AbdonMarinho - Politica
Bem Vindo a Pagina de Abdon Marinho, Ideias e Opiniões, Sexta-feira, 26 de Abril de 2024



A palavra é o instrumento irresistível da conquista da liberdade.

Escrito por Abdon Marinho


PALESTINA ≠ HAMAS ≠ ISRAEL.

Por Abdon C. Marinho*.

NAS TRÊS PALAVRAS do título o essencial é o que se encontra entre elas, um símbolo matemático pouco usual e quase esquecido pelos alunos do fundamental: o sinal de diferente. 

Talvez essa deficiência no conhecimento dos símbolos matemáticos ou mesmo gramaticais faça com que sejamos obrigados a ouvir, a ler tantas sandices em torno de questões sérias e complexas. 

Outro dia um senador da República, ex-juiz, que reputava possuir conhecimentos mesmo que de nível fundamental, postou uma charge que chamou de “perfeita”, onde, segundo ele, resumiu toda a situação judaico-palestina. 

Soube depois que até deu uma entrevista onde confirmava su ignorância sobre o tema histórico e até mesmo sobre direito, assunto que imaginava que conhecesse. 

O pretensioso se achou no direito de resumir três mil anos de história em uma charge e em meia dúzias de palavras que nem de longe passam perto da essência do que se deveria discutir no momento: a perda de vidas inocentes. 

Essa ignorância é bem própria dos nossos dias, o indivíduo “escolhe” um lado e o “seu” lado pode fazer o que quiser, o que lhe der na “telha” sem precisar se justificar ou dar qualquer justificativa. 

A mídia ocidental assim como muita gente boa vem divulgando a guerra entre Israel e o Hamas. Só que essa guerra não vem sendo travada contra o Hamas, mas sim contra o povo palestino que é diferente (≠) do Hamas. 

O Hamas é um grupo terrorista que possui cerca de vinte mil integrantes de diversas nacionalidades, não apenas palestinos, que tomou o poder – mediante eleições –, e com o apoio direto e indireto (inclusive financeiro) de Israel que queria (e quer) enfraquecer a Autoridade Palestina e assim “enterrar” o sonho de um Estado Palestino conforme foi definido pela Organização das Nações Unidas - ONU, em 1947, através da Resolução 158 (se não me falha a memória) que estabeleceu que naquele território deveriam existir dois países: Israel e Palestina. 

Desde 1948, quando foi instalado o Estado de Israel que a região vive em constantes guerras e conflitos. Sejam eles provocados pelos palestinos, pelos países vizinhos, seja pelo próprio Estado de Israel, que a cada guerra aumenta seu território em detrimento dos povos palestinos, conforme mostra claramente os mapas que ilustram esse texto. 

Nesse clima de guerra constante vicejam os grupos terroristas.

O Hamas é um desses grupos terroristas, repito, que foi “bancado” durante décadas por diversos países, inclusive por Israel (direta e indiretamente para enfraquecer a Autoridade Palestina e o seu partido político no poder na Cisjordânia).

Esse grupo terrorista atacou Israel em 07 de outubro p.p., de forma covarde, infame, e todas outras adjetivações existentes, inclusive com o sequestro de duas centenas de israelenses, mulheres, idosos e até mesmo crianças. 

No mesmo ataque terrorista esse grupo terrorista matou mais de mil cidadãos israelenses e alguns de outras nacionalidades, inclusive, brasileiros. 

Pois bem, sendo Hamas um grupo terrorista, como é um consenso quase global e Israel um estado nacional reconhecido por quase todos países do mundo, significa dizer que Israel é diferente (≠) do Hamas, logo, como tal, não pode se valer dos métodos do Hamas, ou seja, do terrorismo para combatê-lo. 

É essa lógica bem simples, fundamental até, que muitos pelos motivos mais canalhas fingem desconhecer e a ignorar. 

O preço de ser reconhecido como estado soberano, com todos os direitos estabelecidos na carta das Nações Unidas é que você precisa submeter-se as leis do direito internacional, sobretudo o direito da guerra quando no exercício da chamada “autodefesa”. 

Essa é a questão essencial. Ninguém diz que Israel não tem o direito à autodefesa que é uma prerrogativa das nações reconhecidas estabelecido na Carta da ONU, o que se diz é que esse direito precisa ser exercido dentro da lei. 

