AbdonMarinho - Ah, as estradas.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Domingo, 22 de Setem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

Ah, as estradas.


AH, AS ESTRADAS.

Por Abdon Marinho.

POR OCASIÃO da visita do pres­i­dente da República ao Maran­hão, o gov­er­nador do estado declarou que, o pres­i­dente, tinha pouco ou quase nada mostrar, as condições das BR’s que cor­tam o estado são pés­si­mas além de ser “pouquinho” inau­gu­rar 5 km de estradas em dois anos de gov­erno.

Que as condições das estradas que cor­tam o estado do Maran­hão são pés­si­mas, não é seg­redo para ninguém, tanto assim que os maran­henses que moram na zona de fron­teira pref­erem fazer suas via­gens através das rodovias dos esta­dos viz­in­hos. Eu mesmo já con­tei a história do “ceguinho” que acos­tu­mado a fazer o per­curso For­t­aleza (CE) – Belém (PA), sabe, sem que ninguém lhe diga, quando entra e quando sai do estado.

Con­heço as estradas do Maran­hão, desde que me fiz advo­gado que as per­corro rotineira­mente, pelo menos uma vez ao mês, para aten­der meus clientes.

Sem­pre me per­gun­tei por quais motivos nos­sas estradas são tão ruins, por quais motivos pade­cem de obras intermináveis.

Era sobre estradas, desta vez estad­u­ais, que iria tratar no “tex­tão” do fim de sem­ana quando a “boio­lagem” de Bol­sonaro se impôs.

Mas, com um pouco de atraso, faço agora.

Como disse, pelo menos uma vez por mês, desço para inte­rior. Sem­ana pas­sada o des­tino foi o extremo norte do estado, Luís Domingues e Caru­ta­pera. No cam­inho fui “tirando reisado”, enco­stando aqui e ali, almoçamos em Santa Helena e paramos para cafez­inho da tarde, em Mara­caçumé, no “Café na Fazenda”, de D. Claú­dia.

Já era pelas 17 horas quando cheg­amos às Qua­tro Bocas, povoado dis­trito do Junco do Maran­hão, que dá acesso ao des­tino final da viagem.

Lá chegando encon­tramos a MA 206 inter­di­tada. Era um protesto dos moradores dos municí­pios da região (Amapá do Maran­hão, Caru­ta­pera, Luís Domingues, God­ofredo Viana é Cân­dido Mendes) con­tra as pés­si­mas condições da estrada.

O protesto já con­sumia um dia inteiro. Fui avisado, aliás, antes mesmo de pegar o ferry boat, as 10 horas da manhã.

Ao chegar­mos, no fim da tarde, encon­tramos um clima tenso com a polí­cia no local, ambulân­cia e uma fila de car­ros de ambos os lados, sem con­tar aque­les que já haviam desis­tido de chegarem aos seus des­ti­nos e voltado para casa.

Emb­ora sabendo do protesto com ante­cedên­cia – desde a sem­ana ante­rior –, não desisti da viagem por saber que provavel­mente não teria tempo de voltar a fazê-​la antes da eleição, a esper­ança de que quando chegasse lá o movi­mento já tivesse se dis­si­pado, e, tam­bém, porque no man­i­festo de inter­dição tinha um item que dizia que per­mi­tiriam a pas­sagem de pes­soas com neces­si­dades espe­ci­ais.

Chegando lá encon­tramos os moradores ainda irre­dutíveis, inclu­sive, no que refe­ria a per­mis­são de pas­sagem de pes­soas com neces­si­dades espe­ci­ais – o meu caso.

Só depois de muita nego­ci­ação com a polí­cia mil­i­tar e com os man­i­fes­tantes, per­mi­ti­ram a minha pas­sagem. Já em Luís Domingues tomei con­hec­i­mento que depois de per­mi­tirem a nossa pas­sagem, não demorou muito para encer­rarem a man­i­fes­tação de des­ob­struírem a via.

Na tele­visão, em horário nobre, pas­savam um com­er­cial do gov­erno estad­ual onde ele vende que está fazendo o maior pro­grama rodoviário do estado e ainda ajuda, desde 2015, os municí­pios a asfal­tar as vias urbanas.

Ape­sar do protesto con­tra as pés­si­mas condições daquela MA ter durado desde as primeiras horas da manhã até a noite, na cap­i­tal ou nos demais rincões do estado ninguém ficou sabendo, exceto os moradores daquela região e as pes­soas que, even­tual­mente, ten­ham sido prej­u­di­cadas pela inter­dição.

No mais o que resta pre­sente é a pro­pa­ganda mas­siva e enganosa de que o mel­hor lugar para se viver é den­tro dos com­er­ci­ais do gov­erno estad­ual.

