durante os dois anos do ensino infan­til e mais dois do ensino fun­da­men­tal.

Isso sig­nifica que, quando a cri­ança estiver com seis ou sete anos, ela já estará falando inglês, o que reforçará seu apren­dizado da lín­gua portuguesa.

Desde o lança­mento do pro­jeto Cidade Bilíngue, no iní­cio do ano, temos visto cri­anças do ensino infan­til, algu­mas com ape­nas três anos, já demon­strando desen­voltura com a lín­gua inglesa.

Toda cri­ança pre­cisa de uma opor­tu­nidade. Se der­mos a ela a chance de apren­der, ela aprenderá.

O desafio para os gestores públi­cos é com­preen­derem isso e uni­ver­salizarem a oferta de ensino de qual­i­dade, apo­s­tando no poten­cial de suas cri­anças e jovens.

Nada sub­sti­tui o conhecimento.

Abdon C. Mar­inho é advogado.