O Estado de Israel tem todo o direito de ir atrás do grupo terrorista, mata-los em confronto, prendê-los, julgá-los e condená-los.

O que não pode fazer é usar do seu poderio militar extraordinariamente superior para aterrorizar e matar pessoas que nada fizeram contra o Estado de Israel, impondo  deslocamentos forçados, destruindo casas, privando as pessoas de eletricidade, alimentos e até água. 

Essa estratégia de guerra viola todos tratados de guerra e por isso é criminosa. 

É dizer, repito, um estado nacional por mais razão que tenha em qualquer de suas pretensões não pode agir como um grupo terrorista, vem aí ele novamente: Israel ≠ Hamas. 

Infelizmente, desde que essa guerra começou, com a conivência de muitas nações, de muitos “cidadãos de bem”, Israel vem agindo como se não fosse diferente do Hamas ou como se não tivesse responsabilidade como nação reconhecida que é: Israel = Hamas.

A Faixa de Gaza, o enclave ou a prisão a céu aberto onde se encontram “confinados”, aprisionados dois milhões e meio de palestinos, tem mais da metade de sua população constituída por crianças e adolescentes com menos de 18 anos, uma outra parte formada por mulheres e idosos. 

É sobre essas pessoas que pesa mais o braço forte de Israel. Nas fotografias de agências internacionais vemos crianças com semblante apavorado, mulheres em desespero fugindo de um lado para outro e sem encontrar segurança nenhuma onde quer que vão, com os poucos pertences em sacolas e deixando para trás suas casas, seu patrimônio e o pouco que conseguiram amealhar. 

A maioria dos que pereceram nessa guerra até aqui são crianças e mulheres, assim como os feridos que estão sendo submetidos a procedimentos cirúrgicos à luz de lanternas e sem anestesia. 

Isso sem contar a fome, a falta d’água, a escuridão. 

Esse é o nível de sofrimento a que está sendo submetida uma população inocente diante dos olhos do mundo e da cumplicidade de muitos. 

Não entendo como isso possa ser chamado de direito de autodefesa. 

Um dos princípios mais caros do direito é aquele que diz que pena não pode passar da pessoa do condenado. 

A população de Gaza está sendo punida, aterrorizada, torturada, sobretudo, mulheres, crianças e idosos por crimes que não cometeram. Isso é vergonhoso.
A humanidade que assiste a tudo isso calada e na maioria das vezes concordando deveria ter vergonha de se olhar no espelho. 

Crianças, mulheres, idosos, doentes, deficientes, etc., não podem ser massacrados por crimes que não cometeram. 

Um estado nacional, reconhecido como tal, não pode utilizar-se da estratégia do terrorismo para minorar os efeitos de suas próprias incompetências e estratégias.

Os bons cristãos daqui e do resto mundo deveriam lembrar da história de Ló, o sobrinho de Abraão. Pois consta do livro do Gênesis que Abraão intercedeu a Deus pela não destruição das cidades gêmeas de Sodoma e Gomorra, tendo Ele dito que não as destruiria se dentre seus habitantes encontrasse os inocentes, o que não se deu deu – salvando-se apenas Ló e as filhas, já que mulher dele olhara para trás e virara uma estátua de sal. 

Vê-se, cristãos, que no atual conflito em Gaza os inocentes perecem bem mais que os maus, o que viola o pacto sagrado. E vós sois sabedores disso. 

Um outro princípio básico do direito é que melhor um culpado solto do que um inocente preso (ou morto). 

Apenas os infames acham que a perda de vidas humanas, de crianças inocentes, de mulheres, enfermos e idosos são “efeitos colaterais da guerra”. 

Não são, ainda mais quando assistimos, todos os dias, todas as horas, que estes inocentes são os alvos da guerra porque essa não está escolhendo alvos, os civis são as vítimas, são os alvos. 

Ao darmos razão a isso podemos dizer que Herodes estava certo quando, para evitar que Cristo se tornasse rei dos judeus, mandou matar todas as crianças nascidas naqueles tempos e que tivessem até dois anos de idade. 

Encerro dizendo que sob qualquer argumento, ético, moral, político, religioso não é justificável o massacre de inocentes. 

Ao aceitarmos e, até mesmo, justificarmos isso é porque estamos perdendo o sentido de humanidade. 

Estamos dizendo que Palestina = Hamas = Israel. 

Abdon C. Marinho é advogado.