Voltando ao protesto, por mais que seja con­tra esse tipo de ação, por enten­der que não se pode restringir o dire­ito de loco­moção dos cidadãos, forçoso não recon­hecer que é justa causa daque­les que foram inter­di­tar a via em protesto.

E não é a primeira vez que fazem isso. Esse último já foi o ter­ceiro ou quarto protesto dos moradores da região con­tra as pés­si­mas condições das MA’s 206 e 101.

Desde o iní­cio do atual gov­erno, ou seja, há seis anos, que vejo obras de reparos nas vias, e desde sem­pre que vejo que são reparos tão mal feitos que não duram nada, que desa­pare­cem na primeira chuva ou no próx­imo inverno.

A impressão que fica é que tanto aquela rodovia como diver­sas out­ras rodovias do estado que o gov­erno diz está recu­perando não pas­sam, na ver­dade, de “obras de morder”, onde todo mundo morde um pedaço, drenam os recur­sos públi­cos e as obras nunca ficam prontas.

É como se o estado apli­casse na prática o con­ceito do “Manto de Pené­lope”, que con­hece­mos da imor­tal obra de Homero, a Odis­seia.

Na volta da viagem, na quarta-​feira, final da tarde, dei uma carona, até Mara­caçumé, para D. Claú­dia, do “Café na Fazenda”, e perguntei-​lhe sobre as condições da estrada até Cen­tro Novo.

Com a sin­ceri­dade de sem­pre ela respondeu-​me: — ah, doutor, se as BR’s já não prestam, o sen­hor já imag­ina como estão as MA’s.

Ainda assim, resolvi ir fazer essa visita ao Cen­tro Novo do Maran­hão, um dos mais prósperos municí­pios do estado. E, com de onde nada se espera é de onde nada vem, pude con­statar que a estrada de ape­nas 22 km, encontra-​se em petição de mis­éria, como, aliás todas as out­ras.

Cos­tumo dizer que umas das prin­ci­pais rodovias estad­u­ais é a que sai do Cujupe, Alcân­tara e vai até Gov­er­nador Nunes Freire, que leva as municí­pios da baix­ada, da BR e, até para o Pará. Entra ano sai ano, entra inverno sai inverno e situ­ação da estrada é de buraque­ira e de inter­mináveis obras que nunca ficam prontas. De tão malfeitas, antes de rece­berem a mar­cação de sinal­iza­ção já estão pre­cisando de refor­mas.

Ao longo destas rodovias estad­u­ais, prin­ci­pal­mente as piores, cos­tu­mamos avis­tar cri­anças ou mesmo adul­tos colo­cando terra ou pedras nos prin­ci­pais bura­cos para facil­i­tar o tráfego, em troca de alguns tro­ca­dos. Apelidei-​os, por motivos óbvios, de DINOIT’s.

Já com troça meus com­pan­heiros de via­gens dizem ao avistá-​los: — olha, doutor, lá está um “dinoit”.

Ao pas­sar­mos por eles agrade­ce­mos e às vezes, se temos, lhe damos alguns tro­ca­dos.

Vendo sua excelên­cia, o gov­er­nador do estado, criticar o pres­i­dente da República que está há dois anos no poder, pelas pés­si­mas condições das BR’s – que são mesmo pés­si­mas –, fico com a impressão que ele (o gov­er­nador), ou não con­hece as rodovias estad­u­ais (ou só as con­hece pelos seus com­er­ci­ais regia­mente pagos), de sua respon­s­abil­i­dade, ou quer “tomar” o emprego de piadista do sen­hor Bol­sonaro, aquele que virou “boiola” ou maran­hense ao tomar um refrig­er­ante cor de rosa.

O descon­t­role é tamanho nas obras rodoviárias estad­u­ais que outro dia li – mas con­tinuo pen­sando que se trata de fake news –, que um engen­heiro que tra­balha na inter­minável obra da MA 103, a nossa estrada da Raposa, no Araçagy, teria declar­ado não mais saber o que estão fazendo ali, de tan­tas idas e vin­das.

Eu custo acred­i­tar que isso seja ver­dade, muito emb­ora tenha rece­bido tal infor­mação de mais de uma fonte.

Isso ocorre nas “bar­bas do gov­erno”, com a imprensa, oposição, com­er­ciantes e “todo mundo” crit­i­cando diari­a­mente os transtornos e a demora na con­clusão do empreendi­mento.

Final­izo dizendo que em mea­dos do mês que findou o gov­erno estad­ual recapeou a nossa Estrada da Mata. O serviço foi tão malfeito que no dia 16 de out­ubro filmei um tre­cho da obra só para guardar como prova o prazo de duração do serviço pois mal se foram 15 dias e os defeitos já bro­tam. Uma típica obra eleitor­eira, como tan­tas.

Pois é, sujos e mal lava­dos falam para suas legiões enquanto o povo padece no sofri­mento eterno.

Abdon Mar­inho é advogado